sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

JONH LENNON É ASSASINADO EM 8 DE DEZEMBRO DE 1980: APESAR DE SUA GENIALIDADE, NOSSA CRÍTICA A “IMAGINAÇÃO” DE MUDAR O MUNDO SEM DESTRUIR O CAPITALISMO


No dia 8 de dezembro de 1980 era assassinado às portas do seu edifício Dakota, em frente ao Central Park, New York, prédio em que vivia, o mais rebelde poeta dos Beatles, John Lennon, por um fã que horas antes havia lhe pedido um autógrafo. Mark David Chapman disparou cinco tiros, quatro acertaram o ex-Beatle. Calava-se dramática e abruptamente uma das vozes mais controversas dos anos 60, ícone de uma época conturbada e explosiva. Lennon, nascido em 1940, era filho de um marinheiro, típico da zona portuária de Liverpool, Inglaterra, teve uma infância marcada pela pobreza e abandono por parte de mãe e pai, marcando-o psicologicamente por toda a sua vida, o que pode ter dado asas à sua rebelde imaginação que no final de sua vida aproximara-se do partido comunista norte-americano. A obra de Lennon foi produto inexorável da época em que vivia. Em meados de 1969 rompe com a sanha comercial dos Beatles, um bem sucedido produto da indústria fonográfica imperialista, para dar início à sua nova orientação de ativista de esquerda engajado nos acontecimentos políticos globais.

A década de 60, principalmente o explosivo ano de 1968, marca o despertar da mobilização da juventude, da revolução dos costumes, a libertação da mulher, a ofensiva da classe operária como elementos de uma conjuntura de contestação ao establishment pautado pelo “american way life”, ou seja, da sociedade de consumo. Marca o período de auge da chamada Guerra Fria (EUA X URSS) pós-revolução cubana, a revolução cultural na China de Mao Tse Tung, os crimes hediondos na Guerra do Vietnã praticados pelo imperialismo ianque. Tudo isto culminou num movimento de contracultura e protestos intensos nos Estados Unidos que traria a pequena burguesia para o centro da mobilização anticapitalista.

UMA GUINADA À ESQUERDA

Contudo, o que mais despertou atenção de Lennon foi a Guerra do Vietnã e as massivas mobilizações contra o conflito levado a cabo pelo então presidente Nixon. Muito distante da apatia que ocorre hoje com as revelações das atrocidades cometidas na guerra de ocupação ao Iraque. Neste ínterim, surgem movimentos políticos chamados de “Nova Esquerda” (New Left) ou ativismo social. Nos EUA a NE debuta vinculada aos protestos contra a Guerra do Vietnã e pelos direitos civis. Como um dos inspiradores do movimento estava Lennon que, além do fim da Guerra, atuava pela derrota de Richard Nixon nas eleições de 1972, responsabilizando-o pela morte de 50 mil jovens como carne de canhão no Vietnã.

Neste contexto, a “velha” obra musical dos Beatles para Lennon era extremamente limitada politicamente e opressiva. Em uma entrevista afirmou: “A consciência contínua do que estava acontecendo me fazia sentir vergonha de não dizer nada. Desde já, os EUA aumentavam a pressão, especialmente porque a guerra acontecia lá... Os 'Fab Four' (Quatro Fabulosos) chegaram ao auge cantando sobre drogas e sexo...". E concluía: "o furacão do mundo dos Beatles cada vez mais me afastava da realidade" (The Lost John Lennon. Interview, "Power to the People", Tariq Ali, 1971).

Em agosto de 1971, Lennon e sua companheira Yoko Ono, militante do Partido Comunista e hostilizada pelos outros membros pequeno-burgueses domesticados da banda, mudaram-se para Nova Iorque, dando início a uma nova fase em sua produção artístico-política, abraçando abertamente o ativismo político. Entram em contato com os militantes antiguerra, Terry Rubin, Abbie Hoffman e apóiam formalmente o "Programa dos 10 pontos" do Partido dos Panteras Negras. Fazem inúmeras declarações e discursos pela libertação do poeta e militante pacifista John Sinclair (preso por estar com dois cigarros de maconha), contra o massacre de presos na "Rebelião de Attica" por parte do aparato de repressão do Estado ianque. Envolveu-se, por pressão dos fatos, com o Partido Comunista americano, ao promover uma campanha pela liberdade da militante Angela Davis, acusada de participar do sequestro e assassinato do juiz racista Harold Haley. Não demorou muito, o governo Nixon colocou seu aparato de agentes secretos do FBI para espionar a vida de John Lennon.

A POLÍTICA MARXISTA APARECE EM SUA OBRA

O primeiro álbum solo de John Lennon, de 1970, espelha com muita precisão o que se passava a seu redor. Compõe "God", uma canção que marca o rompimento com a era Beatles: "Eu não acredito em Jesus/... Eu não acredito em Beatles/Apenas acredito em mim/Yoko e eu/E essa é a realidade/O sonho acabou/O que posso dizer?". Dois anos depois, lança o seu terceiro trabalho. Trata-se de "Some Time in the New York City", obra pela qual navega por vários temas políticos, pondo às ruas uma campanha pela liberdade de Sinclair e Angela Davis, além da denúncia do massacre do presídio de Attica? "John Sinclair", "Angela" e "Attica State", respectivamente. Em "Sunday Blood Sunday" aborda ainda o assassinato de manifestantes na Irlanda do Norte por parte da polícia a serviço da Grã-Bretanha em janeiro de 1972.

"Happy Xmas (War Is Over)" é uma canção escrita por John Lennon e Yoko Ono em 1971. Ostensivamente uma canção de protesto sobre a Guerra do Vietnã, foi sendo prostituída como uma simples "canção de natal" para impulsionar o consumo capitalista. A letra é baseada em uma campanha no final de 1969 por Lennon e Ono, que alugaram outdoors e cartazes em onze cidades ao redor do mundo que dizia: "War Is Over (If You Want It) Feliz Natal de John e Yoko!". Em 1971, os Estados Unidos estavam profundamente enraizadas na impopular Guerra do Vietnã. A linha "A guerra acabou, se quiser, a guerra acaba, agora!", foi levado diretamente a partir do outdoors.

Muitos atribuem esta guinada de Lennon à influência de sua mulher, Yoko Ono, militante stalinista, quem o estimulara a ter uma preocupação mais de cunho social e pacifista empenhando-se em torná-lo mais criativo em seu talento artístico, atuando como vanguarda de seu tempo a serviço da política de "paz mundial" preconizada por Moscou. Tudo isto teria irritado os empresários dos Beatles, ávidos por mantê-los prisioneiros da indústria cultural de massas.

O reacionarismo belicoso do governo Nixon estava preocupado: "Ele [Lennon] por si só não era um problema, mas ao apoiar gente que queríamos colocar na cadeia, ele passa a representar um problema" (do filme EUA vs John Lennon, dirigido por David Leaf & John Scheinfeld, 2006).

O ESTIGMA DE JOHN LENNON: MUDANÇA SEM DESTRUIR O VELHO REGIME

Apesar de toda a sua rebeldia, Lennon não propunha uma nova sociedade baseada na expropriação dos capitalistas, seguindo a linha de colaboração de classes do PC. Em "Imagine", por exemplo, que muitos afirmam ser apologia ao comunismo, ele prega muito mais uma sociedade de tipo liberal, como aquela idealizada por Robespierre em sua face mais radical após a tomada do poder pela burguesia frente ao Estado absolutista na Revolução Francesa. Diz a canção "Acima de nós apenas o céu.../ Imagine não existir posses/Me pergunto se você consegue/Sem necessidade de ganância ou fome/Uma irmandade de homens". O "ideal revolucionário" de Lennon está sintetizado na música "Revolution": "Todos nós queremos mudar o mundo/Você me diz que isso é uma evolução/Bem, você sabe/Todos nós queremos mudar o mundo/Mas quando você fala em destruição,/Você já sabe que não pode contar comigo?". Descarta a possibilidade de uma revolução social e política para derrubar o modo de produção capitalista.

Enquanto durou a efervescência da Guerra do Vietnã, Lennon esteve na ativa. Depois restringiu-se praticamente ao anonimato político, para dedicar-se como pai de família por pressão direta de uma Yoko "quebrada" preocupada exclusivamente em um projeto pessoal. O "sonho acabou". Voltou à cena artística cinco anos após o fim da guerra. Logo em seguida, ao descer de sua limusine no luxuoso prédio Dakota, o multimilionário Lennon era assassinado. Autointulava-se na música como um "Working Class Hero" ("herói da classe operária"), mas morreu refém da lógica de um "mundo melhor" sem a imperiosa necessidade da revolução socialista. Seu último álbum fazia muito sucesso e o semifascista presidente Ronald Reagan preocupava- se com a possibilidade de um novo ascenso pacifista nos EUA, estávamos em plena "guerra nas estrelas", um audacioso plano bélico contra a URSS. Lennon poderia representar uma ameaça ao consenso ianque em oposição ao comunismo soviético, por isso deveria ser silenciado pelas mãos de um demente "útil", monitorado pelo FBI.

Quando a arte não está plenamente a serviço da classe operária como obra de sua libertação do jugo burguês, ela estará inevitavelmente sendo usada como elemento de opressão e alienação do proletariado. John Lennon, neste sentido, foi no máximo um pacifista radical, um agitador cultural em conexão com sua época de "utopias" todas elas traídas pela política oficial do stalinismo.