quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

HÁ 90 ANOS DA EXPULSÃO DE TROSTKY DO PARTIDO COMUNISTA: EM DEZEMBRO DE 1927, STÁLIN COMANDA A EXCLUSÃO DA OPOSIÇÃO UNIFICADA NO XV CONGRESSO DO PCUS


Em dezembro de 1927, o XV Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) foi utilizado para condenar o “trotskismo”, exigir que a Oposição Unificada abandonasse suas posições e decidir pela expulsão daqueles que não se curvassem aquelas resoluções burocráticas tramadas por Stálin. O congresso decidiu oficialmente que “a oposição rompeu ideologicamente com o Leninismo, degenerou num grupo menchevique, enveredou pela via da capitulação face às forças da burguesia internacional e interna e transformou-se objetivamente num instrumento de terceiras forças contra o regime da ditadura proletária”. Por isso o XV Congresso declarou a o conjunto da Oposição e a propaganda dos seus pontos de vista incompatíveis com a permanência nas fileiras do Partido. O congresso aprovou a resolução da reunião conjunta do Comité Central e da Comissão de Controle para expulsar do partido Trótsky e Zinóviev e decidiu excluir também Rádek, Preobrajénski, Rakóvski, Piatakov, Serebriakov, I. Smírnov, Kámenev, Sáfarov, Mdivani, Smílga. Os expulsos que se subjugaram à chantagem e solicitaram a reintegração como militantes, Stálin exigiu o cumprimento das seguintes exigências: A) Condenação pública do trotskismo como ideologia antibolchevique e anti-soviética. B) Reconhecimento público da política do partido como a única política justa. C) Submissão incondicional às resoluções do partido e dos seus órgãos. D) Passagem por um período de experiência durante o qual o partido verificaria a conduta dos expulsos, decidindo no final, caso a caso, a sua readmissão. Na auto-biografia “Minha Vida”, no capítulo “O último período da luta no Partido”, Trotsky descreve esse momento dramático ocorrido em dezembro de 1927 com essas palavras “Stálin preparava, entretanto o congresso do partido, desejoso de colocá-lo diante do fato consumado da cisão. As chamadas conferências locais que deveriam escolher os delegados ao congresso, estavam mais que realizadas antes do que se abrissem oficialmente a ‘discussão’, ao passo que grupos militarmente organizados dissolviam as reuniões à força de assobios e cacetadas, usando de métodos puramente fascistas. Não é fácil imaginar coisa mais vergonhosa que os preparativos do XV Congresso. Zinoviev e seu grupo não tiveram dificuldade de advinhar que o congresso iria realizar politicamente o esmagamento material da oposição, o qual fora começado nas ruas de Moscou e Leningrado no décimo aniversário da Revolução de Outubro. A única preocupação de Zinoviev e dos seus amigos era capitular a tempo. Não podiam deixar de compreender que os burocratas stalinistas não viam neles, oposicionistas de segunda jornada, o verdadeiro inimigo, mas no núcleo central da oposição, os elementos ligados a mim. Esperavam que o rompimento ostensivo comigo lhes valeria senão a benevolência do congresso, pelo menos o perdão. Não pensavam que a dupla traição devia liquidá-los politicamente. Embora tenha enfraquecido temporariamente nosso grupo por sua punhalada nas nossas costas, condenaram-lhes eles mesmos, à morte política. O XV Congresso decidiu excluir a oposição em bloco. Os expulsos foram postos à disposição da GPU.” Antes da realização do congresso proprimante dito e diante do clima de tensão e vigilância do aparato stalinista que controlava o PCUS, a Oposição Unificada (Trotsky, Kamenev e Zinoviev) passou a se organizar retomando os métodos clandestinos para divulgar suas ideias para o conjunto dos militantes. Por outro lado, seu programa começava a ganhar forma. Na sessão do Comitê Central de junho de 1926, Trotsky leu em nome da Oposição Unificada a “Declaração dos 13”, apresentando suas principais reivindicações. O programa esboçado pela Oposição Unificada articulava diferentes pontos que convergiam para o fortalecimento da classe operária no interior do Partido e do Estado na União Soviética. O peso conferido à classe operária neste programa partia da leitura dos oposicionistas de que a única garantia contra a consolidação do processo de burocratização (além da revolução europeia) era a participação efetiva dos trabalhadores nas decisões políticas, o que só ocorreria quando estes soubessem o que realmente estava acontecendo no partido. Portanto, para a oposição tratava-se de se dirigir a opinião pública, percorrer o maior número de células e comitês possíveis para ganhar os operários para seu programa. Entre esta pretensão e a realidade concreta havia uma grande distância, àquela altura o aparato dirigente do partido já havia constituído uma rede de vigilância, intimidação e repressão baseada em violências, ameaças, falsificações e calúnias que eram praticados pelos próprios agentes do Estado. Este aparelho repressor traduziu-se, por exemplo, durante as eleições dos delegados para a XV Conferência do partido na fábrica Putilov em Leningrado, quando Zinoviev, destacado membro da oposição naquela cidade, obteve somente 25 votos contra 1375. Apesar dos revezes, a Oposição Unificada recuperou parte de sua influência através de suas denúncias contra a política nefasta do PCUS e da Internacional Comunista em relação à revolução chinesa, cuja consigna de revolução democrático-burguesa e a conseqüente submissão do Partido Comunista Chinês ao Kuomintang, resultou no massacre de centenas de operários chineses em Xangai. O próximo passo da Oposição Unificada foi concentrar todas as suas energias na tentativa de participar do XV Congresso do partido que ocorreria em dezembro de 1927. Com este propósito, em agosto deste ano os oposicionistas elaboram sua plataforma, visando conquistar o maior número de adeptos possível.  Segundo Isaac Deutscher, os oposicionistas “prepararam uma exposição completa e sistemática das suas políticas, uma plataforma como jamais foram capazes de apresentar antes”. Este documento foi escrito por Trotsky, Zinoviev, Kamenev, Smilgá, Piatakov, além de um grupo de jovens, sendo submetida, quando possível, aos grupos oposicionistas e às células operárias. A plataforma da Oposição Unificada, o longo documento era formado por 12 capítulos que analisavam questões como a situação da classe operária, a industrialização, os soviets e o processo de burocratização do partido. Em relação ao partido, a plataforma da Oposição Unificada pontuava que a burocratização avançava a passos largos, suprimindo a democracia interna e violando o legado bolchevique. Denunciava as Conferências e Congressos chamados pela direção sem discussão prévia dos militantes e também a substituição da disciplina revolucionária pela obediência inquestionável. O documento também chamava a atenção dos militantes para o processo de substituição do partido pelo seu aparato dirigente e também sobre os métodos repressivos deste aparato contra os “bolcheviques-leninistas”. Em relação às propostas específicas da plataforma da Oposição Unificada sobre os problemas apontados, o documento propunha entre suas principais medidas: o restabelecimento do livre debate; composição social do partido com uma maioria de proletários industriais; restauração da resolução sobre democracia interna aprovada no X Congresso; composição social do partido com uma maioria de proletários industriais; readmissão dos oposicionistas expulsos e a reconstrução de um Comitê Central com a maioria de trabalhadores. A plataforma afirmava peremptoriamente que a Oposição Unificada estava convencida de que a classe operária iria provar ser capaz de trazer o partido ao caminho leninista, ajudá-la neste processo era a principal tarefa reivindicada pelos oposicionistas. Impedidos pelo aparato de publicar sua plataforma na imprensa do partido, os oposicionistas conseguiram imprimir a duras penas cerca de 30 mil exemplares do documento com o objetivo de coletar o maior número possível de assinaturas e assim pressionar o aparato a aceitar sua participação no XV Congresso. Neste sentido, os bolcheviques voltaram-se para as fábricas e bairros operários para expor e defender sua plataforma. No livro de Deutscher sobre Trotsky há um interessante depoimento do militante Victor Serge sobre esta batalha da oposição: “Cerca de cinqüenta pessoas enchiam a sala de jantar pobre, ouvindo Zinoviev que engordara e, pálido e despenteado, falava com voz baixa. Havia nele algo de flácido e ao mesmo tempo muito atraente. (…) No outro extremo da mesa sentava-se Trotsky. Envelhecendo a olhos vistos, grisalho, de elevada estatura, encurvado, os traços fisionômicos marcados, era cordial e encontrava sempre a resposta certa. Uma operária, sentada de pernas cruzadas no chão, pergunta de súbito: “E se formos expulsos do Partido?” “Nada pode impedir os proletários comunistas de serem comunistas”, respondeu Trotsky. (…) Era simples e comovente ver os homens da ditadura do proletariado, ontem ainda poderosos, voltar assim aos bairros dos pobres e falar, ali, de homem a homem, procurando o apoio e os camaradas”. Como se observa, Trotsky se manteve um Bolchevique-Leninista até a morte, quando foi assassinado por um agente de Stálin no México.