quinta-feira, 1 de março de 2018

HÁ DEZ ANOS DA MORTE DE RAUL REYES


"O comandante das FARC Raul Reyes foi morto em primeiro de março de 2008 no nordeste do Equador em um ataque aéreo e terrestre a seu acampamento realizado pelo Exército da Colômbia. Por ter configurado violação territorial sobre o Equador, a operação que levou à morte de Reyes desencadeou uma crise diplomática entre Colômbia, Equador e Venezuela."

A ESQUERDA REVISIONISTA E O MASSACRE ÀS FARC
(ARTIGO PUBLICADO NO SITE DA LBI EM 28/03/2008)

Nada mais cristalino do que os próprios fatos concretos da luta de classes para demonstrar na prática as reais posições da esquerda revisionista. Referimos-nos ao recente massacre de uma coluna de combatentes das FARC que se encontrava em território equatoriano. Como já era esperado o conjunto dos agrupamentos reformistas que apóiam os governos "nacionalistas" burgueses de Chávez e Rafael Correa, trataram de equacionar o conflito em termos de disputa política entre o fascista Uribe e os "bolivarianos" Chávez e Correa. Logo elegeram como foco central a questão nacional: "defesa do Equador" ou até mesmo "defender Venezuela e Equador" diante de uma possibilidade inexistente de guerra entre estes países e a Colômbia. Os mais exaltados clamaram aos governos da centro-esquerda burguesa o rompimento das relações diplomáticas com Uribe, sendo parcial e temporariamente atendidos.


Para os revisionistas, aí incluídos os "chavistas de carteirinha do PSUV" e os "semi-chavistas" da LIT, PTS, PO, UIT, LOI(DO) etc... o confronto militar entre o narcogoverno de Uribe e a guerrilha colombiana das FARC é um elemento secundário. Mesmo diante dos cadáveres dos militantes das FARC, trucidados covardemente sob orientação do Pentágono, estes pseudotrotskistas recusaram-se a estabelecer a defesa... das FARC, vítima real tanto da perseguição imperialista como da política demagógica humanitária de Chávez e Correa, que objetivamente resultou em sua vulnerabilização no terreno militar. Os marxistas revolucionários não desconsideram o grave fato da invasão territorial do Equador pelas tropas colombianas, mas daí eleger como foco principal a defesa dos governos burgueses de Correa e Chávez, que em hipótese nenhuma estavam ameaçados pelo exército de Uribe, ao invés da solidariedade ativa com as FARC (apesar de seu programa foquista de "união nacional") é uma demonstração cabal da completa ausência de perspectiva de classe de todo arco revisionista.

Mais além de gastar laudas e laudas em sua imprensa denunciando em abstrato o caráter fascista, pró-imperialista e narcotraficante do governo Uribe, o que já é uma redundante verdade para as massas colombianas, o bloco revisionista nem sequer cogitou em apresentar uma proposta de ação prática para o movimento operário colombiano diante do massacre dos combatentes das FARC, para estes senhores que inclusive levantaram o "fora Uribe" era como se a luta de classes na Colômbia estivesse pautada entre Correa e Chávez de um lado e Uribe de outro. A existência da última guerrilha latino-americana em terras colombianas não é um fato de menor expressão política, que possa ser totalmente desconsiderado por qualquer corrente que se proclame leninista. O confronto militar direto entre as FARC e o Estado capitalista colombiano, que já dura mais de 43 anos, é a expressão deformada da própria luta de classes, mais particularmente da ausência de uma direção revolucionária que aponte uma perspectiva genuinamente socialista para o país. O acirramento da tensão entre a política de negociar uma saída institucional para a guerrilha ou manter o combate no campo militar ao governo títere de Uribe, deve ser entendida pelos revolucionários como uma tentativa de absoluta capitulação histórica, sinalizando para a classe operária que o socialismo poderá ser conquistado pela via pacífica, ou melhor dizendo, na atualidade, pela via bolivariana. Os marxistas não podem se abster desta disjuntiva sob o pretexto de que a guerrilha tem um caráter pequeno-burguês e possui um programa reformista, seria como repetir o erro ocorrido em Cuba, quando os chamados "antipablistas" recusavam-se a reconhecer a revolução cubana sob a justificativa do caráter foquista do castrismo.

Uma política justa, tanto para o caso concreto do assassinato do comandante Raúl Reyes e mais 16 combatentes, como para o confronto militar entre a guerrilha e o Estado burguês passa por aplicar a tática da frente única de ação defendida por Lênin e Trotsky, ou seja, unidade no campo das ações contra Uribe, Bush e cia, mas absoluta independência política em relação ao programa reformista das FARC. Trata-se da mesma posição adotada no conflito palestino, ou mesmo no Líbano, Iraque e Afeganistão. Já os revisionistas latino-americanos, em virtude da proximidade geopolítica das FARC, foram obrigados a tentar dissimular o conteúdo de classe do conflito, buscando apagar o papel protagonista jogado pelas FARC neste momento, com o objetivo de não descolarem-se da opinião pública pequeno-burguesa simpática em certa medida ao populismo de Chávez, mas avessa aos métodos considerados pela mídia como "terroristas" das FARC.

A realidade com sua lógica de ferro tratou de desmoralizar tanto a posição supostamente nacionalista de Chávez e Correa, assim como o abstencionismo criminoso de toda sorte das tendências revisionistas. A inexistente ameaça de guerra "continental" acabou com abraços regados a champagne entre Uribe e Correa, com a benção de Lula e a tradicional cantoria canastresca de Hugo Chávez na Cúpula do Rio. Para as FARC fica a perda de um dos seus melhores dirigentes e o vazio de uma política de "negociações humanitárias" que pode levar ao seu aniquilamento físico, além de não garantir a libertação de nenhum de seus prisioneiros políticos nos cárceres fascistas. Cabe a vanguarda classista colombiana abstrair todas as lições desse trágico episódio, tratando agora de implementar a herança teórica de Lênin e Trotsky através da tática da frente única de ação combinada a estratégia da revolução socialista e a ditadura do proletariado.