quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

ZUMA RENUNCIA À PRESIDÊNCIA DA ÁFRICA DO SUL: CAIU MAIS UM GOVERNO DA CENTRO-ESQUERDA BURGUESA, UM NOVO “GOLPE INSTITUCIONAL” TRAMADO SOB AS ORDENS DO IMPERIALISMO DIANTE DA DIVISÃO DA FRENTE POPULAR


O presidente da África do Sul, Jacob Zuma, acaba de renunciar ao cargo após forte pressão de seu próprio partido, o CNA, que o acusou de “corrupção”. Segue assim o script preferencial do imperialismo para derrubar ou acossar os governos da centro-esquerda burguesa com o elemento adicional da profunda divisão na Frente Popular no país africano. O anúncio da renúncia ocorre horas após uma operação policial na casa de luxo da família Gupta ser realizada como parte de uma investigação sobre alegações de que os três irmãos tinham ligações corruptas com o presidente da África do Sul. Foi um processo parecido ao que ocorreu no Brasil, Paraguay, Zimbábue e agora na África do Sul. Trata-se na verdade de mais um golpe institucional de “novo tipo” tramado contra uma gestão frente populista, com o aval de setores do próprio CNA. O primeiro na fila para ocupar o cargo vago é o vice-presidente Cyril Ramaphosa, um líder sindical e advogado, que é também líder do CNA desde dezembro do ano passado, ao derrotar a ex-esposa de Zuma, Nkosazana Dlamini-Zumae. Ramaphosa foi o principal impulsor das manobras para buscar a renúncia do ex-mandatário. Zuma foi o quarto presidente da África do Sul desde o fim do apartheid. “Fui obrigado a me demitir como resultado de um voto de falta de confiança estabelecido pelo CNA”, disse Zuma, citando a ameaça feita por membros do seu partido de convocar na quinta-feira uma votação no Parlamento sul-africano para expressar que não estavam mais apoiando seu governo. Anteriormente, Zuma tinha dito que não renunciaria ao posto e classificou a pressão do CNA como “injusta”. No entanto, ele foi dissuadido da ideia após o partido anunciar que entraria com uma moção de censura para removê-lo à força do cargo, o que expressa a grave fissura no interior da frente popular com um setor claramente fazendo o jogo do imperialismo. O agora ex-presidente precisará responder por mais de 800 acusações de corrupção em contratos de armas em 1990 e pelo uso da máquina pública para favorecimento de empresários. Não é mera coincidência que o mesmo processo vem enfrentando o PT brasileiro, vítima de sua própria política de colaboração de classes, que gerou tremendo desgaste em suas bases sociais e eleitorais com um setor da “esquerda” apoiando as investigações da Justiça burguesa (Lava Jato) contra contra Lula, particularmente tendências do PSOL e o PSTU que exercem essa mesma função direitista em nome da “ética na política e do combate a corrupção”. Em 2012 denunciamos que Zuma e o governo frente populista do CNA massacram operários em greve na África do Sul mas nunca nos aliamos a direita para derrubar um governo frente populista. Após 24 anos de governos ininterruptos, o Congresso Nacional Africano (CNA) mantinha-se no governo da África do Sul com Jacob Zuma. O CNA é uma frente popular composta a partir da aliança tripartite entre o partido burguês homônimo e duas organizações tradicionais da classe operária sul-africana, a COSATU, central sindical sul africana, e o Partido Comunista. A aliança governa desde 1994 e as massas que se sentiram traídas pelo último presidente, Thabo Mbeki que agravou enormemente a miséria do país, agora viram Zuma renunciar. Zuma vinha se apoiando na COSATU e no PC, chegou a afirmar-se como socialista e a defender a redistribuição das riquezas do país mas acabou pactuando um governo de conciliação de classes agora descartado pelo imperialismo e uma ala do CNA. Para se manter no governo ele vinha tratando de tranqüilizar os capitalistas e especuladores internacionais, reforçando desesperadamente a aliança policlassita que controla o país, o que não surtiu efeito, como comprova com vergonhosa renúncia.

Na África do Sul, o desenvolvimento desigual e combinado da luta de classes fez com que o retardo do fim da ditadura do apartheid desembocasse na primeira experiência de governo de frente popular como opção preferencial do imperialismo. Após 30 anos da ditadura branca do apartheid, o imperialismo tratou de operacionalizar uma distensão democrática, retardada em quase duas décadas, tardia em relação às ditaduras europeias (franquismo e salazarismo) e em uma década em relação às ditaduras militares de suas semicolônias latino-americanas. O CNA negociou entre 1990 e 1994 os acordos de garantias às corporações multinacionais mineiras e a burguesia em geral, impulsionando uma burguesia negra que, no governo, após as eleições de 1994, adotou a estratégia neoliberal de “Crescimento com Igualdade e Redistribuição” (GEAR) que teve a sua maior expressão no governo Mbeki. Se durante o apartheid o imposto estatal cobrado às grandes companhias chegava a 48% dos lucros, o governo do CNA reduziu estes impostos para 28%. Com a frente popular negra, a burguesia imperialista racista logrou um ambiente politicamente bem mais estável para fazer seus negócios por quase metade do preço que tinha que pagar antes ao governo branco. Agora esse pacto social começa a ruir sob o sangue dos operários negros e a divisão da Frente Popular!

Com a renúncia de Zuma por pressão do imperialismo em acordo com uma ala do CNA é preciso construir um partido trotskista revolucionário do proletariado negro da África do Sul para derrotar a frente popular e a direita, superando as ilusões no CNA, no PC e na COSATU através da luta revolucionária pela expropriação do imperialismo e de seus sócios burgueses, brancos ou negros. Só por esta via a maioria da população explorada e milenarmente oprimida poderá emancipar o continente africano do capitalismo racista e desenvolver as forças produtivas rumo ao socialismo, pondo fim definitivamente aos massacres para impor a espoliação do país pelas transnacionais.