terça-feira, 16 de janeiro de 2018

HÁ 90 ANOS DA DEPORTAÇÃO DE LEON TROTSKY: O “REVOLUCIONÁRIO SEM PASSAPORTE” DEFENDE A REVOLUÇÃO MUNDIAL, SENDO PERSEGUIDO IMPLACAVELMENTE PELO STALINISMO

Em 16 de janeiro de 1928, há exatos 90 anos, Leon Trotsky foi deportado para Alma-Ata (no atual Cazaquistão), um remoto lugar na Ásia Central soviética. Ali viveu um exílio interno durante 12 meses antes de ser banido definitivamente da União Soviética por Stálin. Acabou por ser expulso da URSS, em janeiro de 1929, sendo enviado de Odessa para Constantinopla (atual Istambul, na Turquia) por barco. O Blog da LBI transcreve trechos em que Trotsky, no livro “Minha Vida”, no capítulo “A Deportação”, descreve detalhadamente esses acontecimentos dramáticos a partir das linhas escritas por sua companheira Natália Sedova.


“Sobre minha a minha deportação para a Ásia Central transcrevo integralmente a narrativa de minha mulher no seu diário:

‘16 de janeiro de 1928. Estamos fazendo as malas desde o amanhecer. Tenho febre, e um pouco por isso e um pouco devido à fraqueza, gira-me a cabeça na confusão dos objetos trazidos do Kremlin para cá e das coisas que devemos levar conosco. Um caos de móveis, roupa branca, livros e uma infinidade de visitas, amigos vem despedir-se. Nosso médico, F.A. Guetier aconselha-me ingenuamente a adiar a viagem devido ao meu resfriado. Ele não tem ideia clara do que seja a nossa viagem e do significaria adiá-la. Espero, antes, restabelecer-me durante a viagem, pois com o alvoroço dos ‘últimos dias’, em casa, isso não seria fácil. Vejo diante de mim muitas caras novas, algumas que nunca vi antes. Abraços, apertos de mãos, gentilezas, votos de felicidade. A confusão aumenta pois trazem-nos flores, livros, doces, roupas de lã, etc. O último dia de agitação chega ao fim. As bagagens já estão na estação. Os amigos também já estão lá, a nossa espera. Afinal chegamos e nos assentamos na sala de refeição, prontos para partir. Só esperamos os agentes da GPU. Consultamos o relógio...nove, nove e meia...não aparece ninguém. Dez. A hora da partida da trem. Que haverá? Mudaram de ideia? O telefone tilinta. Da GPU comunicam que a viagem foi adiada...Diante do vagão destinado a nós concentrava-se uma multidão agitada. Os jovens amigos haviam colocado sobre o teto do carro faixas e cartazes com dizeres altamente elogiosos e entusiásticos. O trem bufou, avançou, recuou e parou. Os manifestantes tinham corrido para a frente da locomotiva, outros agarraram-se aos vagões. Fêz-se o trem parar. A multidão gritava Trotsky. Na estação reinava uma confusão indescritível. Houve enfrentamentos com os agentes da GPU. Feridos de ambos os lados. Depois de algum tempo tornaram a trazer nossas bagagens da estação. Era mais de meia noite, quando nos recolhemos. Extenuados da agitação dos dias anteriores, dormimos até as 11. Nem chamado telefônico nem toque de campainha. Calma e silêncio...Mas mal acabávamos de almoçar, bateram à porta...E a casa se encheu de agentes da GPU, à piasana e fardados. Entregaram a Trotsky a ordem de prisão e de partida imediata para Alma-Ata....Soube-se mais tarde que Bukharin estava encarregado da “direção política” da “expedição Trotsky”. Realmente era bem uma maquinação de Stálin... Chegamos a estação deserta. Os agentes levaram Trotsky carregado. Liova grita aos poucos ferroviários presentes ‘Camaradas, vejam como levam o camarada Trotsky’”...