terça-feira, 7 de novembro de 2017

DIREÇÃO DAS FARC “CELEBRA” OS CINCO ANOS DA MORTE DO SEU COMANDANTE MILITAR AFONSO CANO:  APÓS DEPOR AS ARMAS, PREGA A “CONCILIAÇÃO NACIONAL PELA VIA DA PAZ E DO BOM VIVER” COM MANOEL SANTOS, O ALGOZ DO DIRIGENTE DA GUERRILHA COVARDEMENTE ASSASSINATO


No último dia 05 de novembro completou-se cinco anos do assassinato do Comandante Militar das FARC, Afonso Cano, morto pelo Exército Colombiano na fronteira entre a Colômbia e a Venezuela em 2011, sob as ordens do atual presidente Manoel Santos. Do período entre a morte de Afonso Cano até hoje, as FARC evoluíram para a completa rendição política e militar, chegando ao ponto de agora não só terem entregue as armas como se transformado em um inofensivo e domesticado partido político que respeita integralmente as regras da democracia burguesa na Colômbia. Triste forma de “celebrar” o combate heroico de Cano e demais camaradas que morreram em combate ao chacal Santos, na verdade renegando seu legado! Se naquela época denunciamos que Chávez ajudou Santos na operação para eliminar Cano, agora pontuamos que o conjunto da esquerda reformista mundial e os regimes castristas e o governo venezuelano (agora presidido por Nicolás Maduro) foram os fiadores do pacto que levou as FARC a completa capitulação. Vale recordar que naquele novembro de 2011 o facínora presidente colombiano, Manoel Santos, hoje apresentado como um exemplo de democrata pela direção das FARC, anunciou com júbilo o assassinato de Afonso Cano, comandante militar da guerrilha. Em uma operação que empregou mais de mil soldados do exército colombiano, o acampamento das FARC foi bombardeado e depois cercado, sendo mortos além de Cano vários dirigentes da guerrilha. Ao contrário de trilhar o caminho da resistência como o deixado por Cano ao morrer lutando, a direção da guerrilha  enveredou pelo rumo oposto, o da conciliação de classes: “O Plenário ratificou o espírito de unidade do novo partido FORÇA ALTERNATIVA REVOLUCIONÁRIA DO COMUM e a necessidade de avançar para um governo de transição e reconciliação nacional, que encerre o capítulo da violência política e abra uma nova época, na qual germine a democracia plena através da paz e do bom viver da sociedade colombiana”. Com esta plataforma reformista e de apologia ao regime da democracia burguesa as FARC entregaram as armas e se transformou em mais um partido da ordem capitalista na Colômbia.


O duro golpe contra as FARC que foi responsável pela morte de Afonso Cano e abriu caminho para cinco anos depois se concretizasse a rendição da guerrilha só foi possível devido às informações obtidas depois da detenção na fronteira com a Venezuela, em uma operação conjunta entre as forças de segurança do então governo Chávez e a polícia nacional colombiana, do guerrilheiro Miguel Ángel Ariñez, conhecido como “el médico”, responsável pela assistência médica ao comando central da guerrilha. Segundo o próprio diretor da Polícia Nacional colombiana, o general Óscar Naranjo, Miguel Ángel Ariñez foi capturado em agosto de 20111 na cidade fronteiriça de Cúcuta, depois de ter retornado a Colômbia pressionado pelas operações venezuelanas: “Este indivíduo saiu da Venezuela por pressão da busca que exerceu Venezuela, de maneira binacional” (Jornal espanhol Qué, 04/08/2011), destacando que “a normalização diplomática com o país vizinho tem possibilitado maiores coordenações de inteligência e um trabalho conjunto. O que estamos constatando é que a pressão binacional Venezuela-Colômbia está produzindo estes resultados, dada a instabilidade e os erros que estão cometendo os terroristas” (Idem). A macabra ação conjunta de caça aos dirigentes das FARC entre Chávez e Santos permitiu as informações sobre a localização do acampamento onde estava Afonso Cano e a vitória do operativo militar que levou a sua morte. Esta mesma “parceria” já havia capturado o jornalista da ANNCOL (Agência de Notícias Nova Colômbia), Joaquín Pérez Becerra, refugiado político há doze anos na Suécia, preso quando estava na Venezuela e entregue para o cárcere do narco-fascista Manuel Santos, assim como deteve Julián Conrado, dirigente da guerrilha, doente e encarcerado em condições sub-humanas pelo exército venezuelano.

O mais repugnante é que as mesmas correntes de esquerda que hoje apoiam o acordo celebrado entre as FARC e Santos, como o PCB brasileiro, na época denunciam o assassinato de Cano, mas não fizeram qualquer menção de que a colaboração do governo Chávez foi fundamental para que o exército colombiano alcançasse seu objetivo fatal. Da mesma forma agiram os revisionistas do trotskismo, como a decomposta CMI de Alan Woods, que se calaram diante de mais este verdadeiro crime que teve a participação direta do paladino do “Socialismo do Século XXI” que tanto reverenciam. Estes grupos sequer denunciaram que, ao mesmo tempo em que Chávez colaborava com o extermínio dos militantes das FARC, cinicamente defendia que a guerrilha entregasse suas armas, ou seja, pressionava para que as FARC se rendesse ao regime facistizante colombiano comandado por Santos, o que desgraçadamente veio a se concretizar agora, cinco anos depois. Na época, Chávez fez coro com este facínora, que ao anunciar a morte de Afonso Cano deu um ultimato público às FARC: rendição ou morte! Um exemplo claro do apoio a essa política canalha é o que defendeu o PC colombiano em sua declaração após o assassinato de Cano: “É necessário insistir em saídas humanitárias e pacíficas. O governo e as organizações insurgentes devem abrir um espaço de diálogo para o acordo pela nova Colômbia em paz com democracia e justiça social” (Sítio PCC, 05/11/2011).

O PCB do Brasil que apesar da verborragia vazia em defesa da “revolução e do socialismo”, avalizou sem nenhuma delimitação crítica a “transição democrática” das FARC, assim como capitula vergonhosamente ao PSOL na trilha do eleitoralismo socialdemocrata da chamada “Frente de Esquerda”. Segundo a saudação do PCB ao congresso das FARC que deliberou por esse programa de colaboração de classes, “Desde o Brasil sempre estivemos na linha de frente da solidariedade com os e as camaradas, que na época estavam em armas nas montanhas e agora, neste novo momento, estão buscando os mesmos objetivos pela via política... Os inimigos da paz e do progresso social tramam diariamente para o fracasso dos acordos e buscam de maneira permanente criar condições para retrocessos”. Como se observa, o congresso que incorporou as FARC ao regime da democracia dos ricos está sendo comemorado pelo PCB e o conjunto da esquerda mundial, além obviamente que recebe os aplausos da Casa Branca. Acertada a entrega das armas pelas FARC e o plano de sua transformação em partido político subordinado as regras da democracia burguesa, o imperialismo ianque felicitou na época o governo colombiano por ter chegado a um acordo de cessar-fogo definitivo com a guerrilha: “Apesar de persistirem os desafios, o anúncio representa um importante avanço”. As “negociações de paz” com Santos e o conjunto das medidas anunciadas pelas FARC foram sendo tomadas desde 2012 no marco de uma enorme pressão “democrática” de seus “aliados”, particularmente do governo venezuelano e os irmãos Castro, comandantes da burocracia cubana, elas não fortalecem a luta revolucionária na Colômbia e no mundo, na verdade a sabotam. A ofensiva militar imperialista na Líbia e na Síria, apoiando-se na onda de “reação democrática” que varre o Oriente Médio, é a prova do que afirmamos.

Frente a essa conjuntura dramática, os revolucionários bolcheviques criticaram publicamente as decisões tomadas pela direção das FARC porque estas medidas desgraçadamente levam paulatinamente à sua rendição política e não “só” militar. Através de concessões crescentes se aposta na via da conciliação de classes e na política de integração ao regime títere como prega Piedad Córdoba e seu movimento “Colombianos pela Paz”. Em 2014, quando o grosso da esquerda colombiana apoiou a reeleição de Santos já denunciávamos essa posição vergonhosa do PCB. Naquele momento alertamos: “No Brasil, o PCB integrou-se entusiasticamente a esta política vergonhosa de apoio aos ‘acordos de paz’ levada a cabo pela direção das FARC, pela Marcha Patriótica e a ex-senadora Piedad Córdoba, na verdade uma estratégia traçada por Santos para garantir sua reeleição e voltada no fundo a eliminar a guerrilha. Tanto que na ‘Declaração pública da delegação da visita internacional de solidariedade pela paz com justiça social na Colômbia” assinada pelo PCB em conjunto com outras entidades internacionais e organizações no Brasil (inclusive o PCdoB!) se afirma ‘Nós, como delegação da visita internacional de solidariedade pela paz com justiça social na Colômbia, rogamos à institucionalidade colombiana, em particular à Presidência da República, ao Gabinete Geral da Nação, à Procuradoria Geral da Nação: Manter a mesa de diálogos de paz com as FARC-EP em Havana, assim como abrir mesas similares com o ELN e o EPL. Garantir a participação democrática direta e permanente das organizações sociais na construção de acordos de paz. Decretar um cessar fogo bilateral como condição necessária para avançar na consecução da paz com justiça social, assim como a necessária inclusão do conjunto do movimento social e político colombiano nas negociações. PELA PAZ COM JUSTIÇA SOCIAL NA COLÔMBIA” (Sitio PCB, 07/05/2014).

A LBI, apesar de nossas profundas divergências com o programa das FARC, manteve-se de pé a tarefa da defesa militar incondicional da guerrilha frente aos ataques do governo assassino de Santos, a serviço do imperialismo ianque, assim como denunciou o chavismo e seu “Socialismo do Século XXI” como um embuste que não pode de forma alguma ser apresentado como um regime político aliado dos trabalhadores. Na verdade, o real conteúdo do decadente nacionalismo burguês, representado por Chávez, é exatamente similar a outros regimes com as mesmas características sociais, como na Líbia à época de Kadaffi. Em síntese, governos capitalistas com viés estatizante, vacilantes em relação ao enfrentamento com o imperialismo, que pressionados pelo proletariado adotam uma tímida postura “nacionalista”. Em oposição pelo vértice aos revisionistas do trotskismo e dos estalinistas “moderados” que condenavam as FARC pela adoção da luta armada, isolando-a ainda mais para que sejam presa fácil da burguesia, sempre defendemos que uma política justa para o confronto entre a guerrilha e o Estado burguês passa por aplicar a unidade de ação contra Santos, com a mais absoluta independência política em relação ao programa reformista das FARC. Ao lado dos heróicos guerrilheiros das FARC e honrando o sangue derramado pelo comandante Afonso Cano, que morreu em combate, apontamos como alternativa programática a defesa da estratégia da revolução socialista e da ditadura do proletariado, sem patrocinar nenhuma ilusão na possibilidade de construir uma “Nova Colômbia” sem liquidar o capitalismo e seus títeres. É vital para o movimento de massas colombiano reorganizar os sindicatos operários que sejam capazes de acaudilhar atrás de si as organizações guerrilheiras, submetendo-as militarmente à democracia das assembleias proletárias para implodir o pacto social em curso entre a direção da antiga guerrilha e Santos.