quinta-feira, 19 de outubro de 2017

XIX CONGRESSO DO PCCh REAFIRMA A “VIA CHINESA AO CAPITALISMO”: UMA TRANSIÇÃO “LENTA, GRADUAL E SEGURA” NA CONSOLIDAÇÃO DA ECONOMIA DE MERCADO PELAS MÃOS DA BUROCRACIA RESTAURACIONISTA NA TENTATIVA DE SE ALÇAR COMO UM CONTRAPONTO MILITAR AO IMPERIALISMO IANQUE


O presidente da China e Secretário-Geral do Partido Comunista, Xi Jinping, abriu ontem o XIX Congresso do PCCh com um longo discurso em que descreveu seu governo como uma nova era em que “a China se moverá para mais perto do centro do palco”. Prometeu abrir ainda mais a economia e respeitar os interesses das empresas estrangeiras no país. Um dos objetivos declarados de Xi Jinping é levar a China a tornar-se uma “sociedade modestamente próspera” até 2021, nas comemorações do centenário do PCCh. Para isso, será preciso manter o crescimento na faixa de 6,5% ao ano até 2020. Outro objetivo é que, no centenário da revolução, em 2049, ela seja um país rico e desenvolvido. O Congresso do PC chinês ocorre a cada cinco anos quando a burocracia restauracionista herdeira do stalinismo de Mao-Tsé-Tung anuncia formalmente ao mundo seus planos estratégicos, políticos e econômicos. No discurso de Xi, Mao foi apresentado como o responsável pela revolução socialista e pela consolidação do Partido Comunista no poder. Deng Xiao Ping pela abertura e pela era de crescimento econômico. Ele, Xi, pela conquista do poderio como superpotência global. A realidade nem de longe é a retratada pelo dirigente da burocracia tendo como base uma análise mais apurada do ponto de vista do Marxismo Revolucionário. A China é um ex-Estado Operário burocratizado que transita ordenadamente ao capitalismo e vem se convertendo em uma poderosa semicolônia, porque as bases econômicas do desenvolvimento chinês se apoiam em relações de produção capitalistas onde a burocracia restauracionista cada vez mais assume o papel de sócia subordinada e dependente do capital financeiro internacional. Na medida em que na China está em curso um processo de acumulação primitiva de capital para forjar a nova burguesia, a Casa Branca e o imperialismo europeu buscam incentivar no curso dessa transição divisões políticas que lhes favoreçam. Historicamente, o imperialismo tem recorrido a vários meios políticos e militares para impor seu controle nos países que consideram adversários ou desejam fragilizar. As manifestações pela “autonomia total” de Hong Kong, pela independência no Tibet para “recriar” uma classe dominante baseada na dinastia lamaísta e as tentativas de patrocinar, desde o governo Clinton, o separatismo islâmico e muçulmano em algumas províncias chinesas via patrocínio da CIA às atividades da Al Qaeda na região são parte dessa estratégia que até agora tem fracassado pela unidade da burocracia em sua “via chinesa ao capitalismo”. A grande mídia e a própria burocracia restauracionista qualifica a China como uma grande potência, no que é grotescamente imitada pela esquerda revisionista do trotsquismo. A realidade, no entanto, é distinta e deve ser analisada além das aparências. A China, no curso do processo de restauração capitalista, vem se transformando na verdade no maior entreposto comercial e industrial do mundo, uma grande consumidora de commodities e é nisto que consiste a sua “exuberância” econômica. Caracteriza-se por ser uma economia semicolonial com fortes induções estatais, remanescentes da herança stalinista. Em suma, por maior que seja o crescimento do PIB chinês, a hegemonia militar em todo o planeta ainda se concentra plenamente nas mãos da Casa Branca, sendo apenas um “sonho” da China converter-se em uma superpotência capitalista. Nesse sentido “a via chinesa” de restauração capitalista como vemos reafirmada por Xi Jinping é um processo lento, ordenado e centralizado de medidas que, levadas a frente sob o férreo controle político do PPCh, avançam o ritmo da restauração capitalista para se fortalecer futuramente como contraponto militar e econômico ao imperialismo ianque. Essa estratégia encontra-se resumida nas palavras na abertura do Congresso proferidas por Xi Jinping “Cada um de nós precisa fazer o possível para defender a autoridade do partido e o sistema socialista chinês, e se opor de forma resoluta a toda palavra ou ação que vise a solapá-lo... A abertura traz progresso para nós, enquanto o isolamento nos deixa atrasados. A China não fechará suas portas para o mundo, estaremos cada vez mais abertos”.

O imperialismo ianque teve um peso determinante no processo de restauração capitalista do antigo Estado Operário chinês como sócio industrial. A China vem completando um processo de transição econômica onde houve tanto uma renovação da legislação trabalhista (acarretando mais gastos sociais para o Estado, em contraponto ao que ocorre hoje no Brasil) como a da incorporação de grandes empresas estrangeiras ao patrimônio estatal, estes dois elementos forçaram uma redução em investimentos públicos para o triênio 2014/2016. A previsão do governo de Pequim (que se confirmou) foi que em 2017 a China retornasse seus níveis acelerados de crescimento (nos dois primeiros trimestres do ano, o crescimento foi de 6,9%. Meta do governo chinês é crescer cerca de 6,5% em 2017). Todos os países exportadores para a "locomotiva chinesa" estão sendo afetados com a situação atual de crise econômica com lenta recuperação nos EUA. O período mitigado de transição histórica que atravessa a China, entre o capitalismo de estado dependente e um nascente imperialismo mundial ainda não confirmado, faz com que a burocracia estatal dirigente atue com a máxima cautela diante da crise mundial, isto significa expor minimamente sua economia nacional a especulação financeira e acionária. Um sistema financeiro estatal é uma boa garantia para afastar os "apostadores" de plantão do cassino, digo do mercado. Esta característica herdada e mantida do antigo Estado Operário não significa a inexistência das bolsas ou mesmo de certo crédito privado para financiar o desenvolvimento da indústria, afinal para quem pode se dar ao "luxo" de ter uma colônia financeira, Hong Kong, não se faz necessário comprometer a parte de sua economia "controlada". Na lama do capitalismo mundial o governo chinês deliberou nos últimos anos por conceder alguns benefícios sociais que haviam sido suprimidos no processo de transição que sepultou o antigo Estado Operário Burocratizado. Ao contrário dos pigmeus do imperialismo que difundem que o proletariado chinês é escravizado, a própria e insuspeita ONU reconhece os avanços realizados nos últimos quatro anos. Não nutrimos nenhuma simpatia política ou pretendemos defender a burocracia restauracionista chinesa, porém se compararmos ao governo neoliberal do PT no mesmo período (2014/2016) veremos que Dilma seguiu integralmente à risca a pauta econômica imposta por Washington, e não a adotada por Pequim.

CHINA: APESAR DA RESTAURAÇÃO EM CURSO, UM OBSTÁCULO PARA O IMPERIALISMO IANQUE AVANÇAR SEU DOMÍNIO ABSOLUTO SOBRE A ÁSIA

A China vem se convertendo lentamente em um grande obstáculo militar e econômico para os EUA. Possui o maior exército do mundo (quase 3 milhões de soldados), um poderio bélico poderoso que inclui a bomba de nêutrons e mísseis de longo alcance com capacidade de carregar ogivas nucleares.  Diferente do que ocorreu no processo de restauração capitalista na ex-URSS, onde a casta burocrática se dividiu em várias frações que disputavam o que restou do antigo Estado operário (processo hoje parcialmente revertido por Putin), o objetivo da burocracia chinesa é estabelecer uma lenta e ordenada transição da economia planificada para o capitalismo, sendo ela mesma convertida em proprietária dos meios de produção. Precisamente por isto a burocracia chinesa pretende realizar uma transição a mais ordenada possível, não podendo destruir de imediato o Estado operário. O atual ritmo da restauração do capitalismo na China não interessa aos EUA, por isso procuram de todas as formas debilitar a China. Foi assim em 1996, quando os EUA deslocaram porta-aviões, submarinos nucleares e navios de guerra para as proximidades da costa chinesa, a fim de "proteger" o enclave imperialista de Taiwan; em 1999 a OTAN bombardeou "por engano" a embaixada chinesa em Belgrado; em 1º de abril de 2001, um avião de espionagem norte-americano chocou-se com um caça chinês sobre o Mar da China Meridional.

Os marxistas revolucionários estão na primeira linha de defesa da nação chinesa contra as agressões imperialistas, apesar de afirmamos claramente o caráter venal e corrompido dos ex-burocratas “comunistas” que liquidaram as principais bases sociais do Estado operário, para se converterem em uma nova classe social dominante. Apesar da restauração capitalista, o que proporcionou a China a criação de um dos maiores mercados do mundo, parte das conquistas do proletariado ainda estão de pé e sob ameaça da ofensiva imperialista. É exatamente neste ponto que se concentram todo o ódio da burguesia ianque contra a China, não podem admitir que um país recém-convertido à economia “livre” de mercado, mantenha conquistas operárias que devem ser eliminadas pelo “ajuste financeiro” global que promovem contra os povos. Portanto, mantém-se plenamente vigente o prognóstico do Programa de Transição, apontando que os bolcheviques-leninistas devem combinar a luta pela revolução socialista nos ex-Estados operários com as tarefas pendentes da luta política em defesa das conquistas ainda existentes. As constantes provocações contra o Estado nacional chinês cumprem, em última instancia, o objetivo de acabar com qualquer possibilidade de que algum regime ao redor do planeta se oponha ainda que minimamente ao “american way life”, como são os casos específicos da Coreia do Norte e Irã. Somente a revolução proletária, encabeçada por um autêntico partido revolucionário poderá retomar o controle para si da economia planificada na China e o controle do Estado por parte dos trabalhadores e enfrentar frontalmente a barbárie imperialista rumo à construção do socialismo.

POR UMA NOVA REVOLUÇÃO SOCIALISTA NA CHINA!

A burocracia chinesa por sua natureza política contrarrevolucionária, é incapaz de enfrentar os ditames do capital, e por sua consciente política de restauração capitalista, se torna cúmplice do imperialismo. Somente a ação do gigantesco proletariado chinês, dirigido por um partido revolucionário, pode pôr a termo o processo de restauração capitalista, através da revolução política, e derrotar a política ameaçadora de polícia mundial do imperialismo ianque contra o Estado operário chinês. Para o proletariado chinês está colocada na ordem do dia a luta por uma nova revolução proletária no antigo Estado operário, hoje em conversão ao capitalismo, já que tanto as alavancas fundamentais de sua economia socialista foram todas suprimidas pela camarilha restauracionista, assim como parte da burocracia stalinista inicia o processo de acumulação primitiva para transformar-se em classe burguesa, orientando abertamente todos os setores do Estado em favor de uma apropriação privada de capital como estamos vendo com as resoluções tiradas nesse XIX Congresso do PCCh. Só uma revolução socialista na China encabeçada por um genuíno partido revolucionário, pode retomar a economia e o controle do Estado para as mãos dos trabalhadores, unindo de forma revolucionária a China em torno da construção do socialismo, como foram dados os primeiros passos neste caminho com a revolução de 1949.