segunda-feira, 3 de outubro de 2016

VENCE O “NÃO” NA COLÔMBIA: FARC É VÍTIMA DE SUAS ILUSÕES SUICIDAS NA DEMOCRACIA BURGUESA QUE IMPORÁ A “PAZ DOS CEMITÉRIOS”


O resultado do referendo deste 02 de outubro na Colômbia deu a vitória do NÃO por 50,2%, rechaçando os termos do “Acordo de Paz” entre o governo Santos e as FARC. 49,7% dos votos optaram pelo “Sim”. Ainda que a diferença tenha sido por uma pequena margem de votos, a vitória do Não no marco de uma intensa campanha midiática estatal com apoio da Casa Branca pelo Sim, demonstrou a força dos setores mais reacionários na Colômbia, concentrados nas FFAA e cujo porta-voz é o ex-presidente Álvaro Uribe. Vale salientar que dias antes da votação, as FARC destruíram 600 quilos de explosivos e aceitaram “inventariar” os bens e recursos da guerrilha como uma demonstração de “boa fé” no acordo que prevê o desarmamento de seus militantes e um período de transição de 180 dias onde os guerrilheiros ficariam em “campos de concentração” para só depois voltarem à vida civil. Estas cláusulas humilhantes foram impostas para garantir a transformação das FARC em um domesticado partido politico submetido às regras da democracia burguesa. Como os militantes das FARC já se expuseram publicamente, entregaram grande parte das armas à supervisão da ONU e sua direção nacional embarcou em uma vergonhosa política de colaboração de classes sem volta, com a vitória do Não a guerrilha está totalmente vulnerável a uma ofensiva militar das FFAA. Não há sequer as “garantias” mínimas que previa o acordo celebrado por Santos e a guerrilha perdeu sua força política e militar com a desmobilização em curso. As FARC são vítimas de sua própria política do reformismo armado, tanto que após o resultado do referendo restou ao seu dirigente, Timochenko, declarar “As FARC-EP mantem sua vontade de paz y reiteram sua disposição de usar somente a palavra como arma de construção rumo ao futuro” (El Pais, 01.10). Por sua vez, Santos deve chantagear ainda mais as FARC com imposições ultra-humilhantes enquanto paralelamente os grupos paramilitares e as FFAA recrudescem sua ofensiva militar, como já ocorreu na véspera do referendo, segundo comunicado da própria guerrilha. Por essa razão, o governo colombiano enviou delegados a Havana para "renegociar" o acordo com novas bases, mais duras como defende Uribe, como a prisão imediata dos guerrilheiros e nenhum tipo de anistia, além da entrega de todos bens e dinheiro das FARC. Lembremos que na própria cerimônia oficial da assinatura do “Acordo de Paz” jatos de guerra Kafir sobrevoaram o palanque enquanto Timochenko estava discursando, em uma aberta provocação as FARC, com a mídia relatando com imagens em primeiro plano o rosto surpreso de Timochenko, para falar de seu pretenso medo com um ataque. Naquele momento o dirigente das FARC declarou diante da provocação “Nós das FARC vamos continuar fazendo política, de maneira aberta e legal, sem armas, levando nossa mensagem de renovação e mudança por todo o país. Com garantias plenas por parte do Estado. Nesse sentimento é de que estamos saindo da guerra pela porta da frente, com reconhecimento oficial da ONU, da União Europeia, dos Estados Unidos e praticamente de todos os países do mundo” (PCB, 30.09). A fala de Timochenko demonstra suas ilusões suicidas nas “garantias” do Estado capitalista e do imperialismo, mas estas supostas “garantias” formais ilusórias sequer existem mais com a vitória do Não. Tragicamente a esquerda reformista e sindical apoia a política de colaboração com Santos, que teve o apoio político desses agrupamentos no segundo turno das eleições presidenciais. Essa mesma esquerda burguesa (que no Brasil engloba PT, PSOL , PCdoB e até mesmo o PCB) se nega a centralizar a luta em uma greve geral contra o governo colombiano.  A LBI denunciou desde o início das negociações o conteúdo contrarrevolucionário do acordos de paz, baseado em uma rendição unilateral das guerrilha e sua adaptação a democracia burguesa. Não apoiamos nem o Sim e muito menos o Não no referendo, apresentamos uma saída revolucionária para a crise do regime burguês colombiano contra o engodo da democracia dos ricos: Não ao falso "Acordo de Paz"! Unidade da guerrilha com o movimento operário para lutar contra o governo Santos, Uribe e o imperialismo. Agora, com a vitória do Não, fica claro que as FARC caíram em uma armadilha. Totalmente fragilizadas e vulneráveis do ponto de vista político e militar, a guerrilha tornou-se um alvo fácil das reacionárias FFAA e dos grupos paramilitares aliados a Uribe e das oligarquias que patrocinaram a campanha do Não. Apesar do quadro extremamente difícil em que a direção das FARC impôs ao conjunto da guerrilha, cabe a seus militantes romperem com essa orientação pacifista e suicida, para voltar a empunhar as armas contra Santos, Uribe e o capitalismo na Colombia, em unidade de ação com o movimento de massas e com o ELN e outras frentes guerrilheiros que já tinham denunciado os termos inaceitáveis do “Acordo de Paz”.