segunda-feira, 10 de outubro de 2016

MAIS UM FURACÃO ATINGE O HAITI: UMA TRAGÉDIA “NATURAL” PARA UM PAÍS DEVASTADO HISTORICAMENTE PELA ESPOLIAÇÃO COLONIALISTA. DERROTAR A OCUPAÇÃO IMPERIALISTA DA ILHA NEGRA!


Já passam de mil os mortos em função da passagem do furacão Matthew pelo Haiti no último dia 04 de outubro. O olho furacão – o ponto central que fica em relativa calmaria – entrou pelo sul do país rodeado com ventos fortes de 230 km/h, e atravessou a península sudoeste da ilha que o Haiti divide com a República Dominicana. Além de centenas de mortes, deixou milhares de casas destruídas e cidades inteiras inundadas. Obviamente esse gigantesco número de vidas perdidas poderiam ter sido evitadas, mas a ilha negra sofre secularmente com a miséria e a fome, as mortes por “tragédias naturais” são mais uma expressão da barbárie social que o capitalismo impôs ao Haiti, uma realidade perversa que se recrudesceu nas últimas décadas. Não há nenhum sistema de prevenção contra furacões, como em Cuba (um Estado operário sob bloqueio do imperialismo mas que se protege bem de furacões) e no próprio EUA, a potência capitalista mais rica do mundo. O Haiti é considerado um dos países mais pobres do planeta e consequentemente sem infraestrutura para enfrentar situações como essa. Lembremos que em 2010 outro terremoto arrasou o país, deixando mais de 200 mil mortos e milhares de desabrigados. De lá para cá só se aprofundou o caos e a barbárie social. Depois que os marineres ianques ocuparam o país dias após a catástrofe passada, o Haiti foi alvo de furacões, as tropas da ONU trouxeram cólera para a ilha que já matou 2 mil pessoas e o imperialismo, em conjunto com o governo brasileiro que comanda a Minustah, montou uma fraude eleitoral grotesca para impor mais uma vez uma marionete como presidente de sua nova colônia, planejada para ser uma base militar estratégica entre Cuba e Venezuela. A burguesia mundial instaurou um regime de semi-escravidão a serviço, principalmente, da indústria têxtil brasileira e das transnacionais norte-americanas que pagam um salário mínimo aos haitianos de 200 gourdes (190 reais). Ademais, a repressão aos haitianos serviu como campo de treinamento para o aparato repressivo brasileiro e de outras nações latino-americanas, táticas de guerra agora aplicadas nos morros e favelas cariocas durante o governo da Frente Popular e mantido pelo golpista Temer, como vimos recentemente nas Olimpíadas do Rio de Janeiro.

Voltando um pouco mais atrás na história, recordemos que já depois da invasão orquestrada pelos EUA que golpearam Aristide em 2004, os exércitos dos governos de centro-esquerda se dispuseram a fazer o trabalho sujo de “estabilizar” a ilha ocupada, o que se converteu em um tremendo fracasso político e militar. Enquanto os EUA expandiam seu domínio militar nas ocupações do Afeganistão e Iraque, as tropas da Minustah desempenhavam por procuração ianque a mesma função. Prenderam a oposição política ao governo pró-EUA, assassinaram líderes da resistência militar e aterrorizaram as massas com sangrentos massacres, exploração sexual e estupros. Tamanha repressão se deve ao fato que o Haiti foi o primeiro país da história a ter uma revolução de escravizados vitoriosa contra seus senhores. A força dessa luta assombrou o mundo escravocrata das Américas e os senhores na Europa, dando início ao processo de independência das Américas. A ousadia dos negros haitianos, liderados Toussaint L’Ouverture, de se libertarem da França de Napoleão Bonaparte foi punida com forte bloqueio econômico e político, dando início a tragédia social que perdura até hoje.

Por baixo do discurso repetido à exaustão pela grande mídia acerca da pobreza do Haiti está a tentativa de vender a ideia de que o país não tem nada que se explorar e que, portanto, a estranha disputa entre os países capitalistas por "ajudar" não passa de pura filantropia humanitária. Balela! Os abutres em pele de “solidariedade internacional” estão de olho nas mil e uma maneiras de aproveitamento da tragédia. Desde a apropriação pura e simples do território do país de localização estratégica em meio à nova ofensiva imperialista ianque sobre a América latina, até a mão de obra semi-escrava hoje explorada majoritariamente por empresas multinacionais. Há também outras riquezas como as reservas quase inexploradas de irídio, ouro, cobre, urânio, diamante, gás e... petróleo, zonas costeiras de águas profundas favoráveis ao atracamento de super-petroleiros, praias caribenhas de grande valor turístico e os chamados recursos offshore (liberdade cambial, legislação tributária e bancária própria de paraísos fiscais) para privatização. Isto tudo sem contar com o fabuloso empreendimento que é em si a tal “reconstrução” para as grandes corporações internacionais. Em resumo, a devastação do Haiti é um excelente negócio para transferência de recursos dos Estados imperialistas e dos fundos de ajuda humanitária para as grandes empresas multinacionais do ramo da construção, petróleo, segurança privada, etc.

Todos sabem que o suposto governo haitiano não passa de uma marionete desprezível imposta pelo imperialismo a partir de um golpe de Estado e posteriormente legitimado por eleições fraudulentas, manobra lançada mais de uma vez. Somente as massas haitianas apoiadas por seus irmãos proletários podem reunir meios para acabar com tanto sofrimento, através de comitês populares de socorro proletário e autodefesa que organizem, por exemplo, a distribuição de mantimentos da ajuda internacional. Trata-se de colocar em pé a solidariedade de classe, dos trabalhadores! É preciso fomentar uma saída operária para a barbárie social imposta pelo imperialismo, a única alternativa que pode evitar o agravamento das desgraças do país. Por isto, os revolucionários não têm como eixo de sua política a "reivindicação" que os imperialistas que destruíram o país venham reconstruí-lo, compreendendo fundamentalmente que a situação desesperadora do Haiti exige um programa operário emergencial. Para realizar esta tarefa é necessária simultaneamente também a organização da resistência armada haitiana pela derrota e expulsão das tropas invasoras, uma vez que a ONU e o imperialismo nunca cederão aos apelos piedosos “pela retirada das tropas” como prega a esquerda reformista. Esse é o caminho para enfrentar a tragédia social que o imperialismo submete o Haiti, esteja o país sendo alvo ou não de furacões como atualmente. Por essa razão, devemos cerrar fileiras para derrotar a intervenção imperialista na Ilha negra!