terça-feira, 7 de junho de 2016

O NEFASTO PAPEL DE BERNIE SANDERS NAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NOS EUA: UM PRÉ-CANDIDATO IMPERIALISTA DE “ESQUERDA” QUE DEU FÔLEGO AO DESGASTADO PARTIDO DEMOCRATA PARA AO FINAL DAS PRIMÁRIAS SER CABO ELEITORAL DA VÍBORA CLINTON


Hillary Clinton já conta com um número suficiente de delegados comprometidos com sua candidatura para se proclamar como a candidata democrata à Casa Branca. A notícia foi dada pela agência Associated Press, depois de atualizar sua contagem de delegados. A víbora Clinton já é a candidata “oficial” mesmo sem fechar os resultados da jornada das primárias desta terça-feira (07.06), quando votaram delegados da Califórnia e de Nova Jersey, entre outros Estados.  A vitória nas primárias de Porto Rico, no domingo, deixaram Clinton a 23 delegados da marca de 2.383, segundo a contagem da AP. Novos apoios por parte de superdelegados, aqueles que não estão condicionados pelo voto dos militantes, a fizeram chegar à cifra necessária para garantir a nomeação. Durante todo o processo das primárias que começou em janeiro, a imprensa mundial e amplos setores da esquerda, inclusive grupos que se dizem trotskistas, deram destaque à campanha de Bernie Sanders, principalmente quando sua postulação cresceu alguns estados, batendo inclusive a víbora Hillary Clinton, candidata preferencial do imperialismo para as eleições presidenciais de novembro de 2016. No final das primárias, a Madame Clinton vai disputar as eleições contra o republicano Donald Trump (apoiado pela Tea Party) e ser eleita a “primeira presidente mulher dos EUA”. Sanders serviu até agora para aparentar que existe uma disputa real no seio dos democratas. Não por acaso Sanders declarou “Eu devo dizer a vocês que, pessoalmente, teria uma enorme satisfação de disputar (as eleições presidenciais) com Donald Trump”. O senador pelo estado de Vermont se auto-intitulou durante a campanha como um “socialista democrático” apesar de ter apoiado a ocupação do Afeganistão e de ser abertamente simpático a Israel. Ele afirmou que “Socialismo democrático significa que nós devemos criar uma economia que funcione para todos, não apenas para os muito ricos”. Até mesmo essa limitada plataforma populista galvanizou setores da classe média “progressista”, dos trabalhadores e a da juventude precarizada, que não tem voz na corrida eleitoral, apesar do país ser palco de graves conflitos como as lutas pelo salário mínimo de 15 dólares a hora, com as revoltas dos trabalhadores precários nas cadeias de fast-food, além das rebeliões negras que atravessaram os EUA, de Ferguson a Nova Iorque, de Los Angeles a Baltimore, contra a repressão policial. No marco dessa onda, setores da esquerda começaram a apresentar a candidatura de Sanders como uma “alternativa socialista”, como a LSR-CIT (nos EUA são da coalizão Socialist Alternative, da vereadora de Seattle), o MES e até mesmo a chamada “esquerda petista”. Tratou-se de uma farsa! Apesar de criticar pontualmente as grandes corporações e defender um sistema universal de saúde, ele apoiou a política militarista dos EUA desde os bombardeios na Iugoslávia em 1999 e na guerra do Afeganistão. Nomeadamente na Líbia em 2011, ele também votou pela ação militar para derrubar Kadaffi. O principal é que Sanders é um dos sustentáculos no Senado do apoio ianque ao enclave terrorista de Israel, inclusive defende a criação de uma “nova OTAN” para combater o que chama de “terror”. Não por acaso, na Síria reivindica a derrubada de Assad. Em uma comparação mundial a candidatura de Bernie Sanders segue a mesma lógica do Podemos espanhol e do Syriza grego, sendo que bem aquém até mesmo dessa “nova” social-democracia a serviço do capital, porque ao final das primárias o tal “socialista” vai se limitar a ser um cabo eleitoral da víbora imperialista Hillary Clinton, como já se comprometeu em caso de derrota da “disputa” interna democrata.

Já faz algum tempo que o tema do apoio Sanders se converteu no tema principal da esquerda reformista e do revisionismo trotskista estadunidense. De um lado a ISO, que tem uma inserção nacional e dirige o sindicato dos professores de Chicago, se posicionou contra, assim como o Internacionalist Group (IG) e a LCI (Spartquista). O IG (racha da LCI dirigido por Jan Norden) em particular declarou corretamente já há vários meses atrás: “Vote em ‘Bernie’ e você receberá ‘Hillary’ e a ‘Guerra Global contra o Terror’ (GGT), que ele também apoia. Revolucionários marxistas e com consciência de classe pessoas que trabalham deve opor-se democratas, republicanos e todos os partidos capitalistas, a fim de derrotar a agressão imperialista no Oriente Médio e para construir um partido operário revolucionário para liderar a revolução socialista internacional” (IG, 31.12.2015). Do outro lado, a Socialist Alternative (CIT), que logrou a campanha do mínimo de 15 dólares garantir um assento na Câmara Municipal de Seattle, esteve totalmente integrado a campanha de Bernie Sanders, que é a campanha de uma partidos imperialista. Segundo o MES “Na nossa opinião, deve-se apoiar a Sanders. Para nós, a discussão nos EUA, com suas especificidades concretas, é similar a que vivemos na maior parte do mundo. Se os trotskistas, sem perder de vista nossa estratégia, intervimos nos processos ou movimentos políticos reais mesmo contraditórios para disputá-los; ou, se por essas contradições ou porque não estão definidos ou enquadrados no nosso programa, temos que nos manter a margem deles para depois criticar seus resultados se fracassam”. Já o CTI afirma “O crescimento de Sanders nas pesquisas e seu grande apelo aos jovens e aos trabalhadores confirmam um dos pontos defendidos pelo Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT), a organização internacional da qual a LSR faz parte: quando há uma alternativa de esquerda, que defende os direitos dos trabalhadores e dos mais pobres e que se mostra viável, uma parcela importante da sociedade irá defender essa opção”. O que tais senhores minimizam é que Sanders participou até agora, quando chegamos ao final das primárias do partido democrata se comprometendo a apoiar Hillary em caso de derrota, ele não é sequer um candidato “independente” mas pró-imperialista de um partido oficial do grande capital. Seu trabalho foi de fato trazer eleitores de volta ao partido democrata, como aconteceu com as pré-campanhas de Dennis Kucinich nos anos 2000 e da Rainbow Coallition (coalizão Arco Íris) de Jesse Jackson nos anos 80.

Mesmo a LBI tendo diferenças políticas e ideológicas profundas com James Petras, sua caracterização da candidatura Sanders esteve correta ao afirmar no artigo “Primárias do Partido Democrático: os ‘progressistas’ como preservativos políticos” (Diário da Liberdade, 28.12.2015) que “As primeiras sondagens deram a Sanders 25% das preferências dos Democratas. Bernie garantiu aos horrorizados agentes do Partido Democrático que, se Madame Clinton vencesse as primárias, Bernie (e os seus seguidores) dariam imediato e incondicional apoio à traficante de guerras e candidata preferida da Wall Street. O que vamos fazer das suas promessas e do seu programa radical, se de um dia para o outro pode calmamente fazer uma volta de 180º e apoiar a mais desacreditada escória do Partido Democrático, largamente responsável pelo declínio social e económico do país? Toda a história dos ‘progressistas’ do Partido Democrático é uma história de engano, hipocrisia e traição a milhões de trabalhadores, minorias e outros grupos oprimidos e excluídos. Arengam e deliram até à contagem dos votos e então dissolvem a sua organização eleitoral e empurram os apoiantes para a campanha eleitoral do Partido. Não continuam a luta fora do partido corrupto, simplesmente continuam de barriga erguida ‘graciosamente reconhecendo a derrota’ e abanando a cauda à espera de alguma recompensa, como uma posição inconsequente e inofensiva no governo, se os Democratas vencerem. Os dois candidatos – sem possibilidades – representantes da ala supostamente progressista no Partido Democrata, Elizabeth Warren, que ataca Wall Street, e o auto-intitulado socialista, Bernie Sanders, um demagogo populista, são ambos fiéis apoiantes da política imperialista”. De fato este foi o papel nefasto de Sanders nesta eleições, papel que vem sendo legitimado por toda sorte de reformistas e revisionistas do trotskismo.

Se Bernie Sanders aparenta ser “crítico” quando fala sobre mudanças econômicas nos EUA, é apenas mais um cachorrinho amestrado quando se trata de mudar alguma coisa na questão da Palestina versus Israel. Sanders concedeu uma entrevista ao Little Village, publicação alternativa em Iowa e pregou a manutenção da ajuda militar que os EUA dão a Israel e mais ajuda econômica “aos palestinos”. Não condenou a ocupação por Israel de terras da Palestina, e tampouco apoiou sequer o limitado movimento “Boicote, Desinvestimento, Sanções” (BDS).  A verdade é que Sanders já tem solução para a Palestina, manter a política do Partido Democrata! Ele não passa de um judeu sionista ex-radical, agora aos 74 anos. O mesmo que, na juventude, mudou-se para Israel antes de morar em Vermont (EUA) e que nunca deixou de apoiar Israel na arena internacional. Na verdade, Sanders tem uma longa história de apoio as guerras imperialistas dos EUA e a invasão sionista de Israel na Faixa de Gaza. Como Hillary Clinton foi forçada a lembrar no debate 19 de dezembro de 2015, este auto-proclamado “socialista democrático” votou a favor da guerra dos EUA no Afeganistão. A apesar de sua crítica da predileção de Clinton como secretária de Estado para a “mudança de regime” no Oriente Médio, nomeadamente na Líbia, ele também votou pela ação militar para derrubar Kadaffi. Em um debate “Socialismo Democrático e Política Externa” na Universidade de Georgetown, Sanders declarou enfaticamente que “os Estados Unidos devem adotar políticas para destruir o regime ISIS brutal e bárbaro” e “impedir ideologias extremistas fanáticos de florescimento”. Ele citou como modelo a Organização Tratado do Atlântico Norte (OTAN), supostamente fundado “em resposta ao medo da agressão soviética”, como uma “defesa coletiva contra um inimigo comum.”

UM CHAMADO A LCI E AO IG: LANÇAR UMA CANDIDATURA REVOLUCIONÁRIA À PRESIDÊNCIA DOS EUA PARA DEFENDER O COMUNISMO E A REVOLUÇÃO PROLETÁRIA!

Apenas na cabeça dos reacionários e conservadores ianques como Trump, Bernie Sanders pode ser considerado um socialista. Desgraçadamente o revisionismo trotskista nos EUA embarcou na onda de apresentar Sanders da mesma forma para enganar o eleitorado. Por sua vez, no marco de profundo retrocesso ideológico da mais importante classe operária do planeta, perdendo lentamente suas características anti-imperialistas, amplamente demonstradas nas manifestações contra a guerra do Vietnã nos anos 70, a corrente “Spartacist” (LCI), representante do trotsquismo menos corrompido e não-integrado ao Estado ianque, atravessa uma profunda crise política. A ausência de uma clarificação programática em relação aos países semicoloniais e capitulação ao imperialismo após a derrota histórica sofrida pelo proletariado mundial com o fim da URSS vêm paralisando a LCI dirigida por Robertson e Seymour que se absteve totalmente diante dos grandes conflitos internacionais dos últimos dez anos, como a ocupação do Afeganistão, Iraque e atualmente a Líbia e Síria, via de regra adotando posições abstencionistas que favorecem o imperialismo e a reação burguesa, como no caso de não se oporem ao golpe institucional contra o governo Dilma (PT) no Brasil. O genuíno trotsquismo que teve uma importante tradição histórica no interior do proletariado dos EUA está ameaçado de “sumir do mapa” do cenário político do monstro imperialista, caso não tenha uma política clara de apoio aos levantes anti-imperialistas dos povos imperializados. Ao mesmo tempo, ainda se faz necessário lançar uma candidatura revolucionária à presidência pelas “brechas” que a legislação ianque permite, como um meio publicitário de demarcação ideológica com movimentos pequeno-burgueses tipo dos que apoiam Bernie Sanders, uma espécie de reformismo de “pressão” sobre o Partido Democrata. Esta importante tarefa recai concretamente sobre os ombros do “Spartacist” e do IG, ainda que limitado pelos seus graves desvios programáticos. Desde a LBI fazemos um chamado público que estes grupos assumam em suas mãos esta tarefa, sob pena de sucumbirem a paralisia completa ou capitularem a pressão do reformismo e do revisionismo do Trotskismo.