segunda-feira, 24 de agosto de 2015


CRISE MUNDIAL DAS BOLSAS, PRODUTO DA DESACELERAÇÃO DA ECONOMIA CHINESA OU NOVO GOLPE BURSÁTIL PARA QUEBRAR OS "EMERGENTES"?

O fantasma do crash financeiro de setembro de 2008 voltou rondar os mercados bursáteis de todo o mundo nesta segunda feira, já denominada de "Black Monday" ou na linguagem própria dos operadores do cassino "Sell-Off-Global". O agravante é que o start do "pânico" financeiro veio da bolsa de Xangai, principal centro comercial da China, desvalorizando cerca de 8,5% em um único dia. As economias capitalistas periféricas ou "emergentes", no verbete dos rentistas, vem sofrendo desde o ano passado com a abrupta queda na cotação internacional do preço das comodities, fenômeno atribuído principalmente a desaceleração da economia chinesa. O PIB chinês vinha se mantendo a uma média de 9,5% nos últimos dez anos, a exceção de 2009 quando pontuou 6,8% na esteira da crise mundial, "estranhamente" no ano seguinte o valor global das comodities atingiria seus melhores níveis com a retomada do crescimento chinês. Em 2014 com o avanço do projeto dos BRICS, China e Rússia foram alvos de ataques comerciais e financeiros vindos diretamente de Washington, que ainda continua sendo um parceiro importante das duas economias. O imperialismo ianque teve um peso determinante no processo de restauração capitalista dos dois antigos Estados Operários, no caso chinês como sócio industrial e no russo como comprador de reservas naturais, via Europa. Não foi muito difícil "induzir" com todas as manobras possíveis uma desaceleração da economia chinesa, diante da necessidade de apresentar para o mundo a suposta recuperação econômica do "gigante" americano. É óbvio que não se trata simplesmente de uma "artimanha conspiratória" contra a China, o estancamento das forças produtivas do capital é um processo em marcha que remonta bem antes do crash de 2008 e vai muito além dos ataques financeiros especulativos contra nações semicoloniais promovidos por rentistas de Wall Street. No caso específico da queda da bolsa de Xangai nesta segunda, ou mesmo dos rumores sobre uma grave crise bancária, reduzido impacto terá sobre a economia nacional da China ainda pouca "alavancada" com a especulação de títulos financeiros. Porém se os problemas reais da economia chinesa não estão seriamente relacionados com um cassino financeiro local, até mesmo a desvalorização cambial do Yuan foi uma operação de defesa frente à baixa cotação de outras moedas diante do Dólar, a "Black Monday" poderá trazer efeitos mais negativos para economias mais frágeis, como a do Brasil por exemplo. Para um país que tem seu sistema bancário e financeiro controlado pelas mãos do Estado, os ataques especulativos internacionais sempre terão um efeito reduzido, o que não se pode afirmar de outras nações subalternas aos interesses dos parasitas do mercado de capitais. Em 1997 a bolsa de Xangai também sofreu forte queda, logo a mídia "murdochiana" se lançou no prognóstico da "catástrofe chinesa", porém quem entrou em crise foram os vizinhos capitalistas também conhecidos como "Tigres Asiáticos", Japão e Coreia do Sul amargaram anos de recessão econômica. Apesar da "forte torcida" contrária o governo chinês anunciou a manutenção da meta de crescimento do PIB neste ano em pelo menos 7%, ao contrário das "vozes do mercado" que prognosticaram 6 ou 6,5%. A China vem completando um processo de transição econômica onde houve tanto uma renovação da legislação trabalhista (acarretando mais gastos sociais para o Estado ,em contraponto ao que ocorre hoje no Brasil) como a da incorporação de grandes empresas estrangeiras ao patrimônio estatal, estes dois elementos forçaram uma redução em investimentos públicos para o triênio 2014/2016. A previsão do governo de Pequim é que em 2017 a China retome seus níveis acelerados de crescimento. Todos os países exportadores para a "locomotiva chinesa" estão sendo afetados com a situação atual, da qual o imperialismo ianque tenta tirar proveito de todas as formas, a Casa Branca está consciente que a China será a menos atingida... mas não podemos dizer o mesmo do Brasil, Argentina ou Rússia que assistem suas balanças comerciais simplesmente desabarem. Os rentistas internacionais, no entanto, estão à procura de novas "vítimas" para realizarem seus lucros sob a base da especulação financeira em cima das ações dos trustes americanos semifalidos, o alvo não poderá ser novamente a abalada economia ianque, então não precisa ser muito esperto para descobrir quem arcará com o ônus da crise imperialista...

As equivocadas tentativas de identificar os recorrentes abalos bursáteis com o colapso final do modo de produção capitalista não são propriamente uma novidade. No ápice do crash financeiro de 2008, com a falência do banco de investimentos Lehman Brother, não faltaram na esquerda os "profetas do apocalipse" para anunciar o fim imediato do capitalismo e o advento automático do socialismo, inclusive no interior da LBI também surgiu um "papagaio" da esquerda para repetir tais asneiras, sendo excluído de nossos quadros foi coerentemente procurar abrigo na seita do Sr. Pimenta. A grosso modo a grande diferença da grave crise de 29 com a de 2008 foi falência industrial generalizada nos principais centros imperialistas. Em 2008 foram fechados importantes bancos e agências financeiras, porém nenhum grande truste industrial foi à falência. O "tremor" da GM, um dos símbolos de 2008, não passou de um recurso para receber enorme volume de crédito subsidiado (juro negativo)do FED norte-americano. Outro signo diferenciado entre os dois crashs foi que em 2008 o Dólar não parou de subir no mundo todo, indicando que os títulos do Tesouro ianque ainda eram os mais seguros do planeta. As crises das ondas cíclicas do capitalismo, que incidem no mercado de ações, hoje quase que completamente deslocado da produção material da humanidade, não significam que o socialismo será produto de um "crash financeiro". As fortes oscilações das bolsas mundiais dificilmente terão a capacidade de "quebrar" a ascendente economia chinesa, ainda mais quando hoje contraditoriamente estão provocando o declínio no preço internacional das comodities, o "carvão" que queima na "Locomotiva do "Dragão". O barril de petróleo cotado atualmente pela metade do seu preço médio da última década poderá comprometer seriamente a Rússia, México,Venezuela e até mesmo o Brasil, mas não a China. E esta situação vale também para outras comodities agro-mineiras e seus países exportadores.

O período mitigado de transição histórica que atravessa a China, entre o capitalismo de estado dependente e um nascente imperialismo mundial ainda não confirmado, faz com que a burocracia estatal dirigente atue com a máxima cautela diante da crise mundial, isto significa expor minimamente sua economia nacional a especulação financeira e acionária. Um sistema financeiro estatal é uma boa garantia para afastar os "apostadores" de plantão do cassino, digo do mercado. Esta característica herdada e mantida do antigo Estado Operário não significa a inexistência das bolsas ou mesmo de certo crédito privado para financiar o desenvolvimento da indústria, afinal para quem pode se dar ao "luxo" de ter uma colônia financeira, Hong Kong, não se faz necessário comprometer a parte de sua economia "controlada".

O irônico deste novo repique do crash financeiro internacional, pelo menos para o Brasil, é que a esquerda reformista passou novamente a prever o "Armagedom", e desta vez para livrar a cara do governo Dilma, que não teria responsabilidade alguma em descarregar nas costas dos trabalhadores o ônus do " ajuste"... afinal tudo é produto da crise mundial capitalista. Porém se detivermos nosso olhar para o centro do "terremoto" , que todos querem nos convencer (da extrema direita até a ultra esquerda) que seu epicentro localiza- se em pleno território chinês, podemos aferir que lá os direitos trabalhistas e conquistas operárias estão sendo ampliadas no marco da economia capitalista restaurada. Ou seja na lama do capitalismo mundial o governo chinês deliberou por conceder alguns benefícios sociais que haviam sido suprimidos no processo de transição que sepultou o antigo Estado Operário Burocratizado. Ao contrário dos pigmeus do imperialismo que difundem que o proletariado chinês é escravizado, a própria e insuspeita ONU reconhece os avanços realizados nos últimos quatro anos. Não nutrimos nenhuma simpatia política ou pretendemos defender a burocracia restauracionista chinesa, porém se compararmos ao governo neoliberal do PT veremos que Dilma segue integralmente à risca a pauta econômica imposta por Washington, e não a adotada por Pequim.