sexta-feira, 19 de junho de 2015


LAVA JATO NÃO É UMA OPERAÇÃO ANTICAPITALISTA E NEM PRETENDE FAZER JUSTIÇA CONTRA GRANDES BURGUESES, SEU OBJETIVO É FAVORECER OLIGOPÓLIOS IMPERIALISTAS CRIMINALIZANDO O PT

A prisão dos presidentes das duas maiores empreiteiras do país (Odebrecht e Andrade Gutierrez), cumprindo um mandado do juiz Sergio Moro comandante da operação "Lava Jato" (LJ), pode ter despertado nos mais incautos uma sensação de que finalmente uma "justiça de classe" tenha ocorrido contra burgueses de grosso calibre pela primeira vez no Brasil. Afinal a nova fase da operação LJ foi batizada de "erga omnes" em uma falsa referência à igualdade entre os homens. As duas empreiteiras juntas totalizam negócios de mais de trinta bilhões de Reais junto a Petrobras, além da formação de Joint Ventures com a estatal. Não somos ingênuos ao ponto de acreditarmos que os dois maiores oligopólios da construção pesada no país, não construíram seus impérios às custas de um envolvimento econômico estreito com o Estado burguês ao longo dos últimos cinquenta anos. Esta relação onde o Estado capitalista é o principal indutor da chamada iniciativa privada é marcada por corrupção endêmica, favorecendo financeiramente os gestores públicos e potenciado os lucros dos empresários. Este "fenômeno" sistêmico do modo de produção capitalista não é produto da "desonestidade" de certos dirigentes corruptos, é generalizado a todas as empresas privadas que negociam produtos ou serviços com o regime burguês. Portanto a conduta corrupta dos acionistas e executivos que controlam as grandes empreiteiras no país é exatamente a mesma de uma pequena empresa que fornece lápis ou cadernos escolares para um prefeitura no interior do Brasil, a única diferença são as dimensões das cifras... que no caso específico da Lava Jato são gigantescas. Porém as grandes empreiteiras nacionais são as responsáveis pelo conjunto das obras da infraestrutura do país, além de participarem de empreendimentos em serviços e industriais em vários ramos da economia, em parceria com o governo federal. Por força de uma imposição legal os trustes internacionais não podem integrar licitações do setor público, a não ser em casos muito específicos, a existência desta "reserva de mercado" para as grandes empreiteiras brasileiras têm causado a fúria de apologistas do neoliberalismo, dentro e fora das fronteiras nacionais. Também no interior do campo do governo petista existem fortes pressões para a quebra da reserva de mercado, como a defesa feita pelo ministro Levy para que empresas ianques participassem como protagonistas nos projetos de privatização em curso. A desestruturação do cartel das gigantes da construção pesada nacional abriria um mercado no Brasil de mais de 20 trilhões de Reais para oligopólios imperialistas do mesmo ramo. Não precisa ser muito esperto para concluir que os interesses em jogo na "espetaculosa" operação LJ vão bem mais além do que o combate a corrupção estatal, posto que processos escandalosos como a privataria tucana ou mais recentemente a bilionária sonegação fiscal de grandes corporações sequer despertam interesse por parte dos paladinos da ética. Mas não se trata apenas de debilitar os "impérios " da infraestrutura do país, é necessário criminalizar os que defendem a manutenção do atual "modelo ", considerado "fechado e arcaico" pelos chefes da LJ, estamos falando é claro das lideranças do PT consideradas como os vilões da nação. É certo que os dirigentes petistas enveredaram por uma trilha de colaboração de classes com os grandes empreiteiros, que passaram a financiar o partido, porém esta "parceria" não é exclusividade do PT, mas porque será que somente a esquerda socialdemocrata está sendo criminalizada? Por acaso os tucanos não praticam há muito mais tempo o "esporte do pocker político" com a burguesia? A questão fulcral neste debate é a blindagem recebida pelo PSDB por parte do imperialismo, interessado na quebra das empreiteiras nacionais e de roldão na desmoralização política do PT que tem levado estas empresas a conquistar novos mercados no exterior. A nova fase da LJ, levando para a cadeia (mesmo que provisoriamente) figuras emblemáticas das classes dominantes, como Marcelo Odebrecht, coloca o PT em alerta vermelho, Lula era considerado o "padrinho" das empreiteiras nacionais, sob seu governo ampliaram suas intervenções na África, Ásia e América Latina atraindo o ódio da Casa Branca. Veremos quais serão os próximos alvos da LJ, tendo a convicção de que nenhuma iniciativa institucional surgida das entranhas desta república capitalista porá fim a corrupção estrutural que permeia o Estado burguês.

Uma prova evidente de que Moro deseja favorecer os oligopólios imperialistas é o despacho em que ordenou a prisão dos presidentes da Odebrecht e Andrade Gutierrez. Nele, o chefe da “República de Curitiba” afirma “As empreiteiras não foram proibidas de contratar com outras entidades da administração pública direta ou indireta e, mesmo em relação ao recente programa de concessões lançado pelo governo federal, agentes do Poder Executivo afirmaram publicamente que elas poderão dele participar, gerando risco de reiteração das práticas corruptas, ainda que em outro âmbito”. Aqui fica claro que o objetivo central de Moro é quebrar as empreiteiras nacionais como primeiro passo para paralisar as obras estatais do país. O objetivo posterior da Casa Branca a quem serve Moro é fazer aprovar neste Congresso corrupto a eliminação das restrições legais para que mega construtoras norte-americanas possam ter acesso a licitação das obras públicas e participar dos projetos das estatais brasileiras, principalmente na área de energia. Medidas similares já foram adotadas pelos parlamentos do Chile e México, para liberar o "trabalho" das empreiteiras ianques. Nestes dois países considerados como paraísos para a iniciativa neoliberal, as construtoras locais foram simplesmente eliminadas do mercado para ceder espaço aos trustes imperialistas. Os arautos da "livre concorrência" internacional irão afirmar que nossas empreiteiras são todas corruptas (pura verdade!) e que é justo que seus executivos estejam presos pela "LJ". O justiceiro da "República do Paraná" pretende falir grande parte das empresas para depois desmoralizar os dirigentes petistas e no próximo período atacar Lula diretamente, como exige a fascistoide Veja.

É natural que sob um bombardeio midiático setores da população acabem apoiando a prisão de empreiteiros, com a maquiagem de uma inédita medida contra "barões" que ostentam um patrimônio bilionário às custas de seus negócios a décadas com o Estado Brasileiro. Porém o fulcro da operação LJ passa bem longe da ética e moralização do "erário público", muito menos é uma operação anticapitalista e pretende fazer justiça contra grandes burgueses. Se Moro estivesse disposto a "caçar" corruptos começaria com o governador do seu próprio estado, seu amigo íntimo Beto Richa e o tucanato. A "caça às bruxas" de Moro está orientada contra as liberdades democráticas e mais cedo do que tarde se deslocará dos empreiteiros para os quadros da esquerda. Mas nem mesmo o novo "moralizador" da vida nacional (que entrou em cena para substituir o farsante Joaquim Barbosa) tem como "inimigo central " a presidenta Dilma, parece mesmo que busca incriminar figuras importantes do PT e a própria liderança maior de Lula, que deve ser tirado do caminho a todo custo para deixar a "trilha limpa" dos Tucanos em 2018. PSOL e PSTU tendem a agir como como linha auxiliar da direita “sonhando” que desta crise política com o PT e Lula tirem futuramente algum dividendo eleitoral. Esses cretinos de “esquerda” negam-se a compreender que estamos vendo uma ofensiva “moralizadora” contra Lula e o PT não porque eles fizeram negociatas que beneficiaram empresas e grupos capitalistas, “degenerando-se”. Pelo contrário, a classe dominante prepara justamente o descarte de seus “intermediários” da frente popular e de sua política de colaboração de classes para entronar no Planalto um governo de corte bem mais conservador, encabeçado por figuras nefastas como Moro, Alckmin, Joaquim Barbosa, Marina... como exige o imperialismo em função do andar da crise financeira internacional. Para o proletariado, que acompanha passivo e como mero espectador a fratricida disputa burguesa exposta na TV e nos jornais, é necessário tirar as lições desta guerra de quadrilhas burguesas. Longe de apoiar a sanha reacionária contra seus serviçais petistas, o ativismo classista deve construir nos locais de trabalho e estudo a resistência operária e popular aos ataques neoliberais em curso, denunciando a covardia do PT. A superação da frente popular passa necessariamente por construir uma alternativa revolucionária e classista que desde já denuncie abertamente a atual sanha reacionária orquestrada pela mídia murdochiana e a direita reacionária e não o contrário como vergonhosamente vem fazendo a “oposicão de esquerda” desde o chamado Mensalão e repetem esta conduta na LJ.

Sabemos bem que Lula, Dilma e este governo de colaboração de classes são covardes e cúmplices diante da ofensiva direitista, entregando o comando da economia do país a um representante direto do capital financeiro internacional. Por isso mesmo são incapazes de esboçar sequer uma defesa de seus próprios companheiros. Talvez agora com o ataque direto a Lula por parte de Moro, o PT seja obrigado a tomar alguma medida defensiva, inclusive acionando seus “aliados” dentro do PMDB, como Renan Calheiros e Michel Temer, que tem negócios com as empreiteiras em conjunto com os petistas. Mesmo sabendo que este caminho coloca o PT ainda mais refém de seus parceiros burgueses, nossa trincheira é inflexível e nunca estabeleceremos nenhum “bloco político” com o imperialismo em nome do combate a corrupção estatal. Combater o embuste da LJ representa neste momento unificar na mesma pauta programática a luta contra a ofensiva neoliberal que pretende subtrair nossos direitos sociais e políticos, tarefa que deve ser combinada com a defesa incondicional de todos os militantes políticos da esquerda que se postam no campo nacional, democrático e popular, inclusive Lula. A vanguarda classista deve abstrair todas as lições programáticas destes episódios e jamais empunhar a bandeira da “ética e moralidade pública” como fazem os cretinos revisionistas do PSOL e PSTU. Como afirmou Lenin, o Estado burguês não pode ser “democratizado” ou tornar-se “público”, deve ser demolido pela ação violenta e revolucionária da classe operária. A corrupção não é um fenômeno episódico no regime capitalista, faz parte dos seus próprios mecanismos de acumulação privada de mais-valor. Somente a imposição de outra ditadura de classe, desta vez de caráter proletário, será capaz de iniciar a construção de uma nova sociedade e para alcançar esse objetivo estratégico é preciso edificar um partido operário revolucionário em nosso país.