terça-feira, 31 de março de 2015


VARIAÇÃO PÍFIA DE 0,1% DO PIB EM 2014 ANO DE RELATIVA "NORMALIDADE" ECONÔMICA: O QUE ACONTECERÁ AO PAÍS NOS ANOS DE DRÁSTICO AJUSTE?

O resultado final do PIB de 2014 (soma dos trimestres) foi anunciado pelo IBGE nesta última sexta feira (27/03), a variação cravou o índice positivo de apenas 0,1%. O pífio desempenho da economia só não foi menor devido à incorporação da nova metodologia de cálculo utilizada pelo IBGE. Como a evolução do PIB não apresentou uma marca negativa em 2014, conseguiu superar o nível de 2009 onde apresentou uma queda de 0,2% em plena crise financeira internacional, foi comemorado pela atual equipe econômica palaciana como uma "boa surpresa". Na verdade a corja ministerial comandada por Levy conduz o país para um grande desastre econômico em 2015, se levarmos em conta que o ano passado foi de uma relativa "normalidade" econômica com níveis estáveis de emprego, renda e consumo para a maioria da classe trabalhadora. Porém os principais pilares do crescimento econômico nacional começaram a dar sinais de esgotamento do "ciclo virtuoso" já em 2013. O elemento central que determinou a retração ou estagnação de todos os segmentos da economia (agropecuária, serviços, indústria e investimentos estatais etc...) foi o enorme déficit da balança comercial brasileira. Como ainda somos um país capitalista periférico e dependente, o desempenho positivo de nossa economia está diretamente relacionado a nossa capacidade de exportação de commodities e produtos de baixo valor agregado. O equivocado mito criado por alguns "intelectuais" do campo da esquerda de um "Brasil imperialista" está desabando na mesma proporção do retrocesso do PIB. Afinal alguns dos nossos vizinhos supostamente imperializados estão atualmente em melhores condições econômicas do que o Brasil. O chamado "milagre lulista", só comparado ao "milagre econômico" dos militares no início da década de 70, não tem a capacidade de alterar os fundamentos estruturais do atraso de nossas forças produtivas, quando a bolha de crédito internacional e a "gordura" do saldo positivo cambial acabou voltamos a "enxergar" as mazelas da semicolônia. Em termos técnicos dos setores produtivos do PIB: a indústria teve o pior desempenho caindo 1,2% no ano. O setor agropecuário teve avanço de 0,4%, e os serviços subiram 0,7%. O setor de serviços foi o que mais movimentou recursos ao longo do ano passado, responsável por R$ 901,4 bilhões. A agropecuária girou R$ 48 bilhões, e a indústria, R$ 279,6 bilhões. Mas outros itens econômicos também entraram no cálculo do PIB: o investimento das empresas para poder produzir mais, chamado cientificamente de Formação Bruta de Capital Fixo, caiu 4,4% ao longo do ano passado. Como o principal indutor da economia capitalista, principalmente em um país semicolonial, é o próprio caixa central do Estado burguês, sua debilidade monetária reflete no conjunto das atividades produtivas. Assim o ciclo aberto em 2006, girando a economia nacional para mercados euro-asiáticos parece estar se encerrando, seguindo principalmente o "interregno" chinês. Na ausência da fartura chinesa, que decidiu reordenar alguns "alicerces" antigos de sua economia, como por exemplo a legislação trabalhista tanto atacada pelo imperialismo, os tecnocratas neoliberais da Frente Popular resolveram retomar a velha receita do FMI. Cortando drasticamente investimos do Estado e subtraindo direitos sociais dos trabalhadores e da população carente, os neomonetaristas de Brasília esperam congelar o PIB para evitar a bancarrota financeira do Estado, ledo engano! Se conseguiram o estancamento da economia em 2014, podemos esperar uma brutal recessão com desemprego, perda de renda dos trabalhadores e falências generalizadas de empresas nacionais em 2015. 

Não só fatores estruturais da crise econômica capitalista mundial determinam o retrocesso do PIB brasileiro, existem elementos superestruturais relativos as disputas de mercado dos grandes blocos mundiais que colocaram nosso país em um impasse político que neste momento trava um crescimento elementar das forças produtivas. Estamos falando da covardia do governo Dilma em levar adiante o projeto comercial e financeiro dos BRICS, iniciado por Lula, deixando o caminho aberto para que forças burguesas nativas alinhadas aos EUA apostem na eliminação das empresas nacionais. Somente no ataque das corporações imperialistas a PETROBRAS o Brasil já perdeu mais de 50 bilhões de Dólares, e isto não é absolutamente nada se projetarmos um futuro econômico sem novas refinarias e com a extinção das indústrias navais que recém tinham ressurgido após a "Era FHC". Com a paralisação parcial das grandes empreiteiras, graças a "Operação Lava Jato", o vácuo calculado (falências, demissões etc...) soma cerca de cem bilhões de Reais, valor que pode triplicar dependendo do capítulo final a ser escrito pelo juiz Sergio Moro. O governo assiste paralisado (conivente) não só aos ataques contra a Petrobras e as empresas nacionais, mas também a ofensiva contra nossas reservas cambiais, que neste momento de crise mundial deveriam ser defendidas como em uma guerra tradicional, como fez a Venezuela estabelecendo o controle do câmbio. 

Não bastasse uma conjuntura mundial adversa, reflexo retardatário da primeira ressonância econômica do crash financeiro de 2008 (ondas cíclicas do capital), Dilma se orienta pelo lado que gerou a crise internacional: os rentistas de Wall Street. O governo pensa que deve acompanhar a retomada econômica dos EUA, sacrificando o crescimento do país em um brutal ajuste para "equalizar as contas públicas" na justa medida que exige o capital financeiro internacional. Como o "grande arranque" econômico dos EUA ainda não passa de uma ficção, ficamos sem mercado para as exportações mais qualificadas, posto que as commodities agro-minerais perderam muito valor de mercado nos últimos dois anos.

A crise capitalista mundial deverá ganhar contornos ainda mais drásticos nos próximos anos, os países periféricos mais subordinados a Washington serão os mais afetados. Lula, como um grande quadro político percebeu rapidamente esta questão buscando novos horizontes comerciais para a burguesia nacional, sem romper o pacto político com o movimento operário.  Dilma parece estar limitada a velha receita do FMI, que orienta provocar recessão em momentos de retração econômica mundial. Para os tecnocratas do cassino financeiro só importa que o Estado garanta o pagamento da dívida pública e para "contribuir" com este objetivo a inflação deve estar no "centro da meta". Pouco importa se o PIB oscila negativamente um ou dez pontos percentuais, para os neoliberais do Planalto, que hoje comandam o país, o importante é "honrar a dívida" com os rentistas as custas do desemprego e fome do nosso povo.