sexta-feira, 19 de dezembro de 2014


Porque Obama busca a restauração capitalista em Cuba no momento do maior impasse da ofensiva imperialista?
O anúncio da retomada das relações diplomáticas entre Cuba e os EUA, além da possibilidade futura do fim do bloqueio comercial que já dura quase 53 anos, colocou o debate sobre a restauração capitalista na Ilha operária no centro da pauta política da esquerda "socialista" mundial. De imediato podemos afirmar como defensistas incondicionais do Estado Operário Cubano que a iniciativa da Casa Branca está inserida neste momento no contexto da própria crise que atravessa a ofensiva imperialista contra os povos, em particular no impasse militar no "Mundo Árabe" após o êxito inicial contra o regime Kadafista na Líbia. O empatanamento da invasão contra a Síria e as dificuldades de iniciar a estratégica operação contra o Irã, sem falar na impossibilidade de "dobrar" a influência militar da Rússia na região, obrigaram o Império a voltar o "foco" do Departamento de Estado para Cuba. Na arena diplomática os gestos de "boa vontade" do governo Obama servem como uma luva para tentar aplacar sua própria crise interna, desatada a partir de gigantescas mobilizações que tomaram conta dos EUA contra o massacre do povo negro e oprimido pelo terrorismo racista do Estado policial que vigora no país das supostas "liberdades individuais". Hoje a "mão estendida" de Obama para o regime Castrista tem por objetivo liberar as forças até então represadas de uma restauração capitalista no mesmo modelo da chamada "via chinesa". Como declarou Obama no discurso que anunciou sua decisão “Vamos discutir as diferenças diretamente - como vamos continuar a fazer sobre as questões relacionadas com a democracia e os direitos humanos em Cuba. Mas eu acredito que podemos fazer mais para apoiar o povo cubano e promover os nossos valores por meio do engajamento. Afinal de contas, estes 50 anos têm demonstrado que o isolamento não tem funcionado. É hora de uma nova abordagem. Eu acredito que as empresas americanas não devem ser colocadas em desvantagem, e que o aumento do comércio é bom para os americanos e para os cubanos. Então, vamos facilitar as transações autorizadas entre os Estados Unidos e Cuba. Instituições financeiras dos EUA serão autorizados a abrir contas em instituições financeiras cubanas. E vai ser mais fácil para os exportadores dos EUA para vender bens em Cuba”. O porto de Mariel em Cuba, construído pela empreiteira Odebrecht e financiado pelo governo Dilma via empréstimo de 800 milhões do BNDES, tem um papel importante na abertura da Ilha para produtos do EUA. A principal agenda do governo brasileiro em Cuba é aprofundar as relações econômicas tendo por base o processo de restauração capitalista em curso promovido pela burocracia castrista, principalmente após o último congresso do PCC, em que copia parcialmente a chamada “via chinesa”. Trata-se da entrega de setores da economia para o controle de grupos capitalistas, estreitando cada vez mais os vínculos da casta dirigente com grandes empresas estrangeiras que investem no país, ao mesmo em tempo que se fragiliza e ataca conquistas históricas da revolução. Na atual conjuntura internacional o principal ponto de "travamento" da ofensiva imperial encontra-se no receio de um enfrentamento direto com o poderio militar russo, herdado do antigo Exército Vermelho. Putin pretendia estender a influência militar russa para Cuba, com a instalação de uma moderna base naval no Caribe, seria um duro golpe para o Pentágono e a OTAN que hoje sequer conseguem impor um recuo de seus adversários no leste europeu. Com uma possível "cooptação" de Cuba os EUA de uma só tacada podem conseguir neutralizar a Venezuela e impedir a entrada da Rússia na geopolítica latino-americana. No mesmo compasso Obama tentará contornar a iminência de uma derrota do partido Democrata nas eleições presidenciais de 2016, já que os Clinton apoiam integralmente a "jogada" de aproximação com Cuba, o que não pode ser dito da política para o Oriente Médio onde Hillary defende uma imediata e agressiva ação militar contra Assad. Como Trotsquistas não podemos rejeitar possíveis manobras diplomáticas de um Estado Operário no contexto de um mundo hegemonizado pelo capital financeiro, reconhecemos o direito de Cuba exigir o fim do criminoso bloqueio comercial, porém não somos "ingênuos" ao ponto de desconsiderar os objetivos estratégicos do imperialismo ianque. Como nos ensinou Lenin que pessoalmente em sua época celebrou vários acordos comerciais com o imperialismo europeu, é necessário aproveitar as fissuras da crise imperialista sem "baixar a guarda" de uma política que convoque permanentemente a mobilização do proletariado mundial contra a atual ofensiva neoliberal contra os povos. Nesta perspectiva revolucionária não podemos confiar plenamente na burocracia Castrista, que busca conservar o atual regime estatal cada vez mais sob as bases de concessões econômicas e políticas. Frente a esta disjuntiva histórica, está colocado a construção do genuíno Partido Operário Revolucionário na Ilha com o objetivo de avançar nas conquistas sociais e do chamado a expropriação da burguesia mundial, se opondo a política de colaboração de classes das direções reformistas, rompendo desta forma o isolamento de Cuba por meio da vitória da revolução proletária em outros recantos do planeta!