quinta-feira, 25 de setembro de 2014


Estabilidade nas pesquisas eleitorais: “Institutos” retratam o impasse da própria burguesia nacional

As últimas pesquisas eleitorais, pelo menos dos principais “institutos”, permaneceram quase estáticas às vésperas da votação nacional marcada para o próximo 05 de outubro. Após a “avalanche” Marina que até ameaçou definir a eleição a seu favor já no primeiro turno, o quadro político se estabilizou, praticamente definindo um segundo turno muito “apertado” entre o PT e o PSB. Também ocorreu uma recuperação “honrosa” do candidato Tucano Aécio, que ameaçava desabar e junto implodir o próprio PSDB. A tendência hegemônica do momento aponta para pequena diferença entre o segundo e terceiro colocados, garantindo Dilma como vencedora do primeiro turno, o que significa a priori uma enorme vantagem para o PT, já que desde 1989 todos os candidatos que triunfaram na primeira volta asseguraram sua vaga definitiva no Planalto. Porém, a estabilidade das pesquisas fraudadas, que marotamente traficam qualquer resultado pelas elásticas “margens de erro”, reflete uma situação de equilíbrio de forças no campo da própria burguesia nacional. As três principais candidaturas burguesas, PT, PSB e PSDB, repartem quase na mesma proporção das pesquisas o apoio político obtido entre as classes dominantes do país. Como neste regime político vigente os “principais eleitores” são na verdade as oligarquias capitalistas, seja através do financiamento de campanha ou mesmo pelo peso político regional que detém, estas eleições serão definidas não pelo voto popular, mas por uma combinação de fatores inerentes ao processo de acumulação privada de capital. Os rentistas e o setor financeiro se queixam do “intervencionismo” estatal do PT, o agronegócio receia as ligações de Marina com os produtores rurais ianques e a burguesia industrial não confia na capacidade dos Tucanos conterem o movimento operário. No impasse político tupiniquim a última palavra pode mesmo ser dada pelo imperialismo, que sinalizou com a necessidade de por um fim ao ciclo histórico dos governos da Frente Popular, diante do esgotamento econômico do “milagre petista”. Por outro lado, a esquerda revisionista agora começa a lamentar sua fragmentação nacional nestas eleições, posto que percebeu que todos os seus votos somados não alcançarão a marca de um por cento na corrida presidencial. Desde os grupos mais “radicais” como o MNN passando pelo PCO até chegar ao neorreformista PCB, reafirmam a necessidade de se reconstruir a Frente de Esquerda, ainda que permaneçam defendendo um programa que legitima a farsa da democracia dos ricos. O PSTU, por exemplo, maior organização revisionista no movimento sindical, sequer disputa com chances de eleição uma única cadeira no parlamento, admitindo até coligar com o PSB/REDE, como foi o caso concreto em Alagoas. Mas, diante da profunda polarização interburguesa que se avizinha entre o PT e PSB no segundo turno, os Marxistas Revolucionários não podem ficar a reboque político da inércia da esquerda revisionista, é preciso colocar o movimento de massas em ação direta e na rota de choque frontal com este regime bastardo.

O favoritismo absoluto de Dilma, candidatura que ainda conta com o apoio das principais frações burguesas nacionais, foi profundamente abalado com a entrada direta no cenário eleitoral do Departamento de Estado dos EUA através da operação que resultou na morte do ex-governador Eduardo Campos. O fato da CIA ter voltado a “operar” criminalmente no Brasil, eliminando fisicamente um político burguês influente, revela a importância política destas eleições para os interesses dos EUA nesta região do planeta. No quadro de uma certa divisão das classes dominantes nacionais, gerada principalmente pela fadiga de três gerências petistas consecutivas, o governo Obama decidiu por intervir diretamente no processo através da candidatura Marina apesar de suas imensas debilidades políticas.

A “onda verde” (impulsionada em aliança com a mídia “murdochiana”) que colocou Marina na dianteira de Dilma, foi parcialmente contida por “batalhões de grosso calibre” da burguesia nacional temerosa de uma possível perda do controle das concessões estatais por parte das empreiteiras locais. Acontece que a Casa Branca tem grande interesse em ter suas empresas ianques executando os chamados “projetos públicos” no Brasil. A ofensividade petista contra Marina, que a posicionou novamente em segundo lugar nas pesquisas, foi respaldada justamente pelas oligarquias regionais que aguardam uma “melhor definição” do PSB sobre questões estratégicas para o crescimento econômico capitalista.

O retorno de Dilma a uma posição de vitória apertada no segundo turno, segundo os mesmos "institutos" que promoveram sua abrupta queda, concede uma margem temporal de negociação no interior das frações burguesas. Um elemento decisivo para a definição eleitoral das classes dominantes será o nível de integração do PSDB a campanha de Marina no segundo turno. Caso o Tucanato desembarque com todo seu peso social na costura de um governo de coalizão com o PSB, as chances de um triunfo petista se reduzem consideravelmente. A única certeza para o movimento de massas, até o momento, é que o conjunto das alas burguesas estão bem alinhadas no objetivo de recrudescer a ofensiva neoliberal para a próxima etapa política.