terça-feira, 19 de agosto de 2014


Levante negro em Ferguson (EUA): Os explorados se rebelam contra o estado de terror policial imposto no coração do monstro imperialista

Milhares de pessoas tomaram as ruas de Ferguson, um subúrbio da cidade de Saint Louis no estado norte-americano do Missouri desde o assassinato do jovem negro Michael Brown em 09 de agosto. Pelo menos seis tiros, todos disparados pela frente pelo policial branco Darren Wilson (dois deles na cabeça), deixaram Brown morto depois de perseguido, mesmo desarmado e de braços para alto, sob a falsa acusação de consumo de maconha e roubo. A tentativa da polícia e do IML de encobrirem a autoria do crime via autópsias falsas e de preservarem a identidade do policial deu origem a uma onda de protestos populares nestes dias, com confrontos de rua e a imposição do Estado de Emergência e do toque de recolher pelo governo local, no que foi apoiado pelo “falcão negro”, Barack Obama. Tropas da polícia e da Guarda Nacional fortemente armadas lançaram granadas, bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os manifestantes que responderam com coquetéis molotov, tentando ocupar o centro de comando que a polícia estabeleceu na vizinhança, no que foram acusados pela mídia venal de “vândalos e terroristas” da mesma forma como a Rede Globo faz aqui no Brasil contra os ativistas. Dezenas de pessoas foram presas e outras gravemente feridas em um condado pobre onde vivem perto de 22 mil pessoas, em sua maioria trabalhadores negros. Desde sábado, os protestos se estenderam a várias cidades dos EUA expondo mais uma vez a divisão de classe e de cor no coração do monstro imperialista! Este cenário reafirma o estado de terror policial imposto contra o povo pobre enquanto o imperialismo ianque incrementa sua ofensiva belicista por todo o planeta, como agora no Iraque! Não por acaso, Valerie Jarrett, a cínica conselheira de Obama declarou: “Nosso objetivo imediato é garantir a segurança dos moradores de Ferguson, o fim dos saques e do vandalismo”. Agentes do FBI estão dando suporte à bárbara ação policial que deve ser respondida com comitês de autodefesa do povo pobre e dos trabalhadores!

Como ocorreu no caso Amarildo (morto no interior de uma UPP na Rocinha no Rio de Janeiro), também em Ferguson (EUA) a família do jovem Brown se declarou escandalizada com o que considera versões manipuladas divulgadas pela polícia e a mídia para tentar “responsabilizar a vítima e desviar a atenção”. Enquanto a comunidade negra enfatiza que Michael era um rapaz pacato que estava prestes a ser um universitário, comerciantes e neonazistas espalham pelas redes sociais que o jovem já tinha ficha policial, como se tal “crime” fosse motivo para assassiná-lo. A polícia de Ferguson, composta na maioria por policiais brancos racistas, demorou seis dias somente para divulgar o nome do policial que matou o jovem negro e ainda plantou informações para fazer crer que ele era suspeito de assalto a um estabelecimento comercial. Michael Brown foi o quinto homem negro desarmado morto pela polícia nos últimos 30 dias, com casos em estados diferentes do país, mostrando que o problema da perseguição ao povo negro é nacional. De acordo com um relatório do Sentencing Reform, um grupo que promove a reforma do sistema carcerário americano, um em cada três homens negros deverá ser preso pelo menos uma vez durante sua vida. O assassinato de Brown não é a única causa da revolta popular de Ferguson. É apenas a faísca que desencadeou o levante negro. A pobreza, a segregação, o desemprego e um clima de racismo antinegros próprio do capitalismo ianque senil e doente colocaram literalmente fogo na pequena Ferguson e a região metropolitana de St. Louis, no Missouri.

Como denunciaram vários jovens amigos de Brown, sua morte é o resultado concreto do assassinato em massa de adolescentes nas periferias dos grandes centros urbanos, sendo parte de uma política de estado nos EUA, herdeira da legislação racista que foi “reformulada” depois da luta pelos direitos civis nos anos 50 e 60. A mídia ianque apoia plenamente a legislação racista justamente para reprimir os setores descontentes com a crise econômica. Um relatório feito pelo instituto Pew Center, em 2011, revelou dados estarrecedores sobre o caráter racista do verdadeiro “estado policial” que reina no coração do monstro imperialista, que é responsável por nada menos do que 5% da população carcerária mundial (e 25% do continente americano). Apesar de corresponderem a 12% da população estadunidense, negros estão no topo de todas as estatísticas policiais. Nas prisões, existe um branco para cada 11 negros. Pesquisas indicam que quatro de cada cinco jovens negros serão aprisionados em algum momento de suas vidas. E o destino traçado pelo sistema pode ser ainda mais trágico: cerca de 40% dos que estão nos corredores da morte são negros, proporção que chega a 60% em estados como a conservadora Pensilvânia (onde a população negra não chega a 10%).

Diante do risco de revolta popular da população negra por todo o país, Obama (após apoiar a repressão policial em Ferguson), declarou cinicamente que a morte do jovem era uma “tragédia”, porém pediu “calma a população” e que a “lei será cumprida”. O lobo em pele de cordeiro só não disse que as “leis” estão a serviço da burguesia e seu estado policial... A execução de Michael Brown faz lembrar um caso recente, mas que tomou rumo totalmente contrário. O jovem negro Troy Davis foi executado com a pena capital após ser acusado com testemunhas falsas de ter matado um policial branco. Num caso, um jovem negro é executado no meio da rua e o policial assassino é protegido pelo Estado burguês. Noutro caso, a justiça penal não teve muitas dúvidas do que ocorreu e executou Troy Davis em setembro de 2011. Outro exemplo é o de Mumia Abu Jamal até os dias de hoje preso por acusação falsa de ter morto um policial. O “falcão negro” não deseja desagradar seus anos capitalistas brancos e já prepara a transição para um governo de corte abertamente fascista em 2016, possivelmente sob o comando do Tea Party ou algo afim.

Os ataques de claro conteúdo fascista e racistas estão em consonância com a época de ofensividade bélica e de reação ideológica preconizada pelo imperialismo ianque do qual Obama é porta-voz, como vemos, por exemplo, na Ucrânia, cujo governo golpista é apoiado pelos EUA. Como não há um contraponto revolucionário à degradação de uma sociedade doente que recorre a um estado policial contra seu próprio povo, a humanidade tende a caminhar para a barbárie imposta pelo império decadente. Desgraçadamente, se não houver uma direção política que aponte uma saída comunista para os trabalhadores de todo o planeta, assassinatos racistas, carnificinas neonazistas e guerras genocidas acontecerão como norma de sobrevivência do regime capitalista senil. Sem a intervenção do proletariado nesta conjuntura fascistizante em defesa da liquidação deste estado policial e pela liberdade imediata dos negros e trabalhadores encarcerados, o capitalismo não se extinguirá, nem cairá de podre, ao contrário, arrastará a humanidade para a barbárie. Estamos vendo a volta com força do fascismo ianque em escala interna e planetária. Para que não se repitam novas cenas sanguinárias como o assassino do jovem negro Michael Brown dentro e fora dos EUA, somente a ação revolucionária do proletariado mundial poderá reverter estas tendências nefastas, se valendo da luta pela liquidação do modo de produção capitalista e tendo como estratégia a imposição de seu próprio projeto de poder socialista.