segunda-feira, 2 de junho de 2014


Porque o PIB brasileiro não consegue “decolar” no país da “explosão” do consumo

Novamente as manchetes da mídia “murdochiana” deram grande destaque ao resultado do tímido crescimento do PIB no primeiro trimestre deste ano. A pífia evolução de 0,2%, contrastando com o já fraco resultado do trimestre final de 2013 (0,4%), evidenciou novamente uma perspectiva de repetirmos o “pibinho” em torno de pouco mais de 1% para todo o ano de 2014. Acompanhando o relatório do IBGE acerca da variação do PIB vem a notícia sobre o péssimo desempenho da nossa Balança Comercial, que teve o pior resultado para o mês de maio dos últimos doze anos. Paradoxalmente, o mesmo mês de maio obteve o melhor resultado deste ano em nível de superávit mensal nas exportações, o que aponta um quadro alarmante das exportações brasileiras para o conjunto do ano, exatamente nesta questão econômica considerada o “grande trunfo” dos governos da Frente Popular desde 2003. Contraditoriamente ao “sombrio” noticiário macroeconômico podemos aferir que o consumo de bens e serviços no país continua a bater recordes mundiais, como a venda de equipamentos eletrônicos ou mesmo a “conquista” da terceira posição internacional no mercado da aviação civil, superado apenas pelos EUA e a China. No nicho da construção de novos “Shoppings” o Brasil só fica atrás mesmo dos Ianques, a “pátria” dos grandes templos fechados do consumo, revelando que os níveis da poupança interna continuam bem elevados, apesar das constantes altas na taxa de juros para a pessoa física. Se a bolha de crédito continua inflando as vendas, e a média da massa salarial teve um leve ganho sobre a inflação nominal dos últimos oito anos, com a consequente retração do desemprego formal, o quadro dos vetores macroeconômicos apontam em direção contrária. Mas, qual é a razão de fundo desta aparente contradição entre o que se “vê nas ruas” e o esgotamento do “modelo” baseado na entrada de divisas monetárias, que ainda conserva seu “colchão de gordura”, em torno das consistentes reservas cambiais do Tesouro Nacional? Por quanto tempo o estado brasileiro poderá “bancar a farra” do crédito e do consumo em uma situação econômica limítrofe do encerramento de seu lastro superavitário das exportações de commodities agrominerais? Parece que a situação falimentar da indústria nacional (em seus aspectos tecnológicos e financeiros) já respondeu precocemente esta questão.

Diante da retração nas projeções do “mercado” para o PIB em 2014, reforçadas ainda mais com os novos dados revelados pelo IBGE, a equipe econômica do governo Dilma responsabilizou a alta inflacionária pelo fiasco. O ministro Mantega reconheceu desta forma que as seguidas elevações na taxa SELIC de juros não surtiram o efeito desejado, a não ser “engordar” ainda mais a remuneração financeira dos rentistas e da banca parasitária. Para conter a especulação inflacionária o governo da Frente Popular se mostrou completamente impotente diante dos monopólios e grandes atacadistas, recusando-se a adotar qualquer medida de controle de preços e estoques para “equalizar” a demanda e oferta de produtos básicos para a população trabalhadora. Desta forma, a “receita” neoliberal do PT para combater a inflação continua sendo a de elevar os juros e represar salários, principalmente os da esfera estatal. Neste cenário onde a ciranda financeira é abertamente incentivada pelo governo, dando um “tiro no próprio pé” com o aumento da dívida pública, o PIB brasileiro não encontra condições mínimas de um crescimento efetivo, “condenando” a produção industrial nacional a um papel secundário na economia, lançada ao atraso e sucateamento das forças produtivas.

O “modelo” econômico executado pelas gerências petistas está lastreado exclusivamente nas exportações, seja de um variado mix que vai da soja, carne, minério de ferro ao petróleo. Com um mercado mundial favorável (focado nos BRICs) nos últimos dez anos, o país acumulou uma “gorda” reserva cambial de cerca de trezentos bilhões de Dólares, contra vinte bilhões da era FHC, apesar de toda a privataria das empresas estatais. Com a “gordura” acumulada, o Tesouro Nacional passou a ser um grande e seguro “fiador” de uma enorme massa de crédito financeiro internacional que aportou no país, alavancando principalmente o comércio de bens e serviços. A frota de veículos dobrou no Brasil nos últimos oito anos, enquanto continuamos importando bens de capital (máquinas industriais de transformação) pelo completo atraso técnico científico do país. Mas as importações brasileiras não se restringem a equipamentos pesados, também não fabricamos, por exemplo, sequer os combustíveis de nossos automóveis e aviões, obrigando a “gigante” PETROBRAS (somente na produção do óleo cru) a comprar fora do país (por um preço bem elevado) os derivados fósseis para movimentar a frota nacional e a indústria que depende das usinas de geração de energia a gás e diesel. Parece uma piada de mau gosto, mas no país do “pré-sal” a maioria da gasolina das bombas é importada dos trustes imperialistas, pela ausência de modernas refinarias (a mais “novinha” tem quase quarenta anos) e polos petroquímicos com capacidade de abastecer a demanda nacional.

A ausência de um projeto de desenvolvimento capitalista “autônomo”, por parte do PT, com fortes traços para impulsionar o conhecimento científico e uma vigorosa indústria nacional em todos os ramos da produção, impedem que o país tenha um significativo crescimento do PIB. Enquanto pratica a demagogia social da distribuição de renda, pela via dos programas assistenciais do governo, o país retrocede historicamente à época do “grande fazendão”, ao sabor da crise estrutural do modo de produção capitalista em nível mundial. Se direcionar a economia brasileira para a restauração da China “funcionou bem” por uma década, este “lance” de Lula foi incapaz de resolver as principais contradições de nosso país, acorrentado a uma burguesia impotente diante das imposições do imperialismo. Agora que os BRICs retraíram drasticamente suas compras do mercado brasileiro, as classes dominantes tupiniquins começam a pressionar por mudanças no esgotado “modelo” neoliberal petista, ameaçado pela estagnação e pela interrupção no fluxo do capital financeiro internacional.

Nós Marxistas Revolucionários nunca nutrimos a menor expectativa na possibilidade da Social Democracia, hoje representada no país pelo PT e PCdoB, levar a frente um projeto “sério” de crescimento capitalista nacional. Os dados econômicos festejados politicamente pela Frente Popular nos últimos anos não passavam da “cosmética do consumo” diante do impasse estrutural do capitalismo nativo associado e dependente ao capital financeiro internacional. Afirmamos categoricamente que somente o planejamento socialista da economia nacional será capaz de reverter a situação do profundo atraso em que se encontra o país. Porém, a estatização da economia, eliminando a função dos parasitas intermediários como empreiteiras, bancos e atacadistas etc... somente será possível com a construção de um novo poder político dos explorados, surgido pela via da revolução proletária.