segunda-feira, 19 de maio de 2014


Do golpe militar à farsa eleitoral:
Os passos da contrarrevolução no Egito operada pelo imperialismo e as FFAA
com o apoio dos revisionistas do trotskismo

Dentro de exatamente uma semana, nos dias 26 e 27 de maio, o regime parido do golpe militar desferido em julho de 2013 levará a frente uma grotesca farsa eleitoral para “legitimar” o genocida marechal Abdel Fattah Al-Sisi como presidente do Egito. O modus operandi dos golpistas egípcios segue os mesmos passos que o imperialismo ianque e a burguesia nativa associada a Washington impuseram com sucesso em Honduras e depois no Paraguay. Após depor pela via das armas o presidente eleito, gestou as condições para montar novas eleições presidenciais totalmente controladas, valendo-se de um “governo transitório” tutelado pelas FFAA e o empresariado que mantém uma dura repressão contra o povo e setores da própria oposição burguesa durante sua vigência. O “agravante” no Egito é que o “novo” presidente eleito (já que obviamente Al Sisi irá ganhar com folga) será diretamente o homem que operou o golpe militar, sequer sendo necessário assumir um “gerente” civil para manter as aparências “democráticas” como ocorreu nos países latino-americanos. Uma prova disso é que a Irmandade Muçulmana (IM), partido do presidente deposto, não poderá sequer apresentar candidato já que foi posta na ilegalidade. Seus dirigentes estão presos, milhares de militantes foram mortos e outras centenas estão condenadas à morte nesta estranha “revolução democrática” saudada pelos revisionistas do trotskismo!

Demonstrando que perderam qualquer noção de classe, porém sendo “coerentes” no apoio a este processo que denominaram de “revolução”, os setores da “esquerda” egípcia que apoiaram o golpe militar contra o governo da Irmandade Muçulmana (IM), apresentando-o como uma “vitória das massas”, participarão da farsa eleitoral apoiando a candidatura de Hamdeen Sabahi, um nasserista que alcançou o terceiro lugar nas eleições de 2012, quando Morsi foi vitorioso. O objetivo de grupos como o movimento de juventude 6 de Abril e até organizações que se reivindicam trotskistas (como os SR e a CMI de Allan Woods) seria de apoiar Sabahi para “aprofundar o processo revolucionário”. Estes agrupamentos, assim como a LIT, caracterizam que a derrubada da IM pelas FFAA foi extremamente progressiva porque contou com apoio popular. A CMI (Esquerda Marxista no Brasil) sequer caracteriza que houve um golpe militar. O picareta Allan Woods chegou ao cinismo de afirmar literalmente sobre a “lenda do golpe”. Segundo estes canalhas, “O clamor dos ‘democratas’ burgueses sobre um golpe – que é vergonhosamente ecoado por alguns da suposta esquerda – também não é uma defesa da democracia, mas uma calúnia repugnante e um ataque à própria revolução. É uma tentativa hipócrita de negar o direito do povo a realizar mudanças na sociedade. Que a mídia burguesa prostituta possa usar o argumento de um suposto golpe para tentar desacreditar o movimento revolucionário e desinflar sua confiança, é perfeitamente explicável. Que pessoas que se reivindicam de ‘esquerda’ possam ecoar este miserável campanha burguesa, é simplesmente desprezível” (sítio EM, 20/06/2013). Já os morenistas avaliam que foi um golpe com apoio das massas, sendo portando uma “vitória dos trabalhadores”. Lembremos que logo após a deposição de Mursi e do primeiro massacre a membros da IM a LIT apregoava que “No Egito, quando a Irmandade Muçulmana sai às ruas defendendo a volta do governo bonapartista de Morsi, está protagonizando uma mobilização contra o regime, mas de caráter contrarrevolucionário, e por isso não é correto defender nenhum tipo de unidade de ação com essa organização. Essa mobilização, portanto, não tem nada de progressivo, ainda que participem dela milhares de pessoas que acreditam, erroneamente, que dessa forma estão ‘defendendo a democracia’ contra um ‘golpe’. Para que a revolução avance é necessário derrotar esse tipo de mobilização que só serve à contrarrevolução. Diante disso, se impõe a necessidade de que as organizações populares, que derrubaram Morsi, tenham planos e organismos de autodefesa para impor a vontade das massas contra a reacionária Irmandade Muçulmana, de tal forma que não dependam do Exército e da polícia para impor sua vontade.” (sítio LIT, 26/07/2013). Como podemos observar, tratava-se de um programa em defesa da frente única política e militar com as FFAA, responsáveis pelo verdadeiro banho de sangue! Até hoje a LIT mantém esta posição, tanto que acaba de afirmar em sua declaração de 13 de maio intitulada “Sobre o processo revolucionário no Egito” o seguinte: “Quem entendeu a queda do governo islamista como simplesmente um golpe militar deveria estar de acordo com a reivindicação da Irmandade. Nós, ao contrário, entendemos a derrubada de Morsi como uma vitória da revolução, embora usurpada pelos militares. Nesse sentido, definimos as mobilizações desse momento da Irmandade como contrarrevolucionárias, com as quais não se poderia ter qualquer tipo de unidade, e sim de denúncia. Não apoiamos o retorno de Morsi, nem as reivindicações por sua liberdade. É um criminoso, responsável pela morte de centenas de pessoas”.

O mais estranho é que apesar de caracterizar o processo no Egito como uma “revolução democrática” a LIT chamar no referido artigo a “anular o voto nas eleições de maio!” e afirmar que “A eleição de 26 de maio é uma manobra do regime militar para se legitimar. A candidatura de al-Sissi, homem forte do governo, deve se impor nessas eleições. O governo militar continua com prestígio, angariado pelas manobras contra Mubarak e Morsi. No entanto, não existem liberdades democráticas no Egito, e isso dá a essas eleições um caráter fraudulento. As oposições são violentamente perseguidas, enquanto todo o aparato de estado e a mídia apoiam al-Sissi. A candidatura oposicionista de Hamdeen Sabahi não é uma alternativa real, apesar de apoiada por setores da esquerda, incluindo a organização trotsquista Socialistas Revolucionários. Sabahi é um nasserista que alcançou o terceiro lugar nas eleições de 2012, em que Morsi foi vitorioso. Além de expressar uma alternativa burguesa, ajuda a legitimar as eleições fraudulentas e a vitória de al-Sissi”. Note-se que em nenhum momento a LIT chama a boicotar ativamente e inviabilizar as eleições, mas simplesmente a “anular o voto” como simplesmente não existisse uma alternativa eleitoral “revolucionária” na disputa. As contradições da posição morenista são evidentes: como afirmar que as eleições não passam de uma farsa e que não existem liberdades democráticas no Egito se está em curso uma “revolução democrática no país dos Faraós??? Pior, como reclamar que as oposições são violentamente perseguidas se os próprios morenistas apoiam a bárbara perseguição das FFAA à IM??? Talvez seja por posições abertamente pró-imperialistas que no recente congresso da LIT ocorrido no final do mês de abril as duas polêmicas centrais permearam as discussões foram sobre a Síria e o Egito. Lembremos que a seção da LIT (Corriente Roja) na Espanha rachou justamente pelo apoio que os morenistas deram à intervenção da OTAN na Líbia, vendendo-a como uma “revolução”.

Para finalizar a declaração morenista, que reflete uma tentativa de diluir sua posição de apoio ao golpe militar e a repressão à IM (já que há um descontentamento se setores desta corrente as posições de sua direção), a LIT volta a repetir a farsa sobre a existência nos dias atuais de um chamado “terceiro campo” no Egito. Por isto afirma que “É mais do que necessário construir um campo dos trabalhadores, alternativo a todas as agrupações burguesas, em particular contra o governo militar e a Irmandade Muçulmana. Essa alternativa deverá estar apoiada na mobilização independente das massas, em particular nas greves operárias em curso. O regime militar agora terá de assumir diretamente o governo por meio de al-Sissi. O ascenso das massas terá de se chocar dessa vez com o governo e o regime. Revolução e contrarrevolução voltarão a se enfrentar no Egito, e talvez agora de forma mais clara. O futuro da revolução está ligado ao surgimento de uma alternativa própria dos trabalhadores perante as falsas saídas burguesas”. Como “gran finale” de sua Ópera Bufa, a LIT tenta nos convencer sobre o conto do “terceiro campo” alternativo no Egito, ainda que sempre se mantenha na sombra dos generais gorilas! Os morenistas nos asseguram que “Por isso, foi sumamente progressivo o surgimento do chamado ‘terceiro campo’ independente, que se expressa mais concretamente na Frente Caminho da Revolução, que levanta a bandeira Nem militares nem Irmandade! No marco dessa localização geral do ‘terceiro campo’, os marxistas deverão ser o polo mais consequente no enfrentamento com a ditadura, combatendo ao mesmo tempo as tentativas contrarrevolucionárias da IM para voltar ao poder e explicando pacientemente às massas a necessidade da tomada do poder pela classe operária e a construção do socialismo como saída estratégica para a crise”. Aqui, trata-se da nova farsa montada pela LIT. Enquanto aplaude de fato a repressão à IM e não chama a derrubada dos militares golpistas (seus aliados táticos!), espera o desgaste dos generais genocidas para não se sabe quando apresentar o surgimento de uma “alternativa revolucionária”. Enquanto este conto de fadas não ocorre (e não irá ocorrer porque a repressão se aprofundará com a “eleição” de marechal genocida Abdel Fatah al-Sissi!), os revisionistas e seus supostos “revolucionários” da “Frente Caminho da Revolução” se colocam no terreno da unidade “tática” com os golpistas para esmagar física e politicamente a oposição islâmica!!! É exatamente isto que estamos presenciando neste momento no Egito. Ainda que não tenhamos nenhuma simpatia pela IM, ao contrário, sempre denunciamos seu caráter reacionário, teocrático e sua tentativa de aproximação com a Casa Branca, como vimos na atuação de Morsi na Palestina domesticando o Hamas e pactuando com o enclave nazi-sionista ou mesmo rompendo relações diplomáticas com a Síria, o certo é que o Pentágono está impondo um governo títere ainda mais servil à frente do Egito, país estratégico para seus planos no Oriente Médio, no marco da preparação de uma agressão ao Irã.

Neste momento é necessário chamar o boicote ativo à eleição-farsa montada pelo marechal genocida Abdel Fatah al-Sissi, pela liberdade imediata dos presos políticos da IM e a derrubada dos golpistas pela via da ação direta das massas, convocando atos e manifestações em frente única com a IM os setores populares que se opõem ao golpe, construindo comitês de autodefesa contra a repressão estatal. Ao contrário dos canalhas da LIT e seus irmãos da família revisionista, que gritam cinicamente “nem... nem” para justificar seu apoio de fato à ditadura “revolucionária” no Egito, os genuínos trotskistas estão nas trincheiras dos que combatem os golpistas, serviçais da Casa Branca, como nos ensinou o Velho! No Egito, assim como na Ucrânia, honramos as lições nos deixada pelo fundador da IV Internacional, enquanto a LIT hasteia sua bandeira ao lado dos golpistas e fascistas!