terça-feira, 13 de maio de 2014


13 de Maio: Da Lei Áurea à campanha “Banana para o racismo”, duas expressões da hipocrisia da classe dominante frente à opressão ao povo negro

A campanha “somos todos macacos” desencadeada por celebridades globais a partir da banana lançada ao jogador Daniel Alves em uma partida de futebol do campeonato espanhol é uma expressão “atualizada” da Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888, que formalmente aboliu a escravidão no Brasil. Assim como a “banana para o racismo” amplamente divulgada via fotos da elite dominante não passa de hipocrisia da burguesia que sustenta o modo de produção capitalista sobre sangue e suor dos explorados (particularmente dos trabalhadores negros), a decisão de “libertar os escravos” há 126 anos não passou de uma formalidade baseada em uma necessidade econômica capitalista, que manteve a terra nas mãos dos grandes proprietários que conseguiram mão de obra assalariada barata face à inexistência para o escravo de uma opção que não fosse vender sua força de trabalho aos antigos senhores. O fato do jogador do Barcelona e da Seleção Brasileira afirmar que o combate ao racismo ter que ser feito de forma “irreverente e sem ódios, sempre pela positiva”, na verdade visa tirar o conteúdo de classe da denúncia do racismo patrocinado pela classe dominante, que tem como alvo o proletariado negro. Não por acaso, a mesma acumulação originária do capitalismo que aprisionou o negro na África e o escravizou no Brasil, joga-o nas favelas e cortiços das cidades, explorando-o nas indústrias, utilizando-o como exército de reserva para pagar menores salários. Hoje, como ontem, os trabalhadores negros continuam lutando ao lado de seus irmãos de classe pela verdadeira abolição da escravidão, que só pode vir pela liquidação do modo de produção capitalista e não pela via de sórdidas campanhas hipócritas patrocinadas pela classe dominante e suas abjetas celebridades.

Assim como a Lei Áurea foi uma farsa, há vários indícios de que a banana lançada a Daniel Alves não passou de uma ação minuciosamente planejada para desencadear uma campanha de marketing que envolveu Neymar e outras “personalidades” identificadas como setores do povo que ascenderam no capitalismo, ou seja, para levar a crer que tanto o racismo como as diferenças de classe podem ser resolvidos no marco do modo de produção burguês. Em pleno século XXI, os que comemoram o 13 de maio desejam nos fazer crer que a libertação dos escravos foi uma dádiva da classe dominante. Nada mais falso! A lei foi uma exigência do sistema capitalista, devido ao esgotamento do regime escravista (o Brasil foi o último país a libertar seus escravos na América), a necessidade do enfraquecimento da produção do açúcar brasileiro que competia com o açúcar do imperialismo inglês produzido nas Antilhas (o que gerou o fim do tráfico), além do medo constante de uma revolução comparável à do Haiti (1792). Portanto, não é mera coincidência que a burguesia hoje use figuras como Daniel Alves, Neymar e o eterno “negro cativo” Pelé para, de uma forma modernosa, incutir nas massas o mesmo conceito do passado: o racismo não é patrocinado pelo capitalismo e sim consiste em uma atitude pessoal que deve ser questionada de forma “irreverente”.

Esta farsa vem de longe. Tanto que depois que se “celebrou” a Lei Áurea a regra geral foi a desintegração do negro na sociedade, não tendo condições de concorrer com o imigrante melhor qualificado tecnicamente. A maioria negra deslocou-se para as cidades, onde os aguardavam o desemprego e uma vida marginal. Hoje, “dados estatísticos comprovam que os ramos de atividades agrícolas, das indústrias da construção civil e prestação de serviços absorvem cerca de 68% de negros e mulatos, contra 32% de brancos; 54% dos trabalhadores negros recebem em média até 1 salário mínimo, 16% recebem de 2 a 5 salários mínimos. Quanto à mulher negra, chega a receber até 50% dos vencimentos da mulher branca, além de exercerem, em sua maioria, funções de trabalhadora doméstica” (IBGE/2010). A mulher negra deixou as obrigações das fazendas e os caprichos dos senhores para servir aos caprichos da “patroa”. Já os homens negros configuram a maior população carcerária não só do país como também uma das maiores do mundo, ficando atrás apenas dos EUA nesta questão.

A evolução capitalista aperfeiçoa as teorias racistas para explicar o fracasso do sistema em proporcionar empregos para todos e condições de vida adequadas. A pobreza do negro, consequência da incapacidade do capitalismo em absorver sua força de trabalho assalariada, faz com que aspectos inerentes às condições subumanas de vida sejam interpretados como devido à raça. Por isso, o preconceito racial permanece até hoje, apesar da grande miscigenação ocorrida no Brasil, onde estudos realizados por cálculos de frequências gênicas demonstraram que a população do Nordeste e de parte do Sudeste já atingiu 97% de panmixia, ou seja, de mistura total. Mesmo assim, o racismo é uma realidade cotidiana. Fica fácil, então, compreender que o problema do negro no Brasil não é simplesmente étnico. A raiz do problema é o capitalismo que marginaliza e explora a sua força de trabalho, fortalecendo o racismo.

Poucos são os negros que conseguiram acumular capital no país. Estes se “aculturaram” e adotam a ideologia da classe dominante, inclusive, com preconceitos contra sua própria raça. Figuras populares (antes pobre e negras) como Pelé, Anita e tantos outros servem vergonhosamente a este fim. Não por acaso o “rei do futebol” diz que ser normal operários morrerem na construção de estádios para a Copa do Mundo. Apesar disso, as atuais direções do movimento negro, considerando a questão étnica como principal fator de discriminação dos negros, pregam a unidade de todos os negros (inclusive os burgueses) contra o racismo. No sistema capitalista, não podemos alcançar o pleno emprego e a socialização dos meios de produção, que são as bases da diferença de classe que em muito fortalecem o racismo. Atualmente não se pode falar de libertação dos negros sem vinculá-la à luta de classes e à necessidade de emancipação do proletariado. A consciência meramente étnica é uma falsa consciência e o preconceito racial, uma ideologia da classe dominante como é a campanha “somos todos macacos”. Para proporcionar a real libertação dos negros de sua secular exploração e de todo tipo de preconceito é necessária a destruição do sistema que o escraviza, humilha-o e explora-o até hoje: o capitalismo. Definitivamente, essa luta não é apenas dos negros. O objetivo não é somente a libertação de uma raça, mas de todo o proletariado, portanto, devemos dar uma “banana” é ao capitalismo e sua elite racista!