segunda-feira, 28 de abril de 2014


Porque Lula não “voltará” para disputar as eleições presidenciais de 2014?

Nos últimos dias ganhou novamente destaque na imprensa os boatos em torno da possibilidade de Lula disputar as eleições presidenciais de 2014. O chamado movimento pelo “volta Lula” seria estimulado por diversos setores que compõem a base do governo da frente popular, passando por empresários, políticos burgueses e mesmo entidades sindicais que estariam “descontentes” com a “gerentona” petista. Mas ao que tudo indica é no interior do PT onde cresce o movimento “Volta Lula” com muita força, por razões óbvias várias correntes internas do PT identificam Dilma por trás de todo o processo draconiano que decepou a “cabeça” de José Dirceu. Até um “manifesto” circulou em Brasília nesta segunda-feira assinado por deputados federais ligados ao PR. O quadro de ofensiva da mídia e da oposição burguesa contra Dilma, usando o caso da compra superfaturada da refinaria sucateada de Pasadena pela Petrobras e o escândalo envolvendo o deputado André Vargas (provocando a queda lenta da atual presidente nas pesquisas eleitorais) reforçaria a pressão pelo retorno de Lula ao Palácio do Planalto. Apesar de o próprio Lula ter desmentido mais uma vez sua intenção de “voltar” a presidência, a violenta reação do PIG e dos ministros do STF à entrevista que ele concedeu em Portugal sobre o processo do chamado “mensalão”, acusando pela primeira vez o julgamento de ter sido “político”, demonstrou que a entrada de Lula na disputa eleitoral seria duramente bombardeada pela mídia “murdochiana” e direita demo-tucana, rompendo assim o pacto interburguês que o preservou de ser incluído como réu na ação penal 470 e se tornar como Dirceu, Genoino e Delúbio, um preso político do regime da democracia dos ricos. Não temos a menor dúvida de que Dilma será a candidata a presidente pelo PT em 2014 porque sua candidatura é fruto justamente deste acordo, consolidado na medida em que a “gerentona” petista estimulou o próprio Supremo (cuja maioria foi indicada por Lula e Dilma) a condenar parte do núcleo histórico do PT justamente para ter um maior controle do partido. É óbvio que toda esta reacionária empreitada, com o lastro dos “carrascos” do STF, contou com o apoio político “passivo” da anturragem Dilmista, que consolidou uma nova maioria no PT desmoralizando a velha direção do partido. Lula não entraria em uma “aventura” eleitoral até porque tem certeza de que a “gerentona” será reeleita porque manteve intocável as alianças com as oligarquias regionais e seu compromisso com o grande capital, prometendo um segundo mandato ainda mais alinhado com os ditames da burguesia e da ofensiva neoliberal do imperialismo!

Note-se que na entrevista a TV portuguesa RTP em nenhum momento Lula defendeu Dirceu e tampouco declarou que eles eram presos políticos.Muito menos exigiu sua liberdade. Quando questionado pela repórter de que “homens de sua confiança estavam envolvidos no escândalo” Lula respondeu que “tem companheiros do PT preso, eu indiquei seis pessoas da Suprema corte que julgaram e eu acho que cada um cumpre com o seu papel. O que eu acho é que não houve mensalão, mas não vou ficar discutindo as decisões da Suprema corte”. Em resumo, apesar da crítica ao julgamento "político", demonstrou sua completa covardia política já que não pode romper o pacto estabelecido com as elites dominante e enfrentar as instituições burguesas "republicanas". A verdade é que o “mensalão” só seguiu adiante, ou seja, para o STF, na certeza de um acordo celebrado ainda no início de 2006, entre o então presidente Lula e a oposição conservadora no sentido de “depurar” o PT. Este “compromisso” no seio da burguesia permitiu a reeleição de Lula, que posteriormente retardou o encaminhamento do processo ao Supremo, pela via do procurador geral Antônio Fernando. Com a recondução do novo procurador geral em 2011, Dilma deu “carta branca” a Gurgel para trucidar os mensaleiros, em particular seu arqui-inimigo político no interior do PT, José Dirceu. Durante todo esse período, a LBI veio alertando que a determinação de Dilma em levar até as últimas consequências o linchamento público de parte do núcleo histórico da direção petista e agora do deputado André Vargas (que se solidarizou publicamente com Dirceu e Cia) teve como ponto limite a isenção da figura de Lula em todo o processo judicial do “Mensalão”. Lula só não acompanhou Dirceu, Delúbio e Genoino no cárcere em função de sua enorme representatividade social, mas certamente não ocupará mais nenhuma função executiva no staff da burguesia nacional e, muito menos, disputará a eleição em 2014. A “revelação” de um esquema de corrupção estatal que deixa de fora o principal “gestor” do “Mensalão”, já demonstra o caráter completamente fraudulento deste processo. A tentativa do ex-deputado e presidente do PTB, Roberto Jefferson, de incluir a participação dirigente de Lula no esquema de compra da base parlamentar “aliada” foi rechaçada unanimemente pela burguesia e seus organismos de difusão. Lula deveria ser preservado, como foi de fato em 2006, ao contrário das figuras emblemáticas que simbolizavam o controle do aparelho petista. Partindo deste patamar de “acordo”, o governo Dilma liberou as hienas raivosas da mídia “murdochiana” para exorcizarem os fantasmas de um passado recente do país da emergência social. O resultado veio com a prisão de Dirceu, Genoino e Delúbio. Se Lula quebrar este acordo será vítima de uma ofensiva brutal que pode destruir todo o seu “legado” e principalmente seu futuro político. Seu “silêncio” até agora sobre a prisão dos “mensaleiros” foi parte desta estratégia de auto-preservação! Bastou timidamente criticar a decisão do STF para ser ameaçado! Lembremos que em novembro de 2013, logo após as comemorações dos 33 anos do PT, quando Lula afirmou oficialmente que a “gerentona” seria a candidata em 2014, desautorizando o chamado movimento “volta Lula”, o próprio Lula, após sair de uma reunião com Dilma e quando questionado sobre a prisão de Dirceu declarou: “Eu acho que quem tem que discordar ou não são os advogados, que juridicamente tem que saber o que pode fazer ou não. Como eu posso ter uma opinião sobre o julgamento da Suprema Corte, gente? Não tem sentido” (G1, 14/11/2013). Agora, Lula criticou timidamente o julgamento em Portugal, declarando que “O julgamento foi “80% político e 20% jurídico... foi um massacre para destruir o PT e não conseguiu”. Bastou abrir a boca para ser alvo de uma ofensiva brutal, tanto que desmentiu mais uma vez a candidatura através de sua assessoria: “O que vale é a entrevista para a RTP [Rádio e Televisão de Portugal], dada na última sexta-feira, em que o ex-presidente Lula descartou a chance de disputar a Presidência da República” (R7, 28/04).

O fato de desautorizar mais uma vez o “volta Lula” e sua covardia em defender seus companheiros de partido presos e perseguidos diante da sanha direitista da burguesia são parte do mesmo processo. Acossado inclusive pela anturragem palaciana que patrocinou veladamente a Ação Penal 470, Lula optou por se passar de “bobo indignado” e que não sabia de nada, deixando a turma de Dirceu “curtir” solitários a detenção no presídio da Papuda. Desde a LBI denunciamos que o julgamento “espetaculoso” do “Mensalão” contra o PT foi montado sob encomenda pela mídia “murdochiana” como parte desta ofensiva da burguesia, nada tem a ver com nenhuma inflexão “moralizadora” do regime vigente, estava voltado a fazer uma “faxina” no PT e neutralizar Lula. Disseminar a ilusão de que o STF “abriu uma nova página na história”, ao condenar dirigentes corruptos de um partido governante, como fizeram os canalhas do PSTU e PSOL, significa colaborar com um ataque aos mais elementares direitos democráticos da classe operária, que em um futuro breve se voltará contra o conjunto das lideranças da esquerda classista.

A burguesia brasileira e seus barões estão movendo as peças no jogo de xadrez da sucessão presidencial. Desejam reeleger uma Dilma completamente servil e cada vez mais frágil para assegurar esta transição “lenta, gradual e segura”, inexorável na medida em que os capitalistas pretendem desferir ataques de maior envergadura contra os trabalhadores e precisam de um governo mais à direita alinhado automaticamente com este objetivo, uma gerência que supere o acordo personificado por Lula em que a burocracia sindical cutista (e seus satélites) é intermediária do pacto de estabilidade do regime via a cooptação material e política. Este “modelo” deu certo até agora, mas a crise econômica mundial exige que o Brasil dê uma parcela maior de contribuição ao plano de ajuste e austeridade ditado pelo imperialismo, o que significa uma ofensiva mais profunda sobre direitos e conquistas dos trabalhadores. O triunfo que se delineia no horizonte político, das oligarquias mais conservadoras em aliança com a ala mais direitista do PT comandada por Dilma, vem embotando ainda mais a consciência de classe do proletariado. A mídia “murdochiana” e da própria burguesia deseja um novo governo da “gerentona” em 2014, muito mais à direita do que o atual e sem a influência de Lula. A burguesia tem como estratégia começar no fim do segundo mandato de uma Dilma completamente refém, a transição rumo a um outro eixo de poder em 2018, mais ligado a centro-direita (Marina, Campos, Joaquim Barbosa, Alckmin...) e voltado a desferir uma brutal ofensiva contra o movimento de massas, rompendo com a política de colaboração de classes até então vigente nas gestões da frente popular.