segunda-feira, 10 de março de 2014


O verdadeiro “golpe da direita”: Dilma aprofunda submissão aos rentistas e se ajoelha diante da chantagem do PMDB

Em tempos de ofensiva reacionária na Venezuela e na Ucrânia, escuta-se dentro da esquerda “chapa branca”, de militantes do PT, PCdoB e principalmente da blogsfera alinhada ao Planalto que o governo Dilma poderia ser alvo de um “golpe da direita” em um período próximo. A LBI que nas “jornadas de junho” alertou sobre o curso direitista que o PIG estava tentando impor ao movimento naquele momento, caracterizou que esta investida midiática reacionária tinha como objetivo desgastar Dilma eleitoralmente para forçar um segundo turno em 2014, já que a “direita” está fragilizada neste terreno. Obviamente que não há no horizonte imediato qualquer espaço para um golpe clássico ou algo ao estilo que vem se passando na pátria de Hugo Chávez ou na ex-república soviética. O PT ainda é a força política preferencial da burguesia para gerir seus negócios. Isto não quer dizer que não esteja em curso um claro recrudescimento do regime político em nosso país que ganhou corpo com a farsa do julgamento do chamado “mensalão” e a repressão aos movimentos populares, porém o próprio PT sob pressão da mídia burguesa e de seus aliados da direita vem sendo a mola mestra desse processo. A repressão ao “Movimento não vai ter Copa” desferida pelos governos estaduais com o apoio da “gerentona” petista, a lei antiterrorismo que será aprovada no Senado e o incremento do aparato policial em torno do mundial da FIFA que deixará como “legado” mais instrumentos de ataques ao povo trabalhador são exemplos incontestes do que afirmamos. Mas não só isso. Não há perigo de “golpe da direita” neste momento porque o PT está claramente comprometido com a estabilidade do regime político burguês, inclusive se ajoelhando para aprofundar suas relações econômicas com os empresários e as oligarquias reacionárias agrupadas no PMDB. As fricções e o balcão de negócios em torno do apoio a reeleição da presidente Dilma são parte desse jogo de barganha para acomodar os interesses burgueses que como classe deseja estrategicamente um ataque de maior envergadura ao movimento de massas, uma investida que está sendo gestada para se impor depois de 2018 com o fim do ciclo petista no governo central. Neste momento, as “gerências” do PT apenas preparam o terreno para a volta dos neoliberais mais “agressivos”, sedentos para recolocar o estado brasileiro na trilha do último vagão do imperialismo ianque.

Uma prova disso é que por ordem da presidente Dilma, Mantega convocou uma reunião para terça, em São Paulo, com pesos-pesados do Produto Interno Bruto (PIB). Ele vai ouvir as sugestões do chamado “setor produtivo” e transmitir o recado de que a presidente quer montar um fórum de diálogo com representantes da indústria. A equipe da campanha pela reeleição de Dilma pretende, na prática, reforçar os laços políticos com a chamada “burguesia industrial”. Em recente reunião no Alvorada, Lula orientou Dilma a escalar o ministro da Fazenda para ouvir os empresários. As empresas escolhidas para a reunião com Mantega têm em comum o fato de terem forte presença internacional, como a Embraer, a Vale e a Odebrecht. O ministro também terá uma reunião nesta segunda, 10, com o presidente da Associação Nacional de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan. Em janeiro, a presidente foi a Davos e usou o discurso no Fórum Econômico Mundial para tentar tranquilizar empresários sobre a condução da economia. No mês passado coube a Lula fazer afagos a investidores internacionais, em Nova York. Esta operação emergencial está em curso porque o pequeno crescimento do PIB em 2013 foi lastreado fundamentalmente nas exportações de commodities agrominerais, de baixo valor agregado, enquanto o setor industrial amarga um sucateamento crônico, com pífios índices de variação positiva. A participação da indústria no “bolo geral” do PIB em 2013 foi a menor dos últimos onze anos, o que revela o franco retrocesso das forças produtivas nacionais e o prenúncio do esgotamento do atual “modelo” econômico baseado na “bolha” de crédito e consumo.

Por seu turno, após a reunião que ocorreu com Michel Temer neste domingo, setores da cúpula petista manobram para desestimular candidaturas próprias nos Estados em favor de partidos aliados e, assim, fortalecer a coligação em torno da candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição, especialmente com o PMDB. Entre as medidas sugeridas por esse grupo está a obrigatoriedade de alianças sólidas com as oligarquias regionais como pré-requisito para candidaturas próprias. A ideia desses petistas também é que a direção nacional se manifeste de forma explícita sobre a situação em cada uma das 27 unidades da federação como forma de orientar os diretórios estaduais. No alvo estão pelo menos cinco Estados onde as direções locais defendem candidaturas próprias: Goiás, Paraíba, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e Tocantins. O principal beneficiado é o PMDB, onde setores do partido ameaçam rachar a aliança com Dilma, já que a quadrilha de Sarney e Renan não tem o controle de toda a legenda. “A prioridade do PT é a reeleição da Dilma. O cálculo para consolidarmos as candidaturas próprias têm que levar em conta as pesquisas, palanques para Dilma e fundamentalmente política de alianças. Se não atender esses requisitos é melhor fortalecermos a relação com aliados como o PMDB e o PSD”. Essas decisões não podem ficar a cargo de cada estado, defende o vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR). A base material da “chantagem” do PMDB é absolutamente cristalina e pública, a feroz disputa entre as máfias partidárias pelo controle das generosas verbas estatais e de governos estaduais que possam geri-las. Somado a este ingrediente político adicione a relativa estabilidade social, produto do pacto social implícito celebrado pela frente popular com as direções sindicais “chapa branca”. Em um cenário onde os de “baixo” não ameaçam a farra estatal na “casa alheia”, os de “cima” se sentem completamente à vontade para brigar em “família” pelo leme do barco “institucional”. O Planalto vendo a potencialidade da “crise” se alastrar, ameaçando votações importantes no Congresso Nacional, mandou liberar mais verbas e novos cargos para a quadrilha peemedebista.

A lição fundamental a se retirar desse cenário é que “ciclo de poder” dos governos de Frente Popular no Brasil parece estar mesmo encerrando seu ciclo histórico com a reeleição “segura” da presidente Dilma em 2014. Em uma conjuntura marcada pela ausência da construção de projetos nacionais de desenvolvimento, desconsiderados solenemente por Lula e Dilma, não pode dar mais sustentação a um projeto político por mais de quatro mandatos de governo central. O PT seguiu a trilha do neoliberalismo com “eficiência social” e “aquecimento” do mercado interno consumidor, mas o “boom” mundial das exportações de commodities agrominerais, com baixo valor agregado, que lastreou o “milagre petista” já não tem mais fôlego para seguir dando credibilidade internacional a centro-esquerda burguesa latino-americana. Com “pibinhos” e déficits estruturais em suas contas correntes, e adiando a passo de tartaruga a implementação dos projetos capitalistas estruturantes, o país caminha lentamente para uma nova retração econômica, que deve emergir com força em meados do segundo mandato de Dilma. Os cenários de intensa polarização social que ocorrem hoje na Argentina e Venezuela, podem ser apenas uma “pequena amostra” do que nos aguarda daqui a poucos anos... quando aí sim a “direita” virá com toda sua força, tendo o PT como coadjuvante no espectro político burguês!