quarta-feira, 18 de dezembro de 2013


“Todo apoio à greve dos aeronautas! Não a privatização dos aeroportos pelo governo Dilma! Abaixo a divisão da categoria imposta pela burocracia sindical da CUT e da Força!”

O Jornal Luta Operária entrevistou o companheiro Roberto Bergoci, trabalhador da TAM no setor de operação de equipamentos de pista do aeroporto de Cumbica em Guarulhos - São Paulo e militante da Tendência Revolucionária Sindical (TRS), que nos relata as políticas de precarização das companhias aéreas e a resistência dos trabalhadores, além da subserviência da burocracia sindical ligada a CUT e a Força Sindical à patronal, atuando na prática como camisa de força contra o movimento dos trabalhadores. Neste momento os trabalhadores aeronautas e aeroviários se mobilizam em nível nacional contra as políticas de reestruturação e precarização impostas pelas companhias aéreas e o governo do PT. Ataques estes desferidos contra os trabalhadores, impulsionados ainda mais com as privatizações dos aeroportos brasileiros levados a cabo pela “gerentona” neoliberal Dilma. Como resposta, os aeronautas entraram em estado de greve desde o dia 13 de dezembro após a assembleia geral da categoria, podendo deflagrar uma paralisação geral no dia 20/12.

Jornal Luta Operária (JLO) – Como trabalhador da TAM você pode nos relatar com mais detalhes qual a situação da categoria aeronauta e aeroviária nacional?

Roberto Bergoci (RB) - As condições de trabalho da categoria como um todo vem se deteriorando de forma cada vez mais acentuada. As companhias aéreas vêm impondo por debaixo dos panos uma verdadeira reestruturação, basta olharmos a recente demissão de quase mil funcionários da TAM com o intuito de rebaixar salários e cortar benefícios, além de que a rotatividade, o assédio moral e as terceirizações que envolvem estas companhias é gritante, fato que somado ao elevado valor das passagens aéreas garantem a estas empresas uma taxa de lucro enorme. Não por acaso, os pilotos, copilotos e o todo o setor da tripulação aérea estão em estado de greve que pode ser deflagrada neste dia 20 de dezembro. Nós, que militamos como oposição classista nos aeroportuários e trabalhamos dando suporte aos voos em terra, como o carregamento dos aviões, abastecimento de combustível e apoio em pista, estamos dando nossa solidariedade ativa aos companheiros, inclusive mobilizando o conjunto da categoria, desgraçadamente dividida em vários sindicatos para que a paralisação seja vitoriosa!

JLO - Como vem sendo construído o estado de greve anunciado pelo Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA)? Acredita que haverá paralisações da categoria até o fim do ano?

RB - O problema é que a burocracia sindical ligada a CUT e a Força Sindical dividiu todos os trabalhadores que tenham qualquer tipo de relação empregatícia com as companhias aéreas em uma série de sindicatos fragmentados, fato que contribui para heterogenizar ainda mais os trabalhadores dificultando uma ação conjunta destes contra o inimigo comum, o que tem levado à constantes derrotas desta categoria importante. Com relação ao estado de greve, embora o SNA tenha afirmado que pretende organizar uma paralisação a partir do dia 20, tenho muita desconfiança deste fato, pois a própria burocracia sindical vem dando declarações que pretendem até o dia 19 fechar um acordo mesmo rebaixado com o aumento salarial abaixo da inflação para não entrar em greve. De acordo com o SNA, a proposta das empresas áreas prevê reajuste do piso salarial em 7%, aumento de 5,6 % dos salários além de aumento de 8% no vale-refeição. A categoria pede 8% de reajuste nas cláusulas econômicas e também avanços sociais, como aumento de folgas. Como oposição classista a CUT e a Força, defendemos a greve no dia 20 abarcando os setores de voo e de pista assim como a unificação da categoria em um único sindicato para responder aos ataques das companhias.

JLO - O governo Dilma privatizou vários aeroportos em novembro. Quais as consequências deste ataque para os trabalhadores?

RB - Houve a chamada Terceira Rodada de Concessão dos aeroportos brasileiros, quando o governo Dilma privatizou dois dos principais aeroportos brasileiros: o Internacional do Galeão no Rio de Janeiro e Confins em Minas Gerais. Com essa última rodada de privatização, já foram entregues aos magnatas do capital cinco aeroportos, justamente os maiores e mais lucrativos do país como o Internacional de Brasília (DF), Guarulhos (SP) e Campinas (SP), que somado às outras privatizações levadas adiante por Dilma como no caso das rodovias, portos e o sucateamento e abertura dos correios e BB ao capital privado, significa um verdadeiro desmonte de toda a infraestrutura do país, fato que o torna ainda mais dependente e subordinado ao imperialismo, além de comprometer a própria segurança nacional. É impressionante o papel dos burocratas mafiosos do Sindicato Nacional dos Aeroportuários (SINA-CUT), que se calam diante de tal crime contra os trabalhadores brasileiros e em especial a categoria aeroportuária que certamente sofrerá uma violenta ofensiva contra suas condições de trabalho por parte das grandes administradoras privadas, como ocorreu recentemente nas obras de ampliação de um dos terminais do aeroporto de Guarulhos, onde a empresa GRU Airport que o administra mantinha uma enorme massa de operários em condições de trabalho escravo, sem nenhum tipo de direito estabelecido. Temos denúncias suficientes de operários que trabalham neste aeroporto, nos informando que depois da privatização pioraram as condições de trabalho, inclusive para os trabalhadores das empresas aéreas. Ao invés de combater tal política entreguista, o SINA se resumiu a reproduzir o noticiário da imprensa burguesa e tratou de embelezar a vergonhosa privatização petista, atuando como verdadeiro agente da burguesia no movimento operário. A defesa da restatização dos aeroportos sob o controle dos funcionários e a denúncia política das privatizações sob encomenda do imperialismo por parte do governo petista, devem estar necessariamente ligadas ao programa da revolução socialista, caso contrário não passarão de demagogia barata como fez a CUT, CTB e a Força Sindical em seus teatrais atos de protestos, na verdade praticamente assistindo de camarote o governo Dilma “bater o martelo” no leilão da ANAC, como nos velhos tempos tucanato!

LO - A TAM, onde você trabalha, foi recentemente engolida pela LAM-Chile. Este processo é reflexo do aprofundamento e do fortalecimento dos monopólios no setor aéreo nacional?

RB - Sem dúvida. Tínhamos no passado empresas de grande porte atuando no setor como, por exemplo, a VASP, uma gigante estatal que foi paulatina sucateada pelos governos neoliberais tucanos paulistas a fim de entrega-la via privatização e depois elimina-la visando beneficiar os grandes grupos capitalistas. Hoje o mercado aéreo brasileiro se encontra dividido basicamente entre três empresas sinalizando um verdadeiro oligopólio bancado pelas mafiosas TAM, GOL e AZUL, fato que resulta no fortalecimento destes capitalistas ao atacar os trabalhadores, além de perpetuarem um dos preços mais elevados do mundo das passagens aéreas. A greve que pode ocorrer no dia 20 tem como tarefa fazer a resistência a este processo. Por sua vez, a chamada crise aérea na estrutura dos aeroportos, com a visível insegurança nos voos, demonstra as péssimas condições de trabalho dos controladores, o arrocho salarial, o sucateamento dos equipamentos, pistas sem manutenção é causada pelos baixos investimentos do Estado em tecnologia, contratação, qualificação e treinamento de pessoal, aprofundada pela corrupção. Os recursos são canalizados para bancar o superávit primário e toda a estrutura estatal do setor, particularmente a Infraero, é voltada para gerar lucro para as companhias aéreas, dando preferência à lucratividade administrativa dos aeroportos, transformados em shopping centers com generosos espaços cedidos à publicidade. Enquanto o caos aéreo se desenvolve, a Infraero, controlada pela alta cúpula das FFAA, arrecada milhões com as taxas de embarque, não cobra as dívidas das companhias de aviação e, ainda, promove um milionário esquema de corrupção através das fraudes com contratos sem licitações e superfaturamentos. Os trabalhadores devem defender a constituição de um comando de funcionários, eleitos e com mandato revogável para gerir o sistema de aviação no país, além da defesa da estatização das companhias aéreas para baixar os preços das tarifas e passagens, garantir o fim dos atrasos nos voos e o acesso da população trabalhadora ao transporte aéreo. Defendemos a criação de uma empresa estatal única que abranja a construção de aeronaves, a aviação civil propriamente dita, a infraestrutura e administração aeroportuária, submetendo-a ao controle direto da classe trabalhadora.

JLO - Como está se desenvolvendo o trabalho da oposição classista na categoria impulsionado pela TRS?

RB - Há uma forte pressão da TAM e das demais companhias aéreas contra a mobilização da categoria. Por isto esta greve dos aeronautas é tão importante para quebrar o ciclo de ofensiva da patronal contra os trabalhadores no solo e voo. Nosso decidido apoio a esta mobilização reside no fato desta poder ter um “efeito dominó”, sendo a faísca do ascenso de todo pessoal, que trabalha em terra e ar, inclusive os companheiros da Infraero e da GRU Aiport. Nós da TRS estamos fazendo um trabalho de base, juntos aos setores mais explorados da categoria para forjar uma consciência de classe. Do ponto de vista mais geral, compreendo ser urgente que o proletariado brasileiro se articule um grande movimento de oposição de luta como única forma de romper com as amarras do gangsterismo sindical que muito vem beneficiando a burguesia. Nossa classe precisa ter claro o momento histórico completamente desvantajoso que atravessamos, fato que se aprofundou com o fim dos estados operários, principalmente a URSS acontecimento este que potencializou os ataques imperialistas a toda a massa operária do planeta. Só a revolução socialista pode salvar a humanidade da barbárie iminente e desde nosso trabalho político e sindical nos aeroportos estamos militando nesta perspectiva revolucionária, ligando como nos ensinou Trotsky as reivindicações mais sentidas dos trabalhadores à luta pelo poder político! Por isto declaramos: Todo apoio a greve dos aeronautas! Não a privatização dos aeroportos pelo governo Dilma! Abaixo a divisão da categoria imposta pela burocracia sindical da CUT e a Força!