quinta-feira, 26 de setembro de 2013


Síria na mira do imperialismo: Obama tenta montar armadilha via “acordo das armas químicas” costurado na ONU

Após o recuo temporário de Obama em sua sanha neocolonialista contra a Síria devido a debilidade dos seus “rebeldes” mercenários em terra, há uma forte pressão, via potências capitalistas que controlam o Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas, para que Assad aceite um acordo pelo fim do seu arsenal de armas químicas. Esta medida pode representar uma armadilha para possibilitar uma futura intervenção imperialista com a chancela da ONU, dando assim suporte internacional, militar e político ao imperialismo ianque, que se encontra isolado em sua aventura belicista. Por esta razão, a Casa Branca busca que a Rússia aceite os termos de uma resolução da ONU para possibilitar a agressão militar sem ser necessária uma nova decisão do CS, caso a Síria descumprisse o acordo. Uma proposta de resolução poderá ser apresentada nos próximos dias ao plenário do Conselho, formado por 15 países. Além disso, os cinco membros permanentes do CS vão se reunir na sexta-feira, 27 de setembro, para discutir uma proposta de conferência de paz. O governo Putin, entretanto, negou que haja um consenso sobre os pontos principais e resiste em aceitar a resolução apresentada pelos EUA que evoque o artigo 7º da Carta da ONU, dando poderes de um ataque militar sem a necessidade de uma nova resolução aprovada pelo CS. Frente a armadilha que está sendo montada pelos EUA, o presidente da Síria, Bashar al-Assad, não descartou uma intervenção dos Estados Unidos contra seu país, apesar das negociações para que Damasco destrua seu arsenal de armas químicas: “A possibilidade de um ataque dos Estados Unidos à Síria sempre estará presente. Em um momento sob o pretexto de armas químicas, em outros momentos por pretextos diferentes” afirmou em entrevista ao canal Telesur nesta quarta-feira. Como já alertamos, o recuo dos EUA visam criar as condições para uma agressão militar com maior apoio internacional, tendo em vista a crise que enfrentam os “rebeldes” derrotados em solo pelo exército nacional sírio.

Segundo o sítio Cubadebate, o vice-chanceler russo Gennady declarou que as negociações sobre a resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre armas químicas sírias deve ser aprovada nos próximos dois dias. Ele destacou que a resolução irá conter um ponto sobre o Capítulo 7 da Carta da ONU, o qual permite o uso da força. No entanto, o diplomata russo ressaltou que não se aplicam neste capítulo, em caso de violação dos acordos pela Síria. Segundo ele a autorização de uma ação militar requer a aprovação de uma nova resolução do Conselho de Segurança. Em dois anos em meio de guerra civil na Síria, a Rússia usou repetidamente seu poder de veto no CS, com ajuda da China, para vetar qualquer tipo de sanção a Assad. Pela proposta do acordo, caso a Síria não cumprisse os compromissos de entrega das armas químicas poderia ser atacada imediatamente, o que daria amplas possibilidades à Casa Branca montar uma nova farsa via seus inspetores-espiões da ONU para declarar que Assad havia “enganado” as Nações Unidas. Não por acaso, inspetores de armas químicas da ONU voltaram à Síria nesta quarta-feira para continuar a investigação. Por sua vez, um diplomata ligado às potências ocidentais teve acesso ao esboço mais recente e declarou que até o momento a única referência ao artigo 7º vinha no fim do documento: a ameaça de “impor medidas” amparadas por essa cláusula em caso de descumprimento. Para que a ameaça fosse levada a cabo, no entanto, seria necessária uma segunda resolução, sendo este justamente o ponto de divergência entre a Rússia e os EUA. Entretanto, mais além destas negociações, os EUA recuaram da intervenção militar porque seus “rebeldes” estão em conflito entre si, justamente para definir que grupo comandará a ofensiva em solo no curso de um bombardeio militar imperialista.

Não nos opomos que o governo sírio e seus aliados burgueses lancem mão de medidas políticas e diplomáticas para impedir o ataque dos EUA e de seus parceiros da OTAN. Ainda que consideremos que a iniciativa russa não passe de uma manobra para ganhar tempo ou mesmo que ao final das negociações Assad não venha a entregar todo seu arsenal de armas químicas, os trotskistas revolucionários que defendem a nação oprimida síria frente a iminente agressão imperialista, alertamos dos perigos desta estratégia de fechar um acordo com os EUA na ONU que brevemente servirá, como reconheceu o próprio Assad, para o imperialismo desferir uma agressão militar contra o país. Compreendemos que a entrega integral das armas químicas sírias para a ONU de forma alguma é o melhor caminho para barrar a ação militar ianque, ao contrário, esta concessão político-militar pode permitir que o enclave sionista de Israel, que poderia ser alvo de um ataque de armas químicas da Síria, sinta-se ainda mais fortalecido para incrementar as provações contra o próprio território sírio e o povo palestino, impondo uma derrota ainda mais profunda aos seus adversários na região. Para se opor ao isolamento provocado pela odiosa e mentirosa campanha da mídia “murdochiana”, repetida pelos papagaios revisionistas do trotskismo, de que foi o governo Assad o responsável por lançar um ataque químico na periferia de Damasco, defendemos que o caminho justo para a luta em defesa da soberania nacional síria é justamente a ampla denúncia da farsa montada pelo imperialismo e seus “rebeldes”, chamando a solidariedade internacional dos trabalhadores e das nações oprimidas, assim como unidade militar em torno da defesa da Síria. Efetivamente, há no planeta um amplo sentimento de rechaço à possível agressão dos EUA a Síria, entretanto faz-se necessário estimular esta tendência política não para o pacifismo pequeno-burguês como temos visto em várias manifestações “pela paz” ou em favor de uma “transição política” (que de fato signifique a rendição da Síria), mas para impulsionar a luta internacionalista do proletariado mundial no sentido da defesa da nação oprimida contra os “rebeldes”, o imperialismo ianque, Israel e as petromonarquias árabes! É com este eixo político que os lutadores revolucionários e anti-imperialistas intervirão no “Dia Nacional de Solidariedade à Síria” que ocorrerá neste domingo, 29 de setembro, às 10hs em São Paulo, concentrando-se na Praça Oswaldo Cruz, convocado pelo Comitê de Solidariedade ao Povo da Síria integrado pela LBI e outras correntes políticas e entidades sindicais.

Os marxistas revolucionários conhecem muito bem a essência oligárquica burguesa do governo Assad, mas de forma alguma podem “colaborar” com a oposição “rebelde” mercenária montada pelos EUA e apoiada pelos revisionistas do trotquismo. O complexo tabuleiro político da região, que envolve a luta de libertação do povo palestino e a forte presença do Hezbollah no Líbano, exige uma vigorosa postura anti-imperialista e pela destruição do enclave de Israel, ao mesmo tempo em que a impotência das burguesias árabes aponta para o jovem proletariado a realização das tarefas históricas pendentes. De toda a forma, a defesa militar das nações semicoloniais agredidas pelos abutres imperialistas continua neste momento sendo o centro político da intervenção da classe operária árabe, independente dos regimes burgueses autocráticos. Defendemos incondicionalmente o direito da Síria a utilizar todos seus recursos militares (convencionais ou não) em resposta a agressão imperialista à soberania de seu território, inclusive as armas químicas contra o enclave sionista de Israel! Assad sabe muito bem que na “hora H” não poderá contar com o efetivo apoio militar da Rússia e China, apesar das manobras diplomáticas na ONU contra a ofensiva dos EUA. Nunca nutrimos a menor ilusão nos “impulsos” anti-imperialistas do bloco dos BRICs, por se tratar de uma coalizão de países semicoloniais (inclusive a Rússia), apesar da pujança de seus mercados. A principal lição programática a ser abstraída pela classe operária mundial, diante do rufar dos tambores de guerra no Oriente e Ásia, é que a tarefa do verdadeiro internacionalismo e solidariedade ativa entre os povos, somente pode ser praticada por organizações revolucionárias, estejam a frente de estados ou não. As bravatas anti-imperialistas das burguesias nacionais e seus regimes se desfazem na medida de seus interesses de classe, necessariamente associados ao capital financeiro internacional. Cabe à vanguarda mais combativa e consciente do proletariado lutar incondicionalmente contra a guerra imperialista, como nos ensinou Lenin, o primeiro passo para a revolução socialista mundial.