terça-feira, 2 de julho de 2013

Plebiscito, vitória da seleção e jornada de “lutas” da CUT só no dia 11, três ingredientes de uma receita para “esfriar” as mobilizações populares

A presidente Dilma acaba de enviar ao Congresso Nacional sua proposta de um plebiscito para debater temas da reforma política. A iniciativa do governo anunciada um pouco depois da retirada da fracassada “sugestão” de uma constituinte específica, ocorre no clima de “euforia nacional” após a “consistente” vitória da seleção brasileira na Copa das Confederações e no marco do refluxo dos multitudinários protestos de rua, cujo “ápice” seria a convocação de uma greve geral, “traficada” pela burocracia sindical na forma de um dia nacional de “lutas”, somente marcado para o próximo dia 11 de julho (quase um mês depois do inicio das mobilizações nacionais). Por seu turno, o PIG também se inclinou a pactuar com o governo uma “trégua” em suas convocatórias midiáticas para as passeatas, na medida em que não conseguiu centralizar o movimento com seu eixo “Fora Dilma”. Até mesmo a tal “greve geral facebookiana” do dia 01/07 (muito temida pelos reformistas) foi esquecida totalmente, completando assim o quadro de certo esgotamento de um movimento de massas que não sabe que rumo político seguir.

Como primeira tentativa de dar alguma resposta as “ruas”, Dilma sugere uma constituinte específica para deliberar acerca da reforma política, tema de vital importância para o PT em função de sua “dependência” das oligarquias partidárias no Congresso Nacional. Apesar do fiasco da proposta, rechaçada pela elite política do país temerosa de uma maior abrangência constitucional dos temas que poderiam vir à tona pela força da ebulição do momento, a ideia de uma manobra distracionista foi bem colocada pelo governo da Frente Popular, faltava “afinar” a pontaria conjuntamente com a “base aliada”. Logicamente não poderia haver uma constituinte “limitada”, já que superada as barreiras impostas por um alto quórum no parlamento e aprovada sua convocatória, a constituinte é soberana para deliberar sobre todo o reordenamento jurídico e político do país. Logo se observou um inusitado coro do arco da reação jurando lealdade máxima à constituição “progressista” de 88. Como a anturragem de Dilma (incluindo sua equipe de marketeiros) não pretende dar nenhuma vazão minimamente democrática à crise, retirou a proposta da constituinte da mesa e lançou a caricatura de um plebiscito manipulado, com cinco pontos para a deliberação popular: 1) Financiamento das campanhas eleitorais, 2) Definição do sistema eleitoral, 3) Continuidade ou não da suplência no Senado federal 4) Manutenção ou não das coligações partidárias, 5) Voto secreto ou não dos parlamentares no Congresso Nacional.

Este plebiscito pode representar uma das maiores farsas políticas da recente história republicana do país, só comparada ao colégio eleitoral de 84 e a eleição fraudada de Collor de Mello em 89. Em nada “responde” às demandas populares vocalizadas nos protestos, e no sentido contrário representa um “arranjo” constitucional entre as frações políticas dominantes. O PT seria beneficiado com o financiamento estatal das campanhas eleitorais, já o Tucanato tem muito a ganhar com o sistema do voto distrital, ficando o fim das coligações proporcionais como uma área de interseção comum entre os grandes partidos burgueses. Obviamente, não se perguntará ao povo se ele deseja continuar pagando 450 bilhões por ano aos rentistas (por conta dos juros da divida interna), tampouco à população será indagada acerca das desonerações fiscais que o governo promove para as grandes empresas transnacionais e por último “nem pensar” em questionar se os trabalhadores estão satisfeitos “ou não” com os “salários mínimos” que percebem todo mês.

Na sequência do engodo Dilma “convoca” a sociedade civil para ser “auscultada”, equivocadamente logo comparem no Planalto o MPL, as centrais sindicais “chapa branca” (incluindo a CONLUTAS) e até o vacilante PSOL. Para o PT é a hora de sair “das cordas” e passar à ofensiva nas manobras, exatamente no momento em que a direita e seus apêndices disfarçados ameaçavam tomar o controle das manifestações. A CUT resolve convocar um arremedo de greve geral (dia nacional de luta), evitando que a iniciativa parta de outra vertente, de direita ou esquerda. Na dispersão programática das mobilizações, ganha corpo o sentimento conservador “patrioteiro” e a justa radicalidade inicial do movimento da juventude contra a repressão descamba para ações isoladas, muitas vezes permeadas por infiltração de bandos lúmpens treinados pela própria polícia. Um cenário ideal para o PIG passar a enaltecer o “sentimento cívico” (leia-se inofensivo) dos protestos e condenar os “atos de terrorismo” que supostamente seriam cometidos por grupos radicais de esquerda.

Para se contrapor a vertiginosa queda na pesquisa de intenção de voto, realizada pelo “insuspeito” instituto DATAFOLHA, Dilma pega carona no prestigio do “padrão Felipão”, anunciando que também receberá a seleção brasileira campeã da faraônica Copa das Confederações. A mídia “murdochiana” parece ter conseguido com a nova conjuntura ao menos um objetivo parcial, ou seja “sangrar” a presidenta petista e garantir pelo menos um segundo turno em 2014. O PIG se regozija do “dever cumprido” e faz a leitura que é hora de suspender a cobertura em tempo real das mobilizações de rua, para apostar suas fichas na produção eletrônica de seu candidatíssimo Joaquim Barbosa. No campo da oposição Demo-Tucana também se encontram “vítimas”, e a primeira da lista foi a candidatura do senador Aécio Neves, considerado um “tradicionalista” diante dos “inovadores” JB e Marina Silva mais “antenados” com os novos tempos... e expectativas da classe média massivamente presente nos últimos protestos.

Como Marxistas Leninistas não fazemos nenhum tipo de fetiche teórico da espontaneidade das massas, ainda mais na ausência de norte programático e inexistência de uma direção classista e revolucionária. Não custa lembrar aos que consideram como “revolução” toda mobilização popular, que o nazismo impulsionou as massas alemãs em torno de suas justas reivindicações por emprego e renda, contra a profunda deterioração social em razão da profunda crise econômica atravessada pelo país após a derrota na primeira guerra mundial. As demandas populares manifestadas nos protestos nacionais são um inequívoco resultado da incapacidade do regime capitalista em satisfazer minimamente os anseios sociais dos trabalhadores, mas sem o protagonismo histórico do proletariado o movimento das massas pode facilmente girar a direita e convergir com interesses reacionários das classes dominantes. Uma mobilização revolucionária pressupõe organismos de poder das massas (com o método de assembleias democráticas permanentes) agrupadas por um eixo socialista e influenciadas majoritariamente por um partido comunista. Estamos muito distantes desta situação e somente os charlatães revisionistas afirmam que a burguesia nacional visualiza a perda de seu poder de estado com esta dinâmica política expressa nas mobilizações populares. O criminoso “aborto” de uma verdadeira greve geral foi um elemento decisivo no “esfriamento” da situação política, mantendo o movimento das massas nos estreitos limites da institucionalidade do regime da democracia dos ricos.

As "jornadas de luta" do próximo dia 11, lideradas pela burocracia sindical, apontam no sentido de um lobby voltado a mais uma sequência de “factoides” demagógicos do governo da Frente Popular. A tarefa política da vanguarda classista consiste em permanecer mobilizando as massas pela esquerda, sem nenhuma trégua, imprimindo um conteúdo programático socialista em transição com as demandas mais elementares do proletariado. Neste sentido permanece na ordem do dia a necessidade da preparação de uma greve geral “pra valer” (organizada pela base em cada local de trabalho), paralisando a produção do país inicialmente por 48 horas.