terça-feira, 18 de junho de 2013

 
Protestos nacionais da juventude sem um eixo programático e uma direção classista podem ser canalizados pelo “PIG” para um viés reacionário

Como um rastilho de pólvora os protestos da juventude contra o aumento das tarifas dos transportes em São Paulo tomaram conta do país e agora extrapolam em muito a reivindicação da revogação dos "vinte centavos". Nesta segunda-feira (17/06) assistimos mobilizações multitudinárias nas principais capitais do Brasil, ainda que sem a mesma "uniformidade" política das "Diretas Já" ou do "Fora Collor", mas sem dúvida foram um canal social onde se desrepresou a camisa de força imposta ao movimento de massas pelas direções burocráticas. Como uma reação uníssona as primeiras mobilizações "horizontais" e semi-espontâneas do Movimento Passe-Livre (MPL), formou-se uma ampla frente única, que integrava desde o governo Tucano de Alckmin, passando pelo prefeito Haddad e o PT nacional até chegar ao "PIG" (Partido da Imprensa Golpista) como o "padrinho" deste esdrúxulo bloco, que "batizou" o movimento juvenil das ruas contra o aumento das tarifas como sendo uma expressão de "vândalos e baderneiros". Afinal, o aumento das tarifas de transporte em SP foi decretado em comum acordo entre os governos Petista e Tucano, nada mais "natural" que estivessem "solidários" na repressão violenta aos "baderneiros" apresentados pelo "PIG" como uma "ameaça ao patrimônio público". No rastro da frente única reacionária contra o MPL também se perfilaram inicialmente o PCdoB (a prefeitura de SP estava sob o comando de Nádia Campeão no segundo grande ato, em função da viagem de Haddad a Europa) e a chamada "esquerda" petista na figura do ministro da "justiça" Eduardo Cardoso, que ofereceu a ajuda da Polícia Federal para a repressão mais "fina" do movimento. Mas a potencialidade dos massivos protestos de rua, que assumiram um caráter nacional, produziram no "PIG" o mesmo "fenômeno" ocorrido na campanha pelas diretas em 1984, ou seja "repentinamente" passaram a apoiar os "ex-vândalos", considerados agora como uma "corajosa" juventude que "vai às ruas lutar por seus direitos". De uma forma muito similar ao que aconteceu em 84, de repente os atores "globais" passaram a realizar campanhas publicitárias para denunciar a violência da PM, e não mais "desqualificar" os jovens como "baderneiros", a Rede Globo obrigou até mesmo o asqueroso Jabor a fazer "autocrítica" e elogiar os jovens que antes não "valiam nem 0,20 centavos". Estava desta maneira rompida, por iniciativa do PIG, a frente única contra os protestos, e o que se viu a partir do dia 17/06 foi um verdadeiro "tsumami" de "rasgados" elogios às mobilizações, desde o governo Dilma (incluindo todo o PT e PCdoB), e até mesmo o fascista Alckmin e seu sinistro secretário de segurança passaram a defender a garantia da "integridade" dos manifestantes. No bojo das mobilizações, desde o Facebook (manipulado pela CIA), rapidamente surgiu o movimento "Acorda Brasil", que na "carona" da rebeldia juvenil passou a incluir na "pauta" das reivindicações a "prisão dos mensaleiros e a oposição a PEC 37", bandeiras empunhadas pelos procuradores liderados por Roberto Gurgel. Ontem em Brasília a tônica das manifestações esteve focada no Congresso, com muitas bandeiras "verde e amarelas" exigindo uma "faxina geral", o que animou em muito ao "PIG" em declarar que se tratava de um grande movimento "contra a corrupção do governo Dilma", já decretando uma vitória antecipada da oposição Demo-Tucana nas eleições de 2014.

Desde a LBI fomos a primeira organização marxista a apoiar vigorosamente as mobilizações do MPL em SP, elaborando diante da repressão sofrida a corajosa declaração "Todo apoio aos 'vândalos e baderneiros' do MPL". Mas também somos bastante conscientes das limitações e deformações de um movimento que faz apologia do "horizontalismo" e rechaça frontalmente a concepção teórica Leninista. É bem verdade que as marchas urbanas contra o aumento das passagens abarcava um universo bem mais amplo do que a própria área social de influência do MPL, catalizavam assim todo um sentimento de ódio contra a opressão da juventude pelo regime burguês. Mesmo sem nenhum "carimbo" de "propriedade", ficava evidente que os protestos rejeitavam a presença de partidos em geral, incluindo com mais ênfase os de esquerda, com a justificativa de que nenhuma organização os "representava". Não era um bom signo político desde sua gênese, a falta de uma perspectiva revolucionária e socialista para nortear a luta contra a decadência do regime burguês. Mas agora a abrangência do movimento extrapolou em muito as próprias "limitações" iniciais do MPL, ganhando uma dinâmica política multiforme em várias cidades do país.

Não faltaram as comparações ufanistas do "Acorda Brasil" com o movimento das "Diretas Já", perto de completar seus trinta anos. Mais além dos números (a campanha das Diretas chegava a reunir um milhão de pessoas em cada atividade) a realidade da conjuntura era totalmente distinta, a começar pelo papel protagonista das correntes comunistas em cada ato das "Diretas já", onde cada organização de esquerda (sem descriminação das minoritárias como AJS e OQI) era saudada entusiasticamente pelos manifestantes, ao contrário do que ocorre hoje, onde até o ultra-oportunista PSTU é enxovalhado nas mobilizações (ver link da passeata em Curitiba - http://youtu.be/ALc8nO0jrs8). Como "defesa" dos ataques sofridos nas ruas, o PSTU nos "brinda" com seu manual de democratismo burguês, em um artigo escrito por Eduardo Almeida, onde afirma que é legitimo a todos, inclusive aos "anarquistas e neofascistas", levantar suas "bandeiras", para quem andou defendendo até uma agente da CIA contra o "autoritarismo" de Cuba, deve ser "café pequeno" proteger os "Nazi-mauricinhos" da oposição Tucana presentes em grande número nas passeatas do último dia 17/06. A verdade é que o descontentamento da juventude e da população trabalhadora com a democracia dos ricos, expresso soberanamente nas ruas de todo o país, sem a construção de uma direção política classista e de esquerda, pode ser capitalizado facilmente pela direita golpista que já busca arregimentar a classe média reacionária (a mesma que destila ódio de classe contra a esquerda) para hegemonizar os protestos nacionais. Seria total ingenuidade de nossa parte esquecer que estamos em pleno ano pré-eleitoral, já com debates bastantes aquecidos sobre a possibilidade de um quarto mandato presidencial para o PT.

Por parte do governo Dilma há uma "surpresa geral" com as manifestações nacionais, oriundas de um setor que recebe pouco "subsídio estatal" se comparado a outros "programas sociais" em pleno curso. A juventude proletária (a que realmente utiliza o transporte público) não é majoritária nos protestos, embora marque sua presença em meio a uma mitigação social de jovens de classe média universitária ao lado de desempregados "excluídos" do mercado de consumo tradicional. Como sabe que o "estopim" dos protestos teve o seu DNA gerado na prefeitura paulista, a ordem geral do governo agora é "defender a legitimidade das manifestações" e "torcer" para o arrefecimento do movimento. O PT está diante de um fenômeno que não enfrentou em seus dez anos de gestão capitalista e, portanto, simplesmente não pode resolver "gerando crédito em bancos estatais" como operou recentemente com o "alvoroço" do Bolsa Família. Não existe uma direção centralizada das manifestações que possa ser corrompida como fez com as lideranças do movimento sindical. Também os pelegos "chapa branca" da UNE não podem auxiliar o governo nesta questão, pelo simples fato de estarem "queimados" até a medula com este setor mais "radicalizado" da juventude. Sem a existência de interlocutores que possam estabelecer o "diálogo" com os "difusos" manifestantes, só restou ao PT orientar seu prefeito Haddad a recuar temporariamente no aumento da tarifa de ônibus, e esperar com muita cautela que a "abrangência" do movimento nacional não caia nas mãos do "PIG" ou suas colaterais políticas como o "Acorda Brasil" e o "Gigante Despertou".

O movimento operário esteve completamente ausente nestas manifestações contra o aumento das passagens, desde a primeira passeata em São Paulo onde inclusive o sindicato dos metroviários (dirigido pela CONLUTAS ) "amarelou" ao aceitar um acordo salarial rebaixado às vésperas do primeiro confronto com a PM. Com a campanha repressiva (midiática e policial) contra o MPL os sindicatos (CUT, CONLUTAS e CTB) se abstiveram ainda mais da tarefa de estabelecer a necessária solidariedade ativa com o movimento. Ao contrário do que ocorre na Turquia onde foi convocada uma greve geral em apoio aos manifestantes da "Praça Taksim" em oposição à brutal repressão desferida pelo governo Erdogan, no Brasil nenhum sindicato ou central mobilizou suas bases para denunciar a dupla de governadores fascistas Alckmin&Cabral responsáveis por ferir e prender centenas de ativistas. O resultado foi que o próprio "PIG" resolveu posar midiaticamente de protetor dos jornalistas "baleados e encarcerados", lavando a cara dos que tinham antes difundido a versão contra os "bárbaros depredadores do patrimônio público". Os Trotsquistas não fazemos nenhum fetiche do "autonomismo e do espontaneismo" do movimento de massas, conhecemos o desfecho histórico de mobilizações que acabaram por servir aos interesses da contrarrevolução mundial, como os "massivos" protestos contra o muro de Berlin. Com a chamada "primavera árabe" a burguesia mundial ganhou um "Know-how" adicional em desviar grandes protestos populares para o campo político do imperialismo, no Brasil não seria muito difícil manobrarem da mesma maneira, contando com o elemento político da ausência de uma direção revolucionária. Com absoluta certeza estamos muito distantes de atravessar no país uma genuína "rebelião de massas", como tentam passar os revisionistas mais afoitos, as atuais mobilizações nacionais sequer superam politicamente o caráter democrático burguês da campanha das "Diretas Já" (para os revisionistas teria sido uma "revolução"). O "jogo" ainda está aberto e a dinâmica política dos atuais protestos ainda não está definida. Cabe à vanguarda proletária intervir no processo com um eixo programático bem definido, ou seja lutamos ao lado da juventude oprimida contra este regime bastardo, mas somente na perspectiva do socialismo revolucionário, sem fazer a mínima concessão a supostas alternativas "democráticas" de direita. Não devemos estabelecer o menor apoio político a campanhas do tipo de "ética na política" ou "faxina geral", slogans que servem como luva aos barões PIG e seus representantes da "oposição" Demo-Tucana.