domingo, 26 de maio de 2013


O MST (ex-UIT) depois de considerar “superado” o Trotsquismo, rompe com Pino Solanas (“Proyecto SUR”) e agora tenta um acordo até com a FIT

O Movimento Socialista dos Trabalhadores, MST, ex-seção argentina da UIT (CST no Brasil) acaba de romper sua “experiência” com o movimento Projeto Sul-PS (Proyecto Sur), fundado e dirigido pelo deputado cineasta Pino Solanas. O MST em meados de 2011 deliberou sua entrada no PS, um movimento político que se propunha a reeditar a “Frente Grande”, uma aliança entre políticos nacionalistas burgueses (como Solanas e Chacho Alvarez) que acabou convergindo com o Partido Radical na eleição do presidente deposto De La Rua. Para ingressar no PS como corrente interna, o MST abandonou seus vínculos internacionais com o Trotsquismo, deixando inclusive de portar em seu periódico o símbolo da Quarta Internacional. A passagem de mais de dois anos no interior do PS, rendeu ao MST a eleição de um vereador na capital federal argentina, além de um completo distanciamento do restante das correntes revisionistas que participam da FIT (Frente de Izquierda y de los Trabajadores), que passaram a considerar a ex-seção da UIT como parte orgânica de um partido burguês. Neste intervalo de tempo, o MST estabeleceu profundos acordos com a reacionária oposição “Sojera”, declarando seu ódio visceral a qualquer medida “progressiva” do governo Kirchner (referência aos latifundiários da soja). Mas agora os ex-morenistas do MST foram obrigados a deixar o PS em função do escandaloso acordo eleitoral firmado entre Solanas (PS) e a ultradireitista Elisa Carrió da corrente ARI. Quase às vésperas das eleições que renovarão uma parte do parlamento argentino , em outubro deste ano, o MST “descobriu” que sua diluição no PS poderia os conduzir a estabelecer uma frente com políticos que nem a maquiagem da “esquerda” burguesa possuem. Posto que sua ação de romper com o acordo celebrado entre Pino e Carrió poderia ser considerada muito “radical” pelos partidários do PS, o vereador do MST, Alejandro Bodart, tratou logo de esclarecer que o “veto” do MST não se estendia ao conjunto do ARI, mas somente à aliança estabelecida na capital portenha, já que na província de Chubut estão constituindo o “FUS” onde integra o ARI. Neste momento, o MST sem rumo programático procura desesperadamente novos parceiros em Buenos Aires, atirando para todo lado, desde os ex-Maoistas do PTP, passando pela UP do sindicalista Lozano do CTA e até os antigos “camaradas” revisionistas da FIT, o importante mesmo... é não passar em branco nas eleições burguesas...

Para não deixar nenhuma margem de dúvidas acerca da desorientação oportunista do MST deixemos que eles mesmos relatem em seu idioma original: “A partir de esa instancia, llamamos también a otros espacios como ‘Buenos Aires Para Todos’, Marea Popular, el Partido Social, el PCR-PTP, el FIT y demás fuerzas que quieran compartir un rumbo unitario a construir un frente electoral que levante un proyecto emancipatorio e integre sus listas con los mejores referentes de cada fuerza, reflejando su peso real” (Resolução do congresso nacional do MST 11/05/13). Nesta “lista” de possíveis aliados do MST, à exceção da FIT, todas as demais correntes políticas pertencem diretamente ao campo do nacionalismo burguês de “direita”, opositores ferrenhos do projeto "Nacional e Popular" dos Kirchner, este é por sinal o único ponto de convergência no “balaio de gatos” sonhado pelo MST. Como as eleições para a prefeitura da capital federal só se realizarão em 2015, o MST tratou de deixar uma porta aberta para um possível retorno ao PS, saudando como: “Muito importante nossa experiência no Movimento Projeto Sul.” (informe de Bodart ao congresso do MST). Quando se perde as referências teóricas e programáticas no marxismo revolucionário, e este é o caso da tendência mais direitista que já pertenceu ao Morenismo, ocorre o fenômeno político da desmoralização junto aos setores mais conscientes do proletariado, restando recompor as “alianças” eleitorais no terreno da burguesia e de seus representantes parlamentares mais demagógicos.

Parece que a maioria dos integrantes da FIT (PO, IS e PTS), não se empolgaram muito com o aceno eleitoral  do MST, à exceção da IS que comparte da mesma estratégia de aproximação aberta com a “Oposição Sojera”. Nesta questão, os Altamiristas defendem um certo nível de “pudor” em declarar seu apoio direto às mobilizações “populares” da direita contra o governo de CFK, enquanto o PTS se mostra bem mais “crítico” em defender os reacionários “cacerolazos” ocorridos nos últimos dois anos. Na realidade, a FIT é avessa a ampliar sua margem de alianças, bem mais por problemas de disputa interna de aparato do que por questões de afinidade programática. No momento, os três grupos fundadores da FIT não conseguem sequer chegar a um consenso sobre a ordem na composição da lista partidária que se apresentará nas eleições de outubro próximo. Diante do impasse, Altamiristas e Morenistas resolveram dirimir as diferenças nas primárias oficiais, impostas pela legislação draconiana vigente, ou seja, a FIT ao invés de convocar uma conferência aberta do próprio movimento da esquerda recorrerá a um instrumento legal repudiado por todos, o “PASO” (sigla das primárias obrigatórias exigidas pela nova legislação). Este elemento por si só já revela o grau de integração da FIT às instituições mais antidemocráticas do Estado capitalista. Resolver divergências políticas do campo da esquerda, no balcão da justiça eleitoral é próprio de quem já perdeu todas as referências de classe, neste ponto FIT e o MST demonstram claramente que pertencem a mesma “família” do revisionismo do Programa de Transição.

Mas se os blocos eleitorais revisionistas demonstram absoluta indiferença no debate programático, rebaixando o conjunto da esquerda ao mesmo nível do oportunismo Morenista (muito preocupado com a indicação dos cargos), os Leninistas procuram trilhar o caminho oposto. Mesmo sem a existência de um partido revolucionário na Argentina, a última tentativa foi totalmente encerrada em 2003 com a cooptação dos quadros dirigentes do PBCI para o aparelho Kirchnerista, a tarefa que se impõe no país platino é o da recomposição programática dos setores classistas do movimento operário, rumo a construção de uma ferramenta política independente do nacionalismo burguês e das oligarquias reacionárias “opositoras”. Neste sentido, superar a “tradição” Morenista, que parece ter “contaminado” o conjunto do revisionismo argentino, incluindo seu pior detrator Jorge Altamira, passa necessariamente pela vigorosa demarcação internacionalista com as posições pró-imperialistas deste arco que em uníssono festejou a derrubada do “ditador” Kadaffi pela poderosa aviação da OTAN e atualmente envida todos os esforços na vitória da malfadada “revolução síria”.