quarta-feira, 29 de maio de 2013


A crise capitalista europeia chega com força ao “paraíso” nórdico

A Suécia é com frequência apresentada pela mídia internacional e muitas vezes por seus próprios governos, tradicionalmente sociais democratas, como modelo de “justiça e bem estar social”, mas na última semana, no entanto, vem sendo noticiada como o país dos pneus, carros e escolas queimadas. Os protestos iniciados no distrito de Husby, um subúrbio da capital Estocolmo habitado majoritariamente por imigrantes, agitaram a vida do aparente “paraíso” nórdico. O estopim para os distúrbios sociais foi a morte de um imigrante de 69 anos de idade, causada pela polícia que alega, como sempre, ter agido em legítima defesa contra um indefeso ancião. Os subúrbios como Husby foram construídos nos anos 60 e 70 no intuito de prover habitações de baixo custo à população. Inicialmente, os próprios cidadãos suecos de baixa renda foram morar nesses locais, mas com o tempo, imigrantes passaram a ser a grande maioria, atraídos por um mercado em expansão e uma política estatal do tipo “welfare state”. Uma recente pesquisa apontou que um terço dos jovens imigrantes, entre 20 e 25 anos, estão desempregados na Suécia o que coloca o país de cerca de nove milhões de habitantes no mesmo nível de “explosividade” de seus parceiros da União Europeia, como Inglaterra e França. Mesmo com as peculiaridades do idioma e os arraigados traços culturais nórdicos, cerca de quase 20% dos habitantes suecos são imigrantes ou descendentes que agora com a forte crise econômica passam a se organizar de forma mais ativa, polarizando a conjuntura nacional.

Desde o ano de 2006 a Suécia é governada por uma coalizão política de direita, em 2010 pela primeira vez em sua história parlamentar o Partido Operário Social Democrata foi derrotado por duas vezes consecutivas, cedendo a hegemonia ao Partido Moderado, do atual primeiro ministro Fredrik Reinfeldt. A coalizão de direita (Aliança pela Suécia) passou a adotar a partir de 2008 uma política de forte corte orçamentário em gastos sociais, elevando a taxa de desemprego e aumentando o déficit fiscal com a concessão de subsídios tributários a grandes empresas. Era a adoção da velha receita econômica neoliberal em um país capitalista com forte tradição histórica de “proteção social”. O aprofundamento da crise econômica também fez surgir o fenômeno do crescimento da extrema-direita, que em 2010 conquistou pela primeira vez cadeiras no parlamento (obtendo pouco mais de 5% dos votos), através do “Partido dos Democratas”. Nos recentes conflitos, que já se estendem a outras periferias de cidades do país, além da capital Estocolmo, há relatos da formação de milícias nazifascistas patrocinadas por parlamentares do Partido dos Democratas. Por outro lado, o POSD acaba de eleger uma nova liderança, o dirigente metalúrgico Stefan Lofven, que promete retomar as origens da social democracia com uma política mais agressiva contra a “onda” direitista que tomou conta do país, antes considerado como um exemplo mundial exitoso de “pacto social”.

A Suécia não atravessa a crise europeia com a mesma intensidade de países como Espanha, Portugal, Itália ou mesmo a Inglaterra, mas nem por isso apresenta vetores econômicos pujantes como há dez anos. Membro pleno da União Europeia, o país rejeitou, em um plebiscito, a adoção do Euro (mantendo sua moeda nacional, a Coroa), fato que lhe poupou de uma subordinação financeira ainda maior ao Banco Central Europeu, controlado diretamente pela Sra. Merkel. O crescimento do PIB sueco apresenta uma sequência positiva desde 2009, quando recuou cerca de 5%, mas o índice de desemprego de 6% (para imigrantes o índice pula para 17%) é considerado muito elevado para um dos países que lideram o ranking internacional do IDH. Os violentos protestos de rua, protagonizados pela juventude pobre, são a expressão política desorganizada de que a austeridade da crise europeia, promovida pelos gerentes do capital financeiro, já castiga duramente a Suécia.

Como temos afirmado (exaustivamente) ao longo dos últimos anos, a crise econômica capitalista mundial que teve um novo pico cíclico a partir do crash financeiro e bursátil, ocorrido em meados de 2008, de maneira alguma significa a decretação automática do fim do modo de produção capitalista no planeta. Os EUA, epicentro do crack, em 2008 já apresentam tênues sinais de recuperação econômica, apesar dos retrocessos operados em questões sociais. A velha Europa não consegue superar a recessão econômica iniciada em 2009, e à exceção dos centros imperialistas como Alemanha e França, caminha para completar uma década de regressão em suas forças produtivas. A questão central colocada pela crise contemporânea não é o da iminência da catástrofe mundial, o capitalismo já demonstrou historicamente que detém instrumentos para arrastar sua crise estrutural por décadas a fio, mas sim o da necessidade de superar a agonia do capital pela via da revolução socialista. Não há outra vereda a não ser o da violenta demolição da sociedade de classes e o da construção revolucionária de um novo modo de produção, genuinamente socialista.