terça-feira, 9 de abril de 2013


Morre Margareth Thatcher: a grande aliada de Ronald Reagan na ofensiva contrarrevolucionária que derrotou a União Soviética

Morreu aos 87 anos, neste 8 de abril, a ex-Primeira-Ministra britânica Margareth Thatcher que governou o Reino Unido de 1979 a 1990 deixando atrás de si um rastro de sangue na política mundial ao lado de seu “grande parceiro” o “cowboy” ianque Ronald Reagan (morto em 2004). Ultraconservadora desde a juventude quando militava ativa e freneticamente junto a associações de estudantes conservadores e de extrema-direita, alçou sua carreira cimentada nestes férreos princípios, sendo eleita para seu primeiro cargo público de deputada em 1959 e anos depois se tornou secretária de educação durante o governo do também conservador Edward Health (1970-74). Em 1975 os “tories”, como eram conhecidos os militantes do reacionário Partido Conservador, passam a ganhar força, a cuja liderança chega Margareth Thatcher. Após profunda tensão política que remonta desde a crise do petróleo de 1973-74 e a consequente recessão econômica que se abate sobre o país, em 1979, com a renúncia do trabalhista James Callaghan, vence as eleições parlamentares ficando no cargo durante longos e “intermináveis” onze anos, façanha que nenhum outro chefe político tinha conseguido até então. Ocasião em que ao lado de Ronald Reagan, tornou-se a figura mais emblemática de um regime político que ficou conhecido como “neoliberalismo”, ou seja, corte drásticos dos investimentos do Estado à educação, saúde, transporte, moradia etc., além de um feroz ataque às conquistas do movimento operário (demissões, arrocho salarial, aumento do ritmo de trabalho...) através de violenta repressão policial nas fábricas e nos subúrbios londrinos nos quais os trabalhadores protestavam contra a miséria e o desemprego em massa e o fim do estado de bem-estar social. Por causa de sua “inflexibilidade” e dureza perante as questões políticas mais candentes como o direito de greve dos trabalhadores e diante do combate decidido a URSS, ganhou a alcunha de “Dama de Ferro”. Marcou com sangue seu primeiro mandato, quando em 1982 em sua sanha de rapina colonialista resolveu atacar a Argentina na chamada Guerra das Malvinas e fixar uma das mais disputadas bases militares do Atlântico. Já em 1984 ao enfrentou com violência as inúmeras greves operárias que uma após outra pipocavam na Grã-Bretanha e neste mesmo período declarou guerra às nacionalidades oprimidas da Irlanda. Com essa trajetória Thatcher se preparava para aprofundar o cerco político ao Leste Europeu e a URSS, política que foi vitoriosa já que em 1989 houve a queda contrarrevolucionária do Muro de Berlim.



A “Era Thatcher-Reagan” marcou não apenas uma criminosa ofensiva capitalista sobre o movimento operário britânico, mas principalmente colocou em marcha a cruzada contra o comunismo em nível mundial aliada a Reagan (a “doutrina Reagan de “Paz para os americanos”), tendo como “garoto propaganda” o Papa João Paulo II, alçado à época como o “grande herói da democracia ocidental” (o “Papa Peregrino”). A Igreja católica, ao lado de Thatcher/Reagan completaria assim o tripé político reacionário e ideológico em defesa da contrarrevolução nos Estados operários do Leste europeu e na URSS. O imperialismo ianque invadiu Granada, organizou os mujahedin no Afeganistão contra o Exército Vermelho, financiou e treinou os “Contras” em Honduras para desestabilizar e sabotar as iniciativas dos sandinistas então no poder na Nicarágua nos anos 80. Thatcher foi uma entusiasta apoiadora do fim do Muro de Berlim. A derrubada do Muro marcou, por sua vez, o fim do Pacto de Varsóvia, o que levou a termo a bipolarização política até então existente devido ao fim da URSS em 1991. A partir da restauração capitalista da RDA e da URSS, o imperialismo teve a possibilidade de levar adiante a sua brutal ofensiva militar sobre toda uma série de países que até então estavam sob a influência soviética, o que abriu caminho para as atuais agressões da OTAN sobre o Iraque, Afeganistão e Líbia... O fato do governo Thatcher ter coincidido com os oito anos de Presidência de Ronald Reagan teve impacto decisivo na longa luta com a União Soviética. Tanto Thatcher quanto Reagan defenderam abertamente o anticomunismo. A decisão de Thatcher de apoiar a instalação dos mísseis americanos na Europa significou um importante novo impulso na ofensiva contrarrevolucionária que destruiu a União Soviética.

No campo internacional o fato que também marcou a gestão da “Dama de Ferro” foi a Guerra das Malvinas em abril de 1982. A reação do governo “conservador” de Margaret Thatcher, em parte, foi uma consequência da situação política interna marcada pela queda de popularidade provocada pela recessão econômica, o crescimento do desemprego e as medidas de ajuste, conhecidas como “políticas neoliberais”, que incluíam as privatizações e o corte dos direitos sociais, com fortes e intensos enfrentamentos com os trabalhadores, como a histórica greve dos mineiros. Nessas circunstâncias, um revés na arena militar enfraqueceria ainda mais o governo e aprofundaria a crise social interna. Além disso, o império britânico não podia admitir que a falta de uma resposta à ocupação das Malvinas fosse vista pelos povos de todo o mundo como um símbolo de debilidade de seu poder bélico. Por outro lado, para os Estados Unidos, ainda que a ditadura argentina fosse uma importante parceira dos ianques na América Latina, a Inglaterra era um aliado estratégico na sua cruzada reacionária anticomunista em nível mundial, sobretudo contra a URSS e os estados operários do Leste Europeu. Diante deste quadro desproporcional de forças político-militares entre um país imperialista e outro semicolonial, a ditadura argentina logo anunciou uma vergonhosa rendição com seus soldados morrendo de fome e frio no front. Thatcher, ao contrário, ganhou popularidade e foi reeleita... Na verdade, a Junta Militar não tinha nenhuma intenção de entrar em conflito armado com o imperialismo. Os generais argentinos alimentavam ilusões de que não haveria uma resposta militar enérgica do império britânico, devido a um suposto desinteresse deste em manter seu domínio sobre as ilhas. Ademais, esperavam contar com o apoio do imperialismo norte-americano, através do “cawboy” Ronald Reagan, considerado um aliado incondicional da ditadura fascistizante, para intermediar um acordo diplomático. A resposta da primeira ministra Thatcher foi uma imediata declaração de guerra com o envio da frota real britânica para iniciar o contra-ataque, que contou com aliados de primeira hora como os EUA e o Chile de Augusto Pinochet, que cedeu o território chileno para base de operações e de abastecimento das forças armadas do Reino Unido!

Em resumo, até os dias atuais o proletariado mundial vem sofrendo com as nefastas “reformas neoliberais” levadas a cabo por Thatcher. A odiada “Pool Tax” (imposto sobre a pobreza) levou praticamente à miséria parcelas consideráveis da classe trabalhadora britânica que amiúde se revoltam nos subúrbios principalmente de Londres, nos quais inexistem a assistência social, saúde e educação como produto direto das privatizações iniciadas na “Era Thatcher”. Durante as combativas greves mineiras, o governo Thatcher chegou ao ponto de fechar as minas para desmobilizar e quebrar a resistência dos operários. Exportado como “modelo” econômico, as “reformas neoliberais” marcaram a década de 80-90, destruindo a ferro e fogo as conquistas operárias pós-Segunda Guerra Mundial obtidas graças ao triunfo do Exército Vermelho perante as tropas de Hitler. O imperialismo ianque/britânico era a expressão política desta ofensiva anticomunista em todo o planeta. Por tudo que esta facínora proporcionou de negativo para o proletariado mundial ao partir tão tarde, que seja lembrada por toda a história como um dos maiores carrascos dos povos pobres que a humanidade jamais possuiu, típica criatura de um sistema político em profunda decomposição. Não por mera coincidência, centenas de britânicos saíram às ruas para comemorar a morte de mais um facínora: “The lady's not returning!” (Esta senhora não voltará!).