segunda-feira, 4 de março de 2013

Leia o Editorial do Jornal Luta Operária nº 252, 2ª Quinzena de Fevereiro/2013
Que rumo a economia política brasileira aponta para 2013?
 
O IBGE acaba de divulgar o índice oficial de variação do PIB em 2012, cravando a marca de 0,9%, contrariando até a última projeção do Banco Central realizada na semana passada que indicava um crescimento de 1,64%. O resultado do PIB foi o pior desde 2009, quando apresentou um índice negativo de -0,3%, contemplando plenamente a expectativa do PIG que já “cantava” há algum tempo que a taxa ficaria abaixo de 1%. O certo mesmo é que as pressões sobre o IBGE para a divulgação de um resultado funesto de nossa economia atendem a interesses muito poderosos da burguesia nacional sedenta de maiores isenções fiscais e subsídios financeiros por parte do governo da frente popular. Para buscar compreender a atual dinâmica econômica capitalista que atravessa o país (ciclo de mobilidade das forças produtivas) é necessário “conectar” o conjunto das variantes que emergem da conjuntura, evitando assim vaticinar falsos “apocalipses” econômicos tão apreciados por uma elite parasitária de verbas estatais e curiosamente também pela esquerda revisionista, tão carente de “catástrofes” onde possam amealhar alguns “votinhos” a mais. Desde o crash financeiro internacional de 2008 vimos afirmando que a burguesia mundial procurou tirar o máximo de proveito da crise para desencadear uma ofensiva global contra as conquistas sociais do proletariado, além de “repactuar” historicamente uma política de cobrança de “lucros e dividendos” com os tesouros centrais dos estados capitalistas em todo mundo. Ao contrário de uma esquerda policlassista que acreditava no caráter “neutral” do Estado e ficou “chocada” com a política de transferências de fundos “públicos” para os grandes trustes privados, seguimos o “velho” Marx quando afirmou que todo Estado burguês não passava de um comitê gestor central dos negócios capitalistas. A história vem se repetindo desde o crash do mercado bursátil de Wall Street, passando a ser o Estado burguês nesta etapa da luta de classes o principal indutor da economia, inclusive nos países periféricos do capitalismo como o Brasil.
 
Voltando aos números apresentados pelo IBGE (órgão estatal controlado por uma cúpula de tecnocratas neoliberais) estes revelam que o “vilão do pibinho” foi mesmo o pífio desempenho do setor industrial, que à exceção das grandes montadoras vem perdendo terreno no mercado nacional para a importação de bens de capital e até mesmo no “varejo” do consumo direto de pequenas empresas. Apesar do índice de desemprego estar fincado no melhor patamar dos últimos dez anos, algo em torno de 5,5% contra uma media histórica de 12%, todos os economistas reconhecem que uma indústria nacional sucateada arrasta para baixo todos os indicadores financeiros do país. Mas, não poderia ser diferente com a adoção deste “modelo” neoliberal pelos governos petistas, onde não existe o menor incentivo a elaboração e produção científica nacional, ficando o país na completa dependência tecnológica dos centros imperialistas e suas transnacionais. De nada adianta conceder mais “renúncia fiscal” às indústrias automobilísticas para alavancar parcialmente o PIB, enquanto o restante do parque industrial encontra-se em estado de insolvência, sem a menor capacidade de competitividade internacional. Para “compensar” o estancamento da indústria nacional, que já vem se processando há décadas, o governo Dilma aposta fortemente na via do consumo interno aquecido, principalmente no setor de serviços. Nesta direção, chama atenção a enorme massa de crédito à disposição do governo, que operando com os bancos estatais, BNDES, BB, BNB e CAIXA, juntos colocam no mercado um volume de recursos superior a qualquer banco de fomento dos centros imperialistas.
 
Estamos, portanto, apesar do “pibinho”, bem distantes de atravessar um quadro recessivo de nossa economia, elemento que sequer esteve presente quando o PIB apresentou sinais negativos entre 2008 e 2009 no esteio da crise mundial. Todos os dados econômicos apontam para uma recuperação gradual e consistente em 2013 e 2014, a começar pelo recorde histórico que o Tesouro Nacional obteve em janeiro último, com um superávit primário de 31,3 bilhões de reais. Mesmo se levarmos em conta as contas públicas de todo o fraco ano de 2012, encontraremos um saldo positivo de mais de cem bilhões de reais (104,9), depositadas no Tesouro Nacional. O setor financeiro privado, rentistas acostumados ao ganho sem risco, também não deixou de dar sua “contribuição” para o estancamento do PIB em 2012, ao maquiarem balancetes com grandes perdas financeiras em virtude da redução do spread bancário, praticada pela rede estatal. Por falar em queda da taxa de juros, a família Setúbal promete uma vingança visceral contra o governo já para as próximas eleições presidenciais, financiando “generosamente” o REDE e sua candidata “ecologista” do Central Park. Contrariando uma tendência aberta com a redução dos seus rendimentos, a poupança obteve em 2012 seus melhores resultados em captação financeira, o que indica uma nova vertente de micro-acumulação para um setor “emergente” da população, beneficiada direta com a política estatal de patrocinar o chamado “empreendedorismo” através da “fartura” da bolha de crédito. O consumo médio familiar e a massa salarial medidas pelo IBGE atingiram o nível um pouco acima da casa dos 3,5%, aliás o mesmo percentual projetado para o PIB de 2013, ou seja a classe trabalhadora esteve bem distante de repor suas perdas salariais em 2012, ainda que conseguisse minimamente “empatar” seus vencimentos com a inflação da economia real.
 
Para além do “carnavalito” fora de época que o PIG e seus parceiros Demo-Tucanos irão promover com anúncio do IBGE, o PIB brasileiro teve a mesma evolução da economia alemã em 2012, considerada a “locomotiva” que poderá tirar a Europa da bancarrota. Se comparado aos BRICs do qual faz parte, o Brasil ficou na lanterna, atrás da África do Sul que cresceu 2,5% em 2012. Já a variação do PIB da economia norte-americana em 2012 não foi ainda divulgada, mas estima-se que fique um pouco abaixo dos 2% positivos. Em resumo, se o governo da frente popular não tem motivos para comemorar o PIB/2012, também não há razões para prognosticar o “armagedon” da economia brasileira para este ano, como estupidamente insistem os revisionistas dos mais variados matizes, desde os Morenistas até Maoístas. O capitalismo tupiniquim e seu “modelo” de gestão neoliberal, baseado na colaboração de classes implementada pelo PT/CUT, ainda dispõe de muitos instrumentos econômicos e políticos para prolongar a crise estrutural do modo de produção da acumulação privada e produção social proletária.
 
Neste cenário de relativa estabilidade social, onde o Estado burguês e sua gerência petista ainda dispõe de uma “faixa de gordura” a ser “queimada” com a crise, a pauta política do pais antecipou-se e o debate corrente são as eleições presidenciais que só ocorrerão no final do ano que vem. A conjuntura nacional já impôs uma derrota antecipada da oposição conservadora e a anturragem Dilmista tratou de trucidar seus próprios competidores internos no PT, impondo a reeleição com o apoio da burguesia nacional como um fato político consumado. A polarização eleitoral deve se concentrar entre o atual governo e a candidatura da ex-senadora Marina Silva, que acaba de fundar seu próprio partido, o REDE (financiado pelos rentistas internacionais). Muito provavelmente o REDE (que dispõe de pouquíssimos segundos de propaganda gratuita na mídia) se coligará com o PSOL e seus “sócios” menores da “oposição de esquerda”, representando assim o ódio da classe média urbana a tudo que simboliza Lula e o PT. Mais uma vez, a classe operária não terá lugar neste novo circo eleitoral de cartas bem marcadas, devendo preparar a resistência, pela via da ação direta, à ofensiva imperialista que se delineia mundialmente com toda sua intensidade contra povos e nações. Mais que nunca, se coloca como tarefa absolutamente prioritária romper o “pacto social”, imposto pela frente popular e suas “agências” sindicais (CUT, CTB, INTERSINDICAL e CONLUTAS), construindo uma ferramenta revolucionária do proletariado e do povo oprimido.
 
LIGA BOLCHEVIQUE INTERNACIONALISTA