quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013


Ato que celebrou dez anos do governo de frente popular é marcado pela “renúncia” de Lula e hegemonia de Dilma sobre o PT

O ato comemorativo dos dez anos de gerências petistas à frente do Estado capitalista, ocorrido no último dia 20/02 em um hotel de São Paulo, tinha tudo para ser mais um evento rotineiro “chapa branca” onde o atual governo costuma revelar estatísticas oficiais acerca dos “avanços sociais” obtidos através de seus programas assistenciais de transferência de renda. Não por coincidência, há poucos dias Dilma anunciou sua intenção de erradicar a “pobreza absoluta” no país pela via da distribuição de uma bolsa de 70 Reais para “cidadãos” que tem uma renda mensal inferior a este valor. Também não se cansam de repetir em atos políticos desta natureza a “grande realização petista” de incluir 40 milhões de brasileiros no mercado de consumo ou da ampliação do cadastro de pessoas no “bolsa família”, uma espécie de “top trend” do governo da frente popular. Mas, o que seria mais um enfadonho exercício oficialista de tentar camuflar a dramática realidade do povo brasileiro, tornou-se uma peça política de lançamento do candidato do PT que disputará as eleições presidenciais de 2014, pondo um fim às especulações do retorno de Lula ao palácio do Planalto. E foi o próprio Lula quem anunciou que o candidato do partido já está definido, trata-se da ex-poste, a mesma que tinha se comprometido em 2010 a deixar o governo livre para o retorno da liderança maior do PT. Mas, parece que o “poder” estatal arraigou-se nas entranhas Dilmistas e apesar de não possuir nenhum carisma de massas a presidenta agora impôs ela mesma (com a ajuda de uma nova anturragem) a sua própria reeleição, independente da vontade política de Lula e da histórica direção do PT.

Para Dilma, que pensa que habita com Alice o “país das maravilhas”, um ser humano que sobrevive com pouco mais de dois Reais por dia não pode mais ser considerado um “pobre extremo”! Com esta mesma cínica lógica a presidenta “gerentona” apresentou no ato petista seu “cardápio de bondades” que a credenciaria a continuar sua gestão neoliberal, com a chancela do PT. Mas o trunfo decisivo de Dilma para bancar sua indicação no PT, passando por cima do nome de Lula, não se encontra nas parcas “realizações” de dois anos de seu governo. Em primeiro lugar, é preciso situar que o “vôo Dilmista” em direção à sua reeleição começa com a doença inesperada de Lula, introduzindo um certo clima de incerteza no interior do PT. Com a fragilidade física de Lula, Dilma buscou apoio político em setores fora do PT, estimulando a desmoralização pública dos antigos dirigentes da tendência “Articulação”, através da farsa do processo de julgamento do chamado “mensalão”. Depois foi só chantagear o próprio Lula, com a operação policial “Porto Seguro”, somada às ameaças de inclusão de seu nome na mesma ação penal 470 que tramitaria em foro de alguma justiça estadual (São Paulo ou Minas Gerais). Com a “espada de Dâmocles” sobre sua cabeça (PIG, STF e Roberto Gurgel -PGR) não restou outra alternativa a Lula a não ser “ungir” a presidenta Dilma como a candidata “natural” do PT a dar continuidade a mais quatro anos do que cretinamente os sociais democratas chamam de “governo democrático e popular”.

Cercada por mafiosos do quilate de Valdir Raupp ,Gilberto Kassab e Carlos Lupi, Dilma centrou seu discurso nas iniciativas econômicas de seu governo, como a redução da tarifa de energia e os 2,5 milhões de pessoas que supostamente teriam saído da faixa de extrema pobreza. Mas a plataforma que conquistou o efetivo apoio da burguesia nacional para sua reeleição, não foi mencionada por Dilma para a plateia petista, trata-se de audacioso programa de privatizações de equipamentos públicos, como portos, aeroportos, rodovias e hidrelétricas. Nesta direção, o governo trata de promover um ataque velado a maior empresa estatal do país, Petrobras, concedendo carta branca para que Graça Foster implemente o sucateamento, sob o disfarce de um duro ajuste para corrigir os “erros” da administração anterior (ligada diretamente a Lula). Obviamente, que Dilma conta com o suporte do Estado burguês para cooptar e corromper um setor da militância petista reticente a uma guinada ainda mais direitista do governo da frente popular. A luta de camarilhas no interior do PT é feroz, tendo como base comum um programa de tímidas reformas no regime político vigente, neste cenário de um partido burguês, onde são os interesses sociais dos mandatos parlamentares que determinam a linha programática do PT, Dilma não encontrou muitas dificuldades para praticar a “traição e delação” de seus companheiros, com a mira voltada para sua recondução ao Planalto.

O “decênio petista no poder” esteve muito longe de transformar o país, do ponto de vista da classe operária e da maioria do povo oprimido. Se os reformistas de vários matizes partidários consideram a criação de uma nova “banda de consumo” (os tais 40 milhões de incluídos para potenciar a acumulação de capital) como um passo para diminuir as desigualdades sociais, é porque conscientemente omitem que a concentração de renda aumentou nos últimos dez anos. O fato da frente popular ter impulsionado um setor da burguesia a ter um mínimo de “ousadia” (financiada é claro pelo BNDES) em busca de novos mercados, nada tem a ver com algum “instinto” socialista dos governos Lula e Dilma. O Brasil, sob a égide da década petista, continua a ser um país periférico e dependente dos fluxos internacionais do capital financeiro, atrasado cientificamente e subordinado à área de influência política e militar do imperialismo norte-americano. O fato do país não ter afundado no crash bursátil de 2008 apenas o reposicionou melhor no mapa da crise mundial do capitalismo, atraindo novos investimentos ancorados na relativa estabilidade social, proporcionada por um pacto social implícito que imobiliza a radicalidade do movimento de massas.

A “mágica desenvolvimentista” dos governos da frente popular se resume na combinação de dois ou no máximo três ingredientes fundamentais: estabilidade social, suporte estatal para alavancar setores estagnados da burguesia nacional e uma nova colocação do país na divisão internacional do trabalho. Os tucanos trataram de promover o duro ajuste fiscal exigido pelo imperialismo, mas não tiveram o tempo necessário para decolar a economia, seus dois governos (FHC) eram sinônimo de instabilidade social. Lula assumiu em uma etapa mundial de expansão creditícia, que precedeu o crash financeiro de 2008, nos dois últimos anos de seu governo soube remar decididamente na correnteza econômica dos BRICs, mesmo sob os protestos de Washington. Longe de representar uma corrente histórica nacionalista, o PT concentra interesses sociais de uma classe dominante tupiniquim que não pretende dissolver-se no turbilhão mundial da crise estrutural do capitalismo. O proletariado deve ter muito claro que sob o decênio da gerência petista não há nada para se reivindicar como progressista ou de viés nacionalista, somente a ação direta da classe pode assegurar e manter nossas conquistas históricas, hoje ameaçadas pela ofensiva imperialista sobre os povos e nações.