sexta-feira, 7 de dezembro de 2012


O Maracanã é “deles”: Sérgio “Caveirão” anuncia doação do estádio a Eike Batista, o novo barão capitalista aliado da frente popular
 
O governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral “Caveirão” (PMDB), anunciou recentemente o projeto de privatização branca do Maracanã através da concessão do estádio à iniciativa privada por um período de 35 anos. Na transação o valor estabelecido para o arremate do novo Maracanã é uma verdadeira pechincha, R$ 231 milhões dividido em 33 parcelas anuais de R$ 7 milhões. Para se ter uma dimensão desta verdadeira mamata, só com as reformas do Maracanã de 1999 até hoje, incluído a que está em andamento para a Copa do Mundo, já foram gastos cerca de R$ 1,5 bilhão dos cofres (público) do estado. O felizardo para receber a doação, garantida pela famigerada PPP (Parceria Público-Privada), está praticamente definido, nada mais nada menos do que o novo barão da burguesia no país, Eike Batista, avalizado plenamente pelos seus parceiros Sérgio Cabral e Dilma Rousseff. Ainda como parte do projeto de privatização do Maracanã está previsto a demolição de dois históricos equipamentos esportivos, o Parque Aquático Júlio de Lamare e o estádio de Atletismo Célio de Barros. Estão condenados ao mesmo fim uma escola municipal e o prédio do antigo Museu do Índio, hoje moradia de comunidade indígena.
 
Conhecido popularmente como Maracanã, palavra de origem tupi, nome de uma ave e de um rio que cruzava a Tijuca e São Cristovão, o estádio Mario Filho, jornalista irmão do dramaturgo Nelson Rodrigues, construído para a Copa do Mundo de 1950, foi por muito tempo o maior estádio do mundo, um verdadeiro templo do futebol por onde jogaram craques do quilate de Mané Garrincha. A grandiosidade do Maracanã era a marca emblemática do apogeu da massificação do futebol no Brasil, fenômeno incentivado politicamente pela burguesia, utilizando-se para isso do papal decisivo da mídia (inicialmente o rádio e depois a TV), para construção da identidade nacional da cultura do mono-esporte, importante instrumento ideológico de dominação dos explorados. Todos os estádios que estão sendo construídos ou reformados para a Copa do Mundo seguem o modelo padrão de PPP adotado no Rio de Janeiro. Enquanto os estados e a união garantem o banquete alocando os recursos para custear a execução das obras através de orçamento próprio ou financiamento via BNDES, o setor privado se locupleta desde as grandes empreiteiras com o superfaturamento das obras e até os grupos empresariais que recebem de mão-beijada a concessão para administrar os estádios. Nessa verdadeira farra do boi os capitalistas ganham a posse dos estádios participando financeiramente em média nas PPPs com menos de 30% do valor total das obras, a exemplo do Maracanã (RJ), Fonte Nova (BA), Castelão (CE), Arena das Dunas (RN) entre outros. Vale salientar que no caso do “Itaquerão”, estádio construído como propriedade privada do Corinthians, o clube paulista não entrou com um centavo, sendo custeado integralmente desde o terreno até a execução da obra pelo dinheiro público através das fartas tetas do BNDES e da prefeitura de São Paulo. Neste caso funcionou a parceria entre as máfias da CBF, através de Andrés Sanches, e do Palácio do Planalto comandado pelo então presidente Lula, torcedor declarado do Corinthians.
 
A chamada modernização dos estádios de futebol bancada com o dinheiro estatal é um grande negócio para a burguesia em todos os aspectos, inclusive na valorização do futebol, enquanto mercadoria, quer seja pelo aumento exorbitante preço dos ingressos, quer pelo crescimento da venda dos pacotes “Pay-per-view” dos canais fechados e da audiência das TVs abertas. Este vai ser mais um dos legados da Copa que a burguesia vai saborear, restando ao conjunto dos explorados o ônus de pagar a conta da orgia capitalista através do arrocho salarial, destruição das conquistas trabalhistas e cortes dos recursos públicos para as já precárias áreas sociais como a saúde e a educação. A doação do Maracanã a Eike é mais um capítulo deste engodo. Ele acumulou rapidamente um patrimônio pessoal de mais de cinquenta bilhões de reais à custa da “generosidade patrimonialista” do Estado brasileiro. Foi na gestão da frente popular que Eike deu um salto em seus negócios, tornando-se o empresário mais rico do país. Lula tinha um projeto de “criar” uma nova burguesia brasileira, escapando das chantagens da decadente elite dominante da FIESP tucanada. O “casamento” dos interesses de Lula e Eike resultou em uma parceria para desenvolver megaprojetos bancados pelo BNDES, buscando aproveitar o excesso de liquidez do mercado financeiro internacional. Com o BNDES na função de seu avalista privado, Eike desenvolveu um verdadeiro império econômico no Rio de Janeiro (estaleiros, refinarias, siderúrgicas, indústria de motores, entretenimento etc.) que, todavia, ainda não está em pleno funcionamento. Como contrapartida a “ajudazinha” estatal, Eike se compromete com a fidelidade política e financeira ao PT e seus aliados mais próximos, este é o caso do governador carioca Sergio “Caveirão”.
 
Diante desse quadro, é tarefa do movimento operário entrar em cena com uma política de independência de classe frente aos governos burgueses de plantão e organizar a luta para barrar não só as privatizações dos estádios como o Maracanã, mas realizar uma crítica mordaz ao futebol-mercadoria a fim de fazer avançar o processo de educação da consciência dos trabalhadores, rechaçando todo o engodo que representa a Copa do Mundo de 2014. A submissão de uma nação que se diz soberana a um clube de mafiosos formado por Cabral, Eike, Aldo e Blatter, sob o pretexto de não prejudicar a “paixão nacional” pelo futebol, é apenas um dos elementos que marcam o caráter dependente ao imperialismo, dos governos do PT e seus aliados “socialistas”. A privatização do Maracanã prova que nosso futebol não resiste sequer à ingerência do país por uma quadrilha comandada por Blatter, Marín, Cabral e seus acólitos de menor quilate. Por sua vez, os comitês populares que vem se formando contra os desmandos da FIFA e da CBF, carecem de uma clareza programática e permanecem reivindicando a realização de uma “outra copa”, como se fosse possível conciliar a atual estrutura mercantil dos esportes com o entretenimento popular do futebol. Por este motivo os marxistas revolucionários devem declarar, sem medo da opinião pública, que nesta copa do futebol mercenário “torceremos” pela derrota de todas as seleções (incluindo a “canarinha”), aliando a denúncia ativa de massas das negociatas estatais da Copa do Mundo, que só levarão mais pobreza e infelicidade ao nosso povo.