sexta-feira, 23 de novembro de 2012


A “Primavera Árabe” contra a Intifada Palestina: o verdadeiro significado da “trégua” entre o Hamas e Israel negociada pelo Egito

Acabou de ser anunciado o acordo de trégua entre o enclave terrorista de Israel e o Hamas, cujo intermediário foi o governo do Egito comandado pelo presidente Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana. O sionismo comemorou o pacto, anunciando que havia alcançado seus objetivos de “dissuasão” do Hamas com a operação “Pilar Defensivo”, ou seja, assassinando vários dirigentes do grupo ligados ao regime sírio, no rastro de sangue da morte de mais de 140 palestinos. Os ataques foram, segundo Israel, uma medida de caráter preventivo antes de uma investida mais geral contra o Irã. Já o dirigente do Hamas no exílio, Khaled Meshal, alinhado com o governo do Cairo, afirmou que o acordo foi uma grande vitória! Nada mais falso, a trégua celebrada por Israel e o Hamas, negociada por Morsi e a víbora Clinton, serviu para domesticar a resistência palestina e impedir a reação das massas árabes aos ataques da máquina de guerra sionista, demonstrando o verdadeiro papel contrarrevolucionário do governo da Irmandade Muçulmana parido da “Primavera Árabe” em sua tarefa de sabotar a Intifada Palestina. Este acordo compromete o Hamas em uma “trégua duradoura” selando o caminho para um futuro ataque ao Irã porque tem como cláusula fundamental que o grupo islâmico não atacará Israel no próximo período desde que o enclave também não o faça... já que estará dedicado à ofensiva militar com os EUA e as potências europeias contra a nação persa!

Vejamos o que dizem os principais “atores” do acordo para calar a boca dos revisionistas e dos setores de esquerda ao afirmarem que após a “Primavera Árabe” a luta da causa palestina sairia fortalecida. A víbora Hillary Clinton declarou: “O novo governo do Egito assume a responsabilidade e a liderança que tornaram este país um marco fundamental de estabilidade e paz regional” (O Estado de S.Paulo, 23/11). Suas palavras foram reiteradas pelo primeiro-ministro nazi-sionista, Binyamin Netanyahu: “Gostaria de expressar minha apreciação pelos esforços do Egito com vistas a um cessar-fogo”, disse o chacal em Jerusalém. Já o renegado Khaled Meshal, líder do Hamas no Egito que saiu de Damasco após a ofensiva dos “rebeldes” da OTAN e foi se abrigar no Qatar, aliado dos EUA e de Israel, declarou que “O Egito não esqueceu de sua posição de nação árabe”.

Não por acaso, logo após conseguir o “feito” de sabotar a resistência palestina e debilitar internamente o Hamas, provocando uma grave crise interna, já que a fração comandada pelo dirigente político-militar Jabari, assassinado por Israel, assim como a FPLP se opunham ao acordo vergonhoso, Morsi partiu para nova empreitada contra as massas, agora no terreno interno. Depois que milhares de manifestantes se mobilizaram nas ruas do Cairo durante os oito dias de ofensiva contra a Palestina pelo enclave terrorista de Israel, exigindo que Morsi rompesse os acordos com o sionismo e provesse de armas a resistência palestina, o governo da Irmandade Muçulmana tão logo fechou o acordo com Israel anunciou um “decreto presidencial” para reforçar seu poder internamente, copiando as medidas ditatoriais tomadas pelo exército e seu Comitê durante a crise que levou a queda de Mubarak.

Mohamed Morsi ordenou a blindagem de seus poderes executivos e legislativos perante a justiça, decretando que suas decisões não podem ser mais questionadas. O pacote de “superpoderes” foi lançado justamente depois que Morsi, por sua ação exemplar contra a resistência palestina, recebeu o amplo apoio da Casa Branca e Israel para avançar contra o movimento de massas. A suposta “revolução democrática” tão comemorada pelos revisionistas mostra a sua verdadeira face tanto no campo interno como externo, ao ponto de setores da oposição burguesa, declararem que ele seria um “novo faraó”. Figuras opositoras burguesas importantes, como o ex-chefe da Agência Internacional de Energia Atômica, Mohamed El-Baradei, o líder do Partido da Dignidade, Hamdin Sabahi, e o ex-Secretário Geral da Liga Árabe, Amr Moussa, acusaram o presidente de dar um “golpe” para transformar-se em um “novo Faraó”e, em uma entrevista coletiva, conclamaram a população do país a sair às ruas para protestar: “Morsi usurpou todos os poderes do Estado e se nomeou novo faraó do Egito. Trata-se de um grande golpe na revolução, que pode ter consequências desastrosas”, escreveu Baradei no Twitter. “(Esses decretos) são um golpe contra o império da lei e a independência judicial”, disse Ahmed Zend, presidente do Clube dos Juízes, a maior associação de magistrados egípcios. Morsi promulgou os decretos que lhe deram superpoderes um dia depois de ajudar a intermediar um acordo entre Israel e o Hamas que cessou o conflito na Faixa de Gaza. Eles impedem o Judiciário de interferir em decisões do Executivo ou deliberar sobre qualquer medida tomada por Morsi desde que ele assumiu a presidência, em junho, até que um novo Parlamento seja eleito no próximo ano e uma nova Constituição entre em vigor. Também impedem os juízes egípcios de dissolverem a Comissão Constitucional – hoje dominada por simpatizantes de Morsi, ligados ao grupo islâmico Irmandade Muçulmana. As escaramuças entre as diversas frações burguesas demonstram justamente que a transição ordenada pela Casa Branca conseguiu colocar a frente um governo que recorrerá ao ataque aos mais elementares direitos democráticos para impor seu poder e sua aliança com o imperialismo.

Os grupos mais à esquerda nesse processo como o partido nacionalista Al Wafd e o Movimento Juvenil 6 Abril se limitam a reivindicar que a “transição democrática” seja levada até o fim. Pedem a anulação da ata constitucional anunciada pelo presidente, a dissolução da Assembleia Constituinte e do Governo, além da aprovação de uma lei de justiça transitória. O reformista grupo 6 Abril qualificou a ordem de Morsi de blindar suas decisões e as da Assembleia Constituinte como “o início de um novo período de ditadura” e pediu sua anulação. Como se vê, os mais elementares direitos democráticos não estão vigentes no Egito, sendo a fantasiosa “revolução árabe” uma transição ordenada pela Casa Branca para tirar de cena o desgastado Mubarak colocando a frente do governo aliados mais legitimados que pudessem agir com mais eficiência na defesa dos interesses do imperialismo. Foi justamente isto que ocorreu agora com o acordo Israel/Hamas negociado por Morsi!

É preciso tirar as lições desse processo político. O sentimento anti-imperialista das massas árabes ainda é marcante em suas consciências e setores cada vez mais representativos do proletariado já começam a perceber o real conteúdo da farsesca “revolução democrática”, este fator vem começando a provocar fissuras no processo de transição política do Egito. No Egito, o campo político das ONGs e correntes revisionistas cumprem a função de bloquear o desenvolvimento independente de uma nova vanguarda classista, que molecularmente começa a superar o engodo da “Primavera Árabe”, se colocando à disposição para combater a invasão imperialista em curso na Síria e no Líbano e, posteriormente, no Irã. O desastre social e humanitário provocado pela “revolução” dos rebeldes da OTAN na Líbia fez despertar na vanguarda antissionista egípcia, a necessidade de romper com a orientação revisionista que até então apoiava criticamente o governo Morsi. Seguindo as teses da revolução permanente, os marxistas revolucionários combatem no Egito pela construção de verdadeiros organismos de poder da classe operária, partindo da luta concreta das massas e seu justo ódio contra o gendarme do imperialismo na região, o sionismo, e seus sócios autóctones (militares e Irmandade) que desejam preservar os acordos de Camp David