sábado, 3 de novembro de 2012


50 guerrilheiros assassinados nos últimos dois meses: o “processo de paz” a serviço da eliminação das FARC na Colômbia

As “negociações de paz” entre as FARC e o governo Manuel Santos, saudadas pela esquerda reformista nacional e internacional como um grande avanço, mostraram sua real face macabra desde que começaram, há dois meses: mais de 50 guerrilheiros mortos desde o início de setembro. Em menos de dois meses, as Forças Armadas do país também prenderam 90 guerrilheiros e outros 30 se desmobilizaram, segundo o ministro da Defesa, o chacal fascistóide Juan Carlos Pinzón. Em meio aos “diálogos” o governo anunciou novos investimentos no combate às FARC, tanto que a proposta de formalizar um cessar-fogo durante as “negociações” foi rechaçada pelo presidente colombiano, que rejeitou essa possibilidade veementemente. Como observamos, trata-se de uma farsa montada justamente para eliminar fisicamente a guerrilha, como a LBI já denunciava quase isoladamente na “esquerda” quando se anunciou o acordo costurado por Chávez e Fidel entre a guerrilha e o governo capacho do imperialismo ianque. O próprio Ministro da Defesa afirmou que “A ordem do presidente Santos foi clara: não podemos baixar a guarda em nenhum milímetro” e completou “Em 2013 teremos um aumento de 25 mil homens, 20 helicópteros, 10 aviões e mais sistemas de inteligência”, o que significa que na verdade está em curso uma ofensiva geral contra a guerrilha no lastro do recrudescimento global da ação do imperialismo contra os povos, nações e forças políticas que são obstáculos a seus ditames, como as FARC, a Síria e o Irã, alvos imediatos da sanha imperialista.

Apesar do verdadeiro massacre de seus membros, a direção das FARC anunciou neste dia 02 de novembro que ratifica a agenda para iniciar o “processo de paz”. Em um comunicado assinalou que “O Acordo, dado a conhecimento público formalmente a partir do anúncio da primeira semana de setembro, tem um conteúdo que pode ser reafirmado” em vários aspectos. Entre eles, diz a guerrilha no texto, “o diálogo parte de um Acordo Geral que tem o propósito de terminar o conflito que é armado, político e social para construir a paz estável e duradoura, que não pode ser outra cosa que a paz com justiça social”. O assassino governo da Colômbia e as FARC celebrarão na próxima terça-feira, 06 de novembro, em Havana o encontro preparatório do diálogo formal previsto para 15 de novembro na capital cubana, que conta também com o apoio da ONU, a mesma que promoveu a agressão imperialista à Líbia e está claramente a serviço dos EUA. A “agenda de diálogo” está voltada a desarmar as FARC, o que na prática significa um verdadeiro suicídio político e militar para a guerrilha e tem seis pontos básicos, porém, pela primeira vez se discute assuntos como a desmobilização de guerrilheiros, o fim das hostilidades e a entrega de armas, assuntos que segundo o governo Santos haviam “limitado” no passado as negociações. Como se vê, tal “diálogo” está voltado a por um fim nas FARC. Isolada pelo chavismo, que chegou a entregar vários de seus dirigentes ao próprio governo Santos e suas masmorras, a direção da guerrilha dá passos concretos para fechar um acordo com o governo lacaio dos EUA na América Latina.

As “negociações de paz” têm como consequência direta e prática não só o enfraquecimento político da guerrilha, mas a sua completa exterminação física, tendo em vista a experiência das próprias FARC, que na década de 80 deslocou parte de seus quadros para a constituição da Unidade Patriótica e impulsionou um partido político legal, tendo como resultado o assassinato de cerca 5 mil dirigentes pelas forças de repressão do Estado, pilar-mestre da democracia bastarda colombiana. Essa tragédia teve como base as mesmas ilusões reformistas hoje patrocinadas pela direção da guerrilha e o conjunto da esquerda. Ao narcotraficante regime burguês colombiano não interessa sequer a conversão da guerrilha em partido político desarmado, apenas sua extinção. Somando-se ao coro reacionário daqueles que responsabilizam os “métodos” das FARC pela ofensiva militar do governo Colombiano, ou seja, o uso da luta armada e da captura de prisioneiros de guerra, Chávez em plena campanha eleitoral instigou as FARC a “aprofundar as negociações de paz e deixar de lado as armas em nome da reconciliação nacional” (Folha On Line, 07/09). Anos antes, Fidel já havia aconselhado a guerrilha a libertar incondicionalmente os que continuavam retidos, decisão que as FARC adotaram para facilitar os “diálogos”: “Critiquei com energia e franqueza os métodos objetivamente cruéis do sequestro e a retenção de prisioneiros nas condições da selva. Mas não estou sugerindo a ninguém que deponha as armas, se nos últimos 50 anos os que o fizeram não sobreviveram à paz. Se algo me atrevo a sugerir aos guerrilheiros das FARC é simplesmente que declarem por qualquer meio a Cruz Vermelha Internacional a disposição de pôr em liberdade os sequestrados e prisioneiros que ainda estejam em seu poder, sem condição alguma” (Cubadebate, 05/07/08). Neste ano de 2012, o conselho de Fidel foi “atendido”. O Secretariado do Estado Maior Central das FARC anunciou em fevereiro a libertação unilateral de todos os prisioneiros políticos de guerra e decidiu pôr um fim à chamada política de “retenção” de adversários políticos para a obtenção de recursos financeiros. Ainda que consideremos justo que as FARC tomem medidas de autopreservação neste momento delicado do combate, pois a guerrilha tem todo direito de negociar a liberdade de seus presos políticos através da troca de reféns, definitivamente não é anunciando o fim das “retenções”, a libertação unilateral de todos os prisioneiros políticos de guerra e um “diálogo” que coloca em pauta seu desarmamento, o melhor caminho para se defender dos ataques do genocida regime colombiano, muito menos tendo ilusões de que este possa chegar a algum acordo com a guerrilha que não seja baseado na sua liquidação enquanto força política e militar. As “negociações de paz” com Santos e o conjunto das medidas anunciadas pelas FARC são apoiadas pelo conjunto da esquerda mundial e os governos “progressistas” da América Latina. Elas estão sendo tomadas no marco de uma enorme pressão “democrática” dos “aliados” da guerrilha, particularmente do governo Chávez e de Fidel Castro. Não por acaso, o mesmo Chávez que clama pela deposição das armas pelas FARC tem colaborado vergonhosamente com Santos na perseguição aos quadros políticos e militares da guerrilha, justamente porque o caudilho bolivariano deseja ter as FARC como moeda de troca em seus acordos com a Casa Branca, como se viu durante as eleições venezuelanas.

A morte de 50 guerrilheiros das FARC em apenas dois meses já sinalizam que a Casa Branca irá desferir uma ofensiva global contra as forças políticas e regimes que lhe são adversários logo após a reeleição de Obama no começo de novembro, ou seja, ainda em 2012. Os alvos imediatos são além das FARC, a Síria e o Irã. Esse plano montado pelo Pentágono está em curso e só aguarda o aval do presidente eleito para entrar em sua segunda fase, em uma escala global. Não por acaso, o facínora presidente Santos declarou “Que nos ouçam as FARC e o ELN: as instruções para nossas forças são claras e contundentes. Aqui [nos conflitos armados, na Colômbia] não existe nenhum tipo de benefício”, disse o chefe de Estado colombiano em declaração feita durante as comemorações de 121 anos da Polícia Nacional do país, que contou com a presença dos presidentes da Costa Rica, Laura Chinchilla, e Honduras, Porfirio Lobo. Diante do cerco crescente neste momento de maior fragilidade das FARC, os marxistas revolucionários declaram seu apoio incondicional à guerrilha diante de qualquer ataque militar do imperialismo e do aparato repressivo de Santos. Simultaneamente, apontamos como alternativa a superação programática da estratégia reformista da direção das FARC baseada na reconciliação nacional com a oposição burguesa e a unificação da luta armada com o movimento operário urbano sob a estratégia da revolução socialista para liquidar o regime facistóide e organizar a tomada do poder pelos explorados colombianos. Defendemos que uma política justa para o confronto entre a guerrilha e o Estado burguês passa por aplicar a unidade de ação contra Santos, com a mais absoluta independência política em relação ao programa reformista das FARC. Ao lado dos heróicos guerrilheiros das FARC e honrando o sangue derramado pelos comandantes Afonso Cano, Manuel Marulanda e Mono Jojoy, que morreram em combate, apontamos como alternativa programática a defesa da estratégia da revolução socialista e da ditadura do proletariado, sem patrocinar nenhuma ilusão na possibilidade de construir uma “Nova Colômbia” sem liquidar o capitalismo e seus títeres.