sexta-feira, 12 de outubro de 2012


Um primeiro balanço eleitoral: Violento fracionamento da base governista concede sobrevida a oposições de “direita e esquerda”

Nem vitória eleitoral do PT e tampouco triunfo da oposição Demo-tucana, assim poderíamos definir de forma ultrassintética o balanço político deste primeiro turno das eleições municipais, parafraseando Trotsky diríamos que “nem guerra nem paz” foi o resultado parcial deste embate entre as frações burguesas que se enfrentaram ferozmente no último 7 de outubro. Como as próprias eleições se realizam em dois turnos e a principal disputa nacional (cidade de São Paulo) ainda está indefinida entre petistas e tucanos, seria totalmente incorreto asseverar um “veredito fechado” antes do término completo do processo de mais este circo eleitoral onde a soberania popular é o elemento que menos pesa na definição final dos resultados oficiais. Mas, logo de cara podemos registrar que o aumento dos votos nulos e abstenção, que em várias cidades do país foi a “vencedora” das eleições, segue uma tendência histórica geral de um lento deslocamento das massas em relação a nulidade da institucionalidade burguesa como centro de resolução de suas reivindicações vitais. Ao mesmo tempo e fugindo do ufanismo delirante, tão comum a “família” revisionista, estamos longe de caracterizar o crescimento do voto nulo como produto da intervenção dos revolucionários nestas eleições ou como a “percepção da consciência” do proletariado em relação ao caráter de classe do regime político vigente. No bojo do universo do abstencionismo político nestas eleições se mitigam tanto elementos progressivos como fatores de despolitização e apatia das massas, que em absoluto significam um avanço da esquerda marxista revolucionária.

O PT, organização impulsionadora e hegemônica da frente popular, manteve linearmente seu crescimento fisiológico nos pequenos e médios municípios, “engorda” que se conserva estável após a vitória presidencial em 2002. O fato novo ficou por conta das ações políticas do Palácio do Planalto, que sob o comando da anturragen da presidenta Dilma, passou a patrocinar o lançamento de candidaturas de outros partidos da base aliada, especialmente o PSB, PMDB, PDT e até o PRB. A luta fratricida no interior do PT ultrapassou suas fronteiras internas, hoje dividindo o partido entre apoiadores da reeleição de Dilma e a “velha guarda” comandada por Dirceu e Falcão que advogam o retorno de Lula em 2014. Neste cenário de guerra intestina, o STF foi um dos palcos privilegiados onde os neopetistas e dissidentes da corrente “Articulação” trabalharam em conjunto com a oposição “golpista” pela condenação exemplar do bando dirigido por Dirceu. O resultado pragmático desta disputa “aloprada” nos bastidores do poder foi o desastre eleitoral colhido em Recife e a derrota política sofrida em Belo Horizonte, ambos capitalizados pelo PSB das oligarquias de Eduardo Campos e Ciro Gomes. Em Fortaleza, tudo aponta para um novo triunfo do PSB sobre o PT, já que em Manaus os “socialistas” seguem no segundo turno o tucano Arthur Virgílio contra a candidata do PCdoB. Em São Paulo, por muito pouco o petista debutante Haddad não perde a vaga para o veterano Russomano do PRB, sigla do ministro da pesca e da Igreja Universal, inflado veladamente pelo Palácio do Planalto. No Rio, o candidato do PMDB, apoiado efusivamente por Dilma, ganhou por ampla margem logo no primeiro turno, situação semelhante ocorrida em Porto Alegre onde o PDT derrotou o PT e PCdoB, com a simpatia do Planalto.

O campo político das oposições muito castigado pela alta popularidade do governo da frente popular não pode se queixar de seus resultados eleitorais. Os Demo-tucanos disputam o segundo turno em capitais importantes como São Paulo, Salvador, Manaus e Belém, além das vitórias asseguradas em Aracaju e Maceió. Já o PSOL concorre em Belém e Macapá, onde muito provavelmente deverá perder em ambas as capitais. Apesar de ter “cantado” vitória antecipada em Belém, com a candidatura do ex-prefeito Edmilson, o PSOL sai destas eleições com uma boa musculatura nas principais câmaras municipais e com o capital político de ser a segunda força eleitoral da capital fluminense. O crescimento do PSOL, realizado a custa de alianças com legendas burguesas e governistas, além de financiamento direto de grupos capitalistas, atingiu também os Morenistas do PSTU que agora voltam a salivar o apetite pelo parlamento burguês, atados inexoravelmente ao destino oportunista do PSOL.

O chamado PT “puro sangue” também não pode ser considerado derrotado nestas eleições municipais. Consolidou-se nas principais cidades do estado de São Paulo, como São José dos Campos, Osasco, São Bernardo, disputando com grandes chances no segundo turno a capital, Santo André, Guarulhos e Diadema. Os petistas ganharam em Goiânia e Uberlândia (segunda cidade de Minas Gerais) e quase certo conquistarão Cuiabá e Salvador, a principal capital nordestina. No marco de um alargamento geral da base de apoio do governo Dilma, onde até o minúsculo PSC poderá governar uma cidade importante como Curitiba, a conjuntura nacional de estabilidade política e econômica estabeleceu um certo equilíbrio na correlação de forças das frações burguesas, ávidas pelo controle do botim estatal. A tendência política que se delineia no horizonte, após mais este capítulo do circo eleitoral, é a sedimentação da liderança da presidenta Dilma com a consequente fragilidade da ala Lulista do PT e a ausência de um acúmulo de forças da oposição Demo-tucana para ameaçar a continuidade do projeto de poder da frente popular.

Estas eleições pelo menos tiveram o mérito de deixar cada vez mais claro o caráter completamente fraudulento do regime da democracia dos ricos. As pesquisas eleitorais totalmente manipuladas a serviço das oligarquias dominantes “construíram e destruíram” candidaturas ao sabor dos interesses econômicos do mercado. As empreiteiras escolheram seus apêndices na gerência estatal e as pesquisas simplesmente tratam de formatar eleitoralmente suas preferências. O que as pesquisas fajutas começam as urnas “robotrônicas” terminam, isto é claro sob o consenso de todos os partidos vinculados a este regime bastardo, incluindo neste saco a esquerda revisionista. Mas vez por outra algum candidato burguês se sente prejudicado e resolve “botar a boca no trombone”, denunciando a fraude. Este ano a “missão” ficou a cargo do pedetista Heitor Ferrer, candidato a prefeitura de Fortaleza, que denunciou os falsos “institutos” de pesquisa e exige a anulação das eleições da capital Alencarina. Heitor repete timidamente os atos do “velho” caudilho nacionalista Brizola que teve a coragem de colocar a nu a farsa deste sistema eleitoral.

A classe operária nada deve esperar do que saia deste circo eleitoral de cartas marcadas. A suposta tática de rebaixar o programa revolucionário para conseguir adentrar no seleto clube do parlamento da burguesia, nada tem a ver com uma genuína tática leninista de utilizar a tribuna eleitoral para publicitar a revolução socialista e a ditadura do proletariado. A demagogia de um “socialismo com liberdade”, hoje tão em moda na boca dos revisionistas de vários matizes, representa a antítese da teoria comunista da destruição violenta das instituições representativas da democracia burguesa. Os herdeiros do legado programático do trotsquismo, mesmo “remando contra a corrente”, continuarão defendendo a ação direta das massas como centro de sua intervenção marxista e jamais subordinarão sua estratégia de construção do poder revolucionário do proletariado aos estreitos limites da institucionalidade desta república de novos barões capitalistas.