quinta-feira, 18 de outubro de 2012



Grécia: Direita se fortalece enquanto Syrizia se prepara para comandar um “governo de esquerda” seguindo o “modelo” petista de colaboração de classes

A Grécia é palco de uma nova greve geral nesta quinta-feira, 18 de outubro, convocada pela Confederação dos Funcionários Públicos e a Confederação Geral dos Trabalhadores Gregos. Os trabalhadores paralisaram as atividades com o objetivo de protestar contra os dirigentes da União Europeia reunidos em Bruxelas que discutem uma nova onda de cortes nos salários e aposentadorias. Mais de 20.000 manifestantes reuniram-se no centro de Atenas, à medida que a maioria das empresas e o setor público interromperam as atividades para uma greve de 24 horas. Os serviços públicos e os transportes, como o metrô, trens e os táxis, foram fortemente afetados. Diversos vôos foram cancelados. A polícia reprimiu duramente os manifestantes e usou gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes do lado de fora do Parlamento. A Grécia vive a pior recessão desde a 2a Guerra Mundial e deve cortar pelo menos mais 11,5 bilhões de euros para atender as demandas da “troika” (UE, BCE e FMI) a fim do governo da Nova Democracia assegurar a próxima parcela do resgate de 130 bilhões de euros. O primeiro-ministro conservador Antonis Samaras acerta os últimos detalhes do programa de ajuste econômico, que visa aprofundar os ataques aos trabalhadores. Enquanto isso, a resposta das direções sindicais segue o roteiro de inóquas greves de 24 horas, enquanto há uma clara polarização política e social, com o crescimento da extrema-direita por um lado (Aurora Dourada) e o fortalecimento da Syrizia, “coalizão da Esquerda Radical”, que foi nas eleições passadas apoiada pela maioria do arco revisionista do trotskismo.

Militantes gregos foram presos quando se manifestavam em Atenas contra o partido fascista Aurora Dourada. Foram torturados na Direção Geral de Polícia, em Atenas, sofrendo sevícias. As denúncias foram feitas em Atenas pelos advogados e pelas próprias vítimas. As vítimas exibiram as provas das violências sobre elas cometidas pelos agentes da Diretoria Geral de Polícia (GADA) em Ática, na capital grega. As sevícias incidiram sobre cerca de 40 pessoas, 15 presas inicialmente durante a manifestação contra o grupo nazista, que terminou em confrontos. O jornal britânico Guardian revelou casos em que a polícia aconselha pessoas a procurarem auxílio suplementar junto do Aurora Dourada, sobretudo quando se trata de “questões com imigrantes”, em troca de contribuições para os neonazistas. Esse processo indica o claro crescimento do grupo Aurora Dourada, que inclusive se fortaleceu nas eleições passadas!

Em meio a greve geral, Alexis Tsipras, dirigente do Syriza, tendo o apoio de vários “sindicatos independentes”, declarou que “pretendo liderar uma força antiausteridade de oposição no Parlamento”, mantendo o jogo de cena da democracia dos ricos e tentar estabilizar o regime político pela via de suas instituições apodrecidas, através de seus postos parlamentares. A Syriza é o “Plano B” da burguesia que está se credenciando para assumir o governo em uma crise futura. No momento está atuando na oposição parlamentar eleitoralista como um dique de contenção para a radicalização das lutas do proletariado grego. Esse é seu principal papel hoje: sustentáculo fundamental do regime político. Nesta tarefa, conta com o apoio dos revisionistas (LIT, PO, MAS, UIT...) que clamaram por um “governo de esquerda” ao moldes da gerência do PT do Brasil para fazer uma política abertamente frente populista. Se tivesse ganho as eleições seu objetivo era compor um gabinete com uma roupagem renovada para gerir a crise do regime grego questionando limitadamente os termos estabelecidos pela troika em seu “plano de ajuste” que impõe mais miséria e desemprego aos trabalhadores. Por isso, a Syriza não defende sequer a saída da União Europeia (UE) e sim a revisão do chamado “memorando” sob o slogan “Euro sem austeridade”. Como o imperialismo não a escolheu para a tarefa de gerenciar diretamente o governo, faz oposição parlamentar de fachada para legitimar o circo eleitoral e se apresentar como “alternativa” eleitoral frente às massas descontentes. Enquanto isso a extrema-direita cresce nas ruas, aliada a polícia, como se viu nesta quinta-feira!

Enquanto Alexis Tsipras fala de um “governo de esquerda” como suposta alternativa concreta aos olhos dos trabalhadores a atual gestão abertamente submissa a troika, o KKE propõe vagamente um “poder popular dos trabalhadores”, mas não faz nada para concretizá-lo limitando-se a vergonhosos pedidos ao parlamento burguês porque para os stalinistas “as condições objetivas e a correlação de forças não estão maduras” para uma ruptura revolucionária! Uma grande delegação do CC do KKE, encabeçada por Aleka Papariga, secretária-geral do CC do KKE, participou na manifestação da PAME deste dia 18/10. A secretária-geral do CC fez a seguinte declaração: “O que é preciso é um novo começo no agrupamento de forças, de elevadas formas de luta e de reivindicações radicais para que as lutas sejam eficazes. O povo tem que acreditar que uma Grécia, desligada da UE, uma Grécia em que seja o povo a mandar, pode garantir a prosperidade social e evitar o pior” (resistir.info). Depois de negar-se a chamar a derrubada do governo burguês do Pasok, frente à gestão de unidade nacional controlada pela direita, o KKE apresenta como proposta a “retirada da UE”. Tal medida protecionista, que a frágil burguesia grega até poderia chegar a recorrer desesperadamente, tem a simpatia de setores da própria direita nacional. A entrada da Grécia na chamada zona do Euro a colocou em um colapso previamente anunciado. A única “saída possível” para a burguesia grega seria a renúncia ao Euro e o rompimento com o receituário draconiano da troika, mas isso é impossível no marco estatal de uma classe dominante associada às burguesias imperialistas europeias, em especial à alemã e francesa, que se beneficiam das exportações primárias da Grécia e principalmente da jogatina especulativa de que o país é refém. Em resumo, diante da covardia da burguesia nativa, o KKE assume a defesa da tarefa... dando-lhe uma maquiagem de esquerda, mas sem questionar em nenhum momento o próprio poder burguês.

É preciso alertar, preparar e organizar o proletariado e, particularmente, sua vanguarda mais combativa para um período de fascistização do regime político. Tragicamente, o conjunto da esquerda grega, desde o stalinismo até os revisionistas do trotskismo apresentam nada mais do que impotentes programas sindicalistas, opondo-se a armar de uma plataforma revolucionária a classe para os novos embates que emergem desta nova conjuntura dramática. Aos genuínos marxistas cabe a tarefa de intervir ativa e pacientemente sobre estas lutas para elevar o nível de consciência dos setores mais radicalizados, a fim de fazê-la avançar da resistência defensiva atual para a disputa pela conquista do poder político contra seus algozes, superando a criminosa influência política que a centro-esquerda reformista e seus satélites revisionistas exercem sobre o proletariado!