sexta-feira, 14 de setembro de 2012


Revolta islâmica contra os EUA: uma “revolução árabe” fundamentalista?

Quando no início do ano passado as mobilizações populares varreram países como Tunísia e Egito, a esquerda revisionista entrou em um delírio oportunista, sem precedentes em toda sua história, ao caracterizar o processo político como uma “revolução árabe”. Logo foi o próprio imperialismo ianque que “comprou” a ideia da tal inofensiva revolução e passou a difundir em seus meios publicitários a noção de uma “primavera árabe” que derrubaria todos os “regimes autoritários” por esclerose política múltipla (caso egípcio) ou por desavenças com os ditames imperiais emanados da poderosa Casa Branca. No Egito e Tunísia se valeram de velhas direções islâmicas, domesticadas por Washington através de um longo processo de corrupção material e ideológica. Mas, em outros países, os EUA foram obrigados a recorrer, contra os regimes adversários (nacionalistas e laicos) a células fundamentalistas em plena atividade “terrorista” e que nutriam profundo ódio por governos da região considerados “socialistas infiéis” pelos radicais muçulmanos. Cumprido parcialmente seu objetivo inicial, o imperialismo passou a festejar, em conjunto com a esquerda revisionista, o advento da “liberdade” ao se livrarem dos decrépitos ditadores e de governos nacionalistas burgueses. A tal “revolução árabe”, comandada pela Madame Clinton e apoiada pela LIT, parecia seguir seu curso “natural” atacando a Síria e preparando a invasão militar ao Irã, até que algo saiu errado no roteiro político da Casa Branca. Ao contrário do que muitos pensam, a “revolta” dos grupos islâmicos contra alvos americanos não tem como única base o filme sionista que denigre a figura mítica de Maomé, o atentado militar ao escritório diplomático ianque na cidade de Benghazi foi bem preparado muito antes da divulgação da provocadora película. Ao que tudo indica, o estopim da fúria das organizações fundamentalistas tem como ponto de partida o abandono de suas milícias na Síria, por parte das forças da OTAN que recusou a estratégia adotada na Líbia de bombardeios e ocupação velada.

A Casa branca e seu “clube de (muy) amigos da Síria”, incentivou e financiou o deslocamento de milhares de milicianos fundamentalistas (agrupando inclusive brigadas da Al Qaeda) que combateram na Líbia, principalmente no último período da guerra civil. Desenharam o mesmo mapa para a Síria, primeiro o debilitamento do regime e após uma intervenção da OTAN com todo seu poderio bélico. Com o apoio de massas, Assad se manteve firme, apesar das provocações terroristas e Obama desautorizou uma intervenção direta da OTAN sob pena de colocar em risco sua “agenda” para o Irã, foco das atenções imperialistas. Abandonadas à própria sorte na Síria (sofrem um verdadeiro massacre pelas tropas oficialistas de Assad), os milicianos fundamentalistas, oriundos de vários países da região, se sentiram traídos pelo canto de sereia dos EUA e agora com o pretexto do vídeo anglo-sionista voltam suas “armas” contra tudo que tenha o “cheiro” do ocidente, arrastando as massas muçulmanas nesta nova empreitada sem nenhuma perspectiva revolucionária.

Nesta sexta feira (14/09) ocorreram massivas mobilizações antiamericanas no Iêmen, Egito, Tunísia, Sudão e Líbano. No Egito, a própria Irmandade Muçulmana, que governa o país na figura de Mohamed Morsi, convocou uma concentração “pacífica” na Praça Tahrir. Já no Líbano, os atos foram protagonizados pelos falangistas que apóiam a derrubada do regime Assad. A situação de conjunto é bastante tensa em todo Oriente Médio, cruzado por expectativas não realizadas pela transição política conservadora que se operou na região. O enclave de Israel até agora vem se mantendo nas “sombras” destes conflitos regionais, esperando seu momento de entrar em cena (ataque ao Irã), a malfadada “revolução árabe” não “contagiou” os territórios palestinos ocupados exatamente pelo seu caráter burlesco e com forte odor das tramóias da CIA.

Não temos dúvidas que agora com os protestos islâmicos contra os EUA, desde que sejam pacíficos e ordeiros é claro, a esquerda revisionista irá afirmar que se trata da “segunda fase” da “revolução democrática” no mundo árabe. Também é possível que alguns revisionistas de segunda linha (na Líbia no primeiro momento se mostraram vacilantes entre o “ditador” Kadaffi e os “rebeldes” monarquistas) teorizem hoje acerca da chegada da genuína “revolução árabe”. Nada mais falso e impressionista, o caráter social de uma revolução é determinado pelos objetivos estratégicos que delineia em seu horizonte imediato e as atuais manifestações carecem de qualquer conteúdo revolucionário. As organizações fundamentalistas que protagonizam os protestos em muitos casos sequer possuem um caráter claramente anti-imperialista, concentrando suas ações em um fanatismo religioso reacionário que muitas vezes é manipulado pela CIA para atacar governos da esquerda nacionalista burguesa, “carimbados” de traidores do Alcorão. O eixo central da atuação dos marxistas leninistas na região continua a ser a frente única de ação com todas as forças que combatam concretamente pela derrota militar da OTAN e o enclave de Israel, no campo de luta da Palestina, Líbano, Síria e Líbia e Irã. Nestas trincheiras os “rebeldes muçulmanos” estão do lado oposto do proletariado árabe e de suas organizações verdadeiramente revolucionarias.