quarta-feira, 26 de setembro de 2012


Espanha: entre a reação neofranquista e a inofensiva política dos “indignados”

Milhares de trabalhadores e estudantes espanhóis protestaram na noite desta terça-feira em torno do parlamento em Madri, transformado em um verdadeiro “bunker” protegido por uma forte barreira de mil policiais antes do anúncio de novas medidas de austeridade no orçamento de 2013 por parte do governo arquirreacionário do PP. Mais de 50 mil pessoas denunciaram a política de arrocho salarial, cortes de verbas e ataques de direitos do governo neofranquista de Rajoy. Durante o protesto foram registrados confrontos entre manifestantes e policiais. O aparato repressivo recorreu a cassetetes, bombas de gás lacrimogêneo e tanques com jato d’água para dispersar a multidão que forçava a barreira de segurança que protegia o Congresso. Desgraçadamente o principal eixo político da manifestação era a exigência de maior “democracia econômica” como reivindicam os indignados agrupados em torno da coordenadora S25.

Várias organizações e movimentos de indignados convocaram esta manifestação através das redes sociais alegando que “Eles roubaram nossa democracia. Nós perdemos a liberdade, o nosso Estado social, com os cortes na saúde e na educação... A democracia foi sequestrada. Em 25 de setembro vamos salvá-la”, declara o manifesto das organizações que convocaram o protesto em seu site, Coordinadora #25S. Tendo como principal lema “Democracia Real Já”, os autoproclamados “indignados”, reclamam corretamente que os dois principais partidos do regime PP e PSOE não representam os interesses do povo. Mas em vez de defenderem a construção de organismos de poder do proletariado e a destruição do Estado burguês propõem medidas ilusórias para regenerar as corrompidas instituições do regime, reivindicando a realização de “referendos obrigatórios”, “modificação na Lei Eleitoral”, “independência do poder judiciário” e mecanismos que garantam a “democracia interna nos partidos políticos”. Tais reivindicações revelam o caráter pequeno-burguês desse movimento e a recusa em admitir o princípio científico marxista de que o Estado burguês é essencialmente uma máquina a serviço dos interesses dos capitalistas, um balcão de negócios comuns da burguesia, e como tal não deve ser regenerado para dar continuidade à exploração capitalista, mas destruído pelo proletariado revolucionário através de uma revolução socialista.

Esse movimento, já é em si uma tentativa de omitir qualquer identificação política e ideológica, logo obteve o apoio de ONGs e foi saudado com grande alarde pela grande família da esquerda revisionista e pseudotrotskistas, que o apresenta como a “Revolução dos Indignados” inspirada na “Revolução Árabe”, outra grande farsa montada cinicamente por esses traidores para justificar seu criminoso apoio aos “rebeldes” aliados das forças de intervenção militar da OTAN na Líbia. Os organizadores do movimento responsável pela convocação e organização das manifestações nesse 25 de setembro apresentaram um conjunto de medidas que consideram “essenciais para a regeneração de nosso sistema político e econômico”, entre as quais se destacam as reduções de jornada de trabalho para acabar com o desemprego estrutural, ou seja, manter as taxas de desemprego abaixo de 5%; aposentadoria aos 65 anos; auxílio aluguel para jovens e para as pessoas de poucos recursos. Na área educacional em vez de defender a educação pública e gratuita em todos os níveis, reivindicam a “redução do custo da matrícula em toda a educação universitária, equiparando o preço de pós-graduação aos de graduação”. A maioria dessas reformas não podem mais ser realizada no atual estágio de decomposição do capitalismo e muito menos na atual conjuntura de crise. Mas se isso fosse possível, tais medidas não poriam em risco a existência desse regime de exploração de classe.

Ainda mais utópicas são as propostas de controle sobre as instituições financeiras, que reivindicam a devolução aos cofres públicos de todo o capital público fornecido aos bancos, sanções aos movimentos especulativos e às “más práticas bancárias”, o controle da fraude fiscal e da fuga de capitais para paraísos fiscais. Tudo isso realizado nos marcos da ordem social burguesa, por meio de uma regeneração do sistema político com a “eliminação dos privilégios da classe política”, objetivos que seriam alcançados, segundo o manifesto da “Democracia Real Já!”, através de uma “revolução ética”. Esse programa tão rebaixado e utópico não atrai os setores mais combativos e conscientes do proletariado, como os mineiros que encabeçaram a luta classista recentemente. Essas reivindicações estão a anos-luz das reais necessidades dos trabalhadores, que quando se levantam em defesa de seus interesses, questionam a propriedade burguesa e utilizam seus próprios métodos de luta, greves, ocupações de fábrica e enfrentamentos com as forças de repressão estatal, métodos com certeza considerados “anti-éticos” aos olhos desses filisteus pequeno burgueses.

Sob essas bandeiras reformistas, a juventude e as massas exploradas que se mostram “indignadas”, não poderão se armar politicamente para enfrentar a onda reacionária que se aprofunda com a agudização da crise econômica e a ascensão política da direita fascistizante de Rajoy e do PP. Para romper essa encruzilhada, somente uma política de independência de classe do proletariado baseada num programa que defenda a necessidade da destruição do Estado burguês através de uma revolução socialista pode armar a juventude e os trabalhadores para enfrentar a catástrofe gerada pela agonia do sistema de exploração capitalista. A tarefa que se coloca, portanto, para a juventude e as massas trabalhadoras na Espanha e outros países da Europa é transformar sua indignação em ação consciente, construindo o instrumento capaz de levantar esse programa revolucionário, o partido da revolução proletária mundial.