sexta-feira, 17 de agosto de 2012


Zuma e o governo frente populista do CNA massacram operários em greve na África do Sul

A polícia da África do Sul matou nesta quinta-feira, 16 de agosto, pelo menos 38 operários em greve em uma mina de platina em Marikana, nos arredores de Pretória (assista ao vídeo). Cadáveres caídos, envoltos por poças de sangue, podem ser vistos na mina controlada pela britânica Lonmin. Os agentes da repressão do governo da frente popular dirigida pelo CNA de Zuma e Nelson Mandela abriram fogo contra os três mil grevistas que estavam fazendo piquetes com comitês de autodefesa, tendo em vista que dias antes a mesma polícia já havia assassinado cerca de 10 operários. Este foi o maior massacre desde o chamado “fim do apartheid” em 1994, quando o governo capitalista branco foi substituído pelo seu gerente negro. Cinicamente, o presidente Zuma, que ordenou o massacre, declarou: “Instruí as forças da ordem a fazer tudo para manter a situação sob controle” (O Estado de S.Paulo, 17/08), dando carta branca para o assassinato para preservar os interesses econômicos dos capitalistas e de seus amos britânicos. O vice-presidente da transnacional Lonmin disse que o massacre não passou de uma simples “operação policial”, fazendo lembrar o tempo dos massacres nos bantustões. A empresa é a terceira maior produtora de platina do mundo e em comunicado afirmou que os trabalhadores seriam reprimidos se não retornassem a seus postos de trabalho: “Os grevistas continuam armados e longe do trabalho. Isso é ilegal”, justificando descaradamente o assassinato em massa. Antes do massacre, policiais e helicópteros vigiaram o local do protesto que estava cercada por operários. A unidade representa 96% da produção de platina do país. No domingo houve enfrentamentos diretos entres os guardas da segurança da companhia e os grevistas, com o total de quase dez operários mortos, segundo a Associated Press. Os confrontos na mina começaram em 10 de agosto, quando três mil mineiros pararam suas atividades em defesa de melhorias nas condições de trabalho. Atualmente a África do Sul é um dos maiores produtores de platina, ouro e carvão. Os mineiros enfrentam péssimos salários e condições de vida. Por isso, milhares de operários realizaram um protesto contra as bárbaras condições de trabalho e baixos salários nas minas da África do Sul. A extração de minérios é controlada, como no passado, por um punhado de multinacionais britânicas, enquanto os trabalhadores vivem em barracos decadentes sem eletricidade. Muitas crianças sofrem com doenças crônicas causadas por vazamentos de dejetos. Cinicamente Frans Baleni, secretário-geral da União Nacional dos Mineiros (NUM), ligada a COSATU, central sindical controlada pelo governo frente populista do CNA, culpou a nova Associação dos Trabalhadores de Minas e Construção pela morte dos operários. Baleni declarou que a Associação de Mineiros e Operários da Construção Civil (AMCU) havia radicalizado em seus métodos de luta. Diante da repercussão do massacre, Zuma lançou novo comunicado em que declara: “Acreditamos que há espaço suficiente em nossa ordem democrática para resolver qualquer disputa mediante o diálogo, sem violência e sem descumprir a lei” (G-1, 17/08).

Após 18 anos de governos ininterruptos, o Congresso Nacional Africano (CNA) mantém-se no governo da África do Sul com Jacob Zuma. O CNA é uma frente popular composta a partir da aliança tripartite entre o partido burguês homônimo e duas organizações tradicionais da classe operária sul-africana, a COSATU, central sindical sul africana, e o Partido Comunista. A aliança governa desde 1994 e as massas que se sentiram traídas pelo último presidente, Thabo Mbeki que agravou enormemente a miséria do país, agora veem o terror imposto por Zuma para defender os interesses dos capitalistas. Zuma se apoiou na COSATU e no PC para alcançar a presidência do CNA em 2007, chegou a afirmar-se como socialista e a defender a redistribuição das riquezas do país. No entanto, vem tratando de tranqüilizar os capitalistas e especuladores internacionais, lembrando que a tríplice aliança existe há 50 anos e que pretende continuar atraindo cada vez mais investimento para desenvolver as empresas instaladas no país. “Zuma, procura tranquilizar suas audiências brancas, nos hotéis de cinco estrelas com ar-condicionado, com sua sagacidade realista e discurso tecnocrata” (The Economist, 16/04/2009). A eleição de Zuma acompanhou as tendências internacionais do atual período do imperialismo, marcado pela ascensão de governos burgueses de centro-esquerda, cuja missão histórica é amortecer a resistência popular, enquanto acentua a exploração econômica e opressão social sobre a população trabalhadora em meio à crise capitalista mundial.

Na África do Sul, o desenvolvimento desigual e combinado da luta de classes fez com que o retardo do fim da ditadura do apartheid desembocasse na primeira experiência de governo de frente popular como opção preferencial do imperialismo. Após 30 anos da ditadura branca do apartheid, o imperialismo tratou de operacionalizar uma distensão democrática, retardada em quase duas décadas, tardia em relação às ditaduras europeias (franquismo e salazarismo) e em uma década em relação às ditaduras militares de suas semicolônias latino-americanas. O CNA negociou entre 1990 e 1994 os acordos de garantias às corporações multinacionais mineiras e a burguesia em geral, impulsionando uma burguesia negra que, no governo, após as eleições de 1994, adotou a estratégia neoliberal de “Crescimento com Igualdade e Redistribuição” (GEAR) que teve a sua maior expressão no governo Mbeki. Se durante o apartheid o imposto estatal cobrado às grandes companhias chegava a 48% dos lucros, o governo do CNA reduziu estes impostos para 28%. Com a frente popular negra, a burguesia imperialista racista logrou um ambiente politicamente bem mais estável para fazer seus negócios por quase metade do preço que tinha que pagar antes ao governo branco. Agora esse pacto social começa a ruir sob o sangue dos operários negros!

É preciso construir um partido trotskista revolucionário do proletariado negro da África do Sul para derrotar a frente popular e faça-o superar suas ilusões no CNA, no PC e na COSATU através da luta revolucionária pela expropriação do imperialismo e de seus sócios burgueses, brancos ou negros. Só por esta via a maioria da população explorada e milenarmente oprimida poderá emancipar o continente africano do capitalismo racista e desenvolver as forças produtivas rumo ao socialismo, pondo fim definitivamente aos massacres para impor a espoliação do país pelas transnacionais.