segunda-feira, 27 de agosto de 2012


Sob pressão de Chávez e Fidel, FARC inicia “negociações de paz” com o facínora Santos

As FARC assinaram neste dia 27 de agosto um acordo para começar as “negociações de paz” com o governo colombiano. Não por acaso, as partes celebraram os termos do pacto em Havana, já que a burocracia cubana e Hugo Chávez foram diretamente responsáveis por conseguir que a guerrilha firmasse com o facínora Manoel Santos, assassino do comandante Afonso Cano, uma “agenda de diálogo” que está voltada a desarmar as FARC, o que na prática significa um verdadeiro suicídio político e militar para a guerrilha. O processo teria sido iniciado em maio deste ano, quando conversas secretas sobre o assunto foram estabelecidas com o acompanhamento dos governos da Colômbia, Venezuela, Cuba e Noruega. Tanto que a próxima reunião do grupo de “reconciliação nacional” será em Oslo, mediada pelo ex-presidente colombiano César Gaviria. Em um comunicado emitido em abril, as FARC haviam anunciado que a “reincorporação na vida civil implica e exige uma Colômbia distinta e que confiamos que esta seja a vontade oficial do governo. Assim, sem dúvidas, poderemos todos desenterrar a paz”. A agenda de negociação entre o governo e as FARC teria seis pontos básicos, porém, pela primeira vez se discutiria assuntos como a desmobilização de guerrilheiros, o fim das hostilidades e a entrega de armas, assuntos que segundo o governo Santos haviam “limitado” no passado as negociações. Como se vê, tal “diálogo” está voltado a por um fim nas FARC. Isolada pelo chavismo, que chegou a entregar vários de seus dirigentes ao próprio governo Santos e suas masmorras, a direção da guerrilha dá passos concretos para fechar um acordo com o governo lacaio dos EUA na América Latina.

Não esqueçamos que dias após os guerrilheiros das FARC terem sido massacrados pelo governo Uribe, cujo ministro da defesa era Manoel Santos, em uma operação militar conjunta com o imperialismo ianque no Equador, Hugo Chávez defendeu que as FARC entreguem as armas: “Que (as Farc) entreguem as armas, que formem um partido político, mas que não lhes matem” (Folha On Line, 07/02/2008). Agora seu “pedido” começa a tornar-se realidade. Tal declaração trata-se de um chamado à completa rendição militar das FARC pela via de um acordo para esta se integrar ao simulacro da democracia burguesa colombiana. A proposta do chavismo tem como consequência direta e prática não só o enfraquecimento político da guerrilha, mas a sua completa exterminação física, tendo em vista a experiência das próprias FARC, que na década de 80 deslocou parte de seus quadros para a constituição da Unidade Patriótica e impulsionou um partido político legal, tendo como resultado o assassinato de cerca 5 mil dirigentes pelas forças de repressão do Estado, pilar-mestre da democracia bastarda colombiana. Essa tragédia teve como base as mesmas ilusões reformistas hoje patrocinadas de forma requentada pelo presidente venezuelano. Ao narcotraficante regime burguês colombiano não interessa sequer a conversão da guerrilha em partido político desarmado, apenas sua extinção. Somando-se ao coro reacionário daqueles que responsabilizam os “métodos” das FARC pela ofensiva militar do governo Colombiano, ou seja, o uso da luta armada e da captura de prisioneiros de guerra, Chávez instigou as FARC a “que humanizem a guerra, que não utilizem o sequestro como uma arma” (Idem). Fidel também aconselhou a guerrilha a libertar incondicionalmente os que continuavam retidos: “Critiquei com energia e franqueza os métodos objetivamente cruéis do sequestro e a retenção de prisioneiros nas condições da selva. Mas não estou sugerindo a ninguém que deponha as armas, se nos últimos 50 anos os que o fizeram não sobreviveram à paz. Se algo me atrevo a sugerir aos guerrilheiros das FARC é simplesmente que declarem por qualquer meio a Cruz Vermelha Internacional a disposição de pôr em liberdade os sequestrados e prisioneiros que ainda estejam em seu poder, sem condição alguma” (Cubadebate, 05/07/08). Neste ano de 2012, o conselho de Fidel foi “atendido”. O Secretariado do Estado Maior Central das FARC anunciou em fevereiro a libertação unilateral de todos os prisioneiros políticos de guerra e decidiu pôr um fim à chamada política de “retenção” de adversários políticos para a obtenção de recursos financeiros. Em seu comunicado as FARC declararam: “Muito se tem falado acerca das retenções de pessoas, homens ou mulheres da população civil que, com fins financeiros, nós das FARC efetuamos para sustentar nossa luta. Com a mesma vontade indicada acima, anunciamos também que, a partir desta data proscrevemos a prática delas em nossa atuação revolucionária. A parte pertinente da lei 002, expedida pelo nosso Pleno do Estado Maior, no ano de 2000, fica, por conseguinte, revogada. É o momento de começar a esclarecer quem e com quais propósitos se sequestra hoje na Colômbia”.

Como se pode constatar, tratam-se claramente de medidas tomadas com o objetivo de buscar o chamado “diálogo” com o facínora governo Santos, no marco de um profundo isolamento político e militar da guerrilha. Ainda que consideremos justo que as FARC tomem medidas de autopreservação neste momento delicado do combate, pois a guerrilha tem todo direito de negociar a liberdade de seus presos políticos através da troca de reféns, definitivamente não é anunciando o fim das “retenções”, a libertação unilateral de todos os prisioneiros políticos de guerra e um “diálogo” que coloca em pauta seu desarmamento, o melhor caminho para se defender dos ataques do genocida regime colombiano, muito menos tendo ilusões de que este possa chegar a algum acordo com a guerrilha que não seja baseado na sua liquidação enquanto força política e militar.

As “negociações de paz” com Santos e o conjunto das medidas anunciadas pelas FARC estão sendo tomadas no marco de uma enorme pressão “democrática” de seus “aliados”, particularmente do governo Chávez e de Fidel Castro. A ofensiva militar imperialista na Líbia e na Síria, apoiando-se na onda de “reação democrática” que varre o Oriente Médio, é a prova do que afirmamos. Não por acaso, o mesmo Chávez que clama pela deposição das armas pelas FARC tem colaborado vergonhosamente com Santos na perseguição aos quadros políticos e militares da guerrilha, justamente porque o caudilho bolivariano deseja ter as FARC como moeda de troca em seus acordos com a Casa Branca, ainda mais com o agravamento de seu quadro de saúde e diante das eleições presidenciais de outubro.

Frente a essa conjuntura dramática, os revolucionários bolcheviques criticam publicamente as decisões tomadas pela direção das FARC porque estas medidas desgraçadamente levam paulatinamente à sua rendição política e não “só” militar. Através de concessões crescentes como a libertação unilateral dos presos políticos e a decretação do fim das “retenções” se aposta na via da conciliação de classes e na política de integração ao regime títere como prega a senadora Piedad Córdoba e seu movimento “Colombianos pela Paz”. Na Colômbia, mais que em qualquer outra parte do mundo, hoje a simples luta sindical contra os patrões e as multinacionais exige a ruptura do proletariado com os limites da legalidade burguesa e a construção de milícias operárias armadas para desarmar os exércitos paramilitares e as escaramuças do aparato repressivo. Não é por acaso, que os mesmos moralistas pequeno-burgueses de “esquerda” se mostram tão preocupados com os danos que os métodos da guerrilha causam à consciência e à organização dos trabalhadores, sejam incapazes de conclamar a organização de milícias operárias para combater o assassinato sistemático de trabalhadores pelos bandos armados burgueses. Isso acontece porque tal tarefa deve ser encabeçada por um genuíno partido trotskista completamente independente da opinião pública burguesa e de sua moral, armado de um programa revolucionário capaz de preparar pacientemente a insurreição das massas colombianas. É vital para o movimento de massas colombiano organizar milícias operárias tão fortes que sejam capazes de acaudilhar atrás de si as organizações guerrilheiras, submetendo-as militarmente à democracia das assembleias proletárias para desarmar o aparato repressivo oficial e paramilitar assassino.

Diante do cerco crescente neste momento de maior fragilidade das FARC, os marxistas revolucionários declaram seu apoio incondicional à guerrilha diante de qualquer ataque militar do imperialismo e do aparato repressivo de Santos. Simultaneamente, apontamos como alternativa a superação programática da estratégia reformista da direção das FARC baseada na reconciliação nacional com a oposição burguesa e a unificação da luta armada com o movimento operário urbano sob a estratégia da revolução socialista para liquidar o regime facistóide e organizar a tomada do poder pelos explorados colombianos. Defendemos que uma política justa para o confronto entre a guerrilha e o Estado burguês passa por aplicar a unidade de ação contra Santos, com a mais absoluta independência política em relação ao programa reformista das FARC. Ao lado dos heróicos guerrilheiros das FARC e honrando o sangue derramado pelos comandantes Afonso Cano, Manuel Marulanda e Mono Jojoy, que morreram em combate, apontamos como alternativa programática a defesa da estratégia da revolução socialista e da ditadura do proletariado, sem patrocinar nenhuma ilusão na possibilidade de construir uma “Nova Colômbia” sem liquidar o capitalismo e seus títeres