quarta-feira, 22 de agosto de 2012


Enquanto o STF sangra o PT, suas candidaturas afundam nas disputas municipais

Os ministros do STF vão confirmando nossos prognósticos acerca das sentenças já proferidas contra os chamados “mensaleiros”. Sob o patrocínio do governo Dilma, o relator do caso, Joaquim Barbosa, considerado um “quase petista” indicado a corte por Lula, votou pela condenação do ex-presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha, voto acompanhado pelo ministro revisor do processo, Ricardo Lewandowski. Com um julgamento arrastado, devido a metodologia aprovada de fatiar as acusações por grupos de penalidades, o STF vai sangrando lentamente as candidaturas do PT cuja primeira “vítima” foi o próprio João Paulo, candidato a prefeito da cidade de Osasco. Um julgamento moroso não foi uma opção simplesmente técnica adotada pelo STF, como pode aparentar aos mais ingênuos, corresponde a uma delicada correlação de forças que ainda não está completamente definida no interior das classes dominantes. A grande questão ainda aberta no julgamento do mensalão é sobre o grau da condenação a ser aplicado ao “capo” petista braço direito de Lula, José Dirceu. Nesta questão os “togados” do STF ainda não encontraram um “ponto de equilíbrio”, entre as pressões de Lula e do próprio PT por um lado, e da oposição Demo-Tucana unida neste caso a Dilma pelo outro lado. O “sacrifício” do Deputado Federal João Paulo, parece não satisfazer os apetites vorazes do bloco “neoconservador”, que exige a cabeça de Dirceu, já que a prisão dos “peixes pequenos” do mensalão (como Delúbio e Marcos Valério) é dada como praticamente certa. Por sua vez, a figura asquerosa do Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, cumpre a função de denominador comum entre o Planalto e os caciques do Tucanato, todos muito interessados no maior desgaste político possível do PT, assegurando ao governo Dilma uma reeleição tranquila em 2014 e o cumprimento da “cláusula da renovação democrática” em 2018.

A chamada esquerda “progressista” vem se lamentando de mais uma perseguição descriminatória, pelo fato do “mensalão” ter ido parar em julgamento do STF, afirmam que nenhum outro caso de corrupção estatal foi julgado pela corte máxima nos últimos cinquenta anos de história republicana. Este campo frentepopulista não nega o esquema do “mensalão” e até reconhece a prática de caixa dois para a necessária compra de apoio parlamentar, embora não reconheça o desvio do dinheiro das “comissões” para o enriquecimento pessoal dos “capos” petistas. Escândalos ainda mais “escancarados” como a compra dos votos parlamentares para a emenda da reeleição de FHC foram arquivados, ainda em primeira instância judicial, sob o silêncio da mídia “murdochiana”, se queixam os apologistas das “reformas possíveis”. A verdade é que o “mensalão” só seguiu adiante, ou seja, para o STF, na certeza de um acordo celebrado ainda no início de 2006, entre o então presidente Lula e a oposição conservadora no sentido de “depurar” o PT. Este “compromisso” no seio da burguesia permitiu a reeleição de Lula, que posteriormente retardou o encaminhamento do processo ao Supremo, pela via do procurador geral Antônio Fernando. Com a recondução do novo procurador geral em 2011, Dilma deu “carta branca” a Gurgel para trucidar os mensaleiros, em particular seu arqui-inimigo político no interior do PT, José Dirceu.

Como o atual governo carece de uma base social própria no movimento de massas, o ativismo da CUT e do PT (majoritariamente ligado à Articulação) ainda confere a Dilma um certo crédito político. Isto o obriga a manter-se bastante discreto no caso do julgamento do “mensalão” e nos ataques que promove contra Dirceu, nos bastidores de Brasília. Dilma trabalha silenciosamente para ampliar sua base de apoio parlamentar para além das fronteiras do PT, priorizando novos parceiros políticos como o PSB e PR, o que implica necessariamente um distanciamento das candidaturas petistas às principais prefeituras do país. Na outra ponta de sua agenda o governo atua para implementar uma pauta econômica neoliberal, agradando cada vez mais a burguesia nativa, com pacotes de isenção fiscal e privatizações generosas.

Nesta conjuntura não é de se estranhar que apesar dos altos índices de aprovação popular do governo Dilma, as candidaturas petistas às prefeituras caminhem para um retumbante fiasco. Com o início da propaganda eleitoral gratuita, a direção nacional do PT espera a reversão do desastroso quadro das disputas municipais, com a presença da liderança incontestável de Lula. Acontece que a mesma mídia que será obrigada, por força da lei, a transmitir as mensagens de Lula em apoio a seus candidatos, está envolvida freneticamente na cobertura espetaculosa do julgamento do “mensalão”, sangrando o PT quase que 24 horas no ar. Os marxistas leninistas sabem muito bem que não será exigindo do STF uma punição “exemplar” aos mensaleiros, como fazem os revisionistas do PSTU, por exemplo, que se fará justiça neste caso ou em qualquer outro de corrupção estatal no Brasil. Não iremos “jogar” em nenhum “time” burguês, nesta verdadeira queda de braço que atravessa o supremo. Somente a destruição revolucionária do Estado capitalista poderá colocar um fim histórico à corrupção estatal, inerente a este regime decadente da democracia dos ricos.