quinta-feira, 5 de julho de 2012

Editorial do Jornal Luta Operária nº 238, 2ª Quinzena de Junho/2012
O golpe de estado no Paraguai e a vitória da Irmandade Muçulmana no Egito, dois sinais da ofensiva contrarrevolucionária mundial 

Na entrada do ano de 2012, ainda no curso do que foi denominado de a “primavera árabe”, a esquerda revisionista anunciava a chegada do “ano das revoluções”. Acorrentado a uma caracterização completamente equivocada (catastrofista e antimarxista) da crise financeira deflagrada em 2008, o arco político revisionista ainda anda a procura da sua pseudo “revolução” que, segundo seus cálculos “teóricos” já deveria ter acontecido em 2009 ou pelo menos em 2010. Mas, se a tal “revolução” não veio, os revisionistas resolveram mesmo foi abraçar fervorosamente a ofensiva contrarrevolucionária do imperialismo, desatada originalmente em 1989 com a queda do Muro de Berlim, e maquiá-la de “revolução democrática”. Este foi o caso da guerra civil na Líbia, onde a tal “revolução” dirigida militarmente pela OTAN, com a ajuda de “rebeldes” monarquistas, derrubou um governo burguês nacionalista e colocou em seu lugar um regime abertamente entreguista e fiel aliado de Washington. Mas, sem sombra de dúvidas foi no Egito onde a “teoria” revisionista da “revolução democrática” foi mais longe, baseada no fato da queda do odiado ditador Mubarak, homem de confiança do imperialismo ianque. Os arautos revisionistas “compraram” a versão, made in Casa Branca, de que a saída de cena de Mubarak teria sido produto de uma “revolução”, não por coincidência saudada entusiasticamente pelo chacal Obama e a CIA. Agora, quando já atravessamos a metade do ano em curso vai ficando absolutamente cristalino, até para aqueles que honestamente acreditaram na “primavera árabe”, que a ofensiva imperialista vai recrudescendo cada vez mais sua escalada, com a finalização da reacionária transição política no Egito e, de quebra, nos “brinda” com um golpe de estado das oligarquias “sojeras” no Paraguai.
A vitória do candidato da Irmandade Muçulmana, Mohamed Morsi, nas fraudulentas eleições presidenciais do Egito, encerra a primeira etapa do processo de transição política do regime militar, anteriormente comandado pelo carniceiro Mubarak. Isto não significa que os militares abandonaram o cenário político do milenar país dos faraós, ao contrário, estarão de “plantão” tutelando a bastarda “democracia” debutante. Para o imperialismo ianque, “padrinho” da suposta “revolução”, com o novo governo de Morsi ficam mantidas as salvaguardas políticas e militares necessárias para a preservação do gendarme terrorista de Israel, agora com a legitimação de um governo “democrático”, bem superior ao decrépito e desgastado Mubarak. Os manifestantes “revolucionários” que lotaram a Praça Tahrir por vários dias exigindo a posse de Morsi representam exatamente a “massa de manobra” desta operação de transição do regime, que em nada pode se assemelhar a uma verdadeira revolução socialista (surgimento de conselhos operários e armamento da população) e sequer democrática com móveis políticos anti-imperialistas. A iniciativa da gestão Obama/Clinton em promover a chamada “primavera árabe”, desde o início esteve colada aos interesses mais sinistros do imperialismo, tendo como ponto final a invasão militar do Irã, mas também passando pela demolição dos “adversários regionais” Kadaffi e Assad.
Neste momento exato, a ofensiva imperial concentra suas forças na Síria, tentando forçar com provocações terroristas a renúncia de Bashar al-Assad. Assim como na Líbia e Egito as cacatuas do imperialismo, LIT, PTS e a grande família revisionista, afirma que ocorre uma “revolução” contra o regime burguês do clã Assad, utilizam inclusive farta munição da mídia “murdochiana” para provar assassinatos de civis e crianças. Longe de representar os interesses do proletariado árabe, o regime Assad hoje é um obstáculo aos planos de invasão do Irã, e por isso deve ser removido sob patrocínio do imperialismo ianque. Sua derrubada serve também aos interesses de Israel, que pretende derrotar o Hezbollah (aliado incondicional do governo Sírio) e reocupar o Líbano, portanto, os marxistas revolucionários, que não nutrem a menor simpatia política pelo regime Assad, devem saber identificar muito bem o foco da reação imperialista e entrincheirar-se no campo oposto, com absoluta autonomia das direções burguesas. Os revisionistas que demagogicamente afirmam estar do lado da luta do povo palestino, deveriam se envergonhar de aliar- se às forças sionistas, em nome da “revolução” made in CIA”, que pretende substituir Assad por um títere da Casa Branca, repetindo a verdadeira hecatombe social ocorrida na Líbia.
Mas os signos da etapa contrarrevolucionária não se restringem ao Oriente médio, no velho continente castigado pela crise capitalista a classe operária acumula várias derrotas e não consegue reverter a subtração de suas conquistas pela brutal ofensiva neoliberal dos rentistas do mercado financeiro. Na Grécia, onde as consequências da especulação financeira ameaçam devastar o país, o proletariado não consegue construir uma alternativa revolucionária de conjunto, apesar das inúmeras greves de caráter defensivo que ocorreram ao longo dos últimos quatro anos. Com o desgaste da velha social democracia governante, PASOK, submissa aos “barões” de Munique, surgiu uma nova social democracia de “esquerda”, o SYRIZA, que se postula contra o protocolo de “ajuste” imposto pelo FMI, mas faz a defesa intransigente da zona do Euro e sua moeda única. Para os revisionistas que não se cansam de prever o “armagedon” do capitalismo a cada oscilação da bolsa de valores, a “revolução grega” seria a vitória eleitoral de um governo do SYRIZA, com o apoio dos “comunistas” do KKE. Como o imperialismo ainda prefere governar a Grécia com seus partidos mais tradicionais, a “revolução do Euro” liderada pelo SYRIZA ainda deve aguardar mais um pouco, enquanto o KKE protagoniza suas greves economicistas que não colocam em jogo a questão do poder político. Neste compasso, a tragédia capitalista grega deve arrastar-se por muito tempo, até a construção de autêntico partido comunista revolucionário que confronte o poder de estado da burguesia.
E para aqueles que pensavam que o cinturão de governos da centro-esquerda burguesa na América Latina poderia eliminar a influência da ofensiva imperialista na região, o golpe de estado “institucional” do Paraguai veio desmontar esta “ilusão”. Apesar da gerência do “progressista” Fernando Lugo se colocar na linha de frente na repressão feroz do movimento camponês, o latifúndio “sojero” não hesitou em derrubá-lo, com apoio unificado das forças armadas. Logo não faltaram as vozes em apoio a democracia no Paraguai, este mesmo regime que assassinou os “sem terra” e permitiu o avanço das oligarquias pró-imperialistas. O golpe reacionário desencadeado no Paraguai, sob a impotência dos governos frentepopulistas da UNASUL, significa apenas um “balão de ensaio” para a ofensiva imperialista que mira a Venezuela como alvo prioritário. O chamado “socialismo do século XXI” encerra as mesmas contradições do governo Lugo, só que em escala bem maior. A covardia das burguesias nacionais em enfrentar o imperialismo não pode ser considerada propriamente uma novidade, é parte integrante de sua associação econômica (dependência) estrutural ao capital financeiro.
Portanto, somente o proletariado mundial carrega a capacidade histórica de combater a reação imperialista em pleno ápice, espraiada em toda linha do conhecimento humano. As “teses” catastrofistas da esquerda revisionista, apesar da moldura “radical” são apenas uma cobertura das variantes “democráticas” do imperialismo e nem de longe ameaçam a reprodução do capital e suas ditaduras de classe. A ausência de um partido mundial da revolução, por um período histórico prolongado (mais de seis décadas), gerou um enorme retrocesso na consciência da classe operária, tendo como ponto de inflexão a destruição contrarrevolucionária das conquistas sociais da ex-URSS, no início dos anos 90. Derrotado o principal inimigo da “guerra fria”, a ofensiva imperialista agora concentra-se na eliminação dos regimes adversários, nacionalistas burgueses e rescaldos do Estalinismo como a Coreia do Norte. Neste quadro, o proletariado mundial ainda não forjou na prática um terceiro “front”, exigindo dos comunistas no momento aplicar a máxima leninista de estabelecer a unidade de ação com os “adversários de nosso principal inimigo, o imperialismo”. Mas, a tática circunstancial bolchevique, diante de uma conjuntura de profundas derrotas do proletariado, não pode negar jamais a estratégia revolucionária de tomada de poder e instauração da ditadura do proletariado. A única “catástrofe” realmente temida pelo capitalismo não são as “perdas” financeiras no mercado bursátil, mas a entrada novamente da revolução socialista no horizonte das lutas proletárias.