segunda-feira, 23 de julho de 2012

Editorial do Jornal Luta Operária nº 239, 1ª Quinzena de Julho/2012
Começa o circo eleitoral da “democracia” dos ricos

Por mais uma vez o ciclo ordinário das eleições “representativas” ocupa o cenário político nacional, mobilizando forças desde a “extrema esquerda” até a direita fascista mais tradicional. Como interseção deste arco institucional encontram-se “projetos para a cidade”, recheados de promessas de “ética política” e moralidade pública, até de “participação popular”. Ausente mesmo nesta “confraria” burguesa obviamente está o programa da revolução socialista e da ação direta das massas contra o regime capitalista. Os representantes da “ala esquerda” do atual circo eleitoral (PSTU, PCB, PSOL e PCdoB) não passam de meros atores coadjuvantes do grande engodo nacional, coligando-se entre si, mas também com partidos “neoliberais” de todos os naipes, para legitimar a “festa” democrática. Esta esquerda comprometida com as “reformas possíveis” está muito longe de estabelecer a denúncia da democracia dos ricos e dos próprios mecanismos eletrônicos fraudulentos do atual processo institucional, que determina que os “vencedores” sejam “eleitos” por um seleto grupo de empreiteiras. Como Lenin corretamente asseverou no início do século passado, as eleições parlamentares (a III Internacional se recusava a participar de eleições para os cargos executivos, como governos locais e administração central) estão superadas historicamente como uma via das mais elementares transformações sociais, mas não estão esgotadas politicamente na consciência do proletariado. Portanto, ainda era necessário potenciar o papel do tribuno do povo, como agitador e publicista de uma plataforma revolucionária nas eleições burguesas. Este “tribuno do povo” pensado pelo genial Lenin, é com certeza o “candidato” ausente na lista de todos os partidos que integram este circo eleitoral de dimensões municipais.

Em 1982, quando o Partido dos Trabalhadores debutou nas primeiras eleições diretas para governador, após o golpe militar de 1964, Lula apresentou-se como candidato ao governo paulista. Com o eixo político de “trabalhador vota em trabalhador”, o então líder metalúrgico explicava à imprensa que o “mote” eleitoral do PT não permitiria a conquista de nenhum cargo executivo, mas que serviria como propaganda para elevar a “consciência de classe dos trabalhadores”. O PT nunca foi um partido leninista revolucionário  mas passados exatos 30 anos, a sua “paródia” de um partido operário estava bem a frente do atual oportunismo “policlassista” da esquerda que se apresenta como “socialista” nestas eleições. O PT, hoje representante da gerência capitalista do país, não encontra nenhuma oposição que sequer queira apresentar- se como “classista” e de confronto ao seu “projeto de poder” de pacto social. A chamada “oposição de esquerda”, muito aquém do PT de 82, tem como principal objetivo “estratégico” eleger “meia dúzia” de prefeitos para melhor administrar a crise do capitalismo em parceria com os partidos tradicionais da burguesia.

O campo governista da frente popular encabeçada pelo PT encontra-se fracionado entre os vários partidos da base aliada, além de uma grande fissura interna no seio do próprio petismo. Estas eleições municipais representam uma espécie de “prévias” internas da frente popular, para a decisão da composição da chapa presidencial de 2014, posto que a falida oposição de direita já está fora do jogo sucessório das próximas eleições. O governo da “poste” Dilma teria sido planejado inicialmente para um mandato tampão, já que Lula não poderia concorrer ao terceiro mandato consecutivo por força da Constituição. Mas a doença do ex-presidente e a própria dinâmica do botim palaciano, criando uma camarilha própria a favor da permanência de Dilma, alteraram sua interinidade política. O quadro atual aponta que estas eleições serão o palco de uma disputa entre o PT versus o próprio PT, onde partidos “aliados” como PSB e PMDB tentarão tirar o máximo proveito eleitoral desta disputa “fratricida”.

O centro das atenções eleitorais está concentrado obviamente em São Paulo, capital política do Brasil. De um lado o grupo petista da “Articulação”, ligado a Lula, bancando a todo custo a candidatura do iniciante Haddad, do outro o calejado tucano “despenado”, José Serra, adversário do governador Alckmin e protegido indiretamente por interesses políticos do Planalto. No meio do embate, novamente o PSB e PMDB, o primeiro prestando o “desserviço” de desmoralizar a figura de Lula e o segundo tentando uma barganha de cargos para o segundo turno. Se vitorioso Serra, líder folgado das pesquisas, abandona de vez o ninho tucano e suas pretensões ao planalto, ingressando no PSD do amigo Kassab. Seria mais um golpe no campo da oposição de direita e no próprio PSDB, e isto interessa de perto a anturragem da presidente Dilma. Se triunfa Haddad, a hegemonia de Lula se consolida, apesar de sua frágil saúde, tornando-o candidato inquestionável da frente popular em 2014. O PSB, aliado incondicional das pretensões da reeleição de Dilma, com vistas para ocupar sua vice, resolveu por reforçar seu arsenal de ataques ao PT, lançando candidaturas em Recife, Fortaleza e Belo Horizonte. Em São Paulo os “socialistas” representantes da oligarquia mais reacionária ligada ao governo tucano, formalmente se uniram ao PT, cumprindo a função de “quinta coluna” da frente popular.

O movimento operário acompanha com profundo descrédito e apatia o desenrolar do circo eleitoral. Pela ausência de uma alternativa revolucionária nestas eleições acabará por conceder um voto “crítico” no PT e em menor escala na própria “oposição de esquerda”. A etapa contrarrevolucionária da luta de classes em nível mundial provoca um enorme retrocesso na consciência de classe do proletariado, tornando-o refém da demagogia eleitoral de uma esquerda completamente corrompida ao regime da democracia dos ricos, onde a disputa real acontece no interior dos grupos econômicos monopolistas e não na vontade soberana do povo. A tarefa da resistência ideológica recai neste momento a um punhado de corajosos militantes comunistas que não se vergaram ao peso dos poderosos aparatos de Estado, tampouco aos aparelhos sindicais burocratizados. A construção de um núcleo revolucionário que ouse “desafiar” programaticamente este arco da esquerda revisionista, mantém sua vigência histórica em plena etapa da ofensiva mundial da reação imperialista.