quarta-feira, 6 de junho de 2012

A redução da expectativa do crescimento do PIB para 2012 significa estagnação da economia brasileira?

O IBGE divulgou os dados do crescimento do primeiro trimestre do PIB em 2012 que, na projeção anualizada, estariam bem longe de alcançar a meta de 4,5% pretendida pela presidente Dilma. A variação de apenas 0,2% em relação ao trimestre anterior (2011) projeta uma evolução do PIB na casa de 2,9%, ou seja, praticamente o mesmo resultado obtido pela economia em 2011. Os catastrofistas da “oposição de esquerda” logo saíram a prenunciar a tão aguardada chegada do “colapso da economia nacional”, em um ato de desespero para encobrir sua própria impotência política diante de uma conjuntura abertamente favorável a frente popular. As “viúvas de Cassandra”, como o PSTU e similares, sonham com a estagnação da economia brasileira não para impulsionar a ação direta das massas contra a ofensiva do capital, mas para quem sabe poder eleger algum vereador na carona de um possível débâcle do governo petista e seus aliados corruptos regionais. “Videntes” desde 2008 de um colapso final do capitalismo, o máximo que este amálgama de revisionistas conseguiu foi aprofundar ainda mais o curso direitista de suas intervenções na luta de classes, transformando-se em um verdadeiro bloco político de lobby parlamentar de poucos “resultados”. Acontece que se o país está bem longe das taxas de crescimento da economia chinesa, algo em torno de 8% ao ano, manter a estabilidade de um ritmo positivo de cerca de 3% do PIB em meio a uma retração generalizada do mercado mundial, de modo algum significa o limiar do “armagedon”. A leitura equivocada do ciclo da crise estrutural do modo de produção capitalista, feita pela “oposição de esquerda”, não ajuda em nada a formação da consciência de classe do proletariado, ao contrário o economicismo catastrofista só fortalece o viés oportunista de uma plataforma voltada para as eleições burguesas de 2012.

Mas, sem a menor sombra de dúvida, a expectativa do comando político do Planalto e seus acólitos era reeditar o nível de crescimento econômico alcançado em 2010, uma meta de pelo menos 5% ao ano, repetindo a sensação do “milagre” da Era Lula. Vários fatores influenciaram para um desempenho apenas “regular” da economia em 2012, sendo o principal a queda nas exportações de commodities agrominerais para o mercado asiático. Neste campo, a equipe econômica neomonetarista de Mantega tratou logo de “equilibrar” a balança comercial da maneira mais torpe possível, ou seja, desvalorizando nossa moeda para favorecer o Dólar. Por sinal, uma medida reivindicada por anos tanto pelo agronegócio, como pela “oposição de esquerda” que reclamavam da sobrevalorização do Real como um fator de retração econômica. Agora, com a possibilidade da retomada da escalada inflacionária estes mesmos setores da oposição reformista “acordaram” para se queixarem da desnacionalização da economia, ancorada na disparada do Dólar. Com um Real “barato” só no mês de maio duas grandes empresas brasileiras do ramo alimentício e de bebidas (Yoki e Ypioca) foram vendidas na “bacia das almas” por mais de um bilhão de reais cada uma.

Também a queda da taxa referencial dos juros, SELIC, no pagamento dos spreads dos títulos do Tesouro Nacional, provocou a diminuição imediata dos investimentos financeiros internacionais no mercado de capital brasileiro. Como assinalou o periódico imperialista “The Economist”, o Brasil deixou de ser o “queridinho” dos rentistas de Wall Street, apesar de suas taxas de juros ainda permanecerem bastante atraentes para estes parasitas do cassino global. As constantes quedas no índice das ações na BOVESPA, ocorrida neste primeiro semestre, reflete diretamente na depreciação dos ativos das principais empresas brasileiras pressionando para baixo o PIB nacional. Com a financeirização da economia global, em meio ao crash bursátil europeu (Espanha e Grécia no centro da tormenta), o país não poderia sair incólume desta turbulenta etapa, a não ser rompendo com a lógica da acumulação de capital, o que passa bem distante dos ideais programáticos deste governo “cipayo” da frente popular.

Para manter um patamar estável mínimo de crescimento do PIB em 2012, diante da crise mundial, o governo optou novamente pela alternativa dos subsídios e renúncia fiscal para os grandes grupos capitalistas, uma saída política que sempre agrada a burguesia e seus “agentes” no movimento operário. Esta variante utilizada em 2008, por Lula e que lhe rendeu a eleição de um poste nas eleições presidenciais de 2010, agora sofre resistência no interior da própria equipe econômica palaciana, que combate pela “ortodoxia” de um rígido superávit primário determinado pelo FMI. De toda maneira, a solução de “compromisso” encontrada pelas duas alas do governo (neodesenvolvimentistas e monetariatas) envolve um duro ajuste fiscal e corte em investimentos estatais nas áreas sociais, sem falar, é claro, no “consenso geral” em arrochar os salários do funcionalismo público. Fora este “pacote de maldades”, o governo seguirá induzindo o crescimento econômico pelo afrouxamento das linhas de crédito e inflacionando o orçamento federal com os gastos das obras dos “megaeventos” e infraestrutura nacionais. Como reflexo imediato destas medidas, as vendas do comércio no mês de maio (eletrodomésticos, materiais de construção e veículos) bateram um recorde dos últimos cinco anos, apontando um cenário completamente distinto de uma depressão econômica.

Para se estabelecer uma política revolucionária, de combate frontal ao engodo da colaboração de classes deste projeto de “poder” da frente popular, não é necessário mentir as massas como sistematicamente faz a “oposição de esquerda”. Não será com previsões que o “fim do mundo” está próximo, do tipo “irmã jurema”, que os genuínos comunistas “disputarão” as mentes mais classistas do proletariado, com o arco de apoio do PT e sua asquerosa entourage política. Desde quando os marxistas-leninistas não sabem combater em momentos de refluxo ideológico do movimento, precisando iludir a classe operaria com análises triunfalistas? A verdade é sempre revolucionária, e neste momento é necessário dizer que o governo Dilma detém a iniciativa política, lastreado em uma momentânea conjuntura econômica relativamente favorável, apesar do esgotamento histórico do desenvolvimento das forças produtivas em todo o planeta. Armados desta compreensão concreta da realidade, os trabalhadores e o povo oprimido não devem nutrir a menor expectativa política em caminhos “institucionais” para o atual impasse da luta de classes, mais que nunca mantém-se a atualidade teórica da dijuntiva: “socialismo ou barbárie”.