quinta-feira, 24 de maio de 2012

O crash financeiro global e o capitalismo grego

A queda dos índices das principais bolsas de valores do mundo nas últimas semanas voltou a colocar nas manchetes da mídia o “fantasma” do crash financeiro global. Desta vez o detonador não veio das “subprimes” (títulos podres) norte-americanas, mas sim das “calendas” gregas que atemoriza o mundo com a possibilidade do país sair da zona do Euro e retomar a velha moeda nacional, o Dracma. As eleições parlamentares do começo de maio não conseguiram formar um governo (o regime grego é parlamentarista) em função do débâcle dos dois partidos (Pasok e Nova Democracia) que apoiavam as medidas recessivas impostas pela Troika monetarista ao país. Novas eleições estão marcadas para meados de junho e o partido favorito para ganhar o pleito é o Syriza, que se opõe ao protocolo draconiano do BCE, leia-se rentistas europeus, firmado anteriormente pelo governo de “unidade nacional” derrotado nas urnas. O Syriza, uma organização de tipo “frente popular”, já deixou bem claro que não deseja romper com o Euro tampouco com a comunidade financeira europeeia, só não aceita o “pacote” da Troika que estabelece o arrocho e demissões para cumprir as metas do calendário de amortizações da gigantesca dívida grega. O principal dirigente do Syriza, Alex Tsipras, em recente jornada pela França e Alemanha declarou abertamente: “Se sairmos da zona do Euro haverá danos inevitáveis para todos e não queremos isso, mas ficar tem um preço reverter a danosa política de austeridade em favor de uma política de desenvolvimento e recuperação” (Carta Maior, 22/05). O “ultimato” dado por Tsipras a Merkel e Hollande, que se recusaram a recebê-lo, foi bem nítido, o Syriza caso venha a ser governo não destruirá por completo a burguesia grega para alimentar os dividendos dos agiotas europeus e caso sejam “acuados” pela Troika retornarão ao Dracma para recuperar a economia nacional. Mas, afinal porque tanto “alvoroço” bursátil mundial por causa do inofensivo (apesar do título de esquerda radical) Syriza e da pequenina Grécia?

A economia da Grécia representa menos de 2% do PIB europeu (zona euro), mas está sendo acusada por “inocentes úteis” de levar o colapso do capitalismo, não só europeu mas global. A questão a ser indagada é como um pequeno país pouco industrializado, que sobrevive do turismo (70% da economia) e da exportação de seus produtos agrícolas como o azeite e vinho, pôde contrair uma gigantesca dívida que ameaça “quebrar” os mercados financeiros internacionais. Hoje a dívida internacional estimada da Grécia é de cerca de 170% de todo o seu PIB, ou seja, mais de meio trilhão de Euros, em viés de alta! Teriam que vender todo o país duas vezes para pagar os parasitas que corromperam o staff político para contrair títulos financeiros a taxas de juros simplesmente impagáveis. A cada Dólar que os rentistas “emprestavam” a Grécia, os “estadistas” assinavam uma promissória de 12 Euros, qualquer criança que sabe fazer contas saberia que esta “dívida” logo se transformaria em uma bola de neve que sufocaria o país. Agora, diante do impasse político e da ausência de um governo nacional, as sinistras “agencias de risco”, as mesmas que chantagearam Obama, não param de rebaixar os títulos da dívida grega, levando pânico, para obter ganhos em outras praças, já que a economia helênica está completamente exaurida. Setores cada vez mais significativos da burguesia grega, mas também francesa e alemã, começam a trabalhar a possibilidade da saída grega da eurozona, para oxigenar sua economia, principalmente o setor do turismo que ficou muito caro internamente em função da valorização do Euro. Somente a esquerda catastrofista e os agiotas de plantão em Berlim (e sua mídia “murdochiana”) tem interesse em disseminar a iminência do armagedon capitalista caso a Grécia abandone o padrão monetário que somente parte da Europa adotou.

O Syriza, assim como o partido de esquerda de Melechon na França (também considerado de ultraesquerda) representam politicamente setores da burguesia escorchados pelos barões do cassino financeiro. A possibilidade cada vez mais concreta do Syriza assumir o controle do governo parlamentar grego não tira o sono do imperialismo e tampouco de nenhum grande truste europeu. Os canalhas do revisionismo trotsquista, agentes do imperialismo na Líbia e na Síria, como a LIT e Altamira do PO, agora advogam um “governo de esquerda” para a Grécia, como um suposto duro golpe contra os rentistas e a “Europa do capital”. Criticam duramente o KKE, por se recusar a integrar um bloco de governo do Syriza e similares menores. Os stalinistas gregos, em que pese sua estratégia de contenção da radicalidade da ação direta do movimento de massas, corretamente decidiram não ingressar em nenhum governo que reconheça como legitima a fraudulenta divida grega, como faz o Syriza que defende sua renegociação, com prazos de pagamento elastecidos. Os “stalinofóbicos” como Altamira e sua entourage estão muito à direita do KKE, fazendo apologia da colaboração de classes e da alternativa de um governo burguês à esquerda da velha social democracia europeia.

Em períodos de franca ofensiva contrarrevolucionária mundial, como a que atravessamos neste momento, as superestruturas políticas giram todas à direita, o revisionismo não pode escapar desta regra histórica. É sintomático o fato da confluência entre os rentistas e suas “agências de risco” e a esquerda catastrofista, que oscila entre defender opções reformistas como Mélenchon e o Syriza e premunir o fim súbito do capitalismo, tomando como “subsidio” teórico as quedas das bolsas de valores. Os marxistas leninistas afirmam rotundamente, mais uma vez, que somente a revolução socialista pode dar cabo definitivo ao modo de produção capitalista. Por mais que uma provável saída da Grécia da zona do Euro venha a “agitar” os mercados financeiros, “contaminando” inclusive outras economias frágeis como a Espanha e Portugal, o capitalismo continuará incólume e seguindo em sua ofensiva contra as conquistas operárias. Repetimos, só a ação consciente da vanguarda do proletariado mundial, pela via revolucionária, deterá os planos de “ajuste” e confisco dos povos praticados aceleradamente pelo capital financeiro internacional.