quinta-feira, 31 de maio de 2012

Com país “encharcado” de capital, BC reduz taxa de juros ao menor nível da última década

O Banco Central, nosso FED tupiniquim, acaba de anunciar nesta última quarta-feira (30/05) mais uma redução na taxa básica de juros. Foi a sétima redução consecutiva da SELIC, que chega ao patamar de 8,5% ao ano, o menor nível desde 1999 quando os atuais critérios monetários do COPOM foram estabelecidos. A taxa de juros praticada pelo BC (SELIC) foi ao longo dos últimos trinta anos um importante instrumento das equipes econômicas governamentais para “capitalizar” o país e equalizar nossa deficitária balança de pagamentos. Por esta razão, historicamente os juros pagos pelos títulos públicos brasileiros sempre se situaram entre os mais bem remunerados do planeta, gerando um hiperaquecimento da taxa de juros na economia nacional. Os juros reais praticados pelo mercado financeiro doméstico chegam a atingir a marca de mais de 300% ao ano, para pequenos e médios credores. Agora o governo da frente popular resolveu demagogicamente impulsionar uma “cruzada cívica” contra os altos juros, utilizando a redução da SELIC como mais um elemento de pressão para o sistema financeiro nacional. Outra arma utilizada por Dilma na “guerra” contra os juros são os bancos estatais, BB e CAIXA, que aliviaram suavemente seus spreads, forçando a concorrência a enveredar na mesma direção proposta pelo governo. Mas, foi tungando a remuneração da poupança popular, que a partir desta nova taxa do BC passa a render bem menos, que a equipe econômica palaciana “convenceu” os banqueiros a embarcar na campanha midiática do “juro baixo”. Na realidade, a base concreta que vem permitindo ao governo acenar com uma pequena queda em sua estratosférica taxa de juros é a abundância de capital internacional estacionado no país, para investimentos diretos. Paradoxalmente, o crash financeiro nos centros imperialistas vem favorecendo circunstancialmente a economia brasileira, “porto seguro” para grandes corporações que apostam no potencial de nosso mercado interno. Com um cambio extremamente favorável a exportação de commodities agrominerais, em função da atual crise bursátil, o cenário econômico nacional não poderia ser mais favorável na atual conjuntura de turbulência financeira mundial, permitindo todo este espetáculo político protagonizado pela frente popular da colaboração de classes.

Por sinal, a “cruzada pelo juro baixo” vem permitindo ao governo sedimentar seu pacto social, unificando apoios nesta empreitada “cívica” desde a FIESP até o conjunto das centrais sindicais “chapa branca”. O sindicalista do PCdoB, Wagner Gomes, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), declarou ao site Vermelho que a decisão do COPOM “está no rumo certo”. Em nota emitida na noite desta quarta-feira, Gomes afirma que a medida “reorienta a política monetária e se soma às iniciativas adotadas pelo governo Dilma para fazer frente aos efeitos da crise mundial do capitalismo e reverter o processo de desaceleração da economia nacional”. Os ex-estalinistas convertidos à ordem capitalista não estão sozinhos no apoio ao engodo do governo Dilma, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) disse que o corte na taxa básica de juros (SELIC) anunciado é bem-vindo. Na mesma senda a ultrarreacionária Federação do Comércio de São Paulo (Fecomércio-SP) também considerou acertada a decisão do Banco Central de diminuir a taxa básica de juros (SELIC) para 8,5% ao ano. Os oficialistas da CUT fecham o “círculo do poder” saudando as medidas do BC e aconselhando mais reduções para “fomentar a indústria nacional”. Com um arco social bastante amplo Dilma vai consolidando sua base política de apoio popular, apesar de ser patrona da ofensiva patronal para liquidar as conquistas operárias.

Para a população trabalhadora a “cruzada” governista poderá significar perdas significativas nas reservas do Fundo de Garantia, que deverá ter seus rendimentos reduzidos neste idealizado cenário de juros mais baixos. Também é certa uma relativa retomada da escalada inflacionária, onde o incentivo ao consumo e ao crédito são os signos da atual etapa, ironicamente chamada de “neodesenvolvomentista”. Com uma política econômica neoliberal de arrochar ao máximo salários públicos, o governo Dilma espera encontrar seu superávit primário as custas do corte das verbas nos setores mais essenciais para o povo oprimido.

O proletariado que se vê empurrado a contrair dividas, principalmente pela via dos empréstimos consignados, não atravessa nenhum “ciclo virtuoso”, ao contrário da nova burguesia emergente, subsidiada pelo governo do PT. A enorme “bolha” de crédito que encobre o país cobrará seu preço mais cedo do que tarde, com a acumulação da renda concentrada em um pequeno estrato social. Romper com esta lógica do capital, impulsionando uma vigorosa jornada nacional de protestos, greves e ocupações, se coloca como tarefa imediata para a vanguarda classista que não se vergou ao “encantos” das campanhas publicitárias estatais, geridas pela frente popular para amordaçar a ação direta do movimento de massas.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

“Eu sou apenas um carola” afirma Demóstenes na comissão de ética do Senado, para desespero de Dirceu

Com um roteiro de autoflagelação previamente traçado, o senador Demóstenes Torres declarou nesta última terça feira (29/05) à Comissão de Ética do senado que: “vive o pior momento de sua vida”. Tentando atrair um sentimento de piedade dos seus pares, afirmou que é “apenas um carola”, desconhecendo portanto o “lado da contravenção” do amigo bicheiro Carlinhos Cachoeira. O Vestal do “pau oco” jurou que jamais intercedeu em favor da empreiteira Delta e que apenas aceitou alguns “presentinhos insignificantes” de Cachoeira. Que Demóstenes atravessa seu “inferno astral” não temos a menor dúvida, o que não estava “previsto” nesta verdadeira “novela” da vida política real era o fato da operação Vegas deflagrada pela PF para acuar a entourage de Gilmar, VEJA e Cachoeira, acabar decretando a morte política de José Dirceu e seus “bons companheiros”. Uma CPI que deveria fazer um “ajuste de contas” com os “denuncistas” do mensalão, liquidando de uma vez por todas com a rede de arapongas da oposição Demo-Tucana, acaba “emperrada” com a entrada em cena da megaempreiteira Delta e parece que irá finalizar seus trabalhos levando indiretamente (pelos desdobramentos extra-congresso) o ex-capo petista direto para o presídio da Papuda. A turma do mensalão já sentiu o golpe e desconfia até se a “estúpida ingenuidade” de Lula não tem o dedo da ex-presidenta poste Dilma Rousseff com o objetivo de defenestrar seu arqui-inimigo Dirceu.

A completa inação de Lula em meio a vigorosa ofensiva midiática de Gilmar e Demóstenes nos faz pensar que ele próprio pode ser cúmplice da bandidagem que tem como objetivo sentenciar, antes mesmo do veredito do STF, a condenação exemplar de todos os petistas indiciados como réus no processo do mensalão. Ainda não está absolutamente claro em que time está jogando atualmente o ex-presidente operário, se na defesa de Dirceu ou na oferta da cabeça dos dirigentes petistas em troca de uma reeleição tranquila de Dilma, caso se impossibilite fisicamente da disputa em 2014. O certo é que não estamos tratando com “amadores”, nem Lula e sua experiente secretária Clara Ant (ex-LIBELU), nem a dupla Gilmar/Jobim. O suposto “trunfo” de Lula para intimidar Gilmar na CPI, ou seja, a viagem regional em um bimotor velho pago por Cachoeira, não assustaria a um estafeta de segundo escalão, imaginem a um ministro com cargo vitalício (até os 70) no Supremo. Se Lula realmente pretendesse “emparedar” o gangster Gilmar o ameaçaria com provas que vão da tentativa de assassinato até venda bilionária de sentenças para grandes empresas.

Há um elemento realmente nebuloso em todo este imbróglio, trata-se do real quadro de saúde de Lula, mais além das simplórias versões de que seu câncer estaria definitivamente curado. O semblante “abobalhado” da raposa mais arguta da política burguesa brasileira dos últimos quarenta anos, chega a gerar dúvidas de sua plena sanidade mental. De qualquer maneira, Lula nunca está só, sempre muito bem assessorado pelos mais capazes quadros do PT, nos fazem crer que seria impossível cometer tolices primárias, como comparecer a uma reunião fechada em um lugar impróprio (escritório de Jobim em Brasília) com um mafioso do quilate de Mendes. Tudo leva a crer que a repentina ofensiva política da quadrilha de Cachoeira (estavam há pouco completamente nocauteados) tem aval do Palácio do Planalto, que já fala em evitar uma crise institucional entre os poderes da república.

A tentativa da blogosfera em desatar uma contraofensiva para denunciar o que seria uma grotesca armação de Gilmar contra Lula, carece até o momento de respaldo político do próprio PT e também do seu presidente de honra. Até o exato momento, assistimos a pronunciamentos “protocolares” das lideranças petistas contra as acusações de Gilmar, que já tomaram a forma judicial pelas mãos do Procurador-Geral Roberto Gurgel. Por outro lado até o momento os ministros “lulistas” do STF, estranhamente permaneceram calados, como é o caso de Joaquim Barbosa que por muito menos em casos anteriores já “partiu para cima” do desafeto Gilmar. Mas o determinante para o desenlace desta nova crise surgida nas entranhas do Estado burguês e suas instituições apodrecidas como a suprema corte, é a entrada em cena da classe operária, com seu próprio projeto de poder revolucionário.

terça-feira, 29 de maio de 2012



Por que Lula, Gilmar Mendes e Jobim se encontraram em Brasília?

O encontro entre Lula e Gilmar Mendes obviamente não foi um acaso. Ele ocorreu por pedido do ex-presidente da república, que usou como interlocutor Nelson Jobim, para sondar Gilmar Mendes sobre a possibilidade de um acordo envolvendo a votação no STF do caso do mensalão, particularmente com relação à delicada situação de José Dirceu. A reunião foi agendada com antecedência de três dias por Clara Ant, secretária de Lula e realizada no escritório de Jobim como parte da tentativa do ex-presidente livrar Dirceu da prisão ou mesmo tentar adiar o julgamento do caso para 2013, em um ano não eleitoral e, portanto, com menos holofotes, já que tudo indica que a maioria dos juízes do “Supremo” vai seguir a recomendação do Procurador-Geral da República, Roberto Gurguel, de punir exemplarmente o ex-chefe da Casa Civil de Lula, como desejam setores do próprio governo Dilma e a oposição demo-tucana. O encontro tratou-se de uma negociação entre as quadrilhas burguesas que controlam os poderes da república e rapinam o botim estatal. O que Gilmar levaria em troca para “aliviar” a barra de Dirceu? A continuidade de suas negociatas milionárias na condição de membro do STF através de vendas de sentenças e pareceres, já que no interior deste covil de bandidos de toga a maioria dos juízes (6 dos 11) foi indicada por Lula e estes poderiam “dificultar” a vida de Mendes no tribunal. Para se ter uma pequena ideia do grau de corrupção em que os juízes do STF estão envolvidos, basta saber que no dia da prisão de Cachoeira, 29 de fevereiro, o próprio Gilmar Mendes iria dar um parecer no STF sobre a legalidade ou não de um decreto do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), sobre a liberação do jogo de caça-níqueis em bares e casas de show. Com o escândalo, a decisão foi adiada...

Só ingênuos ou membros da imprensa “chapa branca” podem acreditar e difundir a versão de que Lula foi alvo de uma “armadilha” montada por Jobim e Gilmar, dois expoentes da “direita arquirreacionária”, como “vendem” alguns blogs e publicações de “esquerda” a soldo da frente popular. Na verdade, Jobim cumpriu no encontro com Gilmar Mendes a mesma função que tinha no governo Lula e até pouco tempo exercia na gestão de Dilma: ser uma “ponte” entre o núcleo duro petista com setores da oposição demo-tucana e do judiciário mais refratários ao lulismo. Não por acaso, o ex-ministro da defesa foi mantido no gabinete de Lula e depois reconduzido ao governo Dilma, mesmo após anunciar que votaria em Serra nas eleições presidenciais de 2010. Jobim, como membro do PMDB, próximo a FHC e ao PSDB, além de ter livre acesso a Lula, foi e continua sendo uma peça chave nas relações interpartidárias burguesas que sustentam o governo da frente popular e garantem sua estabilidade política. Nada mais “normal”, até porque foi ex-ministro da Justiça no governo do PSDB, presidente do STF e indicado por FHC para o “Supremo”, de ser utilizado por Lula para buscar um acordo ou no mínimo uma sondagem com Gilmar Mendes, também indicado pelo tucano para o STF, um facínora conhecido por sua truculência de corte fascistizante.

O “vazamento” da conversa pela revista Veja, cujo teor foi integralmente confirmado por Gilmar Mendes, ocorreu justamente porque não se chegou a um acordo em um primeiro momento, já que Mendes sabe que setores de peso do próprio PT e mais particularmente do núcleo próximo a presidente Dilma querem ver Dirceu punido, principalmente após ser público que o ex-capo petista ter provocado a queda de Antônio Palocci. As disputas internas no interior da quadrilha petista na verdade refletem as articulações internas para a eleição presidencial de 2014, já que Dirceu, Rui Falcão e os nomes mais chegados a Lula estão extremamente preocupados diante da possibilidade do ex-presidente não poder concorrer em função de seu debilitado estado de saúde. Neste caso, a certa reeleição de Dilma significa o enfraquecimento do chamado “campo majoritário” dentro do PT, deslocando o máximo de poder para o staff político sob controle direto da atual presidente. Não por acaso, enquanto a Revista Veja ataca virulentamente Dirceu, Lula e os setores “radicais” do PT, elogia rasgadamente Dilma em seus editoriais, pois a oposição burguesa sem chance de vitória eleitoral em 2014 visa fragilizar o lulismo, mais particularmente o núcleo histórico do petismo de São Paulo e manter boas relações com a ex-poste e seu séquito tecnocrata ascendente. No meio dessa “guerra de foice” petista, nada melhor para Dilma rifar desde logo Dirceu através de uma decisão do STF que retiraria definidamente o ex-chefe do esquema do mensalão de seu caminho.

Em mais um lance revelador das escaramuças palacianas, a imprensa noticiou que o Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, o mesmo que estava sendo pressionado pelos aliados de Dirceu para que depusesse na CPMI de Cachoeira visando fazê-lo recuar no pedido de prisão do petista devido ao esquema do mensalão, agora vai encaminhar para a primeira instância a representação que pede uma investigação contra o ex-presidente Lula. Nada como um dia depois do outro... Ontem mesmo, partidos da oposição protocolaram o pedido contra o ex-presidente por causa da reunião com Mendes, alegando que ele teria cometido crime por pedir o “adiamento do julgamento do processo do mensalão”. Como não poderia deixar de ser, DEM, PSDB e PPS tendo ao seu lado o PSOL, acionaram a PGR afirmando que Lula cometeu três crimes: tráfico de influência, corrupção ativa e coação no curso do processo judicial. O PSOL, como paladino da “ética na política”, considera a conduta de Lula como um “ataque as instituições republicanas e a independência entre os poderes”, atuando junto com a oposição conservadora na farsa que serve para encobrir dos trabalhadores o fato de que Lula não fez mais do que atuar nos bastidores tal como agem todos os representantes do Estado burguês, que fazem suas negociatas em torno do assalto ao botim estatal.

Todas essas “revelações” só comprovam o que já afirmava Marx no Manifesto do Partido Comunista: o Estado burguês é um comitê executivo dos negócios dos capitalistas, sendo os governos seus gerentes de plantão. A partir dessa compreensão, não há qualquer surpresa no fato de Lula, Jobim e Mendes terem se encontrado em Brasília no último dia 26 de abril para seguir mantendo o pacto das elites parasitárias contra o povo trabalhador, voltado sempre a livrar os políticos burgueses de qualquer punição, enquanto mantém na cadeia milhares de trabalhadores atrás das grades. Nesse conluio não existem “anjos ou demônios”, mas sim inimigos de classe dos trabalhadores, sejam eles ligados ao PT, PSDB ou PMDB. Como todos são faces da mesma moeda, os trabalhadores devem compreender que essas escaramuças fazem parte da disputa entre os partidos burgueses e suas próprias máfias internas. Denunciar o conjunto do regime político e suas instituições é fundamental para romper as ilusões na democracia dos ricos visando forjar uma alternativa revolucionária própria de poder dos explorados.

O veto parcial do governo ao Código Florestal e a campanha “veta tudo Dilma!”

O governo Dilma acaba de anunciar que vetará parcialmente o novo Código Florestal recentemente aprovado por ampla maioria na Câmara dos Deputados. No bojo da medida provisória (MP) enviada ao Congresso, o governo promoverá 12 vetos e 32 modificações no Projeto de Lei que altera o Código Florestal. O anúncio foi feito pelos ministros da Agricultura, Mendes Ribeiro (PMDB), do meio ambiente, Izabella Teixeira (sem partido) e do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas (PT), na tarde desta sexta-feira (25). Segundo o governo, os vetos e modificações trarão de volta as regras para recomposição de Áreas de Preservação Permanente (APPs) de margens de rios – que variam de 5 a 100 metros de acordo com o tamanho da propriedade e da largura do rio. Já para os ambientalistas, ligados às ONGs do “capital verde”, que defendiam o veto integral ao texto aprovado na Câmara dos Deputados, a conduta do governo foi decepcionante: “No geral continua sendo um texto que beneficia muito mais quem desmatou, não trazendo nenhum incentivo ou reconhecimento para quem conservou. Boa parte das anistias se mantém intocadas. Anistia quem desmatou topo ou encosta de morro. Quem desmatou reserva legal até 2008 em propriedade de até quatro módulos não vai ter que recuperar. Isso significa mais de 90% dos imóveis no Brasil e ainda há uma possibilidade de fraude gigantesca”.

O governo da frente popular que havia sofrido uma humilhante derrota no interior de sua própria base aliada com a rejeição do projeto do novo Código Florestal vindo do Senado Federal, busca com a MP uma saída de “compromisso” entre os ambientalistas “progressistas” e a bancada do agronegócio do Congresso. Mas, o risco político de uma nova humilhação no Parlamento é bastante alto, a MP tem que ser referendada pelo congresso, e Dilma já trabalha para cooptar parte da bancada ruralista na Câmara, agindo com os mesmos métodos fisiológicos que obtiveram algum resultado no Senado Federal. Em meio à manobra mal-sucedida de instalar a CPI do Cachoeira como elemento distracionista da corrupção sistêmica nacional para as massas, um novo desastre no Parlamento poderá precipitar uma crise institucional às vésperas das eleições municipais.

O bloco político que impulsionou a campanha do “Veta tudo Dilma” era integrado desde o próprio campo governista, passando pela oposição conservadora com o PPS e PV, até a chamada oposição de “esquerda” do PSOL e PSTU. O empresário Ricardo Young, ex-candidato a senador pelo PV paulista, uma das lideranças do movimento “Veta tudo Dilma!” define os objetivos da campanha: “Com um veto esperamos reiniciar um processo de diálogo. Chamar os setores mais avançados da agricultura – porque eles têm lideranças, ruralistas, que entendem a tese da sustentabilidade –, chamar as lideranças do movimento ambientalista e o campesinato para iniciar uma discussão de médio prazo de um outro projeto que haja consenso na sociedade” (site Carta Maior, 24/05). Para outra liderança do bloco, o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP): “O veto é fundamental para segurar um processo deletério para o interesse nacional” (idem). Como se pode aferir, pela composição política deste bloco, a preocupação destes senhores passa bem distante dos interesses do campesinato e do proletariado agrário, que com o “novo ou velho” Código Florestal, continuará a ver a mão do latifúndio avançar na espoliação das terras griladas de nossos povos originários.

Os revisionistas do PSTU que não se envergonharam em nada de seus “bons companheiros” do PV e PPS, além do Greenpeace na campanha do “Veta tudo Dilma!”, abominam a defesa da revolução agrária em nome das “reformas” que a burguesia venha a oferecer pela via estatal da frente popular. Por isso, atuaram mais uma vez como grupo de pressão sobre o governo, no papel de conselheiros de esquerda de Dilma. Não por coincidência, estão agora próximos a ONGs manipuladas pelo imperialismo ianque, para se passarem como “baluarte das florestas brasileiras”. O combate efetivo em defesa de nossas reservas naturais, jamais poderá ser realizado em aliança política com empresários e setores ligados ao imperialismo e seu projeto de “capital verde”. Somente o proletariado, urbano e rural, e seus aliados históricos como o campesinato pobre, será capaz de travar uma luta consequente para expropriar o latifúndio industrial produtivo, que ameaça a existência, não só do meio ambiente, mas do conjunto do povo oprimido e explorado pelo capitalismo.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Hienas imperialistas e camundongos revisionistas salivam pela intervenção da OTAN na Síria

Nos últimos dias houve um salto de qualidade na verdadeira cruzada diplomática, militar e midiática para justificar uma intervenção militar da OTAN na Síria. O massacre de Houla, ocorrido na sexta-feira, 25/05, está sendo usado justamente para alcançar esse objetivo através da armação de uma farsa montada para responsabilizar o governo Assad. Nessa sórdida campanha o imperialismo conta com a ajuda dos revisionistas do trotskismo para passar a versão mentirosa de que mais de uma centena de pessoas foram mortas por uma “ditadura sanguinária” que atacou com tanques de guerra seu próprio povo para por fim a uma “revolução”. O tom charlatanesco deste script hollywoodiano é evidente. O covarde assassinato de 108 pessoas, entre eles várias crianças, ocorrido na localidade de Houla, na Síria, foi responsabilidade direta de grupos mercenários de terroristas islâmicos oriundos da Líbia, hoje uma verdadeira base militar das potências imperialistas na região. Seu objetivo, assim como os atentados anteriores em Damasco no início de maio praticados com o auxílio da CIA e do Mossad, é provocar a desestabilização do país e fragilizar o governo de Bassar al Assad, justificando em nome da cínica defesa dos “direitos humanos” e da fantasiosa “revolução árabe”, a intervenção militar da OTAN através de uma decisão do covil de bandidos instalados na ONU. Não por acaso, os ataques ocorreram na véspera da chegada de Koffi Annan a Damasco e os observadores da Nação Unidos se apressaram em declarar que o governo sírio era o responsável pelo massacre, quando está mais do que claro que se tratou de uma macabra operação militar orquestrada para reforçar a ofensiva imperialista sobre o país.

Em carta ao Conselho de Segurança da ONU, a chancelaria síria afirmou que as forças do exército nacional perseguiram centenas de homens armados que teriam cometido o massacre: “Nem um só tanque entrou na região. O Exército sírio estava em estado de autodefesa, usando o máximo grau de autocontrole e uma resposta apropriada, e qualquer outra coisa senão isso é pura mentira. Os grupos armados entraram com o propósito de matar e a melhor prova disso é o assassinato com facas, o que é uma assinatura de grupos terroristas que massacram segundo a forma islâmica” (Actualidad, 28/05). Apesar disso, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que os observadores das Nações Unidas visitaram o local depois do massacre e “viram cápsulas de artilharia e de tanques e também marcas recentes de tanques” (Idem). Essas palavras compravam que a investida imperialista ganhou impulso e colocou em frenesi tanto as potências capitalistas como os grupos revisionistas que estão unidos pela vitória da “insurreição” made in CIA.

É preciso lembrar que o governo de Bassar Al-Assad assinou em abril um acordo com a ONU autorizando o envio de seus observadores-espiões à Síria sob a justificativa de supervisionar o cessar-fogo no país. O acordo foi mediado por Kofi Annan, representando a ONU e a Liga Árabe com o apoio da China e da Rússia, sendo aprovado por unanimidade pelo Conselho do Segurança (CS) das Nações Unidas. Mais de 300 observadores compõem a missão. Como alertamos anteriormente, esta missão tem como verdadeiro objetivo “monitorar” o governo sírio enquanto a debilitada oposição financiada pelo imperialismo se recompõe na fronteira do país com a Turquia, onde a OTAN montou uma base de apoio ao chamado ELS (Exército Livre da Síria), mercenários a serviço das potências abutres imperialistas. O acordo foi assinado pelo governo sírio, sob forte pressão da China e da Rússia, depois que o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ventríloquo da Casa Branca, declarou em carta ao CS que a Síria não cumpriu suas obrigações determinadas por um “plano de paz” que previa a retirada de tropas e armamentos pesados de áreas urbanas. Nesta mesma carta, Ban Ki-moon defendeu que sejam fornecidos aviões e helicópteros aos “observadores”, já pedidos à União Europeia, leia-se OTAN, para que seja montada uma base militar das forças da ONU dentro da Síria! Agora, depois do teatro montado pelos observadores-espiões e dos atentados de Houla, Kofi Annan acabou de desembarcar na Síria para pressionar ainda mais o governo Assad e deve declarar que o seu “plano de paz” fracassou, o que significa dar carta branca para uma intervenção da OTAN sobre o país, como já salivam as hienas imperialistas. 

Por sua vez, os mercenários do “Exército Livre da Síria” aproveitaram o ataque terrorista que seus próprios homens perpetraram em Houla para “exigir” da ONU que atue contra o governo Assad, inclusive que se organizem ataques aéreos contra as forças militares sírias: “Declaramos que até que o Conselho de Segurança da ONU tome uma decisão urgente para proteger os civis que o plano de Annan está morto. O ELS não vai seguir mais o plano de Annan até que a ONU proteja os cidadãos da violência por parte do Exército governamental e da polícia síria” (AFP, 28/05). No mesmo sentido, os governos imperialistas da França e Inglaterra já convocaram uma reunião de emergência dos “(muy) amigos da Síria” em defesa de uma “forte resposta internacional”. Nas cínicas palavras do ministro britânico de Assuntos Exteriores, William Hague: “Estamos consultando urgentemente com nossos aliados para dar uma forte resposta internacional, incluindo o Conselho de Segurança da ONU, a União Europeia e os organismos de direitos humanos da ONU” (Idem).

Como parte dessa farsa, os ventríloquos da esquerda revisionista do trotskismo se valem da ofensiva política e militar dos abutres capitalistas na Síria para avançar em sua campanha contra a “ditadura sanguinária de Asssad”, fazendo assim claramente o jogo da Casa Branca e da farsesca “revolução árabe” que Obama patrocina. No Brasil, os verdadeiros agentes do imperialismo no interior da esquerda, como o PSTU-LIT, agiram rápido e convocaram um “protesto em frente ao consulado da Síria na Avenida Paulista” para esta terça-feira, 29/05, esclarecendo que “desde o início da revolução, o comitê de apoio à revolução do povo sírio já promoveu 15 manifestações em São Paulo exigindo a queda do ditador Bashar El Assad e seu regime assassino”. “Manifestações” desse tipo são apoiadas em todo mundo pelo Departamento de Estado ianque justamente para cobrir de legitimidade sua investida neocolonialista e não por acaso a LIT, que aplaudiu entusiasticamente os “rebeldes” mercenários na Líbia contra Kadaffi, segue fazendo o mesmo na Síria. Esses ratos revisionistas também salivam para que Assad seja derrubado com a “ajudinha” da OTAN. Para esses camundongos revisionistas está mais do que na hora de fazer da Síria uma nova Líbia! Como parceiro da LIT nesta empreitada contrarrevolucionária na Síria agora está o ECLA (Espaço Cultural Latino-Americano), que já havia abrigado anteriormente as atividades do mal-chamado Comitê Anti-imperialista, que chegou a realizar um ato em apoio aos “rebeldes” líbios, um verdadeiro balaio de gatos integrado inclusive pelos ratos da CST-UIT e do OT, também ardorosos defensores da OTAN e de seus “revolucionários”, inclusive reivindicando “armas para os insurgentes”! Como a LBI já havia alertado no caso da Líbia, a LIT, o ECLA e toda essa corja de falsos “anti-imperialistas” não passam de apêndices da Casa Branca que sob a fachada de se opor à “agressão imperialista” visam melhor encobrir sua cínica política de apoio à reação democrática.

Mais uma vez, as hienas imperialistas e os camundongos revisionistas se unem e salivam pela intervenção da OTAN na Síria. O covarde massacre na cidade de Houla por mercenários demonstra que está se cumprindo contra a Síria o mesmo script político montado pelo imperialismo ianque contra a Líbia, que sempre conta com a ajuda dessa “esquerda” convertida em porta-voz da OTAN. Cabe aos marxistas leninistas na trincheira da luta contra o imperialismo e pelas reivindicações imediatas e históricas das massas árabes, postarem-se em frente única com os governos das nações atacados ou ameaçados pelas tropas da OTAN e combater os planos de agressão das potências capitalistas sobre os países semicoloniais da região, desmascarando vigorosamente aqueles que se fingindo de “esquerda” como a LIT e seus satélites avalizam a sanha neocolonialista de Obama e seus sócios.


sexta-feira, 25 de maio de 2012

Poeta Thiago de Mello e militantes internacionalistas demonstram grande interesse pelo folheto “Os genuínos trotskistas e a questão cubana” lançado durante a Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba

Teve início da noite deste dia 24.05, quinta-feira, a XX Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba em Salvador-Bahia. Mais de 500 militantes e ativistas de todo o país compareceram a cerimônia de abertura. A LBI aproveitou a atividade para lançar o folheto “Os genuínos trotskistas e a questão cubana”, em que reafirma a defesa incondicional da ilha operária e de suas conquistas históricas rechaçando a ofensiva imperialista através do bloqueio econômico, ao mesmo tempo em que polemiza com a orientação programática adotada pela burocracia castrista, particularmente no VI congresso do PC cubano, realizado no mês de abril de 2011, em que esta ataca uma série de direitos históricos dos trabalhadores com o objetivo de avançar o processo de restauração capitalista. Além da LBI se fizeram presentes na Convenção o PCdoB, PCB, PCR, PCML-Jornal Inverta e o PT, estando vergonhosamente ausente da atividade todo arco pseudotrotskista, que já não defende o Estado operário cubano e junto com a Casa Branca e os gusanos se soma à sórdida campanha pela “derrubada da ditadura dos irmãos Castro”.

Grande afluxo de militantes na banca da LBI durante
a Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba

O grande interesse pelo folheto “Os genuínos trotskistas e a questão Cubana”, já que foram vendidos só no primeiro dia da Convenção dezenas de exemplares, demonstra que nossa defesa incondicional de Cuba, apesar das profundas diferenças programáticas com a direção do PC cubano, gerou o respeito de um amplo setor da vanguarda, principalmente de vários ativistas não ligados a frente popular presentes na atividade. Estes camaradas compreendem, assim como a LBI, que a melhor forma de responder as investidas do imperialismo ianque é chamando a classe operária em nível mundial a derrotar o imperialismo e não apoiando a política de “coexistência pacífica” com a Casa Branca e a Igreja Católica. Nesse mesmo sentido, vários companheiros que visitaram nossa banca e adquiriram o folheto também fizeram críticas ao “reordenamento trabalhista e tributário” aprovado no VI Congresso do PC cubano que prevê a demissão de 500 mil trabalhadores da área estatal “remanejando-os” para serviços individuais, os famosos contapropistas.

A autoridade política da LBI, que hoje é praticamente a única corrente trotskista em nível nacional a defender incondicionalmente Cuba e suas conquistas sociais vigentes apesar de mais de 50 anos de criminoso bloqueio econômico, inclusive polemizando com a linha adotada pela direção castrista em uma atividade controlada pelos próprios “amigos de Cuba”, foi reafirmada quando o poeta Thiago de Mello recebeu das mãos do dirigente nacional de nossa corrente política, Marco Queiroz, um exemplar do folheto "Os genuínos trotskistas e a questão cubana”, inclusive declarando publicamente a importância dos trotskistas defenderem Cuba neste momento extremamente difícil para a ilha operária. Thiago de Mello é conhecido mundialmente pela sua denúncia da barbárie capitalista através de versos e do combate a destruição da floresta amazônica pelas trasnacionais, luta imortalizada em seu famoso “Estatutos do Homem” publicado no ano de 1973 em plena ditadura militar e também quando denunciou os crimes dos generais genocidas através do célebre poema transformado posteriormente em música “Faz escuro mais eu canto”. Na conversa que teve com o ilustre poeta, o dirigente nacional da LBI reafirmou a Thiago de Mello que nossa organização política estava na trincheira de luta em defesa do Estado operário apesar das divergências com o governo da ilha.

Poeta Thiago de Mello recebe do dirigente nacional da LBI,
Marco Queiroz, um exemplar de “Os genuínos trotskistas e a questão Cubana”

Orgulhamo-nos de em meio à ofensiva mundial do imperialismo contra Cuba e outros regimes políticos que são alvo da sanha guerreirista da Casa Branca, como a Síria e o Irã através da farsesca “revolução árabe”, estarmos na linha de frente do combate internacionalista para derrotar as grandes potências capitalistas, inclusive em unidade de ação com o PC cubano, Assad e Ahmadinejad diante dos ataques do pior inimigo dos povos, o imperialismo. Desde a trincheira de luta da defesa do Estado operário cubano e das nações oprimidas atacadas pela OTAN, fazemos o combate programático e político pela construção nestes países de uma autêntica direção revolucionária para o proletariado. Nossa intervenção na XX Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba e o lançamento de “Os genuínos trotskistas e a questão cubana” fazem parte desse combate programático que honra o legado de Leon Trotsky, tão enlameado pelos revisionistas do trotskismo neste momento crucial da luta de classes mundial.


quinta-feira, 24 de maio de 2012

O crash financeiro global e o capitalismo grego

A queda dos índices das principais bolsas de valores do mundo nas últimas semanas voltou a colocar nas manchetes da mídia o “fantasma” do crash financeiro global. Desta vez o detonador não veio das “subprimes” (títulos podres) norte-americanas, mas sim das “calendas” gregas que atemoriza o mundo com a possibilidade do país sair da zona do Euro e retomar a velha moeda nacional, o Dracma. As eleições parlamentares do começo de maio não conseguiram formar um governo (o regime grego é parlamentarista) em função do débâcle dos dois partidos (Pasok e Nova Democracia) que apoiavam as medidas recessivas impostas pela Troika monetarista ao país. Novas eleições estão marcadas para meados de junho e o partido favorito para ganhar o pleito é o Syriza, que se opõe ao protocolo draconiano do BCE, leia-se rentistas europeus, firmado anteriormente pelo governo de “unidade nacional” derrotado nas urnas. O Syriza, uma organização de tipo “frente popular”, já deixou bem claro que não deseja romper com o Euro tampouco com a comunidade financeira europeeia, só não aceita o “pacote” da Troika que estabelece o arrocho e demissões para cumprir as metas do calendário de amortizações da gigantesca dívida grega. O principal dirigente do Syriza, Alex Tsipras, em recente jornada pela França e Alemanha declarou abertamente: “Se sairmos da zona do Euro haverá danos inevitáveis para todos e não queremos isso, mas ficar tem um preço reverter a danosa política de austeridade em favor de uma política de desenvolvimento e recuperação” (Carta Maior, 22/05). O “ultimato” dado por Tsipras a Merkel e Hollande, que se recusaram a recebê-lo, foi bem nítido, o Syriza caso venha a ser governo não destruirá por completo a burguesia grega para alimentar os dividendos dos agiotas europeus e caso sejam “acuados” pela Troika retornarão ao Dracma para recuperar a economia nacional. Mas, afinal porque tanto “alvoroço” bursátil mundial por causa do inofensivo (apesar do título de esquerda radical) Syriza e da pequenina Grécia?

A economia da Grécia representa menos de 2% do PIB europeu (zona euro), mas está sendo acusada por “inocentes úteis” de levar o colapso do capitalismo, não só europeu mas global. A questão a ser indagada é como um pequeno país pouco industrializado, que sobrevive do turismo (70% da economia) e da exportação de seus produtos agrícolas como o azeite e vinho, pôde contrair uma gigantesca dívida que ameaça “quebrar” os mercados financeiros internacionais. Hoje a dívida internacional estimada da Grécia é de cerca de 170% de todo o seu PIB, ou seja, mais de meio trilhão de Euros, em viés de alta! Teriam que vender todo o país duas vezes para pagar os parasitas que corromperam o staff político para contrair títulos financeiros a taxas de juros simplesmente impagáveis. A cada Dólar que os rentistas “emprestavam” a Grécia, os “estadistas” assinavam uma promissória de 12 Euros, qualquer criança que sabe fazer contas saberia que esta “dívida” logo se transformaria em uma bola de neve que sufocaria o país. Agora, diante do impasse político e da ausência de um governo nacional, as sinistras “agencias de risco”, as mesmas que chantagearam Obama, não param de rebaixar os títulos da dívida grega, levando pânico, para obter ganhos em outras praças, já que a economia helênica está completamente exaurida. Setores cada vez mais significativos da burguesia grega, mas também francesa e alemã, começam a trabalhar a possibilidade da saída grega da eurozona, para oxigenar sua economia, principalmente o setor do turismo que ficou muito caro internamente em função da valorização do Euro. Somente a esquerda catastrofista e os agiotas de plantão em Berlim (e sua mídia “murdochiana”) tem interesse em disseminar a iminência do armagedon capitalista caso a Grécia abandone o padrão monetário que somente parte da Europa adotou.

O Syriza, assim como o partido de esquerda de Melechon na França (também considerado de ultraesquerda) representam politicamente setores da burguesia escorchados pelos barões do cassino financeiro. A possibilidade cada vez mais concreta do Syriza assumir o controle do governo parlamentar grego não tira o sono do imperialismo e tampouco de nenhum grande truste europeu. Os canalhas do revisionismo trotsquista, agentes do imperialismo na Líbia e na Síria, como a LIT e Altamira do PO, agora advogam um “governo de esquerda” para a Grécia, como um suposto duro golpe contra os rentistas e a “Europa do capital”. Criticam duramente o KKE, por se recusar a integrar um bloco de governo do Syriza e similares menores. Os stalinistas gregos, em que pese sua estratégia de contenção da radicalidade da ação direta do movimento de massas, corretamente decidiram não ingressar em nenhum governo que reconheça como legitima a fraudulenta divida grega, como faz o Syriza que defende sua renegociação, com prazos de pagamento elastecidos. Os “stalinofóbicos” como Altamira e sua entourage estão muito à direita do KKE, fazendo apologia da colaboração de classes e da alternativa de um governo burguês à esquerda da velha social democracia europeia.

Em períodos de franca ofensiva contrarrevolucionária mundial, como a que atravessamos neste momento, as superestruturas políticas giram todas à direita, o revisionismo não pode escapar desta regra histórica. É sintomático o fato da confluência entre os rentistas e suas “agências de risco” e a esquerda catastrofista, que oscila entre defender opções reformistas como Mélenchon e o Syriza e premunir o fim súbito do capitalismo, tomando como “subsidio” teórico as quedas das bolsas de valores. Os marxistas leninistas afirmam rotundamente, mais uma vez, que somente a revolução socialista pode dar cabo definitivo ao modo de produção capitalista. Por mais que uma provável saída da Grécia da zona do Euro venha a “agitar” os mercados financeiros, “contaminando” inclusive outras economias frágeis como a Espanha e Portugal, o capitalismo continuará incólume e seguindo em sua ofensiva contra as conquistas operárias. Repetimos, só a ação consciente da vanguarda do proletariado mundial, pela via revolucionária, deterá os planos de “ajuste” e confisco dos povos praticados aceleradamente pelo capital financeiro internacional.


quarta-feira, 23 de maio de 2012


Cachoeira fica de bico calado, restando a CPI convocar Xuxa para “soltar o verbo”

O depoimento monocórdio do bicheiro Carlinhos Cachoeira dado ontem (22/05) a CPI do Congresso Nacional só veio a confirmar nossa caracterização acerca desta panacéia distracionista, montada pelo Parlamento sob orientação direta do Palácio do Planalto. Com a assessoria do ex-ministro da justiça, Márcio Tomaz Bastos, petista histórico da mais alta confiança pessoal de Lula, Cachoeira seguiu o script previamente acertado com o governo Dilma e afirmou que só falaria em juízo. Alguns “revoltados” congressistas que esperavam um verdadeiro show midiático, obviamente para a própria promoção eleitoral e não para qualquer apuração rigorosa da rede de tráfico de influência da empreitera Delta, pediram então a suspensão da sessão plenária da CPI o que equivaleu na prática a seu próprio “enterro” político. Diante da frustração da população que esperava ao menos ouvir as justificativas do bicheiro para a explicar como montou sua teia de corrupção estatal, ou com muita sorte até uma breve “lavagem de roupa suja” sob os holofotes da mídia, o congresso para “alimentar” o circo resolveu então convocar a apresentadora global Xuxa Meneguel para depor na CPI da exploração sexual de crianças. As revelações de Xuxa que “soltou o verbo” no programa “Fantástico” alavancaram em muito o combalido IBOPE da Rede Globo, fazendo crer a base dos parlamentares governistas que poderia produzir o mesmo resultado para o ultradesmoralizado Congresso Nacional.

Com a falência prematura da CPI, que na semana passada já tinha aberto mão da convocação dos principais protagonistas do “escândalo” Cachoeira, como governadores e a Delta, resta ao governo concluir o processo de transição da venda da empreiteira Delta ao poderoso grupo econômico JBS-Friboi e manter os “consorciados” estaduais da megaconstrutora em total sigilo. Quanto ao pivô da “crise”, senador Demóstenes Torres, que depõe esta semana no Conselho de Ética do Senado, tudo indica que deverá ser “degolado” pelos seus pares para fechar definitivamente mais este capítulo do “romance” das relações estruturalmente prostituídas entre a burguesia e o estado nacional. As eleições municipais de outubro se aproximam e o congresso quer limpar a pauta política do semestre, para liberar as frações das oligarquias dominantes de suas “árduas” tarefas legislativas.

Mas a questão de fundo que fez eclodir a céu aberto o “fenômeno” empresarial do bicheiro goiano permanece aberta. Estamos falando do processo do Mensalão, que está em vias de ser julgado no STF. Neste caso as forças sociais que se enfrentam são muito mais poderosas do que o escândalo Cachoeira, que não por acaso foi peça decisiva para “detonar” o capo petista José Dirceu. O julgamento dos “mensaleiros” petistas é capaz até mesmo de provocar uma grave fissura entre a ex-presidente poste e seu padrinho político Lula. Dilma está empenhada em se livrar de Dirceu e sua entourage do chamado “campo majoritário” do PT. Lula ao contrário sabe que necessita da liderança de Dirceu para manter o PT unido, inclusive na hipótese de seu falecimento físico. A burguesia nacional e a oposição Demo-Tucana está comprometida com Dilma em sua cruzada anti-Dirceu, já o PT tentou utilizar a manobra da CPI para neutralizar os futuros “algozes” dos mensaleiros, o tiro saiu pela culatra em conjunto com a próprio esgotamento precoce da CPI. A tendência dominante agora é o STF venha a banir da vida política Dirceu e seu grupo, enfraquecendo substancialmente a autoridade de Lula sobre os rumos do governo Dilma.

O movimento de massas permanece atomizado diante das lutas intestinas das classes dominantes. As greves em curso, como das universidades federais, carecem de uma perspectiva classista de combate mais abrangente ao regime político, limitando-se a reivindicações econômicas rebaixadas e um “cardápio” corporativista. É necessário lutar no seio da classe trabalhadora por outra orientação programática, capaz de colocar o movimento de massas no centro da cena política nacional. Para esta tarefa a vanguarda mais combativa do proletariado deve somar forças com o embrião do partido revolucionário, forjando a construção de uma nova direção política para a classe. As manobras distracionistas da burguesia, como as CPIs e as próximas eleições municipais devem ser totalmente secundarizadas em função da estratégia de uma alternativa de poder para as massas exploradas.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Eleições presidenciais do Egito têm a marca da “revolução” fraudulenta

A tão esperada eleição para presidente no Egito, que segundo os cretinos revisionistas irá concluir a “primeira fase” da fraudulenta revolução “made in USA”, acontece finalmente nesta quarta e quinta-feira (24/05). Os principais candidatos “revolucionários” que disputam a gerência do Estado burguês são completamente alinhados com a Casa Branca e de uma certa forma com o próprio regime militar do deposto Mubarak. Acontece que não ocorreu revolução alguma, nem social, tampouco democrática, e o conjunto dos “presidenciáveis” reflete fielmente o processo de uma transição política conservadora controlada pelas forças armadas, sob a tutela direta do governo Obama. Assim como ocorreu no Brasil, os genocidas militares saíram do primeiro plano do regime político para dar lugar a um “governo civil”, mantendo intactas as instituições da ditadura a serviço do capital financeiro. As multitudinárias mobilizações populares que tomaram as praças reivindicando a derrubada do odiado Mubarak careciam de uma direção e programa autenticamente revolucionário, sendo desta forma facilmente manipuladas pela via “democrática”, ou seja, de uma transição ordenada da ditadura militar “substituída” por um regime político burguês legitimado pelas urnas. Só para se ter uma dimensão das profundas limitações políticas das mobilizações ocorridas há cerca de um ano, um dos principais movimentos “revolucionários” surgidos da Praça Tahrir o “6 de Abril”, segundo as próprias palavras de seu dirigente máximo Abdallah Sadaui: “Não somos nem de direita nem de esquerda”, para depois concluir: “Nosso grupo tem espaço para todos que querem mudar o Egito, sejam eles nacionalistas, comunistas ou liberais” (Site G1,22/03).

Os verdadeiros protagonistas das eleições presidenciais já se distanciaram bastante da demagogia reformista do movimento “6 de Abril”, alguns inclusive bem cotados nas mais recentes pesquisas chegam a defender abertamente o regime do facínora Mubarak. Este é o caso de Ahmed Shafiq, último primeiro-ministro do senil carniceiro, que vem crescendo em sua campanha e está colado nos dois favoritos, Amr Musa e Abdel Moneim duas figuras do mais alto establishment egípcio. Musa foi até pouco tempo secretário geral da asquerosa Liga Árabe, além de ostentar em seu currículo a participação no governo Mubarak. Como “capo” da Liga Árabe, Musa articulou a aprovação da entrada militar da OTAN no conflito nacional Líbio, o que lhe rendeu a simpatia da Madame Clinton em sua campanha política. Já Abdel Monein se apresenta como um ex-dirigente da Irmandade Muçulmana, totalmente formatado e palatável aos interesses do imperialismo e seu gendarme sionista na região. Correno por fora e com poucas chances de vitória, o candidato oficial da própria Irmandade, Mohamed Morsi, debilitado pelo “racha” sofrido por sua organização, anteriormente franca favorita a ganhar a disputa. Com a renúncia da candidatura de El Baradei, o imperialismo ianque vem centralizando seu apoio em Monein, um personagem político “híbrido”, que afirma respeitar as tradições religiosas árabes e ao mesmo tempo defende a “ocidentalização” do Egito. Como as eleições se realizam em dois turnos, é muito provável que as potências europeias prefiram o nome de Musa, com largos serviços prestados ao imperialismo, para rivalizar com Monein Abulfutú, um domesticado “novato” no tabuleiro das operações de Washington no Oriente Médio.

A esquerda Árabe vem apostando suas fichas no Nasserista Handeen Sabahi, referendado pela Coalizão da Juventude Revolucionária que reúne jovens independentes e de forças políticas de diversas correntes que estiveram à frente das manifestações da Praça Tahrir. O veterano Sabahi se apresenta nestas eleições reivindicando o legado do caudilho nacionalista burguês Abdel Nasser, o mesmo que “forneceu” fuzis danificados e sem munição para que os palestinos expulsassem as tropas sionistas de seu território ocupado. Também declararam apoio ao candidato Sabahi a “Frente Livre por Mudanças Pacíficas”, cujos líderes declaram que o programa do Nasserista está em consonância com os objetivos da “Revolução”. Como se pode constatar, o candidato da esquerda “socialista”, um parlamentar de longa trajetória de colaboração com o regime Mubarak, não ultrapassa os limites do nacionalismo árabe, com seu inerente caráter de classe burguês e “modernizado” com a inclinação em colaborar com a ofensiva do imperialismo na região, nomeada por estes cretinos traidores de “primavera árabe”.

O movimento operário egípcio está acorrentado por uma orientação programática completamente equivocada, que insiste em caracterizar uma transição conservadora como uma “revolução”, exatamente por essa razão não se postulou de forma independente nestas eleições presidenciais. O proletariado também vem retraindo suas ações diretas, como greves e ocupações, em função da demagogia reformista que se cristalizou nas manifestações “ordinárias” da Praça Tahrir. O resultado político deste amálgama supostamente “revolucionário” é que sequer mobilizações anti-imperialistas vem acontecendo na cidade do Cairo, como a corajosa invasão da embaixada israelense ocorrida no ano passado. O imperialismo ianque vem ocupando cada vez mais espaços políticos, aparecendo como um dos promotores da malfadada “revolução”. Os marxistas revolucionários que desde o primeiro momento desmascararam os charlatões que “venderam o conto da revolução”, como uma força auxiliar à serviço da OTAN, declaram abertamente que nestas eleições as massas árabes oprimidas não possuem nenhuma opção política, a não ser a de continuar o combate pela genuína revolução socialista contra os neos Mubaraks capitalistas maquiados de “revolucionários”.

segunda-feira, 21 de maio de 2012




Abutres imperialistas planejam novos passos de sua escalada neocolonialista em cúpula do G-8 e da OTAN

Logo após a reunião do G-8, ocorrida em Campi David, teve início o encontro de cúpula da OTAN que se encerra neste dia 21 de maio, na cidade de Chicago, nos EUA. Os principais temas da agenda foram a conclusão da primeira etapa de criação do Sistema de Defesa Antimíssil (DAM), a situação no Afeganistão e a ofensiva contra a Síria e o Irã. Em resumo, o imperialismo ianque e seus aliados estão fechando o calendário em torno de questões centrais da ofensiva neocolonialista no planeta tendo como marco a reeleição de Obama em novembro. Trata-se de fomentar a indústria da guerra para aquecer a economia ianque e da França, conquistando novos mercados e rapinando as reservas naturais em sua escalada neocolonialista, como ocorreu na Líbia recentemente. Do G-8 participaram as principais economias capitalistas (Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Alemanha, França, Itália, Japão) e a Rússia. Já da cúpula da OTAN tiveram assento representantes de 60 países, incluindo países vizinhos da Rússia que se mostram ávidos a estabelecer um pacto servil com Washington (Ucrânia, o Cazaquistão, o Quirguistão, o Uzbequistão e o Tajiquistão). Moscou, devido às divergências na questão da DAM e na cooperação com o Afeganistão, não enviou uma delegação representativa a Chicago.

A Rússia, impotente, assiste avançar os planos bélicos das grandes potências imperialistas, mas ao lado da China é incapaz de se opor a essa dinâmica, já que na condição de semicolônia tem pouca autonomia frente às ordens da Casa Branca. Em tom de chantagem, a OTAN vociferou em sua declaração que “Reafirmamos que os mísseis de defensa da OTAN não estão dirigidos contra Rússia e não prejudicarão as forças de dissuasão estratégica do país... Lamentando as declarações repetidas por parte da Rússia sobre as possíveis ações contra o sistema de defesa de mísseis da OTAN, damos boas vindas a vontade de Moscou de continuar o diálogo com vistas a chegar a um acordo sobre a futura cooperação nesta matéria” (sítio Actualidad, 21/05). Lembremos que a Rússia tem uma base militar na Síria, porta-aviões estacionados na costa do país, além de ser parceira estratégica do programa nuclear iraniano. Ademais, se opõe parcialmente à criação do sistema de defesa antimíssil para Europa controlado pela OTAN, voltado justamente para neutralizar qualquer reação militar russa a uma possível agressão imperialista.

Com relação ao Afeganistão, o G-8 e a OTAN prometeram que será “transferida” a responsabilidade pela segurança do país às forças locais até meados de 2013 e a Aliança imperialista passará então a ter um papel de apoio até a retirada das tropas internacionais do país no final de 2014. Segundo o comunicado, “a missão de combate liderada pela OTAN chegará ao fim no final de 2014, mas continuará a conceder um sólido apoio político e prático de longo prazo ao governo afegão”, arrematando que está “preparada para trabalhar no estabelecimento, a pedido do governo da República Islâmica do Afeganistão, de uma nova missão para depois de 2014”. Esta eventual missão de formação e de instrução das forças afegãs “não será uma missão de combate”, indica a declaração. A missão da OTAN no Afeganistão (ISAF) é composta atualmente por cerca de 120 mil combatentes procedentes de 40 países. Como está claro, devem sair as tropas regulares da OTAN para assumir os mercenários mafiosos de empresas como a “Blackwater”. O anúncio da saída do Afeganistão é apenas um subterfúgio, uma jogada diversionista do imperialismo ianque e europeu para ocultar uma operação de grande envergadura militar que está sendo preparada, a de apontar seus mísseis para a Síria e Irã, fato que a mídia “murdochiana” faz questão de esconder. Como é sabido, o imperialismo ianque e europeu não “abandonarão” simplesmente o território afegão. Ao contrário, o Pentágono traça uma nova estratégia militar para a região a fim de aumentar ainda mais seu controle geoestratégico no Oriente Médio. Para reprimir e intimidar a população local, as diversas etnias e grupos religiosos a ISAF ianque deixará no lugar das tropas regulares um enorme contingente de mercenários que já atuavam junto às tropas oficiais. Trata-se de uma máfia, ou empresas privadas de segurança contratadas para “manter a ordem” social e política no Afeganistão assim como atuam no Iraque. O objetivo da OTAN é coordenar um “ataque futuro” sobre o território iraniano, uma vez que tropas renovadas estariam estacionando no Iraque, Jordânia e Turquia, Arábia Saudita, Qatar e Emirados Árabes, apoiadas pelas “Forças de Operações Especiais” compostas por mercenários treinados em Israel. O anúncio da falsa “retirada” das tropas regulares da OTAN em 2013 por parte do imperialismo responde a uma ofensiva militar ainda mais cruel, serve para perfilar suas tropas para novos alvos estratégicos, Síria e Irã. Quer dizer, não se trata de uma “retirada”, mas sim de uma substituição tático-propagandistica por parte do Pentágono, uma vez que mercenários e efetivos estrangeiros (regulares e irregulares) ainda permanecerão no país. Não por acaso, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, advertiu nesta segunda-feira, 21/05, na reunião da OTAN em Chicago que a busca de uma solução pacífica para o conflito da Síria está “em um momento crítico”. Segundo seu porta-voz, “O secretário-geral disse que estamos em um momento crítico na busca por uma solução pacífica para a crise e que continuava extremamente preocupado com o risco de uma guerra civil total”. A marionete da ONU, que se reuniu com o presidente francês, François Hollande, disse que também está “preocupado com o surto de violência relacionada no Líbano”. Confrontos nas ruas de Beirute entre grupos a favor e contra a Síria deixaram dois mortos durante a noite, informou uma fonte dos serviços de segurança nesta segunda-feira, provando que o imperialismo já usa a desestabilização na Síria para tensionar a disputa no interior do Líbano. Por sua vez, o carniceiro Secretário-Geral da OTAN, Anders Fogh Rasmussen, manifestou a sua “preocupação” com a situação da Síria, o que em outras palavras significa que está pronto para intervir se necessário.

Como se vê, o imperialismo ianque ao lado de seus servis aliados na OTAN e da ONU, na verdade está se preparando para organizar uma nova ofensiva contra os dois países. A fragmentação da oposição síria por um lado e o aceno do governo de Ahmadinejad de fechar um acordo com a Casa Branca foram discutidos nos fóruns imperialistas. Em ambos os cenários, a Rússia aparece como “interlocutora” para a busca de uma “solução política” para os conflitos. Na realidade, o governo russo busca um acordo global com Washington para manter sua influência política e militar na região, agora que Putin foi eleito presidente, já a Casa Branca aguarda a reeleição de Obama para melhor definir o cenário de sua nova ofensiva.

Em ambos os casos, está em curso um estrangulamento da resistência anti-imperialista nos dois países. A Rússia negocia para que os governos do Irã e da Síria façam concessões a Washington enquanto não chega novembro. Tal perspectiva é o caminho da derrota para as massas sírias e iraquianas porque tão logo o imperialismo esteja em melhores condições para atacar, o fará! Não esqueçamos o exemplo líbio, quando Kadaffi buscou um acordo com o imperialismo europeu e acabou por não esmagar o foco contrarrevolucionário em Benghazi porque tinha ilusões em suas relações com a Itália e França. O resultado foi que o imperialismo armou os “rebeldes” e depois bombardeou o país através da OTAN! Portanto, é necessário se preparar para a escalada neocolonialista que o G-8, a OTAN e a ONU preparam contra os povos e as nações oprimidas.

Para derrotar a ofensiva política e militar das potências abutres e de seus aliados internos é preciso que o proletariado em aliança com seus irmãos de classe do Oriente Médio se levante em luta contra a investida imperialista na região, travestida pela retórica de defesa dos “direitos humanos e democracia”. Neste momento é fundamental estabelecer uma clara frente única anti-imperialista com as forças populares que apoiam os regimes nacionalistas burgueses sírio e iraniano assim como com o Hezbollah no Líbano para derrotar a ofensiva da OTAN e da ONU sobre estes países. Combatendo nesta trincheira de luta comum, os revolucionários têm autoridade política para rechaçar inclusive as concessões feitas pelo governo de Putin, Bashar Al-Assad e Ahmadinejad a esses organismos imperialistas que pretendem subjugar o país, forjando no calor do combate as condições para a construção de uma genuína alternativa revolucionária as atuais direções burguesas que via de regra tendem a buscar acordos vergonhosos com a Casa Branca.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Na CPI do Cachoeira todo o mundo político tem o “rabo preso”, o remédio foi o indulto geral da “esquerda para a direita”

A CPI do bicheiro Carlos Cachoeira mal começou e já teve seu fim “decretado” por antecipação. Em sua sessão plenária de ontem (17/05) a CPI deliberou por não convocar os principais protagonistas da nutrida teia de corrupção estatal, que tem na figura do bicheiro goiano apenas um ponto de intercessão. Não foram aprovadas as convocações dos três governadores publicamente implicados (RJ, GO e DF), tampouco o “dono” da empreiteira Delta e o editor da revista VEJA terão que comparecer a comissão de inquérito do congresso. Até aí nenhuma grande surpresa, pois até o próprio Cachoeira pode se livrar de prestar depoimento, protegido por uma chicana jurídica de seu poderoso advogado, o ex-ministro do governo Lula, Márcio Thomaz Bastos. Convocado somente a “raia miúda” a CPI vai cumprindo seu papel midiático distracionista, enquanto os tubarões da política burguesa vão “reposicionando” seus negócios com a venda da empreiteira Delta a um forte grupo econômico, curiosamente do ramo alimentício. Na verdade somente muito tolos poderiam crer que o foco do escândalo em torno da relação entre o bicheiro e o senador Demóstenes Torres fosse em função das “gorjetas” distribuídas com a arrecadação do jogo do bicho em Goiás.

Como a relação com as empreiteiras é o principal negócio contratado pelo estado brasileiro há muito tempo, a Delta rapidamente transformou- se em propriedade de um consórcio nacional de políticos burgueses, onde Fernando Cavendish era apenas um sócio gerente. Por isso mesmo sabe- se muito bem que não são apenas os “três patetas” governadores que tem ligação com as operações da Delta, a lista é muito maior e atinge até mesmo Dilma e seu primeiro escalão governamental . A suspensão dos contratos das obras da Delta pelo país afora foi uma exigência direta da própria presidência, para tentar “limpar” a empresa e repassá-la a outro proprietário formal enquanto baixa a poeira do escândalo. Potenciada com as obras da copa do mundo e olimpíadas, a Delta configurou- se como o “caixa dois” preferencial da política burguesa nacional e de outras empreiteiras menores, envolvendo até mesmo o “probo” PSOL, através do vereador Elias Vaz de Goiânia e o dirigente nacional Martiniano Cavalcante, dono de uma pequena construtora “parceira” da Delta na mesma cidade.
Outro embate que deve ser evitado a todo custo nos holofotes da CPI é a atual queda de braço entre a fração estatal que pretende “rifar” o ex-ministro José Dirceu e sua antourage petista e os neófitos da ex-presidente poste Dilma, que sonha com a “independência” política diante do aparelho Lulista. Como o Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, está encarregado de pedir a “cabeça” de Dirceu no julgamento do STF que se aproxima, o círculo petista do “campo majoritário” tratou logo de vincular a imagem de Gurgel com o suborno recebido para “arquivar” as investigações da Polícia Federal sobre a “ramificação” Cachoeira. A tendência política predominante nesta disputa inter-burguesa, que tem na CPI apenas a ponta do icebergue, é de mais um acordo geral entre as frações dominantes comprometidas até a medula com a corrupção estatal, podendo ser oferecida como “cachimbo da paz” a cabeça do enfraquecido Dirceu.

Desde a LBI fomos logo no início a única corrente comunista a denunciar o engodo distracionista da CPI, enquanto o bloco da “oposição de esquerda” fazia demagogia “ética”, estando também emporcalhados com a sujeira da Delta e do bicheiro Cachoeira. Agora diante da frustação é possível que muitos entusiastas da CPI venham a dizer que esta se transformou em um organismo “chapa branca”, para proteger as figuras mais sinistras deste regime da democracia dos ricos. O movimento operário mais avançado deve abstrair todas as lições da panaceia da institucionalidade burguesa, e romper com esta esquerda revisionista que defende a “moralidade” de um estado burguês decomposto que não pode ser reformado, como pretendem estes senhores, e sim demolido violentamente pela ação consciente e revolucionária do proletariado. Em resposta a decadência da burguesia e seu “deus” mercado inexoravelmente corrupto, levantamos o programa da planificação econômica central e a defesa da ditadura do proletariado como alternativas a barbárie capitalista.

PRI é a opção preferencial do imperialismo ianque enquanto Obrador “corre por fora” para ser o novo gerente dos negócios da burguesia no México

Estamos praticamente a um mês das eleições presidenciais mexicanas que ocorrerão em 1º de julho. Pesquisas publicadas nesta semana pelo jornal El Universal colocam o candidato Andrés Manuel Lopez Obrador em segundo lugar nas intenções de voto para a Presidência do país. Com esse percentual, Obrador, que dirige o “Morena” (Movimento de Regeneração Nacional), um racha "à esquerda" do PRD, ultrapassa Josefina Vasquez Mota, do PAN (Partido da Ação Nacional), legenda do atual presidente Felipe Calderón. No entanto, os dois permanecem muito atrás de Enrique Peña Nieto, do direitista PRI (Partido Revolucionário Institucional), que subiu meio ponto percentual e soma 49,6%, sendo o candidato preferencial do imperialismo ianque e da burguesia mexicana.
No mesmo momento em que foi divulgada a pesquisa eleitoral foram encontrados 49 corpos mutilados em uma estrada na fronteira com os EUA, perto da cidade de Monterrey. O cartel Los Zetas, que luta contra os grupos do Golfo e Sinaloa pelo controle do tráfico de drogas assumiu a autoria do último ataque. O México vive momentos dramáticos. Durante o governo Calderón (PAN) já foram mortas cerca de 50 mil pessoas em torno da disputa pelo controle do tráfico de drogas entre os cartéis que dominam o país, todos vinculados a setores da burguesia e ao próprio aparato do Estado. Por sua vez, ao lado de Honduras, foi o país da América Latina que teve o maior incremento do índice de pobreza. Esta aberta tensão social se reflete na militarização do regime e na disputa por quem será o “novo” gerente a frente do governo nacional.

O PRI, partido tradicional da extrema-direita mexicana, que controlou a presidência durante 70 anos, sendo derrotado pelo PAN em 2000, com a vitória de Vicente Fox, irá disputar essas eleições presidenciais com grandes chances de vitória. Esse realinhamento político mostra que setores fundamentais da burguesia mexicana, associada ao imperialismo ianque, desejam a volta do PRI porque percebem que o débil governo de Felipe Calderón, do PAN e sucessor de Fox, eleito por via de uma imensa fraude contra Obrador, foi incapaz de estabilizar o regime ante o aprofundamento da crise econômica e cedeu espaço, através da profunda corrupção estatal, para o avanço das máfias e do narcotráfico no país, tanto que mais de 50 mil pessoas, incluindo muitos políticos burgueses e sindicalistas foram mortos nos últimos três anos. Na realidade, a atual “guerra contra as drogas” não é uma guerra entre o governo e o narcotráfico, mas uma disputa entre setores da classe dominante pelo controle de territórios e mercados. Leva-se a cabo chacinas e assassinatos brutais pela mercadoria oferecida: as redes de distribuição de entorpecentes proibidos e migrantes “ilegais”. Os diferentes grupos comerciais (Cartel do Golfo, A Família, Os Zetas, etc.) não poderiam existir sem seus vínculos com o Estado burguês, até porque a maior organização criminosa é o próprio Estado capitalista que expropria violentamente as massas. Tanto que o general reformado Ricardo Escorcia foi preso nesta quinta-feira, 17/05, pelo Exército mexicano e entregue à Procuradoria Geral da República por envolvimento com o tráfico de drogas. Escorcia é o terceiro general mexicano detido nos últimos três dias, após a prisão do ex-ministro da Defesa Tomás Ángeles e do general da ativa Roberto Dawe. Com Angeles, Dawe e Escorcia, desde 1997 somam ao menos oito os generais do Exército mexicano investigados por ligações com o narcotráfico,  mas todo esse teatro faz parte da disputa por quem controla o narcotráfico no interior do aparelho do Estado burguês.
Obrador fundou o “Morena” e postula a presidência, valendo-se da crise do PRD e tendo o apoio do Partido do Trabalho (PT), de corte neo-estalinista, da Convergência além de setores descontentes do PRD e de todo arco revisionista do trotskismo. Ele saiu-se vitorioso na consulta para escolher qual seria o candidato único da centro-esquerda burguesa mexicana, derrotando Marcelo Ebrard, prefeito da cidade do México e dirigente da ala direita do PRD. Com o resultado, Obrador declarou, visando se credenciar junto aos empresários e ao imperialismo, que “Gostaria de ser o Lula mexicano, apesar de que cada um tem suas características e sua própria história (G1, 16/05). Por isto, Obrador quer “convencer os Estados Unidos que, para o bem de ambos, é mais eficaz aplicar uma cooperação para o desenvolvimento do que insistir na cooperação policial e militar” (Idem) buscando se apresentar junto a Obama como alternativa a um PRI alinhado a ala republicana do imperialismo ianque.

O avanço das máfias e do narcotráfico no México revela que a burguesia e o imperialismo vão dar corpo a um regime ainda mais recrudescido e policialesco contra o movimento operário e as massas, optando até agora preferencialmente pelo PRI apesar de todos os “esforços” empreendidos por Obrador para se credenciar para ser o “novo” gerente dos negócios da burguesia. A evolução da crise econômica, porém, poder fazer com que um governo de colaboração de classes ao molde do brasileiro se imponha. Essa dinâmica coloca como necessidade imperiosa a construção de uma direção revolucionária à altura da situação que o país se encontra. Forjar um partido autenticamente comunista, operário e internacionalista oposto aos atalhos patrocinados pelos revisionistas do trotskismo (CMI ligada a Alan Woods, OST lambertista) que apoiam Obrador é uma necessidade fundamental da vanguarda classista mexicana. Longe de apoior o "Lula mexicano" nestas eleições é preciso construir uma ferramenta revolucionária que se oponha pelo vértice a esse curso de colaboração de classses, arrancando os sindicatos das mãos das corruptas máfias priristas e da nefasta influência de Obrador, do “Morena” e seus satélites é parte fundamental da tarefa histórica dos marxistas revolucionários neste momento dramático que vive o país de Villa e Zapata.

quinta-feira, 17 de maio de 2012



Enclave terrorista de Israel forma “governo de unidade” para atacar o Irã após a reeleição de Obama
O carniceiro primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, alcançou nesta semana um acordo que lhe garante a maior base de apoio da história do Parlamento do enclave sionista. O líder nazi-sionista do Likud, Netanyahu, conquistou o apoio do Kadima, que era até então a principal força de “oposição”. O acordo dá ao governo o apoio de quase 80% do Parlamento (94 de 120 cadeiras) e foi anunciado em meio aos debates sobre a proposta de antecipação das eleições defendida recentemente por Netanyahu, tendo como objetivo formar um “governo de unidade” para se fortalecer na ofensiva militar contra o Irã, prevista para ocorrer após a reeleição de Obama. Com a adesão do Kadima, o governo desistiu de antecipar as eleições, que ocorreriam em setembro deste ano e agora ficaram para 2013. Até lá, a ampla maioria parlamentar deve facilitar os planos de Netanyahu, que clama pela agressão ao Irã e promove uma política de aumento de assentamentos e repressão aos palestinos. A coalizão governista passa a ser formada, além de Likud e Kadima, pelos ultradireitistas Yisrael Beiteinu (ultranacionalista), Shas (ultra-ortodoxos sefarditas) e outros partidos menores religiosos e de extrema-direita, assim como o Atzmaut.

A aliança entre o Likud e o Kadima ocorre justamente quando o embaixador norte-americano em Israel, Dan Shapiro, declarou que os planos dos EUA para um possível ataque contra o Irã estão prontos e tal opção está “totalmente disponível”. Não por acaso, a Câmara dos Deputados dos EUA acabou de recomendar que o Congresso aumentasse o orçamento militar para 2013 em US$ 849 milhões, planejando destiná-los a Israel como ajuda militar. Inicialmente, o Ministério de Defesa norte-americano pedira US$ 99,8 milhões para o financiamento de Israel. As emendas ao orçamento preveem que US$ 34 milhões serão destinados em 2013 para um projeto conjunto com Israel de desenvolver o sistema de defesa antimísseis Arrow, voltados a se proteger dos ataques iranianos. Além disso, o enclave sionista receberá mais US$ 111 milhões para desenvolver o projeto do sistema de DAM David’s Sling, e outros US$ 680 milhões para adquirir vários complexos antimísseis de Iron Dome. O imperialismo ianque poderia inclusive estrear uma “superbomba em seu futuro ataque ao Irã. Uma bomba “arrasa-bunker” de 13,6 toneladas, capaz de perfurar uma camada de até 65 metros de concreto antes de explodir, pode ser usada na agressão ianque, como declarou recentemente um general norte-americano da Força Aérea. O chefe-adjunto do Estado Maior da Força Aérea para operações, Herbert Carlisle, afirmou que a “superbomba”, que os militares começaram a receber no ano passado, é parte do arsenal disponível caso os EUA queiram bombardear países como o Irã, que possui instalações militares subterrâneas: “O explosivo penetrador em massa é uma grande arma. Continuamos a melhorá-la. Ela tem uma grande capacidade agora e vamos continuar a aprimorá-la. Ela é parte do nosso arsenal e será um potencial se precisarmosdela nesse tipo de cenário”, disse Carlisle em uma conferência sobre programas de defesa dos EUA. O secretário de Defesa norte-americano, Leon Panetta, declarou em entrevista há poucos dias ao National Journal que o planejamento para uma eventual ação militar contra o Irã começou há “muito tempo”.

Esses preparativos para a guerra contra o Irã ocorrem no marco da derrota dos mercenários pró-imperialistas na Síria. Obama, enquanto incrementa o armamento dos “rebeldes” do ELS em nome do apoio à fantasiosa “revolução árabe”, optou provisoriamente por um acordo com a Rússia por uma “transição” pela via da pressão da ONU. EUA, Grã-Bretanha e Israel preferiram adiar uma intervenção militar sobre o Irã para depois das eleições presidenciais ianques, que ocorrerão em novembro. Até lá, mantêm a pressão diplomática, as sanções econômicas e o apoio aos mercenários na Síria enquanto fomentam a oposição interna no Irã. Neste cenário reside a importância do acordo entre Likud e Kadima, que mostra a unidade sionista em torno da necessidade da agressão ao Irã.
A ofensiva ianque contra o Irã tem como lastro as vitórias conquistas pela Casa Branca e seus aliados no último ano no Oriente Médio. É sabido que os EUA há tempos planejam debilitar ou eliminar seus adversários e “amigos” decrépitos na região. Em paralelo às transições democratizantes ordenadas que vêm promovendo exitosamente na Tunísia, Egito e Bahrein, Obama conseguiu derrubar o regime Kadaffi na Líbia via agressão da OTAN e está provocando um franco processo de desestabilização do governo Assad na Síria, fragilizando também o Hezbollah e o Hamas. Desta forma, Obama vem impondo um isolamento dramático ao Irã. Até mesmo a Rússia, depois das manifestações patrocinadas pela Casa Branca contra Putin, está sendo forçada a que se mantenha distante militarmente de seu aliado iraniano.

Os revolucionários não são partidários do “regime dos Aitolás” no Irã, embora reconheçamos os avanços anti-imperialistas conquistados pelas massas em 1979. Ao mesmo tempo, defendemos integralmente o direito deste país oprimido a possuir todo arsenal militar atômico ao seu alcance. É absolutamente sórdido e cretino que o imperialismo ianque e seus satélites pretendam proibir o acesso à tecnologia atômica aos países que não se alinham com a Casa Branca, quando estão armados “até os dentes” Estados gendarmes como Israel com farta munição atômica. Diante de um provável ataque dos EUA e do sionismo é necessário desencadear urgentemente uma campanha internacional na defesa incondicional do Irã, postando-se no campo da nação oprimida contra o imperialismo e pela destruição do enclave nazi-terrorista de Israel.

quarta-feira, 16 de maio de 2012


Qual é a verdadeira disputa em torno da convocação do Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel?

Todos os dias, nas TVs, jornais e blogs se noticiam os lances da “quebra de braço” na CPI para a convocação do Procurador-Geral da República (PGR). O último foi a sub-procuradora, Cláudia Sampaio, esposa de Gurgel, afirmar que a PF havia pedido para ela “aguardar novas informações” e não dar qualquer encaminhamento as conclusões da Operação Vegas, versão logo desmentida pelo delegado Raul Marques de Sousa. Imediatamente depois desse imbróglio, Gurgel fez um acordo com o relator da CPMI, o deputado Odair Cunha (PT-MG), indicado a dedo por Dilma, aceitando dar “esclarecimentos” por escrito das razões porque ele e sua esposa engavetaram em 2009 as informações que provavam as relações de Carlinhos Cachoeira com Demóstenes Torres e a Revista Veja. O que está por atrás dessa disputa que chega a unir setores do PT mais alinhados com a presidente Dilma com a oposição demo-tucana na defesa de Gurgel e que tem deixado os aliados do “campo majoritário” de José Dirceu no PT, a turma do mensalão e a blogsfera  “chapa branca” tão contrariados?
O grande pivô da disputa é o próprio José Dirceu, que tenta com seus comparsas do PT e da base do governo envolvidos até o pescoço em negociatas desde a gestão de Lula, vide o mesalão, colocar Gurgel na defensiva, desmoralizando-o justamente quando o Procurador-Geral vai pedir ao STF a prisão do ex-“capo” petista. Toda a pressão sobre Gurgel na CPMI vem justamente de setores petistas que desejam proteger Dirceu e os outros parlamentares envolvidos no esquema. Como Dirceu foi um dos principais articuladores da queda de Palocci da Casa Civil do governo Dilma, setores aliados a presidente tem atuado conjuntamente com membros do PSDB e do DEM para se “vingar” de Dirceu, ao mesmo tempo em que estes últimos protegem Demóstenes que tem vários negócios com caciques da oposição demo-tucana e do próprio PPS de Roberto Freire. Nessa empreitada, estão defendendo juntos Gurgel. Prova disso é que ele não precisou prestar depoimento a CPMI e sim apenas mandar “explicações” por escrito como solicitou o deputado Odair Cunha (PT-MG).

A disputa dentro da própria cúpula petista faz parte do conflito das camarilhas palacianas, já que Dilma está construindo um staff político próprio sob seu direito controle, distante de figuras como Rui Falcão, presidente nacional do PT e Dirceu, os dois hoje claramente fora das decisões mais importantes do Planalto. Esse quadro ganha importância com a doença de Lula, que pode tirar o ex-presidente da disputa de 2014. Nesse caso, Dilma será a candidata, mas o setor de Dirceu, Rui Falcão e o próprio Tarso Genro desejam ter mais peso nas decisões e no governo, já que não devem conseguir emplacar um nome alternativo a ex-“poste”, diga-se de passagem, sem qualquer tradição no partido já que é oriunda do PDT. Justamente por isso, enquanto a Revista Veja ataca virulentamente Dirceu e os setores “radicais” do PT elogia rasgadamente Dilma em seus editoriais! A política oficial do governo é a de manter Dirceu sobre seu controle e ver até onde pode barganhar com o ex-todo poderoso chefe da Casa Civil de Lula enquanto lhe fragiliza, tanto que o líder do PT no Senado, Humberto Costa declarou “Sugiro que tenhamos um pouco de paciência. Se ele (Gurgel) não responder ou a resposta não for convincente, as razões para trazer o procurador e a subprocuradora estarão dadas...Esta CPI não vai blindar ninguém” (OESP, 15/05).
Frente a isso, Dirceu reclama em seu blog: “Permanecem sem resposta perguntas importantes para o país. Por que a PGR decidiu arquivar o inquérito se já havia informações importantes sobre o envolvimento do senador Demóstenes Torres (DEM-GO até três semanas atrás, ao desfiliar-se) com o esquema do contraventor Carlos Cachoeira? Ou ainda: qual a razão do não encaminhamento do inquérito ao STF?... No caso da troca de informação por matérias entre o diretor da revista Veja em Brasília e o grupo de Cachoeira, da participação da revista em atividade ilegais como a tentativa de invasão do meu escritório no Hotel Naoum, assim como da utilização de imagens obtidas de forma também ilegal sobre minhas atividades no local onde eu residia, ainda há muito a esclarecer”. O ex-deputado petista na verdade ataca para se proteger, como fazem todos os bandos burgueses em disputa pela rapina do botim estatal, se valendo dos seus novos aliados da mídia (Rede Record) para atacar a Veja... Ao mesmo tempo Dirceu mede forças com a própria Dilma que no fundo controla a PGR, tanto que ela reconduziu Gurgel ao cargo em 2011. Dirceu tende a se dar mal!

Voltando a Gurgel, é obvio que ele recebeu uma milionária bolada e favores da “troika” Cachoeira/Demóstenes/Veja. Mas esse não é o centro da questão já que é assim que funciona a justiça burguesa e as “relações entre os (podres) poderes”. O que está claro é que nas disputas no interior da CPMI já se estabelecem claramente os rumos da sucessão presidencial de 2014, onde a oposição burguesa sem chance de vitória visa fragilizar o lulismo, mais particularmente o núcleo histórico do petismo de São Paulo e manter boas relações com Dilma e seu séquito tecnocrata ascendente. Como todos são faces da mesma moeda, os trabalhadores devem compreende que essas escaramuças fazem parte da disputa entre os partidos burgueses e suas próprias máfias internas, que são inimigos de classe dos explorados. Denunciar o conjunto do regime politico e suas instituições é fundamental para romper as ilusões na democracia dos ricos visando forjar uma alternativa própria de poder dos trabalhadores.