segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O conto do “etanol brasileiro” como supercombustível fez a estação na Antártica ir pelos ares

O uso de etanol em um gerador de energia na estação Comandante Ferraz foi causa do incêndio que destruiu 70% das instalações da base do programa brasileiro na Antártica, vitimando dois militares da Marinha e deixou outro ferido. No final do ano passado, como parte da campanha midiática enganosa de vender ao mundo o etanol brasileiro como uma alternativa em termos de combustível “sustentável” para grandes motores, o governo Dilma ordenou que fosse instalado ao lado dos geradores que utilizam diesel outro movido a etanol. Testes anteriores já haviam comprovado que geradores abastecidos com etanol rendem menos e podem explodir com mais facilidade, porque o biocombustível brasileiro não tem condições de manter em funcionamento estável motores de grande potência. O diesel é usado em geradores porque o rendimento é melhor e não superaquece os motores. Apesar dessa constatação, o governo manteve a mudança e apenas dois meses após o início de sua operação ocorreu à tragédia. Apesar do Planalto tentar esconder a verdade, já se sabe que o incêndio iniciou-se na chamada “praça de máquinas”, a partir do gerador de energia movido a etanol.

Segundo a Petrobras, o motogerador movido a etanol entrou em operação no dia 10 de janeiro. Na época o “feito” foi comemorado como a expressão da viabilidade do uso biocombustível nacional para motores e geradores de grande potência, cuja comercialização impulsionaria extraordinariamente não só a indústria nacional como incrementaria em muito as exportações de álcool para o mundo! “Com a iniciativa, o Brasil será o primeiro país do mundo a utilizar biocombustível para produção de energia no continente. O equipamento tem capacidade para suprir toda a energia necessária às operações e aos programas científicos realizados na estação”, frisou a estatal em comunicado. O ministro da Defesa, Celso Amorim, apresentado pela esquerda “chapa-branca” como um “nacionalista”, foi quem deu partida na operação durante visita à estação na Antártica. Segundo o ministro, a iniciativa brasileira colocava o país em destaque no cenário tecnológico mundial: “A utilização pioneira deste tipo de equipamento em uma região estratégica no mundo do ponto de vista ambiental amplia as perspectivas do biocombustível brasileiro no mercado internacional. Por ter um ponto de congelamento extremamente baixo, o etanol é mais apropriado que a gasolina ou o óleo diesel para operar nas baixas temperaturas observadas na Antártica”. Tratava-se de mais uma falácia do governo da frente popular para vender gato por lebre em seu sonho de “Brasil potência”. A Petrobras usou no equipamento da estação Comandante Ferraz etanol idêntico ao utilizado nos veículos nacionais, que utilizam motores leves e não superaquecem, porém exigem alto consumo. No caso dos geradores, além do alto-consumo há o superaquecimento, em um quadro literalmente explosivo onde o etanol é mais inflamável do que o diesel. O uso do etanol na Antártica foi claramente uma fatal propaganda enganosa que colocava em risco a própria estação, hoje destruída, pois como o álcool é muito volátil, ocorreu um vazamento de vapores na praça de máquinas, o vapor se misturou com o ar e uma faísca provocou a explosão.

A iniciativa da implantação do gerador “experimental” foi motivada por uma parceria entre a Petrobras, o BNDES e a Vale Soluções em Energia (VSE), empresa ligada a companhia Vale do Rio Doce. Esta negociata tinha o claro objetivo de fazer propaganda do suposto desenvolvimento de uma tecnologia totalmente nacional que geraria energia limpa, o conto do “etanol brasileiro” como um “supercombustível” que acabou fazendo a estação brasileira na Antártica literalmente ir pelos ares. Longe de representar uma fonte de “energia limpa” ou mesmo uma oportunidade para o Brasil encabeçar uma nova “OPEP do etanol” como demagógica e falsamente propagandeia o governo, o uso dos biocombustíveis visa atenuar a dependência das grandes potências capitalistas em relação ao petróleo, com base no aprofundamento ainda maior do papel das semicolônias latino-americanas como produtoras de matéria-prima por grupos multinacionais, dentro da divisão internacional do trabalho e do processo de recolonização imperialista. Por outro lado, o fato do combustível produzido a partir de vegetais ser tão ou mais poluente que os derivados do petróleo por liberar para a atmosfera gás carbônico (CO2), além de ser responsável pelo desmatamento de grandes florestas para plantio, problemas que a grande maioria dos cientistas e representantes políticos já foram obrigadas a reconhecer.

Enquanto servia aos interesses comerciais privados sob a fachada de um falso nacionalismo, o Programa Antártico Brasileiro (Proantar) era alvo de cortes orçamentários, tanto que o governo Dilma não liberou parte dos recursos para o programa em 2011, justamente para atingir a meta do superávit primário. Em 2012 houve redução de recursos para o Proantar, o menor montante dos últimos sete anos. A expressão desse quadro é que o Navio de Apoio Oceanográfico Ary Rongel – essencial às operações no continente gelado – está quebrado há quase dois meses no porto de Punta Arenas (Chile), uma barca cheia de combustível afundou perto da base em dezembro sendo o acidente escondido pela Marinha e a estação estava superlotada no momento da explosão, como 60 pessoas quando sua capacidade é de 40.

A farsa do “desenvolvimento nacional” pela via da produção de biocombustíveis, que se mostrou de uso restrito a motores leves e com grande impacto destrutivo ambiental, é a cara metade do conto do pré-sal, de difícil viabilidade econômica de extração devido ao seu alto custo de prospecção em águas profundas. Embora seja prática do governo da frente popular propagandear a anedota de que o Brasil se transformaria numa potência graças à produção do etanol, o desastre na Antártica mostrou que esta farsa fez ir pelos ares a estação Comandante Ferraz, justamente porque nosso país continua de fato como uma semicolônia sem capacidade tecnológica e que se vale de engodos nacionalistas para encobrir que todos os “esforços” do governo do PT estão a serviço das oligarquias, das grandes empresas como a Vale do Rio Doce e dos monopólios imperialistas, utilizando as pesquisas do programa antártico brasileiro e suas instalações na tentativa desesperada de incrementar os lucros das companhias privadas.