terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A nova prisão de Strauss Kahn e o desespero eleitoral da direita francesa

A polícia nacional da França deteve o ex-diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) Dominique Strauss-Kahn para questioná-lo nesta terça-feira sobre acusações de que ele teria participação em orgias sexuais em Paris e Washington pagas por dois empresários e membros do PS. Kahn era o favorito nas pesquisas eleitorais para concorrer a presidência da república e possivelmente venceria as prévias internas do Partido Socialista francês quando foi “abatido” em pleno vôo,por um escândalo “fabricado” de estupro nos EUA, em maio de 2011. Na ocasião já apontávamos que o dirigente “neoliberal” do PS, indicado pela social democracia europeia para comandar o famigerado FMI, teria sido alvo de uma grotesca armação, urdida entre Obama e Sarkozy para defenestrar as chances do PS em retornar ao “Palácio Élysée” após a histórica gestão de François Mitterrand finalizada em 1995. Kahn, ainda professor, participou da esquerda revisionista “trotsquista” (Lambert), conjuntamente com o ex-primeiro ministro Lionel Jospin e o deputado Cristophe Cambadélis, quando foram corrompidos pela ascensão do governo pseudo“socialista” de Mitterrand em 1981. Quando assumiu a gerência do FMI em 2007 passou a traficar sua influência em favor de grandes grupos econômicos europeus, ligados à social democracia, desagradando a Casa Branca e os“barões” de Wall Street. A abrupta saída de Kahn do FMI acabou servindo a dois “senhores”, os rentistas ianques e a direita recalcitrante francesa.

Mas se a prisão de Kahn em Washington liquidou completamente suas pretensões políticas, coincidentemente só foi absolvido da acusação de estupro quando renunciou de sua candidatura à  presidência, não conseguiu abalar o prestígio eleitoral do PS francês, que com a candidatura de François Hollande mantém a dianteira nas pesquisas de opinião pública. Sarkozy somente anunciou oficialmente na semana passada que concorreria à presidência, retardou ao máximo este ato político em função de seus baixos índices eleitorais, não conseguindo se descolar muito da candidatura de extrema-direita de Marine Le Pen (frente nacional), que atinge cerca de 20% de preferência “popular”. Com um desastre anunciado em seu horizonte político, o ultradesgastado Sarkozy mandou sua polícia “requentar” o caso Strauss Kahn, desta vez em solo gaulês, com o objetivo de atingir a forte decolada eleitoral do PS, que até o momento parece inabalável.

A crise capitalista europeia vem provocando um novo desenho político nas gerências estatais, enquanto nos países de economia periférica mais afetados com a crise, como Portugal, Espanha, Grécia etc..., as tendências da burguesia apontam para empossar forças semifascistas ou da direita “moderada”, nos países imperialistas como Alemanha, França e Inglaterra, a opção dos capitalistas se volta para o retorno das gestões sociais democratas. Embora este movimento das burguesias não seja totalmente homogêneo, é relativamente fácil encontrar a razão, ou seja nos países “quebrados” pela banca de parasitas financeiros, a melhor alternativa é o fascismo, diante da ameaça do movimento de massas. Já nos centros imperialistas, também castigados pela crise, a melhor política é a da cooptação do movimento operário pela via da democracia parlamentar e sua “salutar” alternância política. O papel sujo da social democracia, em formular sua tática da frente popular (colaboração de classes), continua em plena vigência em tempos de profunda crise estrutural do capital.

A esquerda revisionista europeia que durante décadas seguiu a reboque da social democracia, apoiando “criticamente” suas candidaturas a gerência do Estado burguês, agora ensaia uma relativa “independência”, apresentado “fórmulas” eleitorais ainda muito distantes de uma verdadeira estratégia revolucionaria de poder proletário. Na França onde foi fundada a Quarta Internacional, o trotsquismo chegou a ganhar uma importante influência junto aos setores mais avançados da classe operária. No entanto, a política desastrosa dos “mestres” do revisionismo, como Lambert e Mandel, acabou por “fornecer” seus “quadros” para o PS, como o degradante caso de Strauss Kahn, que após se “vender” (ele é o único “prostituto” verdadeiro deste escândalo) por um cargo no FMI, foi humilhado pelos seus amos imperialistas e agora é considerado um pária no próprio campo da social democracia. Hoje na França as correntes revisionistas atravessam um profundo ocaso, se dividindo entre as inofensivas variantes “anticapitalistas”, domesticadas à sagrada institucionalidade da democracia dos ricos (V República), ou às patéticas “invenções” eleitorais policlassistas dos parcos seguidores do finado Lambert.