quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Eleições em São Paulo: Alckmin quer empurrar José Serra para o abismo

A “revoada” do prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab, e seu recém-criado partido, o PSD, para os braços da frente popular provocou mais uma crise no ninho do tucanato paulistano. José Serra, apoiado por um grupo de deputados estaduais, resolveu voltar atrás e cogita novamente ser candidato às eleições para a prefeitura de São Paulo. Está em uma “sinuca de bico”: ou é candidato para manter na sua órbita o PSD, mesmo sabendo da grande possibilidade de derrota e da resistência interna tucana ou assiste seu afilhado político e a legenda que ajudou a criar como alternativa ao próprio PSDB ser tragada de vez pelo PT em plena capital paulista. Kassab planeja indicar Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central durante o governo Lula e hoje no PSD, como candidato a vice-prefeito na chapa de Fernando Haddad. Nesse cenário dantesco, o atual governador do estado, Geraldo Alckmin, demonstrou para a platéia “apoiar” esta decisão de Serra, embora de forma lacônica e sarcástica: “Se ele quiser ser, é um ótimo candidato. Essa é uma decisão pessoal do Serra que nós devemos aguardar” (Folha de S.Paulo, 15/02). Evidentemente que este “apoio” do governador tem um objetivo bem específico – o de liquidar Serra politicamente – “retribuindo” a sabotagem que este fez à sua candidatura nas eleições municipais de 2008 ao apoiar Kassab contra o próprio candidato tucano, ninguém menos do que Alckmin!

Caso venha a se confirmar as intenções de Serra, todo um cenário já definido teria que ser alterado drasticamente, pois as atuais quatro pré-candidaturas (Andrea Matarazzo, Bruno Covas, José Aníbal e Ricardo Tripoli) teriam que abrir mão das mesmas na convenção partidária marcada para o dia 4 de março e decidir pela aliança com o PSD kassabista. Além disso, o PSDB teria que atrair o PSB e o PDT para a aliança, comprando essas legendas com cargos importantes no governo estadual. Estas são as principais “exigências” do ex-governador para negociar com Alckmin. O declarado antisserrista José Aníbal advertiu que “se o Serra quer ser candidato terá que disputar as prévias. Estamos trabalhando nisso há seis meses” (O Estado de S.Paulo, 15/2) e dá a dimensão da crise da “oposição conservadora”. Declarações do ex-presidente da República, FHC, vêm jogar gasolina na fogueira da corrida eleitoral paulistana e na futura disputa pela presidência da República: “Se Serra se convencer de que seu sonho de disputar pela terceira vez a Presidência da República não passa disso, e cair na realidade, ele terá uma disputa difícil, mas viável, para encerrar sua carreira (…)” (Blog Tijolaço, 15/2). Tanta preocupação da “alta plumagem” tucana está relacionada a uma possível aliança de Kassab com o PT nas eleições para prefeito, a qual, se efetivada, seria compreendida como uma tremenda derrota para a “oposição” ao Planalto não só em nível municipal, mas em âmbito nacional. Ela seria colocada praticamente do campo da insignificância. O jornal serrista Folha de S.Paulo,15/2, alfineta: “Para o ex-governador, isso seria a vitória do projeto do ex-presidente Lula e transformaria a oposição numa ‘minoria absoluta’”.

O “apoio” de Alckmin colocou Serra na beira do precipício. Uma vez configurada a candidatura de Serra (que pesquisas demonstram ter uma rejeição superior a 30% do eleitorado e está sendo bombardeada pelo livro sobre a “Privataria Tucana”), o PSDB teria que se aliar a Kassab, sua criatura ou então correr “por fora” para a derrota com um dos quatro pré-candidatos contra a coligação PT/PSD. Porém, tanto em uma projeção como na outra, a possibilidade de perder é muito grande, levando Serra a se desmoralizar ainda mais, bastando um empurrãozinho para despencar ao fundo do abismo.

Neste quadro, uma possível candidatura de Serra, antes de demonstrar a “unidade” do PSDB, é o sintoma da profunda crise na qual mergulhou a “oposição conservadora” durante o governo Lula/Dilma que, em aliança com as principais oligarquias regionais, praticamente aniquilou os demo-tucanos e sua ala paulista. Além do mais, os “Democratas”, aliados do PSDB, tendem a refutar uma aliança com o ex-demo, que hoje prestigia eventos do PT e vive em visitas ao Planalto negociando seu apoio ao governo federal. Os demos agem como uma fera ferida que tenta mostrar seus dentes e suas garras como “instinto de sobrevivência” perante as articulações políticas do PT com o PSD de Kassab.

Cabe ao movimento operário e sua vanguarda intervir diretamente neste processo, apresentado uma plataforma marxista e revolucionária, apontando que o caminho é o enfrentamento político dos explorados contra os aprendizes de Hitler, Alckmin, Serra e Kassab, assim como com a frente popular, ambos são partes das camarilhas burguesas que disputam entre si o assalto ao botim estatal via um violento ataque às condições de vida dos trabalhadores. A publicidade de uma plataforma comunista nas eleições, mais além da demagogia social democrata do revisionismo (oposição de esquerda), é uma tarefa que se coloca independente da legalização ou não do genuíno partido da classe operária.