domingo, 12 de fevereiro de 2012

Acaba a greve da PM baiana após denúncias de assassinatos de moradores de rua praticados pelos “combativos” policiais

Foi encerrada sábado à noite (11/02) em uma reduzida assembleia a greve da PM na Bahia, após doze dias de paralisação. O movimento perdeu força social já há alguns dias, o que obrigou a desocupação do prédio da Assembleia Legislativa, importante “ícone” da greve e elemento de barganha para as negociações com o governo petista de Jaques Wagner. Mas o principal “trunfo” da greve era mesmo o clima de terror espalhado na cidade de Salvador, com o aumento dos saques a pequenos comerciantes da periferia e a morte de moradores de rua. Quando no início da semana foi revelado, por meio de escutas telefônicas feitas pelo governo estadual com a autorização judicial, que o comando do movimento organizava os saques, queima de caminhões e até os assassinatos dos indefesos moradores de rua, a greve se desmontou por completo. O governo Wagner partiu para uma ofensiva midiática, jogando a população contra a greve, qualificando “generosamente” os policiais assassinos de “baderneiros” e de cometerem “vandalismo”. A assembleia da PM foi obrigada a aceitar a “reduzida” proposta (feita antes mesmo do começo da greve) de um aumento de 6,5% e pagamentos de gratificações escalonadas até 2015! Mas, pelo menos o contingenciamento orçamentário de 2012 para a compra de mais viaturas (importadas) e armas sofisticadas para reprimir melhor a população pobre e trabalhadora foi garantido por Wagner, configurando o saldo “positivo” do movimento, ao menos para os cretinos que apoiaram a “combativa” greve dos policiais assassinos.

Setores da intelectualidade “progressista” simpáticos ao governo da frente popular trataram de caracterizar o movimento da PM como um “motim”, marcando uma posição contrária a reivindicação dos grevistas e justificando a repressão sofrida com a ajuda do Exército. Por outro lado, a esquerda revisionista apoiou freneticamente a greve policial, afirmando que os PMs são uma categoria de trabalhadores como outra qualquer, e seu movimento debilitaria os governos estaduais, quebrando a “hierarquia militar”. Existiram ainda aqueles que, tentando permanecer equidistantes entre os dois lados (PCB, por exemplo), sacaram suas “receitas democráticas” de segurança pública, fazendo a defesa de uma “polícia cidadã” nos marcos de uma ditadura de classe (capitalismo).

Nós Bolcheviques leninistas entendemos que as atuais greves da PM, estão muito distantes de assumirem uma feição de “motim”, contra a cúpula militar ou mesmo contra as “autoridades” constituídas. Não voltaram suas armas contra nenhum comandante ou governador, não tomaram quartéis ou sequestraram oficiais, no máximo ocuparam um prédio da Assembleia Legislativa, palco tradicional de manifestações de funcionários públicos. Em resumo, se houve algum “motim”, por parte dos policiais grevistas, este ocorreu covardemente contra moradores de rua e pequenos comerciantes. Esta greve policial não “ousou” quebrar qualquer hierarquia substantiva e tampouco teve qualquer móvel democrático contra as próprias barbaridades cometidas diariamente pela tropa contra a população oprimida, com aval do alto comando militar e dos governos eleitos “democraticamente”. A “luta” dos policiais se limitava ao eixo de uma recomposição salarial, fomentada pelos altos gastos orçamentários com a “segurança pública”, leia-se com a preservação da propriedade privada dos meios de produção, de uma elite corrupta e que cada vez mais concentra renda em nosso país e teme a “ira dos marginalizados” deste regime bastardo.

A tentativa de dotar esta greve policial de alguma característica “progressiva” é absolutamente inútil. Por mais que a esquerda revisionista se esforce em “glamorizar” os cães raivosos das PMs, suas ações durante o movimento apenas reproduziram o que são treinados e pagos para fazer, ou seja, assassinar pobres e reprimir trabalhadores. Não por coincidência, quando o PSTU tentou levar o apoio dos rodoviários (a COLUTAS dirige o sindicato) a greve da PM ocorrida no Ceará, a categoria respondeu com um sonoro não! Agora se desnudam os atos “combativos” da PM na Bahia onde os grevistas partiam para queimar caminhões, imaginem a categoria dos rodoviários sendo solidária com seus “chacais”, só mesmo na mente dos estúpidos Morenistas.

Como definiu brilhantemente o “velho” bolchevique L. Trotsky, em uma polêmica com Stalinistas alemães, acerca do suposto caráter “proletário” dos policiais: “O fato de que a polícia foi originalmente recrutada em grande número dentre os trabalhadores social-democratas não quer dizer nada. Aqui também a consciência é determinada pela existência. O trabalhador que se torna um policial a serviço do Estado capitalista, é um policial burguês, e não um trabalhador...” (Questões vitais para o proletariado alemão, 1932). Os soldados e cabos da PM, nada tem a ver com os recrutas e militares de baixa patente das forças armadas, os primeiros são membros de uma instituição policial, militarizada ao gosto dos regimes autoritários, os segundos são militares de fato e pertencem ao exército nacional. Deixemos que o próprio Trotsky exponha esta questão: “A multidão demonstrava um ódio furioso contra a polícia. A polícia montada era recebida com vaias, pedras, pedaços de ferro. Muito distinta era a atitude dos operários com relação aos soldados... A polícia é um inimigo cruel, inconciliável, odiado. Não há nem que se pensar em ganhá-los para a causa. Não há outro remédio que açoitá-los ou matá-los. Quanto ao exército é outra coisa...” (História da Revolução Russa, 1930). Tentar transformar o legado teórico bolchevique, de cindir a base das forças armadas, em uma etapa revolucionária, a favor do proletariado, em apoio acrítico a uma greve reacionária de policiais, não passa de uma “armadilha” do mais rasteiro sindicalismo vulgar praticado pelo PSTU e seus congêneres revisionistas. A própria história da luta de classes se encarregará de elucidar para as novas gerações de comunistas a traição cometida pelos que hoje se colocam no campo da reação, seja na greve das polícias ou ao lado da OTAN na Líbia e Síria.