quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Eleições para a Assembleia Constituinte na Tunísia: “velho regime” é reciclado pela transição democrática operada pelos EUA

No domingo, 24, encerraram-se as eleições para a Assembleia Constituinte, a qual designará um “primeiro-ministro” que estará encarregado de liderar um governo de transição que ficará no comando até a convocação das eleições gerais para uma data ainda indeterminada. Um movimento bem distinto daquele que se iniciou em dezembro de 2010, dia 17, quando um vendedor ambulante ateou fogo ao próprio corpo em protesto à carestia geral, ao desemprego, às dívidas e a falta de perspectivas, dando início um espontâneo protesto radicalizado de massas na Tunísia. Este fato foi um alerta para os órgãos de inteligência do imperialismo francês e ianque em relação ao chamado “mundo árabe” que trataram de movimentar suas peças políticas na região. Facilitou a fuga do corrupto Zine El Abidine Ben Ali no poder há 23 anos por eles sustentado e viabilizou um governo de transição tutelado pelas FFAA, a polícia e “democratas” do “velho regime”. Mas por que as massas foram derrotadas?

As condições objetivas estavam dadas: carestia de vida, desemprego, crise política e social, caos econômico etc. No entanto, o problema fundamental foi eminentemente subjetivo: a ausência de uma direção revolucionária que desse um curso de classe à radicalidade das massas e um norte de tomada de poder pelos explorados. Por esta razão, não tardou para que o imperialismo começasse a mexer as peças do tabuleiro deste intricado xadrez, intervindo no processo através da CIA, ONGs, União Europeia com o objetivo de estancar a crise e restaurar o mais rápido possível a ordem burguesa. O estancamento das manifestações de massa na Tunísia foi o “tubo de ensaio” do imperialismo para agir logo em seguida no Egito, Bahrein, Iemen... e Líbia em sua expressão contrarrevolucionária, mais sangrenta e assassina.

O balanço a ser feito é o papel da esquerda revisionista durante as manifestações espontâneas das massas na Tunísia. Para ela foi uma “revolução” que ainda não terminou e se estendeu para o norte da África e Oriente Médio. Por exemplo, o CMI de Alan Woods chegou ao delírio de comparar este protesto popular como uma “Revolução de Fevereiro” (Lucha de Clases, 12/2/2011) e que, portanto, os “revolucionários” deveriam convocar imediatamente uma “Assembleia Constituinte revolucionária”. Nove meses depois da queda de Ben Ali, estancada a crise, acontecem as eleições constituintes e o sufrágio para escolher um governo provisório para o país e determinar para um futuro indeterminado as eleições gerais. As eleições para a Assembleia Constituinte são nada mais nada menos do que a expressão da transição política ordenada, instaurando um novo regime democratizante, voltado aos interesses econômicos do imperialismo.

Como lição para os marxistas revolucionários fica o fato de que não nos contaminamos com o engodo democrático-burguês apontado e levado a cabo pelo imperialismo na farsesca “revolução árabe”, embuste no qual a esquerda revisionista caiu como um cordeirinho. É prioritária a necessidade dos genuínos revolucionários denunciarem a reação “democrática” orquestrada a partir dos gabinetes da Casa Branca e construir uma alternativa independente do proletariado. Todo movimento de massas que não esteja balizado por uma clara estratégia revolucionária de enfrentamento com o velho regime e o imperialismo estará fadado à derrota. Uma revolução somente poderá vingar através da construção de organismos de poder que liquidem as FFAA, expropriem a burguesia como classe e instaurem um novo modo de produção sob a direção de um partido comunista proletário.